novembro 27, 2011

a máquina de fazer espanhóis - valter hugo mãe

Título original: a máquina de fazer espanhóis
Ano da edição original: 2009
Autor: valter hugo mãe
Editora: Alfaguara Portugal (Objectiva)

"Esta é a história de quem, no momento mais árido da vida, se surpreende com a manifestação ainda de uma alegria. Uma alegria complexa, até difícil de aceitar, mas que comprova a validade do ser humano até ao seu último segundo. a máquina de fazer espanhóis é uma aventura irónica, trágica e divertida, pela madura idade, que será uma maturidade diferente, um estádio de conhecimento outro no qual o indivíduo se repensa para reincidir ou mudar. O que mudará na vida de antónio silva, com oitenta quatro anos, no dia em que violentamente o seu mundo se transforma?"

Adiei a leitura deste livro durante alguns meses com medo de que não correspondesse às expectativas. Agora que o li vejo que os receios não tinham qualquer razão de ser. Este livro é tudo aquilo que já se disse acerca dele e muito mais. Gostei mesmo muito! :) E, quando gosto muito enfrento a típica dificuldade de colocar em palavras o porquê de ter gostado... Muitas das coisas de que gostamos, gostamos porque sim, sem necessidade de esmiuçar o porquê. Gostamos e pronto... Neste caso a reacção não é tão irracional ou emotiva, não é apenas gosto porque sim. As razões são fáceis de identificar e não são originais: está muito bem escrito, o tema é original e a forma como é abordado é tudo menos previsível, as personagens estão muitíssimo bem desenvolvidas e é divertido na mesma medida em que é angustiante e triste. Poderia continuar a enumerar razões que justifiquem o meu "Gostei mesmo muito!" e não seriam de todo originais, pois já foram utilizadas muitas outras vezes em posts anteriores aplicados a outros livros e escritores. Porque é que a máquina de fazer espanhóis é diferente? Talvez porque aquilo que não conseguimos exprimir por palavras é o que distingue um livro bom de um livro especialmente bom. Talvez seja isso... :)

E porque a dificuldade em escrever esta opinião estar a ser grande mas, também porque a minha vontade enquanto lia o livro era transcrevê-lo na íntegra para aqui, vou recorrer mais do que o normal a passagens do livro. ;)

O livro é todo ele passado num lar de terceira idade, o lar da feliz idade, onde o mais recente utente, antónio silva, ou senhor silva, ingressa após a morte de laura, a companheira de uma vida e o amor da vida dele.

"a laura morreu, pegaram em mim e puseram-me no lar com dois sacos de roupa e um álbum de fotografias. foi o que fizeram. depois, nessa mesma tarde, levaram o álbum porque achavam que ia servir apenas para que eu cultivasse a dor de perder a minha mulher. depois, ainda nessa tarde, trouxeram uma imagem da nossa senhora de fátima e disseram que, com o tempo, eu haveria de ganhar um credo religioso, aprenderia a rezar e salvaria assim a minha alma."

O que não aconteceu, a imagem de nossa senhora de fátima foi baptizada de mariazinha e as pombinhas arrancadas da nuvem fofa para servir outros propósitos. :) mariazinha foi, no entanto, muitas vezes companhia para a solidão do senhor silva e um conforto no meio do pesadelos que o assomavam durante a noite. Credo religioso? Talvez sim, talvez não. :)

A tristeza do senhor silva pela perda de laura é de cortar o coração, o amor que transparece em todas as suas palavras é comovente, mais ainda quando vêm de um octogenário. Sejamos sinceros, poucos de nós olhamos para as pessoas de idade como pessoas que ainda possam dar tanto e amar tanto de uma forma tão boa. O que é estranho, porque todos nós o desejamos, no entanto não reconhecemos nos outros essa capacidade. Somos criaturas estranhas e, deve ser verdade que a sabedoria vem com a idade. :)

"eu ia tomar chá sozinho, adorando as nossas brigas de namorados. tão imaturos quanto os mais jovens. tão feitos um para o outro quanto possível. já conhecedores do caminho das pedras que, ao fim de uma ou duas horas, nos levaria novamente ao coração um do outro com mimos e promessas de eterno amor."

