Mostrar mensagens com a etiqueta Adaptação. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Adaptação. Mostrar todas as mensagens

8 de julho de 2020

A Assembleia das Mulheres. Aristófanes e Zé Nuno Fraga (A Seita)

O parágrafo que utilizámos para falar de O Penteador, de Paulo J. Mendes, poderia ser empregue com toda a precisão em relação a esta adaptação da comédia de Aristófanes. O artista em questão parece ter tido já experiências anteriores no campo da banda desenhada, mas surge, tal qual como Palas Atena, totalmente formada e armada da cabeça de Zeus. Isto é, com um livro totalmente criado por si, se exceptuarmos, claro está, a estrutura dramática, didascálias e falas do comediógrafo do século V. a.E.C. Além disso, a surpresa de ser uma adaptação de uma obra que não está propriamente nos programas escolares faz adivinhar uma escolha pessoal, genuína, pouco programática em relação a estratégias “escolarizantes”. (Mais) 

3 de julho de 2017

4 títulos Sociorama. AAVV (Casterman)

A propósito de Chantier Interdit auPublic, explicámos o contexto de produção e publicação dos títulos desta colecção, Sociorama, que, dizendo-o de modo simplista, são adaptações de trabalhos de cariz académico na disciplina da sociologia. Daí que se compreenda que as capas revelem não somente o nome dos autores artísticos que lavraram estas bandas desenhadas, mas igualmente o dos investigadores, de forma a que se sublinhe a precisão e instrumentos dessa pesquisa original. Alguns desses trabalhos foram já publicados em volume, outros existem ainda sob a forma de teses universitárias. Seja como for, são resultado da instrumentação teórica, prática e desenvolvida no campo, em ambos os sentidos, disciplinar e de contacto com o terreno, desse saber das ciências humanas, que, de uma maneira ou outra, reflecte uma verdade de experiência das pessoas com quem contacta. Sendo os objectivos gerais da sociologia a compreensão do indivíduo e dos grupos que possa completar inseridos na tessitura social e externa, não se trata tão-somente de entrevistas a esses mesmos indivíduos, mas à criação de toda uma contextualização global que tanto integra como destaca a experiência que se está focando. (Mais)

9 de junho de 2017

O rei macaco. Silverio Pisu e Milo Manara (Arte de Autor)

Adaptação. Versão. Devaneio. Fantasia. Comentário. Alegoria. Todas e quaisquer destas palavras serviria para presidir a uma descrição deste volume, ou talvez melhor uma mistura entre elas, procurando as linhas de força conceptuais de cada uma, operando sobre alguns dos elementos que a compõe. Uma obra primitiva do famoso Manara a caminho da sua primeira maturidade, numa colaboração com Silverio Pisu, autor de experiências variadas e que se exprimem neste livro. O título original é Lo scimmiotto, literalmente “macaquinho”, que também era o título pelo qual o clássico chinês, atribuído a Wu Cheng-en, Viagem ao Ocidente, havia sido traduzido à época em Itália. Na verdade, já nos referimos a esta obra há uns anos, quando da leitura de uma versão feita por Terada Katsyua, e a ela remetemos para devolução de um breve contexto da obra. Até certo ponto, poder-se-ia dizer que este volume é uma adaptação desse escrito literário, já que as personagens, os episódios, as expressões e apodos, os contornos fantásticos, se repetem a par e passo conforme a primeira parte da obra chinesa. Mas a adaptação de Pisu e Manara não apenas se mantém na primeira parte, até ao castigo de Buda que aprisiona o Rei Macaco sobre uma nova rocha (recordemos que ele nasceu de uma pedra, havendo portanto um pequeno ciclo de regresso à origem neste episódio), como transforma toda a novela dessa figura numa plataforma para a criação de uma alegoria política. (Mais) 

29 de março de 2017

Parker, vols. 2 e 3. Richard Stark e Darwyn Cooke (Devir)

Uma vez que já havíamos falado alargadamente da estrutura literária e da forma dialogante entre a adaptação em banda desenhada de Cooke e os romances de Stark, passaremos à leitura imediata dos livros em si. Ficando ainda a nota de homenagem ao artista, cuja morte foi uma surpresa triste há tempo recente.

