22 de novembro de 2024
Sexopatia. Marcos Trindade (Chili Com Carne)
Publicada por Pedro Moura à(s) 11:24 da manhã 1 comentários
2 de julho de 2024
Bandas Desenhadas: "Histórias de Bondade", de Yorgos Lanthimos.
Publicada por Pedro Moura à(s) 2:59 da tarde 0 comentários
1 de julho de 2024
LERBD: 20 anos.
Por incrível que pareça, já passaram 20 anos desde que abri este espaço dedicado à banda desenhada. Como já escrevia em alguns títulos, pequenas resenhas com o espaço que havia (na Mondo Bizarre, mas já antes na flirt, Urbe, e outras coisas), e na Quadrado foram-me sendo abertas as portas a estender-me em objectos mais ensaísticos, o blog começou como um bom repositório desses textos, logo plataforma de novas reflexões e, ao longo dos anos, palco onde fui experimentando moldar a aprendizagem do discurso crítico, transformado à medida das minhas próprias leituras, aprendizagens e maturação. E não foi apenas a banda desenhada, pois em rigor falei de ilustração, projectos literários que mesclassem imagens, animação, cinema, objectos poético-icónicos, colecções de desenho, e outras realidades...
Houve muitas fases, distintas, diria, e momentos diversos de vontades, energias, capacidades e possibilidades. E que também se relacionavam com outras actividades que estivessem associadas: organização de exposições, de documentários, escrita de obras maiores, a criação autoral, o ensino, etc. Não se pode negar a associação de uma coisa a outra. Quando iniciei a minha escrita sobre banda desenhada, nos anos 1990, era de uma maneira muito tímida. No início dos anos 2000, foi sendo cada vez mais agressiva e fincada, abrindo portas a outras colaborações, alianças e certezas. Numa "cena" tão pequena como a nossa, não foi difícil a integração, circulação mas também tomada de posições mas que sempre foram livres e transversais (não me esquecerei quando o Geraldes Lino ficou muito surpreendido por me ver a colaborar com o Festival da Amadora, achando que eu era um "alternativo do Salão Lisboa", com o qual, na verdade, nunca colaborei).
Não esconderei que tinha a esperança, assim como presunção e água benta, de ir contribuindo para uma nova maneira de pensar e reflectir e escrever sobre a banda desenhada (na esteira de um Domingos Isabelinho e muitas referências internacionais), mas passadas duas décadas, não me parece que tenha havido uma transformação profunda da "crítica", palavra sobre a qual continuo a ser egoísta (não é o mesmo que "opinião", "resenha", "notas", "leituras", etc.). Continua a haver falta de espaço de mais profundas e balizadas considerações culturais da banda desenhada, não foi conquistado lugar suficiente em meios de comunicação mais "tradicionais" (jornais, televisão, mesmo a rádio, apesar dos esforços). O campo continua preocupado ainda mais em divulgação, senão somente repetição de notícias, mas há excepções, claro, capazes de furar a doxa e o desejo claro da entrada em pequenos enclaves de amizade e repetições, e menos em tomadas de posicionamento verdadeiramente crítico, em contextos mais alargados.
Gostaria de pensar organizar algo mais bombástico, mas fiquemos com algo simples. Na próxima Segunda-Feira, ao fim do dia, na FBAUL, no seio dos eventos da COST, haverá uma pequena mesa-redonda comigo, os críticos Sara Figueiredo Costa e José Marmeleira (a primeira escrevendo sobretudo sobre literatura, o segundo sobre arte e música, mas ambos igualmente dedicando-se mal podem, e de forma séria, informada e alargada, sobre banda desenhada), assim como a Ana Matilde Sousa/Hetamoé e Hugo Almeida/Mao, ambos usando os chapéus, cosidos uns nos outros, de investigadores académicos, organizadores de eventos, editores e artistas de banda desenhada. O tema lançado é o da tarefa da crítica, usando para título os termos empregues pelo crítico literário J. Hillis Miller, num texto muito influente, demonstrando a abertura que essa tarefa permite na leitura de um determinado texto.
