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3.1.12
3.10.11
Benfica - Paços Ferreira: opinião
- Vou começar por comentar a natureza do jogo. Parece-me evidente o conforto com que o Benfica encarou o jogo, sem necessidade de grandes rasgos, mas com a percepção sempre presente de que uma exibição "normal" bastaria para uma vitória folgada. E assim foi. Há, nesta observação, uma grande dose de mérito do Benfica, que é uma equipa realmente forte, mas o que quero destacar é a diferença de potencial entre as equipas. Repete-se muitas vezes que o campeonato português é muito competitivo, mas eu tenho alguma dificuldade em concordar com a ideia. Não está em causa a capacidade de trabalho nas equipas mais pequenas, mas sim uma diferença de condições que, na minha leitura, se tem dilatado progressivamente com o tempo...
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- Relativamente ao jogo, creio que importa contextualizar a estratégia do Paços. Pareceu haver uma intencionalidade de criar problemas desde a zona de construção e, em particular, limitar as saídas do Benfica pelos corredores laterais. Isso foi de alguma forma conseguido. Houve poucas saídas iniciadas por qualquer dos laterais (especialmente Maxi, que é um protagonista normalmente mais activo) e criaram-se situações de grande densidade na zona média, o que dificultou a vida ao Benfica. O que tornou o jogo tremendamente fácil para o Benfica, porém, foi o que acontecia a seguir. Ou seja, se a equipa tinha algumas dificuldades em passar dessa tal zona de maior densidade, quando o fazia, aproximava-se com enorme probabilidade do golo. E isso - a proximidade com o golo - é o que mais liga as equipas ao sucesso. Nota, aqui, para dois factores. Primeiro, os movimentos de lateralização do jogo numa segunda fase ofensiva e, segundo, a óbvia dificuldade do Paços em controlar os espaços na linha mais recuada.
- Sem haver muitas notas a fazer, queria explorar dois temas, começando pela influência das bolas paradas. Foi um dos "abre latas" do Benfica no jogo, conseguindo 4 dos 10 desequilíbrios por essa via. A curiosidade no campeonato encarnado tem a ver com as diferenças de aproveitamento destas situações entre os jogos disputados em casa e fora. Em casa, o Benfica criou 11 desequilíbrios e marcou 4 golos, comparando com apenas 2 desequilíbrios e nenhum golo, nos jogos fora. É certo que jogou mais vezes em casa e que um dos jogos fora foi no Dragão, mas é, ainda assim, um dado curioso e que será interessante acompanhar.
- O outro tema, tem a ver com o papel dos extremos nos movimentos de construção. Há uma intenção de trazer os alas para o corredor central, como solução para o primeiro passe, num movimento também identificado em muitas outras equipas. Aqui, parece-me haver uma diferença grande entre as soluções, com Bruno César a revelar-se mais consistente do que Nolito e Gaitan. Nolito, claramente, não tem qualquer apetência para esses movimentos, sendo um avançado de formação, não tem grande facilidade de desempenho nessa zona, nem, tão pouco, se aventura na procura desses movimentos (creio que esse é o principal motivo pelo qual não é um titular indiscutível para Jesus). Gaitan, por outro lado, aventura-se muito mais por essas zonas, porque gosta de ter a bola seja onde for. O problema de Gaitan é o perfil de decisão, demasiado orientado para o risco e pouco ajustado àquilo que se exige nessas zonas. Joga o tudo ou nada numa zona em que tal ainda não se justifica. Bruno César, por outro lado, parece-me revelar-se bem mais consistente na interpretação destes movimentos específicos. Aliás, em jogo corrido é enorme a diferença de certeza em posse de Bruno César para os outros dois, sendo a do brasileiro na ordem dos 74% e a dos outros dois a rondar os 60%.