"com a morte, também o amor devia acabar. acto contínuo o nosso coração devia esvaziar-se de qualquer sentimento que até ali nutria pela pessoa que deixou de existir. pensamos, existe ainda, está dentro de nós, ilusão que criamos para que se torne todavia mais humilhante a perda e para que nos abata de uma vez por todas com piedade. e não é compreensível que assim aconteça. com a morte, tudo o que respeita a quem morreu, devia ser erradicado, para que aos vivos o fardo não se torne desumano. esse é o limite, a desumanidade de se perder quem não se pode perder. foi como se me dissessem, senhor silva, vamos levar-lhe os braços e as pernas, vamos levar-lhe os olhos e perderá a voz, talvez lhe deixemos os pulmões, mas teremos de levar o coração, e lamentamos muito mas não lhe será permitida qualquer felicidade de agora em diante."

Fiquei impressionada com a revolta que emanava das palavras desta personagem e com a humilhação que sentia. Senti-me pessoalmente atingida pelas palavras de revolta do senhor silva, pela forma como se sentia desprezado e diminuído pelas pessoas mais novas. É mesmo isto que nos espera a todos? Fazemos mesmo isto, ainda que inconscientemente e com boas intenções? Os nossos "velhos" sentem-se realmente assim?
Perguntas retóricas, porque todos sabemos qual é a resposta e, todos sabemos que este é daqueles pensamentos, como a morte, que preferimos não aprofundar muito...

"estou entregue, pensei. aos meus pés os dois sacos de roupa e uma enfermeira dizendo coisas simples, convencida de que a idade mental de um idoso é, de facto, igual à de uma criança. o choque de se ser assim tratado é tremendo e, numa primeira fase, fica-se sem reacção. se aquela enfermeira pudesse acabar com aquele sorriso, ao menos acabar com aquele sorriso, seria mais fácil para mim entender que os meus sentimentos valiam algo e que sofrer pela laura não vinha de uma lonjura alienígena, não era uma estupidez e, menos ainda, vinha de um crime para clausura e tudo. e ela sorria e eu poderia desejar-lhe, com tanto desprezo, o pior mal do mundo. que lhe arrancassem os braços e as pernas, pensava eu, tirem-lhe os olhos e façam-lhe perder a voz e chamem-lhe cabra porque é o que ela merece. senhor silva, com esta mantinha vai ficar quentinho à noite. ainda aqui vai ter muitos sonhos bonitos, vai ver."

"gosto desta maldade, não podemos ficar velhos e vulneráveis e todas as coisas, temos de nos rebelar aqui e acolá, caramba, temos de estar a postos para alguma retaliação, algum combate, não vá o mundo pensar que não precisa de tomar cuidado com as nossas dores."

Embora o início do livro pareça todo ele um desfiar de recordações, de recusas em pertencer aquele lugar, de resistência a uma nova espécie de felicidade, como se isso fosse ofender quem partiu, o livro não é apenas isso. A morte está sempre presente, as doenças idem idem aspas aspas, mas também estão presentes a amizade, o amor, a alegria, a gargalhada e a vida. Naquele lar da feliz idade ainda há muita vida. :) E, até o rabugento do senhor silva acabou por reconhecer que ainda não tinha vivido e aprendido tudo.

"depois confessei-lhe, precisava deste resto de solidão para aprender sobre este resto de companhia. este resto de vida, américo, que eu julguei já ser um excesso, uma aberração, deu-me estes amigos. e eu que nunca percebi a amizade, nunca esperei nada da solidariedade, apenas da contingência da coabitação, um certo ir obedecendo, ser carneiro. eu precisava deste resto de solidão para aprender sobre este resto de amizade."

