Olá pessoal, tudo bem? Na resenha de hoje venho comentar sobre minha experiência de leitura com o livro "Segredos de uma noite de verão", escrito pela Lisa Kleypas e publicado no Brasil pela Editora Arqueiro em 2015.
A história é narrada em terceira pessoa e se passa em Londres, em 1843. Já era o final da temporada de bailes, e mais uma vez Annabelle Peyton não tinha conseguido um pretendente, ainda que fosse linda, de boa família e bem educada. O problema era a falta de dote, seu pai morreu há alguns anos e seu irmão Jerremy, o outro homem da casa, ainda estava na escola. Como na época as mulheres da classe de Annabelle não podiam trabalhar, a família precisava se virar com as economias que tinham e que estavam acabando. Em poucas semanas, ela completaria 25 anos, e seria considerada velha demais para mais uma temporada. Algo pelo que alguns homens torciam, pois poderiam convencê-la mais facilmente a se tornar uma amante para conseguir se manter. A situação era desesperadora!
Mas Annabelle não era a única tomando chá de cadeira, sem ser tirada para dançar, naquela temporada. Em certo baile, ela reparou em três outras jovens: Lillian e Daisy (as irmãs Bowmans, vindas dos Estados Unidos, muito ricas, mas sem um título) e Evie (deixada de lados nos bailes por sua gagueira). As quatro começaram a conversar e resolveram se unir para conseguirem bons casamentos. Já que Annabelle era a mais velha, portanto, mais próxima de se tornar uma solteirona, ela seria a primeira a ser ajudada. As Bowmans lhe emprestariam roupas e joias para que ela parecesse mais bela (Annabelle não tinha sequer um sapato adequado para andar na grama), e iriam para as duas semanas de festa de final da temporada na propriedade de lorde Westcliff no campo, onde fariam o possível para que Annabelle fisgasse um nobre disponível.
"Annabelle ficou olhando para a moça americana fingindo estar chocada.
"Annabelle ficou olhando para a moça americana fingindo estar chocada.
- Você é cruel - disse por fim.
- Herdei isso da minha família. Os Bowmans são cruéis por natureza. Embora também possamos ser diabólicos quando a ocasião assim nos exige.
Rindo, Annabelle se voltou para Evie, que as fitava com uma expressão desconcertada.
- Evie - principiou com doçura -, até hoje sempre tentei fazer as coisas da forma certa. Mas não surtiu grandes resultados. Portanto, de agora em diante estou disposta a experimentar um método diferente..." (página 55)
Poderia ser um ótimo plano, mas temos Simon Hunt nessa história, não que ele quisesse atrapalhar as garotas, mas Hunt também fazia parte do time que gostaria de ter Annabelle como amante. Um casamento entre eles não era a primeira opção, já que Simon era filho de um açougueiro, sem sangue nobre nem título, mas que aos 33 anos, havia se tornado muito rico ao investir em empresas que fabricavam equipamentos agrícolas, navios e locomotivas (ramo que estava em ascensão na época) possibilitando que ele estivesse em muitos dos eventos da aristocracia, além de ser amigo de Westcliff. Dois anos antes, Hunt e Annabelle trocaram um beijo, e desde então, ele sempre lhe pedia uma dança nos bailes, e ela nunca dizia sim.
"Um homem podia ser perdoado por ser um emergente, desde que possuísse uma boa dose de cavalheirismo. No entanto, Simon Hunt não tinha. Não era possível travar conversas educadas com um homem que sempre dizia exatamente o que pensava, não importava quão pouco lisonjeiras ou censuráveis fosses suas opiniões." (página 20)
"Um homem podia ser perdoado por ser um emergente, desde que possuísse uma boa dose de cavalheirismo. No entanto, Simon Hunt não tinha. Não era possível travar conversas educadas com um homem que sempre dizia exatamente o que pensava, não importava quão pouco lisonjeiras ou censuráveis fosses suas opiniões." (página 20)
Mas na propriedade de Westcliff, os dois acabariam ficando mais próximos, se conheceriam melhor e teriam que decidir se poderiam ficar juntos apesar da diferença de classes.
Ler "Segredos de uma noite de verão" me fez lembrar o motivo de a Lisa Kleypas ser minha autora favorita de romances de época! É fascinante como ela consegue descrever bem as roupas e os cenários da época, misturando ficção com realidade, ao citar comidas, músicas, instituições como bancos e teatros; a gente acredita mesmo na ambientação da história. A sucessão de acontecimentos e os personagens também são pontos altos, um enredo bem desenvolvido e coeso.