- Finalmente, uma referência ao Paços. É impossível exigir-se muito a uma equipa que visita a Luz no momento em que o Paços o fez. Um desafio emocional desta ordem requereria sempre outro enquadramento para poder aspirar de forma minimamente realista ao sucesso. De todo o modo, e como referi, creio que o Paços conseguiu um bom condicionamento do jogo numa primeira fase, sendo esse o grande dado positivo a reter. O problema, defensivamente, é que isso não foi suficiente para garantir o essencial: o controlo objectivo sobre o adversário e a respectiva proximidade com o golo. Depois, no lado ofensivo, o Paços não teve realmente qualquer capacidade de se manter ameaçador ao longo do jogo. A sua zona de bloqueio nunca desencadeou recuperações que originassem transições que pusessem em causa o equilíbrio do Benfica e, em organização, a equipa privilegiou saídas mais longas e menos arriscadas(o que é razoável dado o contexto, diga-se). O que mais se estranhará é que num jogo destas características, Michel não tenha feito parte da equação principal...
- Sem haver muitas notas a fazer, queria explorar dois temas, começando pela influência das bolas paradas. Foi um dos "abre latas" do Benfica no jogo, conseguindo 4 dos 10 desequilíbrios por essa via. A curiosidade no campeonato encarnado tem a ver com as diferenças de aproveitamento destas situações entre os jogos disputados em casa e fora. Em casa, o Benfica criou 11 desequilíbrios e marcou 4 golos, comparando com apenas 2 desequilíbrios e nenhum golo, nos jogos fora. É certo que jogou mais vezes em casa e que um dos jogos fora foi no Dragão, mas é, ainda assim, um dado curioso e que será interessante acompanhar.
- O outro tema, tem a ver com o papel dos extremos nos movimentos de construção. Há uma intenção de trazer os alas para o corredor central, como solução para o primeiro passe, num movimento também identificado em muitas outras equipas. Aqui, parece-me haver uma diferença grande entre as soluções, com Bruno César a revelar-se mais consistente do que Nolito e Gaitan. Nolito, claramente, não tem qualquer apetência para esses movimentos, sendo um avançado de formação, não tem grande facilidade de desempenho nessa zona, nem, tão pouco, se aventura na procura desses movimentos (creio que esse é o principal motivo pelo qual não é um titular indiscutível para Jesus). Gaitan, por outro lado, aventura-se muito mais por essas zonas, porque gosta de ter a bola seja onde for. O problema de Gaitan é o perfil de decisão, demasiado orientado para o risco e pouco ajustado àquilo que se exige nessas zonas. Joga o tudo ou nada numa zona em que tal ainda não se justifica. Bruno César, por outro lado, parece-me revelar-se bem mais consistente na interpretação destes movimentos específicos. Aliás, em jogo corrido é enorme a diferença de certeza em posse de Bruno César para os outros dois, sendo a do brasileiro na ordem dos 74% e a dos outros dois a rondar os 60%.
- Finalmente, uma referência ao Paços. É impossível exigir-se muito a uma equipa que visita a Luz no momento em que o Paços o fez. Um desafio emocional desta ordem requereria sempre outro enquadramento para poder aspirar de forma minimamente realista ao sucesso. De todo o modo, e como referi, creio que o Paços conseguiu um bom condicionamento do jogo numa primeira fase, sendo esse o grande dado positivo a reter. O problema, defensivamente, é que isso não foi suficiente para garantir o essencial: o controlo objectivo sobre o adversário e a respectiva proximidade com o golo. Depois, no lado ofensivo, o Paços não teve realmente qualquer capacidade de se manter ameaçador ao longo do jogo. A sua zona de bloqueio nunca desencadeou recuperações que originassem transições que pusessem em causa o equilíbrio do Benfica e, em organização, a equipa privilegiou saídas mais longas e menos arriscadas(o que é razoável dado o contexto, diga-se). O que mais se estranhará é que num jogo destas características, Michel não tenha feito parte da equação principal...
