Num mundo que nem precisava de ser “ideal”... seria suposto que, para se chegar ao posto de juiz, para além dos conhecimentos técnicos (conhecimentos que qualquer aluno imbecil mas “marrão” consegue adquirir), seria necessário dar provas de uma verdadeira vocação, de senso comum (de preferência, bom senso), sentido de equilíbrio, experiência de vida, conhecimento profundo do tecido humano em que se está integrado, uma forte consciência social e política... e, já agora, uma bem estruturada e sedimentada cultura geral.
A vida encarrega-se, todos os dias, de mostrar o quanto isto é uma utopia.
Eu sei, eu sei que todo este meu primeiro parágrafo é uma espécie de manual de como “pedir demais”... mas, que diabo!, nem sempre a alternativa ao oitenta deveria ser o oito!
E assim chegamos ao assunto deste post: a decisão de uma senhora juíza, de mandar arquivar uma queixa de uma mulher agredida pelo marido, marido “extremoso” que só não agrediu também a filha, porque a mãe decidiu fazer-se agredir um pouco mais, ao separá-los.
Neste seu evidente momento de indigência mental, a senhora juíza conseguiu, de uma assentada, envergonhar a sua profissão, faltar ao respeito às mulheres (e homens) vítimas de violência... e dar um golpe na coragem que de que precisam as vítimas para quebrarem as correntes do medo e da vergonha, denunciando a violência e exigindo justiça.
Num mundo ideal, teria nessa noite havido uma instantânea “falha na linha do espaço temporal”, falha muito politicamente incorrecta (até da minha parte!), em que o marido da senhora juíza perderia, também ele, “a noção”... dando-lhe uma tareia que a deixasse internada na ala de ortopedia de Santa Maria, durante dois meses... em homenagem aos milhares de mulheres que todos os dias são agredidas dentro das suas próprias casas e às centenas que perdem a vida às mãos dos maridos, namorados... e demais “amantes”.