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16 de fevereiro de 2024

Bolo de laranja na Actifry para um pequeno-almoço rápido e quentinho!

Este bolo apareceu nos meus sugeridos do Instagram num Domingo de manhã, enquanto eu ainda estava na cama a fazer aquele scroll preguiçoso. Achei que era um sinal para comermos bolo quentinho ao pequeno-almoço, e meti mãos à obra :D A receita original vai à airfryer dentro de uma forma, mas como a nossa Actifry já tem ela própria uma cuba fiz lá directamente, daí ter ficado mais baixinho. Mas ficou bem saboroso, e marchou quase todo ainda quentinho :D


Bolo de laranja na Actifry

Ingredientes:

* Três ovos;
* 55g de manteiga derretida;
* 125g de iogurte natural (um iogurte);
* Uma colher de chá de essência de baunilha;
* Raspa de duas laranjas;
* 120g de farinha;
* 180g de açúcar;
* Uma colher de chá de fermento. 

Confecção:

* Bater bem os ovos com a manteiga, o iogurte, a essência de baunilha e as raspas de laranja;

* Juntar a farinha, o açúcar e o fermento e envolver bem até ficar uma mistura homogénea;

* Colocar numa forma dentro da airfryer (ou directamente na forma) e ligar a máquina durante 20 minutos (a minha não tem indicação de temperatura, mas a receita indicava 180º);

* Deixar arrefecer antes de desenformar (não fomos muito respeitadores disto).

18 de dezembro de 2014

Croquetes de peru na Actifry para uma prenda de casamento especial :D

I don't need a whole lotta money.
I don't need a big, fine car.
I got everything that a girl could want,
I got more than I could ask for.

I don't have to run around,
I don't have to stay out all night.
Cause I got a sweet, sweet loving man,
And he knows just how to treat me right.

Don't you know he is some kind of wonderful?
Yes, he is, he's some kind of wonderful.

Joss Stone (originalmente de Soul Brothers Six)

 

Quando casámos, a Joana e o Bernardo (os nossos padrinhos de casamento) disseram que gostavam de nos oferecer uma prenda que realmente gostássemos e utilizássemos, em vez de dinheiro (que eles consideravam impessoal).

Depois de lhes pedirmos um orçamento, e tendo em conta o quanto eles adoram vir jantar cá a casa e provar as nossas comidinhas, não hesitámos e pedimos uma Actifry.


Há anos que o Pedro andava a namorar uma Actifry. Desde a primeira vez que lhe falei em batatas 'fritas' saudáveis feitas sem óleo que o coração dele ficou logo irremediavelmente arrebatado, e esta pareceu-nos sem sombra de dúvida a melhor ideia de sempre para uma prenda de casamento - até porque para vos ser muito, muito sincera, não seria um investimento que fizéssemos por nós num futuro próximo. 

E assim, no dia em que casámos um com o outro, casámos também com os fritos saudáveis.


Desde então a Actifry tem dado um jeito incrível: para além das batatas fritas dos céus (que comemos todas as semanas) já de lá saíram chips de maçã, bifes panados com sementes de sésamo ou com quinoa, almôndegas vegan e até pães de Deus :D Continuo alegremente a descobrir as potencialidades desta máquina tão misteriosa e versátil, e ainda há imensas ideias que quero testar.


Desta vez foram uns croquetes de peru mais saudáveis. Na verdade costumava fazê-los no forno - por isso tecnicamente já eram saudáveis vá - mas honestamente acho que ficam mais crocantes na Actifry. Independentemente do electrodoméstico que utilizarem para os cozinharem, garanto que estes croquetes ficam deliciosamente aprovados para uma marmita mais reconfortante :D 


Croquetes de peru na Actifry

Ingredientes (para seis croquetes):

* Um fio de azeite;
* Um dente de alho picado;
* Uma cebola picada;
* Uma folha de louro;
* 30g de farinha de aveia;
* 150ml de leite quente;
* 250g de peito de peru picado;
* Uma pitada de sal;
* Uma colher de chá de pimentão-doce;
* Uma colher de chá de paprika;
* Uma pitada de piri-piri;
* Uma pitada de noz-moscada;
* Um ovo batido;
* Pão ralado q.b.;
* Ovo batido q.b.