Cada um dos volumes de Parker lê-se com efeito como uma novela centrando-se nos “trabalhos” a que o criminoso se entrega. É curioso como apesar de o acompanharmos e termos mesmo direito de ir compreendendo alguns dos mecanismos psicológicos que o movem, e o tipo de “ética”, se assim se pode dizer, que pautam o seu profissionalismo, há sempre um limite curto desse mesmo conhecimento. Parker é ainda um homem misterioso, silencioso, que não se deixa endrominar por explicações fáceis. Todavia, essa distância com o leitor é também aquilo que impede uma qualquer empatia ou simpatia total por uma personagem que não esconde de forma alguma ser um sociopata (mesmo que isso seja fruto das alterações mais violentas operadas por Cooke, e não as novelas originais, mais de 20, datadas da década de 1960-1970): machista, violento, ladrão, assassino, etc.. Mesmo os pequenos laivos de “amizade máscula” que ele demonstra para com os seus colegas não será suficiente para o redimir face a uma moralidade humana societal. Mas as novelas policiais, já o havíamos dito, não são habitadas por flores que se cheirem… e há criações tão famosas com criminosos como personagens principais quanto com heróis e justiceiros. (Mais)

6 de março de 2017

Le rapport de Brodeck. Manu Larcenet.

Nas suas Teses sobre a Filosofia da História, Walter Benjamin escreveu “Nunca houve um documento da civilização que não o fosse simultaneamente da barbárie”. Esta ideia complexa associa-se à ideia materialista do filósofo alemão e mesmo ao trabalho da sua crítica, que implicava jamais perder o rasto ao valor que as coisas tinham pela passagem táctil, tangível, sofrível do ser humano, e não olhá-las somente pelo seu suposto valor “eterno”, “universal”, “estético”. Le rapport de Brodeck é todo ele tecido em torno do que o título indica, um documento escrito que quer dar conta de um evento mas, na sua tessitura, desvela em si mesmo a barbárie que subjaz a cada gesto humano. (Mais) 

23 de fevereiro de 2017

Sutrama. Daniel Lima (kuš!)

Uma das formas de respondermos a este livro seria analisar quais são os pontos de desenvolvimento aproveitados por Daniel Lima no seu próprio diálogo com o filme de Robert Bresson, Le diable probablement (1977), do qual aproveitou algumas cenas para a construção deste diálogo entre duas personagens que preenchem as páginas. Uma pesquisa que superficialmente parece ser a de um suicido ou assassinato banal (?) desemboca numa análise lenta, dura e pesada sobre o estado de espírito de uma sociedade desencantada, o que poderia servir de, talvez, descrição de toda a cinematografia (ou será antes a de uma pesquisa que tenta descobrir ainda os últimos laivos de encantamento que nela sobrevivem?) do autor. Lima, todavia, transforma essa ocasião para reconstruir uma espécie de ambiente artificial e mágico no qual a distância entre os corpos (dos “modelos” e não “actores”, para seguir a nomenclatura de Bresson) dos protagonistas e as metamorfoses dos objectos e espaços em torno tem de ser compreendida menos como momentos para criar redes simbólicas, passíveis de uma ulterior apresentação de significados do que uma plataforma para sensações ambivalentes e ainda mais distanciadoras da própria matéria de expressão. (Mais)

21 de fevereiro de 2017

Três títulos da colecção Écritures (Casterman)


Como manda a lei das editoras comerciais, chegará um momento em que se faz não apenas uma reestruturação gráfica e formal das suas colecções, como um balanço interno da sua produção. A colecção Écritures foi alvo precisamente de um redesign, em que as capas passam a ser tratadas a preto com uma segunda cor e os títulos a dourado, criando uma coerência gráfica distinta daquela verificada até agora. Não só foram relançados alguns títulos antigos neste packaging como os novos seguem agora esta linha. Além disso, há um lançamento e abertura de vários novos gestos criativos que estendem os supostos objectivos originais da colecção. Não é que não houvesse colaborações anteriormente, mas o lançamento de La cire moderne, colaboração entre o escritor Vincent Cuvellier e o artista Max Radiguès, e Je viens de m'échapper du ciel, adaptação das novelas policiais coordenadas de Carlos Salem por Laureline Mattiussi parecem confirmar a insistência desse tipo de possibilidades “literárias”. Adicionalmente, o lançamento de Salles d'attente, de Charles Masson, que recupera Soupe Froide e outros relatos, mostra a possibilidade dos tais balanços internos. (Mais)

26 de dezembro de 2016

Espero chegar em breve. Philip K. Dick e Nunsky (Mmmnnnrrrg)