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20.9.11
Benfica - Académica: opinião
- Vou começar pelo fim, e pelo jogo de Sexta Feira. Desta vez, será mais claro o que irá fazer Jesus em termos de estrutura, mas restam algumas dúvidas no que respeita à estratégia. Irá assumir um jogo de construção, ou usar Cardozo, para diminuir o risco de perda perante o pressing contrário? Do mesmo modo, questiono-me sobre se da parte do Porto haverá uma estratégia especifica, se tentará condicionar o lado de saída da bola do adversário, por exemplo? Enfim, alguns pontos de interesse para um clássico que já não tarda. Mais uma vez, uma nota importante para o lado mental. Recuperar dois pontos em "cima" do jogo pode ser benéfico para o Benfica, mas o grande obstáculo mental está longe de ter a ver com a época em curso. É muito mais profundo do que isso...
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- Sobre o jogo, começo por falar da característica algo invulgar a que o jogo foi forçado. Menos passes, menos certeza em posse, menos circulação, do que é habitual. Porquê? Tem a ver com aquilo que a Académica se propõe fazer. É uma equipa que tenta condicionar o jogo adversário pelo encurtamento de espaços através de uma postura agressiva (subida) da sua linha mais recuada. Neste cenário, o jogo definir-se-ia em dois sentidos possíveis: ou com muito risco para o Benfica, caso a entrada no bloco 'estudante' não fosse bem conseguida, ou grandes dificuldades de controlo nas costas da defesa, caso o Benfica conseguisse sair em boas condições do primeiro passe vertical. Claramente, foi o segundo caso que se constatou. O porquê, a divisão entre mérito e demérito, é que será mais discutível...
- Primeiro, há obviamente grande mérito na circulação do Benfica, com Garay a ganhar grande protagonismo, e pela positiva, no papel que teve no primeiro passe. Mas, também Bruno César protagonizou movimentos muito bem conseguidos, que permitiram combinar bem com Emerson, ao longo do corredor esquerdo. E foi assim, fundamentalmente, que o Benfica se aproximou do golo na primeira parte, surgindo o invulgar dado de não termos qualquer ocasião encarnada através dos lances de bola parada. Uma raridade, especialmente nos jogos da Luz.
- Mas, do lado da Académica, também há lugar a alguns reparos, ressalvando-se obviamente o contexto e grau de dificuldade que tinha pela frente. Nomeadamente, parece-me que não houve capacidade para ser pressionante sobre o primeiro jogador que recebia o passe de penetração, permitindo que este pudesse enquadrar e controlar o tempo sobre o segundo passe. Ora, com uma defesa tão alta, isto iria implicar uma dificuldade de controlo sobre o espaço que estrategicamente era oferecido nas costas. Aqui, parece-me importante a reactividade e capacidade de antecipação que os jogadores dentro do bloco não tiveram, mas também o descontrolo sobre o ponto de saída de construção do Benfica. Isto, porque se a bola circula lateralmente antes do primeiro passe, será sempre mais difícil estar perto do receptor, quando não foi ainda feito o ajuste posicional à largura. Nomeadamente, à esquerda Emerson pareceu receber sempre com bastante liberdade e com condições para ameaçar a profundidade. Na segunda parte, a Académica melhorou neste plano, conseguiu controlar muito melhor o Benfica neste momento, acabando no entanto por ter de se expor progressivamente, em função do resultado.
- Ainda na Académica, é uma equipa interessante, que apresenta, provavelmente, a postura posicional com mais exposição da Liga (novamente, altura da linha defensiva). Interessante foi o movimento do golo, com o extremo a vir para dentro e a encontrar o médio oposto, no espaço "entrelinhas". Parece-me muito claro que é um movimento intencional da equipa, o que não espanta tendo em conta a proveniência do seu treinador.
- Relativamente ao Benfica, uma nota para o papel dos seus extremos. De facto, uma grande variedade de soluções, todas com boa capacidade de trabalho e uma enorme facilidade para decidir, seja finalizando (Nolito e Bruno César), seja assistindo (Gaitan). Não é por acaso que "ter golo" se paga no mercado, é que vale mesmo muito. Resta Perez, que também tem muita qualidade, mas que tem uma característica algo diferente destes, sendo fundamentalmente mais consistente em zonas interiores e distantes da baliza.