Confecção:

* Refogar o azeite com o alho picado, a cebola picada e a folha de louro;

* Juntar a farinha e mexer bem, acrescentando depois lentamente o leite quente;

* Continuar a mexer até que a massa comece a descolar do fundo do tacho;

* Juntar a carne picada e temperar com o sal, o pimentão-doce, a paprika, o piri-piri e a noz-moscada;

* Retirar do lume e misturar um ovo batido em fio, mexendo sempre;

* Levar novamente ao lume e mexer até a carne descolar do fundo do tacho;

* Retirar e levar ao frigorífico durante duas horas;

* Moldar bolinhas ou cilindros e passar por um ovo batido e por pão ralado;

* Passar novamente por ovo batido e pão ralado, se desejarem uma camada mais crocante;

* Cozinhar na Actifry durante vinte minutos;

* Em alternativa, pincelar com um pouco de azeite e levar ao forno pré-aquecido a 200º durante trinta minutos.




Até amanhã! :D

11 de dezembro de 2014

Pães de Deus na Actifry para uma escolha difícil.

All I wanna do is have some fun,
I got a feeling I'm not the only one.

All I wanna do is have some fun,
Until the sun comes up over Santa Monica Boulevard.

Sheryl Crow


Ao longo deste primeiro ano de internato fui passando por diferentes serviços do hospital onde trabalho: comecei em cirurgia, passei pela pediatria, diverti-me na medicina interna, pensei muito sobre o futuro na psiquiatria e arrastei-me pela medicina geral e familiar. Em Dezembro chegou a vez de fazer um estágio opcional, no serviço onde eu quisesse. Mas qual seria?


Pensei em voltar a psiquiatria para me decidir de vez sobre qual seria a especialidade que escolheria para sempre, mas depressa mudei de ideias: afinal, o que aconteceria se decidisse ficar em psiquiatria mas não conseguisse entrar na especialidade e ainda tivesse que aguentar algumas semanas deprimentes no serviço?

Pensei em continuar em medicina geral e familiar, mas o horário semanal pesado e a carga emocional intensa demoveram-me: aquilo foi giro enquanto durou, mas apenas isso.


Pensei em experimentar uma especialidade não clínica (como a patologia clínica) para ter algum contacto com essa realidade, mas sejamos honestos aqui: eu sou uma pessoa de pessoas, e não me imagino a escolher uma especialidade onde não tenha doentinhos.

Pensei em voltar a medicina interna e passar novamente um mês na infecciologia - uma especialidade mesmo divertida e interessante - mas a verdade é que a patologia infecciosa em Dezembro é completamente diferente (e muito mais aborrecida, diga-se) do que a de Maio ou Junho (e também havia a pequena questão do hospital estar a transbordar de doentes com Legionella).

Uma semana antes do meu estágio opcional começar eu continuava perdida e confusa: qual era o caminho agora?


No fim, e depois de eliminar as especialidades referidas pelas razões supra-citadas, dividi as especialidades que sobravam em duas colunas: as tremendamente aborrecidas mas eventualmente úteis e as que eu acho interessantes mas não serão minimamente importantes para o meu futuro. Decidi escolher uma especialidade da segunda categoria. E fui para oftalmologia.


Ainda bem que o fiz, porque duas semanas depois estou a adorar a experiência. É verdade que muito provavelmente esta não será uma experiência particularmente útil para o meu futuro como especialista, mas essa é a parte engraçada de escolher algo: por vezes podemos simplesmente pensar 'Fuck it', mandar todos os motivos racionais à fava e escolher algo que gostamos só porque gostamos.


O mesmo é válido para estes pães de Deus. Queria testar uns pães de leite na Actifry, mas a verdade é que gosto mais de pães de Deus do que de pães de leite. Por isso decidi mandar os meus motivos racionais à fava e escolher algo que gosto só porque sim, porque gosto e porque 'Fuck it'.

Esta é então a terceira vez que esta receita aparece aqui no blog. Tal como o meu estágio de oftalmologia, não vos será particularmente útil. Mas isso não quer dizer que não seja divertida :D


Pães de Deus na Actifry
(a minha receita no forno aqui)

Ingredientes:

* 500g de farinha de brioche;
* 235ml de água morna;
* 100g de coco ralado;
* 100g de açúcar;
* Dois ovos;
* Açúcar em pó.

Confecção:

* Juntar a água e a farinha e amassar durante quinze minutos com as mãos enfarinhadas (podem fazer este passo na MFP);

* Deixar levedar num sítio morno durante 1.30h (normalmente deixo no forno pré-aquecido a 70º e desligado);

* Colocar a massa numa superfície enfarinhada e dividir em oito bolinhas;

* Colocar as bolinhas no tabuleiro da Actifry e devolver ao forno durante mais uma hora;

* Para a cobertura de coco juntar o coco, o açúcar e os ovos e envolver bem;

* Cobrir a massa com a cobertura de coco;

* Aquecer na Actifry durante quinze minutos;

* Deixar arrefecer e polvilhar com o açúcar em pó.