A situação de Annabelle é realmente desesperadora por causa da falta de dinheiro. É impossível não se comover com o que a família dela precisa passar. Imaginem tomar chá com o mínimo de açúcar possível, ir aos eventos com roupas remendadas e joias falsas! Annabelle não conhece outra vida além da que teve, não circulou por outros meios além da sociedade aristocrática, então, o casamento com um nobre é a única saída que encontra.
Simon Hunt tem consciência de que, apesar de rico, continua sendo um plebeu. Ele não é nenhum santo, e eu confesso que gostaria de ter entendido melhor o momento em que ele decidiu que Annabelle poderia ser sua esposa e não somente sua amante.
Falando em não ser santo, essa é outra característica dos personagens, eles são reais, com defeitos e qualidades. Armar para conseguir um casamento pode não ser uma atitude muito louvável, e a tímida Evie até reluta um pouco em aceitar participar do plano, mas por outro lado, ela quer viver, ser livre da tia que a maltrata. Lillian (protagonista do próximo livro) é uma força da natureza, determinada, esperta, jamais seria como uma dócil dama inglesa, e Daisy é super divertida, rendendo algumas das cenas mais engraçadas do livro: para fazer uma bola de couro para jogar sem que desconfiem, diz que está fazendo uma almofada (horrível!) para alfinetes, depois é só tirar os alfinetes e a bola está pronta (página 84), não se contenta por ser baixinha com seu pouco mais de metro e meio por sentir que as mulheres baixinhas são tratadas como crianças e quando ia fazer vestidos, ficava nas pontas dos pés, resultado: bainhas que precisavam ser refeitas (página 87).
Uma das coisas que mais gostei no livro foi como ele aborda a amizade. Já li vários livros onde as personagens femininas se tornavam amigas por terem algum laço com um homem em comum, por exemplo, a mocinha do segundo livro se torna amiga da mulher do mocinho do primeiro, ou seja, elas se aproximavam por causa de um homem. Em "Segredos de uma noite de verão" isso não acontece (e parece que é do mesmo jeito nos próximos volumes). Haja ou que houver, cassem-se com quem for, Annabelle, Lillian, Daisy e Evie continuarão sendo amigas e leais umas às outras. Sempre darão um jeito de conversar e se divertir. No início do livro há varias cenas só delas, ondem se divertem por se divertirem, sem a necessidade de estarem pensando em romance. Também é interessante a amizade entre Hunt e Westcliff, o segundo parece um nobre meio esnobe e insensível inicialmente, mas mostra seu valor nos capítulos finais.
A edição segue o padrão dos romances de época da Arqueiro, com uma capa em tons de rosa, páginas amareladas, boa revisão, diagramação com margens, espaçamento e letras de bom tamanho.
"Nos últimos anos, havia se tornado extremamente rico, tendo adquirido títulos majoritários em empresas que fabricavam equipamentos agrícolas, navios e locomotivas. Apesar do seu modo nada polido, Hunt era convidado para festas da alta sociedade, porque era demasiado rico para ser ignorado. Ele personificava a ameaça que as indústrias representavam para a centenária aristocracia britânica presa à propriedade agrícola." (páginas 20 e 21)
Enfim, "Segredos de uma noite de verão" foi um livro que eu gostei muito e que recomendo, pela boa construção da história, por seu pano de fundo com o embate entre a aristocracia inglesa e a ascensão industrial, por trazer um romance bem desenvolvido e com algumas cenas quentes intensas mas não vulgares, falar de amizade e ainda ter cenas bem divertidas. As situações vividas pelos personagens no século dezenove ainda causam empatia e reconhecimento no leitor dos dias de hoje. Estou me segurando para não jogar todos os compromissos pro alto, me trancar no quarto com os próximos volumes da série "As quatro estações do amor" (cada um é sobre um casal) e só sair de lá quando chegar na última página. Como estratégia para não fazer isso, o segundo volume, "Era uma vez no outono", encontra-se ainda embalado no plástico, pois sei que a hora que abri-lo, vou querer espiar as primeiras páginas e aí, "Adeus vida, trabalho, blog...".
Detalhes: 288 páginas, Skoob, ISBN-13: 9788580414271, leia um trecho. Curiosidade: essa série se passa alguns anos antes da série "Os Hathaways" (já resenhada aqui no blog), mas não é preciso ler uma para ler a outra. Clique e compre na Amazon:
Por hoje é só, espero que tenham gostado do post. Me contem: já leram ou querem ler algo da Lisa?
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Até o próximo post!
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