- Primeiro, há obviamente grande mérito na circulação do Benfica, com Garay a ganhar grande protagonismo, e pela positiva, no papel que teve no primeiro passe. Mas, também Bruno César protagonizou movimentos muito bem conseguidos, que permitiram combinar bem com Emerson, ao longo do corredor esquerdo. E foi assim, fundamentalmente, que o Benfica se aproximou do golo na primeira parte, surgindo o invulgar dado de não termos qualquer ocasião encarnada através dos lances de bola parada. Uma raridade, especialmente nos jogos da Luz.
- Mas, do lado da Académica, também há lugar a alguns reparos, ressalvando-se obviamente o contexto e grau de dificuldade que tinha pela frente. Nomeadamente, parece-me que não houve capacidade para ser pressionante sobre o primeiro jogador que recebia o passe de penetração, permitindo que este pudesse enquadrar e controlar o tempo sobre o segundo passe. Ora, com uma defesa tão alta, isto iria implicar uma dificuldade de controlo sobre o espaço que estrategicamente era oferecido nas costas. Aqui, parece-me importante a reactividade e capacidade de antecipação que os jogadores dentro do bloco não tiveram, mas também o descontrolo sobre o ponto de saída de construção do Benfica. Isto, porque se a bola circula lateralmente antes do primeiro passe, será sempre mais difícil estar perto do receptor, quando não foi ainda feito o ajuste posicional à largura. Nomeadamente, à esquerda Emerson pareceu receber sempre com bastante liberdade e com condições para ameaçar a profundidade. Na segunda parte, a Académica melhorou neste plano, conseguiu controlar muito melhor o Benfica neste momento, acabando no entanto por ter de se expor progressivamente, em função do resultado.
- Ainda na Académica, é uma equipa interessante, que apresenta, provavelmente, a postura posicional com mais exposição da Liga (novamente, altura da linha defensiva). Interessante foi o movimento do golo, com o extremo a vir para dentro e a encontrar o médio oposto, no espaço "entrelinhas". Parece-me muito claro que é um movimento intencional da equipa, o que não espanta tendo em conta a proveniência do seu treinador.
- Relativamente ao Benfica, uma nota para o papel dos seus extremos. De facto, uma grande variedade de soluções, todas com boa capacidade de trabalho e uma enorme facilidade para decidir, seja finalizando (Nolito e Bruno César), seja assistindo (Gaitan). Não é por acaso que "ter golo" se paga no mercado, é que vale mesmo muito. Resta Perez, que também tem muita qualidade, mas que tem uma característica algo diferente destes, sendo fundamentalmente mais consistente em zonas interiores e distantes da baliza.
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4.8.11
Notas do Trabzonspor - Benfica
1- Começo pela parte final do jogo. O Benfica tinha tudo para vencer, e realmente devia ter vencido. É grave? Talvez não. Talvez... Não é fácil de ser-se muito objectivo sobre a relevância deste pormenor, mas, há alguns indicadores que o sugerem, e eu acredito na tese de que a exigência colectiva, em termos de intensidade de jogo, pode ser crucial na criação de uma dinâmica vencedora. Nomeadamente, pela potenciação de níveis de confiança intra e inter relacionais (ou seja, confiança do jogador no seu próprio desempenho, e na sua relação com o modelo e restantes jogadores), um aspecto que várias vezes mencionei no passado. Por exemplo? O Porto 2010/11, que começou de forma pouco entusiasmante, mas que manteve sempre níveis de concentração elevados nos primeiros jogos, repetindo protagonistas base e exigindo sempre muito deles, mesmo em jogos sem grande relevância competitiva. Quando se deu por isso, estava montada uma máquina vencedora, que fez da concentração competitiva, precisamente, uma chave do seu extraordinário sucesso. E, aqui, mais do que ganhar, refiro-me a exigir concentração e intensidade competitiva. O Benfica podia não ter ganho o jogo, mas creio que é um erro de abordagem permitir-se que a equipa, ou alguns jogadores, voltem a cara ao jogo, simplesmente porque podem.