Até amanhã :D

25 de novembro de 2014

Bifes de peru panados com quinoa para uma adulta desapontada.

'Out in the woods stood a nice little Fir Tree. The place he had was a very good one: the sun shone on him: as to fresh air, there was enough of that, and round him grew many large-sized comrades, pines as well as firs.

But the little Fir wanted so very much to be a grown-up tree. He did not think of the warm sun and of the fresh air; he did not care for the little cottage children that ran about and prattled when they were in the woods looking for wild-strawberries. The children often came with a whole pitcher full of berries, or a long row of them threaded on a straw, and sat down near the young tree and said, 'Oh, how pretty he is! What a nice little fir!'. But this was what the Tree could not bear to hear.

At the end of a year he had shot up a good deal, and after another year he was another long bit taller; for with fir trees one can always tell by the shoots how many years old they are.

'Oh! Were I but such a high tree as the others are,' sighed he. 'Then I should be able to spread out my branches, and with the tops to look into the wide world! Then would the birds build nests among my branches: and when there was a breeze, I could bend with as much stateliness as the others!'

Neither the sunbeams, nor the birds, nor the red clouds which morning and evening sailed above him, gave the little Tree any pleasure.

In winter, when the snow lay glittering on the ground, a hare would often come leaping along, and jump right over the little Tree. Oh, that made him so angry! But two winters were past, and in the third the Tree was so large that the hare was obliged to go round it. 'To grow and grow, to get older and be tall,' thought the Tree - 'that, after all, is the most delightful thing in the world!'

Hans Christian Andersen

 

Ser adulto não é bem aquilo que me venderam. Disseram-me que ia ser divertido gerir o meu próprio dinheiro, que ia ter possibilidade e tempo para viajar, que nunca iria ter de trabalhar um dia na minha vida se escolhesse uma profissão pela qual fosse apaixonada e que as minhas opiniões iam ser consideradas válidas. Disseram-me que as inseguranças iam desaparecer e que ia descobrir o meu lugar. Disseram-me que ia deixar de ter medo do escuro.

Começo a achar que fui ludibriada.


Ninguém me falou da ginástica da conta, da conta poupança, da conta conjunta e da conta poupança conjunta. Ninguém me disse que os vinte dias de férias parecem dois. Ninguém deixou escapar que trabalhar é extremamente desagradável, mesmo quando adoramos o que fazemos (a sério, quem é que gosta de sair da cama às sete da manhã num dia frio?). Ninguém me contou que só aos cinquenta anos é que valorizam a nossa experiência e que os medos e receios continuam a assombrar-nos (talvez até mais!).

Ninguém me avisou que o medo do escuro aumenta agora que deixamos de acreditar em monstros e passamos a acreditar em pessoas más. Acima de tudo, ninguém me falou da quantidade abismal de contas, papéis, documentos, recibos, facturas e comprovativos que são necessários.

Para quem passou anos a querer crescer, confesso que isto está a ser um bocadinho anticlimático.


Neste dia fomos ao banco tratar de detalhes da nossa conta conjunta. Tivemos que levar os comprovativos de morada (no nosso caso as quotas da Ordem dos Médicos, a maior chulice de todos os tempos), os recibos de vencimento e uma data de fotocópias. Depois assinámos um montão de documentos e rubricámos mais uns quantos. Uma grande chatice, portanto.


À hora do jantar, mais uma dúvida existencial tão típica da vida adulta: o que fazer com os bifes de peru que tinha deixado a descongelar? Não podia recheá-los porque o Pedro não come queijo, não queria grelhá-los porque não aprecio bifes de peru simples, não tinha sementes de sésamo para poder paná-los, não gosto do outro tipo de panados (com ovo e farinha de trigo)... E eis que me ocorreu: será que conseguia paná-los com a quinoa cozida que andava abandonada e sozinha pelo frigorífico à espera de ser usada nuns hambúrgueres vegetarianos que ainda não tinham acontecido? Pus mãos à obra.


E descobri uma vantagem de crescer: a despensa é nossa, por isso podemos entupi-la com tudo o que quisermos. Podemos ter uma prateleira inteira cheia de quinoa, bulgur, sementes de todos os tipos e feitos, dez tipos diferentes de frutos secos (só para que conste são nozes, nozes pecan, amendoins, amêndoas, avelãs, cajus, castanhas do pará, macadamias, pinhões e pistachios), flocos de aveia, trigo, cevada, centeio e milho, granola caseira e chocapics. Podemos usar o dinheiro do nosso trabalho em miminhos mais caros como xarope de seiva de ácer, manteiga de amendoim natural e leites vegetais variados (já aqui verbalizei que os senhores da indústria dos leites vegetais devem estar milionários, certo?). E podemos passar os nossos dois dias de férias a viajar.

