Hoje quero falar do tão vistoso surto “histérico” da dona Assunção Esteves no Parlamento.
Antes de mais, devo dizer que sim, acho que a insistência em interromper os trabalhos da Assembleia da República é uma liberdade que pode acabar por ser confundida com desrespeito pelo Parlamento e pelos seus deputados. Acho que pode contribuir para alimentar o clima de desrespeito pelas instituições da democracia, desrespeito que se vê e ouve um pouco por todo o lado. Aqueles que, descuidadamente, agora aprovam tudo o que ali se grite e faça nas galerias, dificilmente terão argumentos para travar os grupos de neo-nazis, fanáticos anti-aborto, beatos moralistas, saudosos do fascismo em geral, ou outros que tais, que resolvam ir boicotar os trabalhos de cada vez que se discutir ou aprovar uma lei que não lhes agrade.
Defendo e defenderei a liberdade dos cidadão terem acesso às galerias do Parlamento... mas por uma questão de ar puro, de saúde, propagação do som e espaço para os braços, para as pernas e para os cartazes, a “casa” destas manifestações deve continuar a ser a rua.
Contra mim falo, que há bem pouco tempo participei na famosa “grandolada” ao Passos Coelho... uma estreia que, muito provavelmente, foi também a minha última “actuação” naquele palco... ou outro do género.
Posto isto, voltemos à vaca fria (acho que já não preciso mais de repetir que isto é mesmo uma frase-feita popular, que quer dizer “vamos voltar ao assunto principal”)!
Vendo o comportamento da dona Esteves no Parlamento, ocorreu-me, mais uma vez, que toda a série de clichés reservados às varinas e peixeiras, mulheres de trabalho duro e sofrido, clichés como “arrear a giga”, “descer das tamancas”, “atirar com a canastra”, “pôr a mão na anca”, “fazer uma peixeirada”,etc, etc... são, para além de sexistas, classistas e sobranceiros, muito injustos e, sobretudo deslocados.
Basta ver a facilidade com que uma sonsa, snob, muito bem penteada e vestida, espertalhaça, bem na vida, aproveitadora, xupista, reformada desde os 42 anitos com milhares de euros cada mês... consegue com grande maestria “arrear a giga”, “descer das tamancas”, “atirar com a canastra”, “pôr a mão na anca”, “fazer uma peixeirada”, etc, etc...
Deixando de lado a citação perfeitamente imbecil, direi mesmo canalha, tal o despropósito, com que resolveu “ilustrar” o acontecimento, a pretensão da dona Esteves, quanto à "revisão das regras" de acesso do público às galerias até poderia, hipoteticamente, ser discutível... mas uma coisa é certa: é urgente rever, profundamente, as regras de acesso aos lugares de deputado, em geral... e, em particular, ao lugar de Presidente da Assembleia da República!
* Observação absolutamente histórica feita por uma vendedeira de peixe do Mercado do Bolhão, a uma freguesa que não parava de cheirar, com ar desconfiado, as sardinhas. Funciona melhor imaginando o maravilhoso e musical sotaque portuense.