Para além do senhor silva, valter hugo mãe, apresenta-nos outras personagens igualmente idosas que se tornam o apoio do senhor silva, eles próprios com as suas tristezas pessoais, mas melhor adaptados ao que é esperado deles. São homens que trazem da tristeza profunda um senhor silva, perdido sem a laura. Juntos, riem, fazem partidas, gozam com as mazelas uns dos outros e com a religião e criam, quando já pouco se espera, laços que talvez nunca tivessem sido possíveis de criar noutras condições.
São eles o Esteves sem metafísica, centenário, que Fernando Pessoa imortalizou no poema Tabacaria, o senhor pereira, o conciliador do grupo e o primeiro grande amigo do senhor silva, o anísio franco, também ele octogenário mas cheio de vida e de projectos e, por último o silva da europa, o mais novo do grupo, sexagenário, funcionário da clínica onde laura morreu e que estava junto do senhor silva quando a notícia lhe foi dada. O silva da europa é um anti-fascista convicto e é dele a expressão que dá título ao livro:

"e sabem que mais, portugal ainda é uma máquina de fazer espanhóis. é verdade, quem de nós, ao menos uma vez na vida, não lamentou já o facto de sermos independentes. quem, mais do que isso até, não desejou que a espanha nos reconquistasse, desta vez para sempre e para salários melhores. deixem-se de tretas, meus amigos, que o patriotismo só vos fica mal, bem iam assentar-vos uns nomes à maneira, como pepe e pablo, diego e santiago, assim a virar para o lado de lá da fronteira, onde se come mais à boca grande e onde sempre houve mais ritmo no sangue. aqui, enquanto houver um salazar em cada família, estamos entregues ao inimigo."

Este livro é um murro no estômago, um dedo na ferida, e, embora angustiante, desconfortável e triste é, ao mesmo tempo, enternecedor, divertido, inesperado e incrivelmente bem escrito. :)
valter hugo mãe, numa escrita despida, límpida e fluída, numa história sem preconceitos e surpreendente, onde as personagens são muito bem exploradas é bem capaz de ter escrito um dos melhores livros que já li! Gostei mesmo muito!

Recomendadíssimo, como é óbvio! ;)

novembro 20, 2011

Maligna - Joanne Harris

Título original: The Evil Seed
Ano da edição original: 1989
Autor: Joanne Harris
Tradução do Russo: Isabel Alves
Editora: Edições Asa (edição de 2011 - revista pela autora)


"Algo dentro de mim recorda e não esquecerá...

Alice e Joe têm em comum a paixão pela arte - ela é pintora e ele é músico - e, em tempos, estiveram também unidos pelo amor que sentiam um pelo outro. As suas vidas seguiram diferentes rumos, mas o reencontro é inevitável. Joe tem agora uma nova namorada, Ginny, que provoca em Alice uma intensa perturbação. A beleza etérea e singular de Ginny repele-a, e o seu sinistro grupo de amigos atemoriza-a. Os hábitos estranhos da jovem deixam Alice suficientemente inquieta para levar a cabo uma investigação por conta própria. E o que descobre vai mudar tudo. Ginny tem em seu poder um velho diário que conta a trágica história de amor de Daniel Holmes e Rosemary Virginia Ashley, cujo poder de sedução não conhece limites. Só que Rosemary morreu há meio século... mas o seu magnetismo não está certamente extinto. À medida que as histórias se entrelaçam, passado e presente fundem-se; Alice apercebe-se de que o seu ódio instintivo em relação à nova namorada de Joe pode não se dever apenas ao ciúme, já que algo em Ginny a arrasta irremediavelmente para um universo de insondável obsessão, vingança, sedução e sangue..."

É bom regressar a um porto seguro e familiar depois de ter andado a vaguear por paragens desconhecidas, estranhas e nem sempre boas. :) Este livro devolveu-me a vontade de ler e isso é, por si só, motivo para ter um lugar especial nas minhas leituras deste ano. ;) Se acrescentarmos a isso, o facto de ser da Joanne Harris a minha opinião nunca poderia ser negativa!