O isolamento criativo dos autores, mesmo numa cena incipiente como a portuguesa, poderá dar francos frutos. Num curto período, o elusivo Nunsky, que havia apresentado uma fulgurante mas fugaz novela com “88”, que ocupara todo um número do fanzine mutante Mesinha de Cabeceira, há 20 anos, regressou para apresentar toda uma bateria de trabalhos acabados, coesos, densos, inteligentes e graficamente vincados, cada qual com a sua própria personalidade de humor, género, tradição, e exigência de leitura. “Espero chegar em breve” é o terceiro desses gestos, compaginando-se igualmente como totalidade do último número da mesma série de fanzines indicada cima (o 28º número, cujo formato e capa texturada o torna como se fosse uma brochura dos serviços intergalácticos no interior). Desta feita, trata-se de, numa descrição simples, como reza na própria capa, uma “adaptação do conto de Philip K. Dick”, cujo título original é “I hope I shall arrive soon”, apesar da sua versão primeira ter tido um nome mais prosaico, “Frozen Journey”. (Mais)

12 de dezembro de 2016

How to talk to girls at parties. Neil Gaiman, Fábio Moon e Gabriel Bá (Dark Horse)

O problema muitas vezes do sucesso e do apoio vocal e numeroso de certos autores é que abre oportunidades de publicação de trabalho que mereceria um outro tipo de filtro ou esforço. Gaiman atingiu um tal nível de estrelato que até surge como personagem de “autor com conselhos para novos escritores” em séries de animação (The Simpsons, Arthur) e já há muito tempo que qualquer recado ou notinha acaba por ser antologiada, coligida ou adaptada a outro meio. O problema não está, naturalmente, no facto de ser publicado. Isso é até positivo. O problema está em que tem mais um efeito cumulativo do que de relatividade da qualidade de escrita. (Mais) 

8 de dezembro de 2016

Judea. Diniz Conefrey (Pianola)

Ao falarmos de Pereira prétend, falávamos de uma categoria de adaptações à banda desenhada de obras literárias que não se coadunava com as estratégias mais costumeiras da “facilitação” e “acessibilidade” dos originais. Não quer dizer que não existam transposições que, mantendo uma grande capacidade de “fieldade” para com os acontecimentos e a caracterização das personagens, não consigam ao mesmo tempo estruturar-se como obras acabadas por mérito próprio do seu campo de acção e expressão (alguns casos de Tardi, de Battaglia, o Milton de Auladell, o recente O astrágalo). Mas depois há aquelas que partem de uma base literária para se lançarem a pesquisas mais intensas do seu próprio meio e que entram num diálogo mais exigente com a teleologia e literariedade dos originais, sem que essa seja reduzida meramente à intriga. Surgem assim obras maiores como A cidade de vidro, Le château, O diário de K., alguns trabalhos de Breccia, o Disposession de Grennan. Nessas obras, como em poucas obras, há uma verdadeira preocupação em compreender a intensidade da matéria expressiva para criar transposições precisas – ali, as palavras, o fraseado, a sintaxe, a metáfora ou a sua ausência, aqui a composição, o burilar da superfície da imagem, o agenciamento das vinhetas em cadeias legíveis, a presença ou ausência de matéria verbal, a escolha de representações. (Mais) 

7 de dezembro de 2016

Pereira prétend. Pierre-Henry Gomont (Sarbacane)

Se os homens não são ilhas, alguns deles bem o tentam ser. Pereira, sem outro nome ou apodo que o torno à partida uma personagem cheia de vida, parece querer viver a sua vida no interior de uma redoma suficientemente confortável, longe dos tumultos que os outros agregam. Já lhe basta as agruras da viuvez e da solidão, mas que ao mesmo tempo o sustentam nesse seu isolamento. O pior é quando a força das circunstâncias, marés incontroláveis, impulsionam essas ilhas, afinal, para um arquipélago, senão novos continentes. Ora Afirma Pereira, o famoso romance do escritor Antonio Tabucchi, é a história de um homem cuja suposta mundividência, teimosa, atreita, esguia, é forçada a abrir-se para o verdadeiro mundo, por mais doloroso que isso possa ser. (Mais)

25 de novembro de 2016

O astrágalo. Sarrazin, Pandolfo e Risbjerg (G. Floy)