Estão convidados!
Publicada por Pedro Moura à(s) 2:44 da tarde 10 comentários
17 de junho de 2024
O homem que sonhou o impossível. Mário Freitas e Lucas Pereira (Kingpin)
Este livro, apesar de curto, convida o leitor a ler para além dele, uma vez que mexe com todo um imaginário caro ao mesmo, já acólito desse mundo, pelo que é muito difícil lê-lo de forma estritamente textual, atendo-nos aos seus elementos presentes. Apesar da roupagem fictícia, ele cria elos imediatos com o mundo real, e as respostas a esses estímulos expandem a eficácia do título. Aparentemente, tratar-se-á da história de um velho artista de banda desenhada, chamado Jack King, vivendo num lar de terceira idade, onde outros colegas de profissão também passam os dias. Mas um mistério oculta-se na biblioteca do lar, que despertará um último e grande conflito, o qual resolverá uma crise de décadas e trará a ideia, talvez, de uma possível redenção.
Publicada por Pedro Moura à(s) 8:22 da manhã 0 comentários
7 de junho de 2024
Larva, Babel de uma noite de São João. Julían Ríos (Barco Bêbado)
Saiu a lume, pela Barco Bêbado, a versão portuguesa do “romance” (usemos a palavra e aspas, para já) de Julián Ríos, lançado originalmente em Espanha em 1983, Larva. Babel de uma noite de São João. A um só tempo figura fulcral de uma certa reinvenção pós-moderna das letras espanholas e marginal do seu status quo, este é um daqueles livros que reformula estrutural e ontologicamente a própria noção de género, senão de literatura.
A literatura nem sempre é literatura. A maior parte das vezes apresenta-se como um veículo que se pretende disfarçar a si mesmo enquanto transparente, meio para um mundo diegético que se forma algures nas nossas mentes de leitores e nos faz crer que tão-somente o observamos através de uma janela, continuando o programa de realismo de Alberti. Talvez mesmo aquela transparência de que Walter Benjamin fala [Durchsichtigkeit], e que se torna obsessiva ao longo do século XX, e a sua noção de avanço tecnológico, regime da razão e progresso, ocultando a barbárie que é o seu preço. Famosamente, no seu ensaio “O contador de histórias” (“Der Erzähler”), Benjamin separa o acto (oral) de contar histórias do da escrita de um romance, colocando este não apenas dependente do objecto-livro e da história da imprensa, mas desligando-o também da experiência tornada comum, ou “vivência” (Erlebnis), nascendo do indivíduo isolado, sem recurso à sapiência. Escreve o ensaísta o seguinte:
“Escrever um romance significa levar o incomensurável ao extremo, na representação da vida humana. No seio da completude da vida, e através da representação desta mesma completude, o romance oferece as provas da perplexidade profunda dos vivos.” (mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 2:03 da tarde 4 comentários
5 de junho de 2024
Pessoa e o Cinema - Ciclo e debate.
Publicada por Pedro Moura à(s) 8:07 da tarde 0 comentários
3 de junho de 2024
"A pluralidade de Pessoa em filmes de animação e histórias em quadrinhos" (artigo académico)
É com imenso prazer que partilho um artigo de natureza académica sobre banda desenhada, animação e Fernando Pessoa que vi publicado na prestigiada revista Pessoa Plural, no. 25, 2024, intitulado "A pluralidade de Pessoa em filmes de animação e histórias em quadrinhos".
Faço sobre análises formais de trabalhos de bandas desenhadas e filmes de animação, curtas e longas, a cor e preto e branco, adaptando e baralhando, pelos autores brasileiros Eloar Guazzelli, Otto Guerra, e Laerte Coutinho, o português radicado em França José-Manuel Barata Xavier e o francês Thibault Chollet, mas uma última sessão mergulha igualmente na minha própria prática, discutindo a adaptação de Mensagem, que fiz com a Susa Monteiro.