Nem tudo é mau, vá. Só um bocadinho.


Bifes de peru panados com quinoa

Ingredientes (para duas pessoas):

* Quatro bifes de peru;
* Sumo de dois limões;
* Uma pitada de sal;
* Uma colher de chá de pimentão-doce;
* Uma colher de chá de paprika;
* Uma colher de chá de orégãos;
* Uma pitada de piri-piri;
* Um ovo batido;
* Uma chávena de quinoa cozida;
* Um fio de azeite;
* Duas fatias de queijo (opcional).

Confecção:

* Temperar os bifes de peru com o sumo de limão, o sal, o pimentão-doce, a paprika, os orégãos e o piri-piri e deixar marinar durante duas horas;

* Passar os bifes pelo ovo batido e seguidamente pela quinoa cozida, pressionando bem;

* Cobrir com um fio de azeite e levar ao forno num tabuleiro (eu fiz na Actifry, sem a pá);

* Cobrir com quejo (opcional).

Até amanhã :D

6 de novembro de 2014

Almôndegas de grão-de-bico (vegan) para uma equipa fantástica :D

(Porque há músicas que são simplesmente nossas, em toda a sua essência)

There's times when I want something more, someone more like me.
There's times when this dress rehearsal seems incomplete.
But you see the colors in me like no one else,
And behind your dark glasses you're something else.

You're really lovely, underneath it all.
And you want to love me, underneath it all.
I'm really lucky, underneath it all.
And you're really lovely.

No Doubt


Eu sou do Porto, tu és do Sporting. Eu sou a sonhadora, tu és o racional. Eu sou a dorminhoca, tu és o despachado. Eu sou a histérica, tu és o relaxado.

Eu sou a diva, tu és o sidekick. Eu sou a nervosinha, tu és o optimista. Eu sou a pessoa que se envolve em 1001 coisas, tu és a pessoa que está ao meu lado para ter a certeza que não fico maluquinha com tudo isto.

Eu sou a viciada em sonhos, tu és o meu trampolim. E graças a ti consigo sempre sonhar cada vez mais alto.


Apesar de estarmos constantemente em equipas diferentes, é inegável que na nossa relação funcionamos como uma equipa unida, consistentemente a lutar por um objectivo comum: a felicidade de ambos.

Nós contra o mundo, como costumas dizer com carinho. E eu sorrio. É tão fácil acreditar nas palavras que sussuras ao meu ouvido, quando o mundo está do lado de fora da janela e cá dentro só se ouvem as nossas gargalhadas.


Na vida real, no nosso trabalho das 8h às 18h e na correria do dia-a-dia, sermos uma equipa manifesta-se de uma forma diferente. Na vida real não somos aqueles que querem ter três filhos, dois gatos e uma quinta. Na vida real não somos aqueles que querem uma loja de queques e uma empresa para ensinar xadrez aos miúdos. Na vida real não somos aqueles que se escondem debaixo dos cobertores aquecidos pelo calor do nosso abraço e pela magia dos nossos sonhos.


Mas na vida real somos a equipa da marmita - sempre unidos por um almoço mais saudável, mais saboroso, mais barato e mais reconfortante.

Eu sou da equipa do grão-de-bico, tu és da equipa do entrecosto. Mas nunca deixaremos de ser da mesma equipa. Nós contra o mundo, como costumas dizer com carinho. E eu sorrio.

E acredito em ti.


Almôndegas de grão-de-bico vegan

Ingredientes (para oito almôndegas):

* Uma lata de grão-de-bico cozido;
* Meia cebola picada;
* Dois dentes de alho picados;
* Uma colher de chá de ras el hanout (mistura de especiarias marroquinas);
* Uma colher de chá de pimentão-doce;
* Uma colher de chá de paprika;
* Uma pitada de sal;
* Uma pitada de piri-piri;
* Pão ralado q.b. (em alternativa podem usar farinha de trigo ou de aveia ou sementes de linhaça);
* Um fio de azeite.

Confecção:

* Juntar o grão-de-bico, a cebola, o alho, o ras el hanout, o pimentão-doce, a paprika, o sal e o piri-piri e triturar bem com a varinha mágica;

* Acrescentar o pão ralado (ou uma das alternativas) e moldar até conseguir formar bolinhas;

* Cobrir com um fio de azeite e levar ao forno pré-aquecido a 180º durante trinta minutos (eu fiz na Actifry).


