Este post não é sobre Zita Seabra... apenas acontece que ela, muito provavelmente por acidente, se pôs a jeito. Passo a explicar:
Como a imagem ilustra, a dona Zita Seabra está sempre pronta a ser das primeiras “personalidades de serviço” a irem à televisão apontar o dedo aos comunistas, seja sobre o que for... desde que daí a dias seja dia de eleições e, não vá o diabo tecê-las, algumas pessoas que não pertençam ao eleitorado habitual da CDU decidam qualquer coisa do género: “estou farto desta gente em quem ando a votar há anos... desta vez, vou votar nos comunistas!”. Na situação que a imagem documenta, Zita precipitou-se para um canal de televisão para garantir aos eleitores que «as agressões a Vital Moreira eram obra do PCP». Quando horas mais tarde já toda a gente sabia que o grande organizador da tal “agressão” montada pela máquina de campanha do PS, era o famoso “loirinho” do Bloco de Esquerda... a dona Zita Seabra já não percorreu o caminho que antes tinha feito, desta vez para desdizer as suas acusações... certamente, apenas por falta de tempo. Nada de novo, nem demais... e, como disse, este post não é sobre Zita Seabra.
Regressando ao tema dos períodos pré-eleitorais, já toda a gente verificou que as televisões e as revistas desencantam sempre uns documentários “históricos” onde vem escarrapachada a maldade dos comunistas e as coisas terríveis que eles fizeram, ou não, lá por volta dos anos 20, 30, 40, 50 e 60 do século XX, por contraste com os EUA, o paraíso na terra e pátria da “democracia”, onde, também por essa altura, a miséria era esmagadora, a exploração selvagem era (e é) a norma, onde os anarquistas/sindicalistas Sacco e Vanzetti eram assassinados pelo estado, sob falsas acusações, os Rosenberg eram assassinados pelo estado, sob falsas acusações, onde o mundo artístico e intelectual era assolado pela barbárie de um senador fascista, McCarthy... ou onde o “playboy” John Kennedy, planeava sucessivas tentativas de assassinato de Fidel. Mais as bombas de Nagasaki e Hiroshima, mais a Coreia, mais o Vietname, mais Iraque, mais Afeganistão... a lista vai por aí fora.
Em vésperas das eleições do próximo dia 5 de Junho, a novidade veio do “Canal Q”, um inovador (e interessante) canal de televisão, disponível apenas para os assinantes da MEO, virado para uma audiência jovem, um canal onde se respira uma indisfarçável simpatia pelo BE. Apenas por uma (in)feliz coincidência e não, certamente, para ajudar a que os muitos militantes e simpatizantes que nas últimas eleições presidenciais já defendiam o voto em Francisco Lopes (cansados das trapalhadas de Louçã), não o façam agora nas legislativas... lá foi a dona Zita Seabra sempre em serviço, dar uma longa entrevista ao canal.
Ainda pensei “lançou qualquer coisa, vai fazer qualquer coisa”... mas não! A grande entrevista era sobre a enorme atualidade do seu livro “Foi assim”, de 2007. O entrevistador estava encantado, tinha o livro praticamente decorado e sempre nas mãos, enquanto ia puxando pela língua da entrevistada, mostrando que conhecia, uma por uma, as estórias mais “suculentas” e apropriadas para o efeito desejado, relatadas no livro da ex-dirigente comunista.
Como nunca li o livro, estas oportunidades servem para ir conhecendo uma ou outra das tais “fantásticas” estórias, como por exemplo, que Zita não passou diretamente para o PS, apenas porque ficou zangadíssima com o facto de, exatamente quando ela saía do PCP, estar o PS a negociar aquela que foi um frutuosa coligação, em Lisboa, entre os socialistas e a CDU. Fiquei também a saber que a sua grande amizade por Cavaco Silva, então primeiro-ministro, nasceu num dia em que ela resolveu ousadamente “meter-lhe uma cunha” para ajudar num problema de uns juros bancários numa livrança qualquer... problema que ele, a ver pelo posterior percurso dela... resolveu muito bem. Cavaco deve ter pressentido que "aquilo" era terreno "fértil"... e facilmente comprável. Teve razão!
Finalmente, fiquei a saber do horror que foi a sua vida pessoal, enquanto durou o processo de afastamento e expulsão do PCP, com assaltos e revistas de cima a baixo à sua casa, microfones plantados por todo o lado, perseguições constantes de seguranças que a seguiam a toda a hora e para todo o lado e, sobretudo, porque durante todo esse tempo sentiu a sua vida em perigo, certa de que iria ser abatida numa qualquer viela de Lisboa, por um desses seguranças.
O entrevistador babava-se de felicidade... e eu fiquei a pensar que se o ridículo matasse era, afinal e agora, que a vida dos dois estava por um fio.
Mas como disse no início... este post não é sobre Zita Seabra!