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2- Aproveito a introdução para uma primeira referência individual: Gaitan. Se há jogador que merece reparo, no que respeita ao que escrevi anteriormente, é Gaitan. Falhou no golo sofrido, num mau ajustamento posicional nas costas de Maxi, mas essa não é critica que mais lhe cabe. Aliás, revelou, até, boa capacidade de trabalho defensivo ao longo do jogo. Normalmente, tem-na. O problema, como facilmente se percebe, é a atitude. Gaitan tem talento e tem, até, capacidade de trabalho defensivo que pode fazer um jogador de grande intensidade e utilidade em todos os momentos do jogo. Diz-se que pode ser um grande jogador (ainda mais), e pode. Mas não o será, nunca, pelo mero aprimorar da arte dos seus números. Isso dar-lhe-á mais prémios "jogador youtube da semana", mas nunca potenciará a capacidade para jogar em patamares de exigência mais elevados. Se o objectivo é potenciar Gaitan, há que trabalhar a sua intensidade, a sua concentração e o seu critério. Porque, a menos que me tenha escapado alguma coisa sobre este assunto, o futebol ainda não contempla notas artísticas no apuramento do resultado final.
3- Voltando ao inicio do jogo, devo dizer que, apesar do conforto sempre presente no jogo e na eliminatória, estou longe de ter achado ideal a exibição protagonizada. Começando pelo relevante detalhe da organização defensiva, o Benfica apresentou-se, sem supresa, em 4-4-2, com Aimar e Saviola a pressionar numa primeira linha, e um bloco mais baixo do que é habitual. O que se viu, porém, revelou uma organização ainda débil e vulnerável a uma circulação mais capaz que, para fortuna do Benfica, nunca existiu no Trabzonspor. Pela modéstia da posse e circulação adversária se justifica o controlo do jogo por parte do Benfica. Porque, ver jogadores a fazer movimentos de pressão activa enquanto olham, sucessivamente, para trás e gesticulam, não é um bom indício de qualidade organizativa e, sobretudo, de uma assimilação ideal de tudo o que, colectivamente, devem fazer. Há, de facto, trabalho a fazer em termos de organização colectiva, e parece-me claro que Jesus o sabe bem (também ele gesticulou muito sobre este aspecto).
4- Sobre a utilização de uma estrutura mais protegida na zona central, devo dizer que acho prudente que assim aconteça. Aliás, entendo que o Benfica não deveria fazê-lo de forma alternativa, e apenas em jogos de maior grau de dificuldade, mas que pudesse trabalhar uma estrutura em que se apresentasse em todos os jogos, variando apenas na vertente estratégica. O que se passa, é que o 4-1-3-2 actual expõe demasiado o pivot, havendo frequentemente uma grande distância para os outros elementos da linha média. Este não foi o principal (e decisivo, na minha opinião) problema do Benfica da época anterior, esse foi a segurança em posse, mas entende-se a preocupação de Jesus. O ponto que quero vincar é que a equipa ganharia em termos de consistência de processos se encontrasse uma estrutura que fosse omnipresente (mesmo que fosse o 4-1-3-2, mas com outras dinâmicas).
5- Partindo para o capítulo individual, começo por trás. Emerson e Garay foram as novidades, e ambos estiveram bem, ainda que apenas razoavelmente. Abaixo de Maxi e Luisão, por exemplo. Emerson (que já conhecia do Lille) revela-se um jogador mais forte defensivamente. Esteve bem na transição ataque-defesa e apresentou boa capacidade nos duelos e no posicionamento interior. O problema poderá ser a qualidade que dará em termos de dinâmica ofensiva. Era a ideia que tinha sobre ele no Lille, e, se se confirmar essa percepção, haverá uma grande diferença de perfil em relação a Coentrão. Quanto a Garay, compara-lo com Luisão é injusto, porque o central brasileiro foi, outra vez, fantástico defensivamente. Para mim é, de longe, o melhor central do futebol português, e, sem querer entrar em hierarquizações discutíveis, diria apenas que o imagino a jogar sem problemas em qualquer clube do mundo.