Até amanhã! :D

22 de outubro de 2014

Chips de maçã para 'A' dúvida.

Não consigo dominar este estado de ansiedade.
A pressa de chegar para não chegar tarde.
Não sei de que é que eu fujo, será desta solidão?
Mas porque é que eu recuso quem quer dar-me a mão?

Vou continuar a procurar a quem eu me quero dar,
Porque até aqui eu só quero quem quem eu nunca vi.
Porque eu só quero quem quem não conheci.

António Variações


A consulta começa. Estou no centro de saúde a fazer os três meses de medicina geral e familiar incluídos no meu ano comum do internato médico.

O doente senta-se e olha para mim com um ar inquisitivo, certamente a perguntar-se se terei idade suficiente para ser médica ou se serei um qualquer prodígio da ciência que terminou o curso aos dezoito anos. Olho para o processo e vejo que o senhor é acompanhado pela minha tutora desde 1987. Eu nem sequer tinha nascido e a minha tutora já era médica de família.

O barulho das gotas de chuva que batem contra a janela do gabinete distrai-me. Que horas serão? Quantos doentes faltarão?


Olho em volta e penso como deve ser recompensante ser a médica de família de alguém durante trinta anos. Como deve ser bom assistir do gabinete aos casamentos, aos nascimentos dos filhos e às vitórias pessoais, como uma espécie de anjo da guarda de bata. Como deve ser comovente tratar famílias inteiras, conhecer bem as pessoas e saber as suas histórias e ter o consultório cheio de fotografias dos bebés cujas gravidezes segui.

No hospital é diferente. No hospital não terei um gabinete meu, e o objectivo será dar alta ao doente na primeira segunda ou na terceira consulta. No hospital terei dez ou quinze minutos para cada pessoa e não haverá tempo para histórias. No hospital não serei 'a doutora nome-e-apelido que já me acompanha há uma data de anos e que tem dois filhos e vive ali ao lado do Modelo' mas sim 'aquela médica que anda sempre de bandelete, ai, agora não me lembra o nome dela, também só estou com ela de meio em meio ano'.

No hospital é diferente, mas é lá que tenho que trabalhar se quero ser psiquiatra. E a pouco mais de um mês da escolha continuo perdida e assustada.

Qual é o meu caminho? O que é melhor para mim? Não sei.

Não sei. E tenho muito medo.

E para quem sempre teve a mania que sabia tudo, sentir-me assim é uma grande caca.


Esta insatisfação, não consigo compreender,
Sempre esta sensação que estou a perder.
Tenho pressa de sair, quero sentir ao chegar
Vontade de partir para outro lugar.

Vou continuar a procurar o meu mundo, o meu lugar,
Porque até aqui eu só estou bem aonde eu não estou,
Porque eu só quero ir aonde eu não vou.

António Variações


A consulta acabou, o doente sai do gabinete. A minha tutora levanta-se e começa a beber um iogurte, eu abro a caixinha que tenho no bolso e começo a mordiscar as minhas chips de maçã com um ar pensativo.

A pouco mais de um mês da escolha eu continuo indecisa entre a psiquiatria e a medicina geral e familiar. Longe de me deixar mais esclarecida, este ano só me deixou ainda mais confusa.


Eventualmente terei que decidir e tudo ficará resolvido. No hospital ou no centro de saúde, em psiquiatria ou em medicina geral e familiar, sei que vou apaixonar-me todos os dias por aquilo que faço. Enquanto esse dia não chega só me resta ouvir o barulho das gotas de chuva que batem contra a janela do gabinete e mordiscar as minhas chips de maçã com um ar pensativo.

Tudo ficará bem.


Chips de maçã

Ingredientes:

* Três maçãs Pink Lady (ou outras);
* Três maçãs Granny Smith (ou outras);
* Canela em pó (opcional).

Confecção:

* Lavar as maçãs e cortá-las em rodelas finas com uma faca ou um utensílio próprio;

* Colocar as fatias de maçã em vários tabuleiros cobertos com papel vegetal;

* Polvilhar com a canela em pó;

* Levar ao forno previamente aquecido a 120º e com a ventoinha ligada durante uma hora e meia;

* Deixar arrefecer completamente e guardar numa caixa hermética.

* Em alternativa podem fazer as chips de maçã na Actifry - eu fiz metade delas e é bem mais rápido, embora fiquei menos bonitas :)

Até amanhã! :D