Olá pessoal, tudo bem? Talvez vocês estejam vendo postagens pelas redes sociais com a temática
Setembro Amarelo, que
"é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo direto de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo e suas formas de prevenção" (
fonte). Eu pensei muito, mas não sabia se deveria ou não escrever sobre o tema, nem o que escrever; então
decidi simplesmente contar a minha história, pois aprendi que falar faz bem e ajuda a organizar as ideias.
Leiam com carinho ♥!
Meu nome é Maria, tenho 25 anos e já pensei inúmeras vezes em me suicidar. Nunca tentei de fato.
Aos 8 anos, fui diagnosticada com depressão por um farmacêutico que me passou alguns remédios que tomei por alguns meses. Não foi o diagnóstico ideal, mas compreendam: eu morava na zona rual de uma cidade minúscula do interior, onde era difícil conseguir um médico, que dirá um psicólogo. Esse farmacêutico era a salvação da minha família, e foi para eles que correram quando viram a filha sempre chorando sem motivo. Naquela idade, me sentia muito sozinha, e lembro de incontáveis tardes em que fiquei no quintal pensando em formas de me matar.
E assim eu cresci. Numa luta eterna entre a certeza de que não importava o que os outros pensavam de mim e a vontade de ser aceita, uma vontade comum especialmente na adolescência. Sempre fui tímida, e algumas vezes para me soltar nas festas, tomava bebidas alcoólicas. E eu me soltava, mas depois me arrependia das bobagens que fazia ou falava enquanto estava bêbada. Aí vinha a vergonha e o arrependimento, duas forças muito perigosas para quem já tinha pensamentos depressivos.
"Você não está viva se não tiver arrependimentos." (trecho do livro "Tudo e todas as coisas" da Nicola Yoon, páginas 182, lido em 2017)
A escola era um paraíso e um inferno. Um paraíso onde eu tinha amigos e sentia que era boa em alguma coisa, onde tinha um propósito para existir: aprender. Mas também era um inferno onde eu podia ser ignorada ou ridicularizada.
Em 2010, depois de terminar o Ensino Médio, comecei esse blog e descobri que também poderia ter voz. Depois de conhecer alguns blogs literários, em 2012, decidi voltar a ler. Sempre gostei de livros, mas no mundo em que eu vivia, era um "luxo" desnecessário. Aí eu comecei a ler, comprava alguns livros pela internet ou na revista da Avon, pedia pro meu namorado no aniversário, pegava emprestado num grupo na internet (o que me forçava a ter que sair da comodidade da minha casa ou da loja onde trabalhava e ir até a agência dos Correios fazer o envio para devolver o livro), comecei a conseguir parcerias com autores e editoras... Pouco a pouco, fui me abrindo enquanto o mundo também se abria para mim.
"Assim, Jean se deixava embalar pelas ondas, que o erguiam e passavam. E começou aos poucos, devagar, infinitamente devagar, a confiar. Não no mar, de jeito nenhum, esse erro ninguém deveria cometer! Jean Perdu voltou a confiar em si mesmo." (trecho do livro "A livraria mágica de Paris" da Nina George, página 239, lido em 2017)
Em 2013, eu li o livro "As vantagens de ser invisível" do Stephen Chbosky. E acredito que foi nesse ponto que a maior mudança da minha vida ocorreu. Até então, eu tentava me proteger de tudo, deixava de sentar na calçada para não sujar a roupa, deixava de comer as coisas na rua por achar que poderia sujar o rosto, não cantava por medo de me sentir ridícula, não lia livros tristes nem via filmes de drama para não chorar, sufocava minhas vontades por medo... Aí eu conheci o Charlie, protagonista do livro, e foi como se eu encontrasse a explicação para tudo o que estava dentro de mim e eu não consegui explicar.
"As vantagens de ser invisível" me fez pensar em me matar, afinal, por quê não? Mas também me fez pensar em viver, afinal, por quê não? "Talvez seja bom colocar as coisas em perspectiva, mas às vezes acho que a única perspectiva é estar aqui. Como disse a Sam. Porque não há problema em sentir as coisas. E ser quem você é." Essa citação da página 221 e outras tantas do livro me fizeram aceitar quem eu sou, com tudo o que eu já fui e com o que eu posso ser.
Depois de "As vantagens de ser invisível", eu entrei para a faculdade (que se Deus quiser terminarei esse ano), encarei os estágios, casei, escrevi e publiquei três contos em antologias, comecei um canal no YouTube, me tornei feminista (o que me ajudou a não sentir culpa por não seguir o padrão opressor que a sociedade impõe), e estou seguindo em frente a cada dia.