A história é narrada em dois tempos, o tempo de Rosemary e Daniel Holmes e o tempo de Alice, Ginny e Joe.
Daniel é um jovem com 25 anos, intelectual e pacífico que vê a sua vida mudar no dia em que, de forma heróica, salva Rosemary de uma morte certa no rio. Rosemary é uma rapariga estranha, aparentemente frágil e vulnerável, é dona de uma beleza etérea, que deixa Daniel completamente apaixonado. Provoca no jovem uma impressão tal que Daniel nunca mais será o mesmo.
Cerca de 50 anos depois de Daniel ter salvo a vida de Rosemary, é-nos apresentada Alice, uma artista e pintora promissora que perdeu a capacidade de ser feliz no dia em que o namorado Joe, a abandonou. Quando este lhe liga, passados três anos sem dar notícias, para lhe pedir um favor que envolve Ginny, a sua nova namorada, Alice não lhe sabe dizer que não e acaba por ser arrastada para o meio de uma história de terror, com personagens sinistras e assustadoras.

O que liga estas personagens é o que vai sendo desvendado à medida que a história é contada, e que história! :)

As minhas expectativas para este livro eram relativamente baixas. E porquê? Porque Maligna (The Evil Seed no original) foi o primeiro livro que Joanne Harris escreveu e editou e, é um livro sobre... uma espécie de vampiros. :) Terminada a leitura cabe-me dizer que, para primeiro livro não está nada mal e que, na realidade, os vampiros são mais criaturas malignas, que para além da maldade a única coisa que têm em comum com as míticas criaturas da noite é a sede de sangue. Tudo o resto é diferente. Aliás, a autora nunca os denomina dessa forma, são antes almas imortais, cuja imortalidade reside na memória dos vivos. :)

Afastados os receios iniciais acabei por gostar bastante do livro porque, simpatias à parte, é um livro bem escrito, que se lê muito bem, leve, mesmo com todas as descrições nojentas incluídas, que foge muito à típica história de vampiros e de horror, e que tem personagens bem desenvolvidas com as quais conseguimos criar empatia.

Posto isto, recomendo, como não poderia deixar de ser. ;)

Boas leituras!

Excerto:
"Nenhum nome lhe serve, digo-lhe; do mesmo modo, todos os nomes servem. Só sei que ela é velha, tão velha como a corrupção de onde veio, embora ao mesmo tempo, monstruosamente jovem. Ela é algo que transcende a lenda, como Deus transcende superstições infantis de pães e peixes. Suponho que Jung lhe teria chamado uma anima pérfida; como vês, também sei falar na tua linguagem, sei usar os teus argumentos melhor do que tu, mas isso não pode exorcizar a criatura demoníaca que governa os meus sonhos. A imagem de sangue que transcende todas as minhas visões dela agonia-me e excita-me, como dirias, suponho, que a minha concepção da minha própria sexualidade me horroriza."

novembro 07, 2011

Balada da Praia dos Cães - José Cardoso Pires

Título original: Balada da Praia dos Cães
Ano da edição original: 1982
Autor: José Cardoso Pires
Editora: Booket (Dom Quixote)

"O romance foi escrito no período pós-revolução de 25 de Abril de 1974. A acção situa-se no princípio dos anos 60, e retrata alguns aspectos da sociedade portuguesa em plena época da ditadura salazarista. Relata a investigação dum assassínio; e a história começa com o relatório da descoberta de um cadáver enterrado na Praia do Mastro em 3 de Abril de 1960. Mais tarde, a polícia descobre tratar-se do major Luís Dantas Castro, um militar preso por tentativa de rebelião contra o regime vigente e que escapara da prisão."