Ficam os agradecimentos aos editores, sobretudo Marcelo Mello e Jerónimo Pizarro, que me foram ajudando a moldar as ideias e o texto. E ainda ao Dário Duarte, pela pesca de uma referência certeira.
Há livre acesso ao artigo sob a forma de pdf, aqui.
No dia 12 de Junho, pelas nossas 19h às 21h, estarei numa sessão de visionamento de alguns destes filmes, seguidos de comentários e discussões. Mais informações sobre isso atempadamente.
Publicada por Pedro Moura à(s) 10:04 da tarde 0 comentários
31 de maio de 2024
Boa noite, Punpun; vol 1. Inio Asano (Devir)
Já se passaram quase 20 anos desde a publicação do primeiro volume desta série, no Japão. A sua tradução para inglês demoraria cerca de 10 anos, mas a recepção foi célere, impactante e significativa em vários países, tornando Asano num nome importante na produção de banda desenhada japonesa contemporânea dirigida a um público mais adulto, a sua recepção crítica e influência, e abrindo caminho a uma maior atenção a outros dos seus títulos. Há quase dez anos, discutiu-se neste espaço A Girl on the Shore, onde assegurávamos ser a voz deste autor a de uma representação da “melancolia urbana e da sufocação emocional da juventude japonesa (ou global)” e falámos brevemente de Punpun (que havíamos lido parcialmente em inglês e francês, mas nunca na totalidade) como um “lentíssimo mas profundo Bildungsroman anticlimático”. Ora, agora finalmente os leitores portugueses poderão atestar a correcção destas palavras, ou sua falha, ao lerem aquela que parece ser ainda, se não a magnus opus, pelo menos a obra de maior impacto mediático do autor. Esperemos que o seu sucesso contínuo, juntamente com outros projectos da mesma editora, com Taiyo Matsumoto, Shiegeru Mizuki, e outros, possa garantir a contínua aposta em outros géneros e tipologias da mangá que não a shonen (campo no qual a excelência é inegável, diga-se de passagem, simplesmente não estará nos nossos interesses pessoais principais). (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 3:54 da tarde 0 comentários
28 de maio de 2024
Les Derniers Jours d'un immortel. Fabien Vehlmann e Gwen De Bonneval (Futuropolis)
Nota inicial: este texto foi escrito para o terceiro programa 3 Graus de carequice, em que discutimos o “não-humano”. Aproveitei, por sua vez, alguns apontamentos que havia tomado para uma conferência e, mais tarde, paper. E mais, sobre um argumentista que tenho tentado seguir de perto e que aprecio, Fabien Vehlmann, de cujo Le Dieu-Fauve falei há um par de dias, neste espaço. É nesse sentido que recupero estas notas, com algumas alterações para legibilidade e maior consistência. (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 5:48 da tarde 0 comentários
26 de maio de 2024
Corto Maltese. A Rainha da Babilónia. Martin Quenehen e Bastien Vivès (Arte de autor)
Este segundo volume do duo de autores empregando à sua maneira a famosa personagem de Hugo Pratt dá continuidade ao contexto do início do século XXI. Os dois já haviam trabalhado juntos em Quatorze juillet, uma espécie de narrativa de alta octanagem e radiografia de uma França contemporânea pós-Macron, atenta, se não paranóica, com o facto de se ser alvo de actos de terrorismo, aparentemente internacional mas cozinhados no interior do país. Controverso, difícil, necessário, e com os desvios necessários para se tornar um thriller. Talvez tenham sido esses ingredientes claramente presentes que convenceram a detentora dos direitos a não apenas dar continuidade à personagem após a morte do criador original como a lançarem uma série “alternativa”. (Mais)
Publicada por Pedro Moura à(s) 4:29 da tarde 4 comentários