Baseado no romance de uma literal enfant terrible, e em muitos aspectos o seu molde original (se bem que, em termos masculinos, se poderia apontar “Antoine Doinel” ou os miúdos de Zéro de conduite – mas esta apropriação de género não deixa de ser absurda, já que a autora real foi longe nas suas acções e não foi longe na sua vida), esta banda desenhada recupera de forma perene e vincada a celebração de uma liberdade anti-burguesa que ainda hoje (ou outra vez hoje) é difícil de enquadrar. O romance homónimo de Albertine Sarrazin foi publicado em 1965. Curiosamente, o romance tornou-se novamente acessível [v. secção de comentários para nota sobre a primeira tradução] graças a uma edição portuguesa muito recente, publicada pela irrepreensível Antígona no mesmo ano da sua segunda adaptação ao cinema, ainda que infeliz e nomeadamente de uma forma negligenciável. Com efeito, esta versão planificada por Anne-Caroline Pandolfo e desenhada por Terkel Risbjerg – que constituem uma equipa com larga experiência – acaba por ser uma devolução superior da palavra, do humor e da verve de Sarrazin. (Mais) 

4 de fevereiro de 2016

Colaboração no The Comics Alternative: Disposession & Transforming Anthony Trollope, de Simon Grennan et al

De quando em quando, surgem livros que se tornam enormes desafios a muitas das categorias que alimentamos numa visão tradicional da banda desenhada. Dispossession é um desses livros, o qual levanta questões profundas em torno de expectativas relativas a adaptações literárias, o agenciamento das acções das personagens, e a possibilidade de criar um genuíno diálogo cultural que ilumina ou questiona o tecido original com questões contemporâneas. É como se Simon Grennan, um autor e académico de grande rigor desta arte, fosse capaz de colocar de lado a "tradição" (sem a esquecer, e citando-a mesmo na tessitura do seu projecto), para empregar um método de grande razão. No enquadramento do bicentenário em torno do escritor inglês, ao mesmo tempo que Dispossession foi lançado, foi também publicado um volume académico, Transforming Anthony Trollope, com ensaios, relacionado com o projecto em termos latos. No site The Comics Alternative, tivemos a oportunidade de analisar ambos os livros, procurando que se informasse mutuamente, e ainda tivemos o privilégio de entrevistar Grennan. 
Podem aceder ao artigo aqui. E à entrevista aqui.
Nota final: agradecimentos a ambas as editoras, pelas ofertas dos livros, e a Simon Grennan, pela contínua amizade e simpatia. 

23 de julho de 2015

Richard Stark e Darwyn Cooke. Parker, O Caçador (Biblioteca de Alice)

No seu estudo agora clássico, Qu’est-ce qu’un genre littéraire?, Jean-Marie Schaffer discutia os géneros literários para além (ou aquém?) do seu projecto de definição, afirmando que “seja qual for a função comunicacional última dos nomes genéricos, têm eles sempre a pretensão de identificar os textos em relação a um nome colectivo”. Ora, nesse sentido, o que significa é que a decisão de um leitor em ler um determinado texto sob a ideia de um género colocá-lo-á imediatamente numa rede de relações intertextuais, isto é, uma leitura comparada com outros tantos textos. Nunca se lê, portanto, um texto “sozinho”, mas num cadinho de sucessivas e re-formuladas integrações. Parker, O Caçador é um livro que se lerá nos sucessivos descritivos de “adaptação literária”, “banda desenhada de crime”, “obra de Cooke”, “volume da Biblioteca de Alice”. (Mais) 

6 de julho de 2015

The King in Yellow. Robert Chambers e INJ Culbard (Self Made Hero)

Como havíamos indicado já na leitura da adaptação de The Dream-Quest of Unknown Kadath, de Lovecraft por Culbard, este artista britânico estava a trabalhar uma outra adaptação da literatura do horror fantástico, ou mais especificamente, da literatura weird. Aliás, estava mesmo a dedicar-se a um dos autores que é apontado como um dos seus progenitores: Robert W. Chambers. Apesar da alargada produção literária deste escritor norte-americano da passagem do século XIX, sobretudo numa veia romântica, é The Yellow Sign, de 1825, um volume de contos, a sua obra mais famosa. Por duas razões, estamos em crer. Em primeiro lugar, por ser uma enorme influência sobre H. P. Lovecraft, Derleth, e outros escritores que dariam continuidade à “mitologia” de Cthulhu, de Carcosa (o reino referido em Chambers), e as mesclas destes universos, iniciadas pelo próprio Lovecraft; em segundo, e mais recentemente, por ser uma das referências recorrentes, mas oblíquas, da primeira série de True Detective, de Nic Pizzolatto. Ei-la. (Mais) 