Tenho de confessar que este livro me custou imenso a ler. Sinto-me saturada e, parece que a minha cabeça entrou em greve, estando a entrada/aquisição de novos conhecimentos sujeita a serviços mínimos. :) Ando com muito pouca paciência e sinto que a opinião com que fiquei deste livro reflecte exactamente isso. Achei o livro confuso, por vezes aborrecido e não houve uma única vez em que não adormecesse com ele nas mãos... Mas até gostei, não adorei, mas também não desgostei... :/ Não terá sido a melhor altura para o ler, isso é certo, mas enfim, foi nestas condições e é nestas condições que vai ficar.

Falando do livro que é para isso que aqui estamos.
Em a Balada da Praia dos Cães, é relatada a investigação de um homicídio. A vítima é o Major Luís Dantas Castro, fugido da cadeia onde se encontrava por ter participado num golpe de estado. Os suspeitos, três pessoas, todas cúmplices na sua fuga da prisão: Filomena, a amante, o arquitecto Fontenova Sarmento, companheiro de fuga e o cabo Barroca, facilitador da fuga. Elias Santana é o investigador encarregue de desvendar este crime. Elias Santana, também conhecido por Covas, é uma personagem peculiar mesmo sendo uma personagem em todos os sentidos normalíssima, não deixa de ser uma personagem que desperta curiosidade e empatia. Gostei dele, dele e da Filomena. Filomena era amante da vítima, uns bons anos mais nova que o Major, dona de uma grande beleza e de uma personalidade forte. Surge neste relato como a personagem que nos conta o que se passou, de uma forma muito desprendida e desiludida. Filomena, ou Mena, era a obsessão de Dantas e acaba, ao longo da investigação, por ser tornar, de certa forma numa obsessão para Elias, um solitário.
Inicialmente a personagem do Major Dantas surge como uma personagem por quem poderemos ter algum respeito, um revolucionário que morre prematuramente, um dos muitos homens e mulheres que lutaram pela liberdade do país. No decorrer da investigação, a nossa opinião acerca deste homem vai-se alterando e no fim o que sentimos é que, para além de detestável, o major era louco e, acabamos por perceber as razões que levaram à sua morte. Enfim, as melhores acções podem partir até de pessoas menos boas. ;)

A acção passa-se na década de 60, em pleno Estado Novo, estando o livro cheio de referências à repressão e à actuação menos clara das autoridades. Aqui a PIDE é uma força omnipresente, curiosamente ridicularizada na voz de Elias Santana e do seu chefe. No entanto a influência que a polícia política tinha nas investigações da época é notória, particularmente por a vítima e os suspeitos estarem ligados a grupos de resistência anti-salazarista. O livro acaba por dar uma perspectiva da época que não é muito comum, a da polícia dita "normal" e que é interessante.

O livro está escrito de uma forma original, pois inclui excertos dos interrogatórios e do que ficou escrito no processo de investigação e que se integram, de forma natural, na narrativa e na forma como o autor conta a história. Dilui-se assim, a linha que separa a ficção da realidade, tornando a investigação menos realista mas, ao mesmo tempo tornando a historia mais real. Gostei da forma que José Cardoso Pires encontrou de nos contar uma história que, não sei se é baseada ou não numa investigação real.

O lado menos bom da questão foi o ter achado a história um pouco confusa, o que, fruto ou não da minha menor capacidade de concentração, não deixou de me afastar um pouco da história e, manter o interesse foi por vezes complicado.

Concluindo, foi um livro que tive alguma dificuldade em ler mas que não deixei de achar bom e que me deixou com vontade de ler outros deste escritor português que nunca tinha lido. Por isso acho que é uma leitura que vale a pena e que recomendo. :)

Boas leituras!

Excerto:
"Entre o lagarto Lizardo e a malga das sopas o chefe de brigada está todo virado para o estendal de notícias que se abre diante dele com badaladas de primeira página a anunciar o defunto. Retrato do dito: o De Cuju, dito cujo, fardado de oficial. Descrições, conjecturas sobre o podre, um cheiro a cadáver que até arrepia. Depois vem o passado, história antiga, como é uso nas conversas de velório, o morto fez, o morto aconteceu, ai coitadinho; e andante, andante, resmunga o polícia em pijama, segue o funeral."