Parabéns Fiacha! E muito obrigado por tu e o autor anónimo do conto me terem deixado publicá-lo aqui.
Conto:
O sol desaparecia na linha do horizonte, quando os guardas junto da porta da cidade
avistaram alguém. Examinaram a figura que se aproximava com um olhar perscrutador,
quase de pálpebras cerradas; tratava-se de um solitário sobre o dorso de um garanhão de
pêlo lustroso.
O desconhecido refreou a montada, quando as lanças dos guardas se cruzaram na sua
frente, impedindo a sua entrada na cidade.
- O que te traz aqui forasteiro? – Perguntou um dos guardas.
- Estou apenas de passagem. Não vim para arranjar problemas, apenas procuro um
quarto para pernoitar.
Os guardas entreolharam-se e permitiram a passagem daquele homem, cuja capa
empoeirada escondia a espada que carregava.
À medida que percorria as ruas da cidade, aquele homem sentia os olhares curiosos
lançados por aqueles com quem se cruzava.
Não tardou a encontrar o que procurava; Uma tabuleta com um corvo negro
desenhado, baloiçava quando tocada pelo vento sobre a porta de uma taberna.
Apeou-se. O ruído proveniente do interior da taberna era ensurdecedor. Com passos
seguros avançou para a porta que empurrou, entrando. O fumo dos charutos e cigarros
impregnava o ar tornando-o abafado, quase irrespirável.
Dirigiu-se ao balcão.
- Uma caneca de rum – pediu.
O taberneiro, um homem alto, magro de queixo proeminente e pele pálida colocou
uma caneca à sua frente.
- Nunca o tinha visto por cá… - referiu enquanto enchia a caneca.
Aquele homem manteve-se em silêncio, como se não tivesse escutado as palavras que
lhe haviam sido dirigidas. Pelo canto do olho fixava algo ou alguém.
- Chamam-lhe o Melga – Ouviu.
Agarrou na caneca levando-a aos lábios para beber um trago. Ao pousá-la olhou
directamente nos olhos do taberneiro.
- O que sabe sobre ele?
O taberneiro olhou disfarçadamente para um canto sombrio onde se encontrava um
homem que trajava de negro. Sentada no seu colo estava uma mulher de longos cabelos
loiros e vestido vermelho.
- Chegaram há pouco tempo à cidade. Ouvi rumores que armaram confusão numa
outra taberna. Parece que um tipo se meteu com a mulher – tornou a encarar aquele com
quem falava – Farejo sarilhos e acredite que isso é tudo o que aqueles dois cheiram.
O forasteiro tirou do bolso duas moedas de prata, que atirou para cima do balcão
dizendo que era para cobrir os prejuízos. Antes que o estalageiro pudesse colocar-lhe
qualquer pergunta, pegou na caneca, dirigindo-se para a mesa do casal.
- Desta vez foi mais difícil seguir-te o rasto, Melga – disse pousando a caneca sobre
a mesa.
Aquele a quem ele dirigira aquelas palavras esboçou um sorriso trocista.
- Será que não desistes, Fiacha Sun?
O recém-chegado puxou de uma cadeira, sentando-se de frente para o outro.
- Jurei que te ia levar para forca a que foste condenado e garanto-te que o farei.
A mulher inclinou-se sobre a mesa, permitindo a Fiacha ver os seus volumosos seios.
- Estás a ser desmancha-prazeres – disse com uma voz sedutora.
- Tens duas escolhas ou voltas comigo a bem, ou serei forçado a levar-te à força –
foram as únicas palavras de Fiacha, ignorando a loira.
Aquele que era conhecido por Melga soltou uma gargalhada estridente, afastando a
mulher do seu colo.
- Nunca me levarás de volta àquela cela – afirmou levantando-se.
Fiacha desviou-se da cadeira que o outro arremessou contra si, antes de puxar da sua
espada travando a investida daquele que perseguia sem descanso há várias semanas,
depois de este ter escapado da prisão.
Rapidamente alguns homens se aproximaram com facas na mão. Fiacha lançou-lhes
um olhar cortante que os fez recuar; afinal aquela luta não era deles.
- Nunca me apanharás! – Melga afastou a sua espada do contacto com a de Fiacha
para desferir nova estocada.
Fiacha travou facilmente a investida do oponente e num movimento veloz ripostou.
Uma chuva de fagulhas incandescentes espalhou-se pelo ar aquando do contacto das
lâminas de aço.
- Não me consegues vencer – disse.
A cólera apoderou-se de Melga, que tornou a investir uma e outra vez contra Fiacha.
Mas por mais que o tentasse, era incapaz de desferir um golpe que ceifasse a vida do
oponente, que de alguma forma parecia ser capaz de antecipar todos os movimentos do
adversário, travando-os sem dificuldade.
A loira olhou em redor. Tinha de ajudar Melga. Agarrou numa outra cadeira
avançando para Ficha.
Os lábios de Fiacha alongaram-se num sorriso. Baixou-se ao mesmo tempo que a
mulher arremessava a cadeira contra ele.
Num movimento rápido, Fiacha rodou sobre os calcanhares enlaçando a cintura da
loira para a puxar contra o seu corpo.
- Mereces uma vida melhor que esta – segredou-lhe antes de a empurrar para longe.
Quando olhou em frente Melga tinha desaparecido. Procurou-o, vendo-o deixar a
taberna.
- Raios! – Vociferou partindo no seu encalço.
As sombras da noite já engoliam a cidade. Melga corria pelas ruas empurrando
violentamente todos aqueles que cruzavam o seu caminho. Fiacha seguia-o. Melga tirara
a vida de inocentes e não ia permitir que não pagasse pelo seu crime.
Melga estacou ao deparar-se com um beco sem saída. Num impulso rodou sobre si.
O seu coração pulsava acelerado.
- Acabou, desta vez não tens por onde fugir nem ninguém para te ajudar – disse
Fiacha.
- Maldito! – Gritou Melga, apertando o punho da espada.
Fiacha seguia-o sem descanso, a única forma de se ver livre dele de uma vez por
todas era acabando com a sua vida.
- Morre! – Berrou.
Os olhos de Fiacha semicerraram-se seguindo o adversário que corria na sua direcção
com a espada em riste.
A espada de Melga cortou o ar visando o peito do oponente. Um grito ecoou pelo
beco. A mulher de cabelos loiros viu a espada de Melga ser-lhe arrancada da mão com
um golpe firme e preciso. Fiacha endireitou-se fixando o rosto daquele que desarmara e
que recuava com uma expressão de medo na face.
- Chegou a hora de pagares pelo teu crime – disse avançando para Melga que
se deixava cair de joelhos como se tivesse finalmente percebido que não havia fuga
possível.
Os punhos da loira cerraram-se. Correu para Fiacha saltando-lhe para as costas. Um
dos seus braços apertou-se em redor do pescoço deste, numa tentativa de o sufocar.
- Foge! - Gritou para Melga.
Este não hesitou. Fiacha puxou de uma faca presa ao cinto ao mesmo tempo que
recuava contra a parede, fazendo a loira chocar violentamente contra esta.
- Não vais tornar a escapar – disse atirando a faca que se entranhou numa das pernas
de Melga.
Libertou-se da loira, que caiu gemendo e aproximou-se com passos lentos do homem
que tentava tirar a faca da perna.
- Eu disse-te que não ias escapar.
Pouco depois Fiacha Sun deixava a cidade, levando Melga amarrado na garupa do
seu cavalo de volta à aldeia onde a forca o esperava pelos crimes que cometera.