"Apenas aguente como puder e acredite no futuro. Confie em mim. Esta é apenas uma pequena parte de sua vida." (trecho do livro "Perdão, Leonard Peacock", Matthew Quick página 105, lido em 2014)
Li muitos outros livros com a depressão e o suicídio como temas. Posso citar "Perdão, Leonard Peacock", onde o personagem ia cometer um assassinato e depois se suicidar, mas antes teve a presença confortadora de um professor que estava lá quando ele precisou, sorte que a Hannah de "Os 13 porquês" não teve, mas que, assim como o livro do Leonard e tantos outros lidos, deixou como lição a importância que as nossas palavras podem ter na vida dos outros. Palavras que podem matar especialmente aqueles que já estão feridos, mas que também podem ajudar a despertar a cura naqueles que precisam se sentir parte de algo, que precisam de algum lugar onde se apoiar num momento difícil.
"Ninguém sabe ao certo quanto impacto tem na vida dos outros. Muitas vezes não tem noção. Mas forçamos a barra do mesmo jeito." (trecho do livro "Os 13 Porquês", Jay Asher, página 135, lido em 2014)
Eu nunca passei grandes dificuldades, nunca tive grandes perdas, não tenho nenhum trauma que eu me lembre. Não dá para encontrar nada que justifique a depressão, a ansiedade, a falta de ânimo e de vontade de viver que já experimentei. Antes que alguém cogite "falta de Deus", minha relação com ele vai "muito bem, obrigada!", tanto que entendi que ele não me abandonou nas tantas vezes em que o busquei, mas que nada conseguirá florescer sem antes eu cuidar do solo.
No último ano eu tive dias de muito choro, onde novamente a vontade de acabar comigo apareceu, mas essas duas décadas e meia de existência me ensinaram que esses momentos passam para mim. E quando dias difíceis chegam, eu deixo as lágrimas saírem e espero, penso em tudo o que há na Terra e que eu amo: a minha família, os meus livros, as histórias que eu ainda quero ler e escrever. Diversas vezes já esqueci momentaneamente minhas tristezas nas páginas de alguma trama que eu nunca viveria, mas que me distraiam. Mantenho um diário, pois me lembrar do que aconteceu nos anos anteriores me ajuda a ver o quanto já sobrevivi. Leio de tudo, pois tanto um livro de terror quanto um romance podem despertar emoções em mim; ouço todo tipo de música, pois cada uma pode mexer uma parte do meu corpo; experimento todos os tipos de sorvete e de comidas, ainda que tenha meus preferidos. Quando bate a ansiedade, penso no pior e no melhor que pode acontecer, e me lembro que o que importa é tentar (confesso que sempre tento ter um plano B).
"Quando meu pai adoeceu, tinha tantos arrependimentos... Ele me disse que havia tantas coisas que queria ter feito... Sempre imaginara que teria mais tempo. Nunca me esqueci disso. Por quê você acha que resolvi aprender a tocar flauta numa idade tão avançada? Todos disseram que eu era velha demais, que para ser realmente boa eu deveria ter começado quando criança. Mas a questão é que não preciso ser boa. Só tenho que me divertir com isso. E saber que tentei." (trecho do livro "O visconde que me amava" da Julia Quinn, página 283, lido em 2014)
Eu não sei exatamente o que viverei nos próximos anos. Não sei se há uma cura definitiva. Como o Wolf de "A Montanha" tem como lema: sei que "haverá oscilações", sei que posso novamente me sentir muito triste e cansada, sei que posso ter semanas terríveis onde o fim pode parecer a saída mais fácil. Mas enquanto esses dias não chegam, vou me abastecendo de pedacinhos de felicidade, vou traçando objetivos que parecem irreais para o meu lado pessimista, mas que podem acontecer se eu for atrás nessa era cheia de possibilidades, tento me limpar dos pensamentos e sentimentos ruins e tecer uma corda, não como uma forca, mas como algo para me prender à vida.
Se você conhece alguém que pode estar pensando em suicídio, esteja atento, esteja presente. Acompanhamento médico/psicológico pode ajudar muito, mas para isso é preciso que ele seja buscado. Se você cogita a possibilidade do suicídio, acredite que SEMPRE há outras alternativas, sempre há algo que valerá a pena viver para ver. Nossa vida importa, tem valor, temos um espaço no mundo, podemos fazer a diferença.
"- O tempo nunca acaba -, sussurrou, sem olhar pra mim, mas mirando minha tela. - Como sempre há tempo para a dor, também sempre há tempo para a cura. É claro que há." (trecho do livro "A Lista Negra", Jennifer Brown, página 179, lido em 2015)
Por hoje é só, espero que tenham gostado desse post bem pessoal. Recomendo a leitura de todos os livros que citei, pois podem gostar deles. Suicídio é um assunto cercado de preconceitos e incertezas, mas como o próprio site do Setembro Amarelo diz: "falar é a melhor solução". Recomendo também que visitem o site do
CVV - Centro de Valorização da Vida para compreender melhor o assunto.
Até o próximo post!
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