6- No meio campo, Javi e Witsel estiveram muito bem, à parte dos tais problemas de rotinas colectivas. Javi, esteve concentrado e com boa presença defensiva, não tendo sido testado no seu ponto mais débil, a segurança em posse. Witsel foi a novidade e, sem surpresa face ao que tinha antevisto, revelou-se um jogador de utilidade plena, como muito poucos jogadores conseguem ser. Não teve um papel absolutamente simétrico a Javi, revelando-se até importante face à ausência de Cardozo, já que foi várias vezes referência para as saídas longas de Artur. Foi utilizado em posições mais avançadas, tal como acontece frequentemente na Selecção, mas, pessoalmente, entendo que pode ser mais útil em zonas mais atrasadas. Isto, porque apesar da sua capacidade de envolvimento ofensivo, tem um perfil de decisão muito mais próprio da fase de construção. Veremos como continua a evoluir, mas, o que tinha projectado sobre ele parece, para já, confirmar-se na plenitude.
7- Nas alas, e já tendo abordado Gaitan, falta falar sobre Nolito. Merecerá, a meu ver, o estatuto de melhor em campo porque, mesmo não se tendo revelado tão consistente como Aimar ou Witsel, foi, claramente, o jogador mais decisivo neste jogo em concreto. Marcou o golo, viu outro ser-lhe negado e isolou Gaitan, noutra ocasião soberana. Nolito é um pouco o inverso do argentino que jogou no outro flanco do terreno. Não tem a sua habilidade, mas quando parte para uma jogada, parte com tudo, capaz de passar por cima dos adversários, se tal for preciso. Não precisa do "souplesse" de Gaitan (porque também não o conseguiria). É essa intensidade e essa agressividade ofensiva que mais o distinguem, porque, e apesar de confirmar o bom critério de decisão no último terço, não tem uma grande variedade de recursos ou movimentos. Diagonais interiores e condução agressiva com o pé direito, são as suas armas. Enquanto for decisivo, deverá manter a titularidade, mas não penso que se possa manter muito tempo nas principais preferências sem essa tal influência decisiva. Enzo Perez, por exemplo, é um jogador bem mais completo.
8- Finalmente, Aimar e Saviola. Costumam ser referidos em conjunto, e essa ligação justifica-se por motivos óbvios. Há, porém, grandes diferenças no que ambos fazem no presente. Particularmente, em termos de intensidade, bem que podiam ser de extremos opostos do planeta. Enquanto Aimar empresta uma disponibilidade e agressividade plenas em todos os momentos do jogo, Saviola parece à margem do que se está a passar em seu redor. Recepções perdidas, maus desempenhos técnicos e, sobretudo, uma passividade tremenda a nível defensivo. Jogou ao lado de Aimar, pressionou nas mesmas zonas, mas o que produziu não tem absolutamente nada a ver. Vale-lhe a sua fantástica capacidade de movimentação, tendo um invulgar instinto para aproveitar os espaços livres no último terço. Vale-lhe, mas, se continuar neste nível de intensidade, poder-lhe-á não ser suficiente para durar muito mais tempo no onze. Digo eu. Quanto a Aimar, é um grande jogador e isso não passará com a idade, mas apenas quando perder rendimento, o que ainda não aconteceu. Pessoalmente, parece-me que se justificaria uma adaptação mais especifica a zonas mais ofensivas. Porque Aimar, e ao contrário do que escrevi sobre Witsel, é um jogador de fase criativa e não tanto de construção, e porque a sua reactividade pode dotar a primeira linha de pressão de um rendimento que Cardozo e Saviola não garantem. Por outro lado, se maior especificidade implicasse maior doseamento de esforço, talvez pudesse durar mais do que os actuais 60 minutos que Jesus lhe dá. É que restringir uma mais valia a 2/3 do jogo é uma perda significativa...