26 de janeiro de 2015

The Dream-Quest of Unknown Kadath. I.N.J. Culbard (SelfMadeHero)

São variadíssimas, como se imagina, as adaptações de Lovecraft à banda desenhada. Ele é, aliás, um favorito mesmo de uma certa tendência da banda desenhada, mais dada ao choque e ao terror gore, se bem que também tenha conhecido desvios e raptos pelos underground comix ou outros géneros e/ou estilos que os transformam de alguma forma para longe do seu território literário, usualmente baptizado de “weird fiction”, mas tratando-se no fundo de uma variação muito particular de uma família mais alargada a que se pode dar o nome de ficção gótica. Um desses desvios de Lovecraft, por assim dizer, e que ainda hoje achamos uma das mais interessantes premissas possíveis neste universo de referências, é aquele proposto pelo autor catalão Max, na sua história curta “El encuentro entre Walt Disney y H.P. Lovecraft”. (Mais) 

21 de maio de 2014

Transperceneige & etc. no aCalopsia.

Numa nova colaboração com o site aCalopsia, desta feita feita a propósito do que imaginamos ser a proximidade da distribuição comercial em Portugal do filme Snowpiercer, de Bong Jooh-Ho, fazemos uma breve re-leitura do texto que lhe deu origem, o Transperceneige de Lob e Rochette, continuado mais tarde por Legrand. Além de uma breve contextualização da sua produção no mercado franco-belga dos anos 1980, abordamos os livros em si e depois uma análise sumária do filme que os transforma numa obra fílmica autónoma. 
Poderão aceder a esse material directamente aqui.

27 de abril de 2014

Dans ma maison de papier. Pierre Duba e Philippe Dorin (Six pieds sous terre).

Este livro é uma cadeia de diálogos entre linguagens artísticas, de forma a fazer emergir um objecto tão heterogéneo nos elementos que o compõem como na coesão que os unem. O ponto de partida é uma peça teatral para três personagens escrita por Dorin, cujo título completo é Dans ma maison de papier, j'ai de poèmes sur le feu. E de facto, há um incêndio no seu interior. (mais)

26 de junho de 2013

Inferno. Marcel Ruijters (Mmmnnnrrrg)

O fascínio por Dante inaugura toda uma linha de desenvolvimento do pensamento, filosofia, teologia, e literatura na Europa, e mais além. Como não poderia deixar de ser, também exerce uma forte influência no que diz respeito à representação visual dos círculos do Averno e do Empíreo (o Limbo, entretanto, “fechou”), não tivesse tido uma versão magnífica, ainda que incompleta e ainda que não a primeira, com Botticcelli e, depois, seguida pelas de Giovanni Stradano, William Blake, Gustave Doré, António Carneiro, Miquel Barceló, etc. É claro que outras disciplinas artísticas não puderam ser de forma alguma ser alheias a essa tradição (recordemo-nos de A TV Dante, de Greenaway), tais como a banda desenhada. Mas se aqui, sobretudo no que se entenderia como cultura popular, existem muitas “versões” escolares, naturalizantes, de “terror” ou medíocres, existem também outros exemplos que conseguiram passar a barreira da mera adaptação para chegar a formas de verter a matéria em novos actos poiéticos, levando-se mesmo à fundação de novas obras magistrais deste outro campo artístico. Neste último aspecto, apenas nos podemos referir, pensamos nós, a Jimbo in Purgatory e Jimbo’s Inferno de Gary Panter. (Mais) 

16 de novembro de 2012

Ensaio do Vazio. Carlos Henrique Schroeder et al. (7letras)

Baseado no romance homónimo de Carlos Henrique Schroeder (de 2006), “este” Ensaio do Vazio é um projecto que reúne um conjunto de cinco artistas para criarem uma adaptação em banda desenhada. Esse aspecto colectivo insufla-lhe, logo à partida, uma dimensão pouco usual, mas apenas a sua consideração cuidada poderá desvendar se se trata de uma conquista de novas potencialidades ou se, bem pelo contrário, acaba por criar obstáculos na sua fruição. O aspecto colectivo é multiplicado pelo facto de, editorialmente, ser uma junção entre três casas, a saber, a 7 Letras, a Editora da Casa e a Design Editora. É esta última, pensamos, que terá tido a parte de leão em termos de coordenação, convite e distribuição. (Mais)