3- Voltando ao inicio do jogo, devo dizer que, apesar do conforto sempre presente no jogo e na eliminatória, estou longe de ter achado ideal a exibição protagonizada. Começando pelo relevante detalhe da organização defensiva, o Benfica apresentou-se, sem supresa, em 4-4-2, com Aimar e Saviola a pressionar numa primeira linha, e um bloco mais baixo do que é habitual. O que se viu, porém, revelou uma organização ainda débil e vulnerável a uma circulação mais capaz que, para fortuna do Benfica, nunca existiu no Trabzonspor. Pela modéstia da posse e circulação adversária se justifica o controlo do jogo por parte do Benfica. Porque, ver jogadores a fazer movimentos de pressão activa enquanto olham, sucessivamente, para trás e gesticulam, não é um bom indício de qualidade organizativa e, sobretudo, de uma assimilação ideal de tudo o que, colectivamente, devem fazer. Há, de facto, trabalho a fazer em termos de organização colectiva, e parece-me claro que Jesus o sabe bem (também ele gesticulou muito sobre este aspecto).
4- Sobre a utilização de uma estrutura mais protegida na zona central, devo dizer que acho prudente que assim aconteça. Aliás, entendo que o Benfica não deveria fazê-lo de forma alternativa, e apenas em jogos de maior grau de dificuldade, mas que pudesse trabalhar uma estrutura em que se apresentasse em todos os jogos, variando apenas na vertente estratégica. O que se passa, é que o 4-1-3-2 actual expõe demasiado o pivot, havendo frequentemente uma grande distância para os outros elementos da linha média. Este não foi o principal (e decisivo, na minha opinião) problema do Benfica da época anterior, esse foi a segurança em posse, mas entende-se a preocupação de Jesus. O ponto que quero vincar é que a equipa ganharia em termos de consistência de processos se encontrasse uma estrutura que fosse omnipresente (mesmo que fosse o 4-1-3-2, mas com outras dinâmicas).
5- Partindo para o capítulo individual, começo por trás. Emerson e Garay foram as novidades, e ambos estiveram bem, ainda que apenas razoavelmente. Abaixo de Maxi e Luisão, por exemplo. Emerson (que já conhecia do Lille) revela-se um jogador mais forte defensivamente. Esteve bem na transição ataque-defesa e apresentou boa capacidade nos duelos e no posicionamento interior. O problema poderá ser a qualidade que dará em termos de dinâmica ofensiva. Era a ideia que tinha sobre ele no Lille, e, se se confirmar essa percepção, haverá uma grande diferença de perfil em relação a Coentrão. Quanto a Garay, compara-lo com Luisão é injusto, porque o central brasileiro foi, outra vez, fantástico defensivamente. Para mim é, de longe, o melhor central do futebol português, e, sem querer entrar em hierarquizações discutíveis, diria apenas que o imagino a jogar sem problemas em qualquer clube do mundo.
6- No meio campo, Javi e Witsel estiveram muito bem, à parte dos tais problemas de rotinas colectivas. Javi, esteve concentrado e com boa presença defensiva, não tendo sido testado no seu ponto mais débil, a segurança em posse. Witsel foi a novidade e, sem surpresa face ao que tinha antevisto, revelou-se um jogador de utilidade plena, como muito poucos jogadores conseguem ser. Não teve um papel absolutamente simétrico a Javi, revelando-se até importante face à ausência de Cardozo, já que foi várias vezes referência para as saídas longas de Artur. Foi utilizado em posições mais avançadas, tal como acontece frequentemente na Selecção, mas, pessoalmente, entendo que pode ser mais útil em zonas mais atrasadas. Isto, porque apesar da sua capacidade de envolvimento ofensivo, tem um perfil de decisão muito mais próprio da fase de construção. Veremos como continua a evoluir, mas, o que tinha projectado sobre ele parece, para já, confirmar-se na plenitude.
7- Nas alas, e já tendo abordado Gaitan, falta falar sobre Nolito. Merecerá, a meu ver, o estatuto de melhor em campo porque, mesmo não se tendo revelado tão consistente como Aimar ou Witsel, foi, claramente, o jogador mais decisivo neste jogo em concreto. Marcou o golo, viu outro ser-lhe negado e isolou Gaitan, noutra ocasião soberana. Nolito é um pouco o inverso do argentino que jogou no outro flanco do terreno. Não tem a sua habilidade, mas quando parte para uma jogada, parte com tudo, capaz de passar por cima dos adversários, se tal for preciso. Não precisa do "souplesse" de Gaitan (porque também não o conseguiria). É essa intensidade e essa agressividade ofensiva que mais o distinguem, porque, e apesar de confirmar o bom critério de decisão no último terço, não tem uma grande variedade de recursos ou movimentos. Diagonais interiores e condução agressiva com o pé direito, são as suas armas. Enquanto for decisivo, deverá manter a titularidade, mas não penso que se possa manter muito tempo nas principais preferências sem essa tal influência decisiva. Enzo Perez, por exemplo, é um jogador bem mais completo.
8- Finalmente, Aimar e Saviola. Costumam ser referidos em conjunto, e essa ligação justifica-se por motivos óbvios. Há, porém, grandes diferenças no que ambos fazem no presente. Particularmente, em termos de intensidade, bem que podiam ser de extremos opostos do planeta. Enquanto Aimar empresta uma disponibilidade e agressividade plenas em todos os momentos do jogo, Saviola parece à margem do que se está a passar em seu redor. Recepções perdidas, maus desempenhos técnicos e, sobretudo, uma passividade tremenda a nível defensivo. Jogou ao lado de Aimar, pressionou nas mesmas zonas, mas o que produziu não tem absolutamente nada a ver. Vale-lhe a sua fantástica capacidade de movimentação, tendo um invulgar instinto para aproveitar os espaços livres no último terço. Vale-lhe, mas, se continuar neste nível de intensidade, poder-lhe-á não ser suficiente para durar muito mais tempo no onze. Digo eu. Quanto a Aimar, é um grande jogador e isso não passará com a idade, mas apenas quando perder rendimento, o que ainda não aconteceu. Pessoalmente, parece-me que se justificaria uma adaptação mais especifica a zonas mais ofensivas. Porque Aimar, e ao contrário do que escrevi sobre Witsel, é um jogador de fase criativa e não tanto de construção, e porque a sua reactividade pode dotar a primeira linha de pressão de um rendimento que Cardozo e Saviola não garantem. Por outro lado, se maior especificidade implicasse maior doseamento de esforço, talvez pudesse durar mais do que os actuais 60 minutos que Jesus lhe dá. É que restringir uma mais valia a 2/3 do jogo é uma perda significativa...
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26.5.11
23.3.11
Paços - Benfica (Análise e números)
- Eficácia, sim, mas não só. O Paços falhou a sua abordagem ao jogo porque falhou completamente no “pressing” alto – o primeiro alicerce da sua proposta. Bem o Benfica a ligar corredores em zona baixa, aumentando os espaços e dificultando a tarefa dos “castores” de chegar a tempo para pressionar. O resultado? Com o Paços a arriscar no “pressing” e a falhar completamente o condicionamento na primeira fase de construção do Benfica, abriram-se os espaços e o Benfica, com a sua qualidade... “cavalgou-os”.
- Rui Vitória deverá retirar as suas conclusões. À primeira vista, parece que as alterações prejudicaram a equipa. Que Rondon foi um fracasso absoluto à direita, que a sua agressividade fez falta na frente, que Manuel José não teve intensidade para ser agressivo na zona da bola (2ºgolo), que Olímpio e Leão terão feito falta... Talvez... mas uma equipa não pode ter uma percepção “cega” do pressing e tem de garantir, primeiro, a coerência espacial e colectiva antes de “atacar” a bola.
- Curioso como o jogo foi mais controlado pelo Paços, com 10. Curioso, mas não estranho, por tudo o que escrevi atrás. Com menos 1 unidade, a atitude posicional do Paços foi mais prudente e criteriosa. Não discutiu o jogo territorialmente, mas capitalizou vários erros em posse dos encarnados. Aliás, sobre o Benfica, importa dizer que, apesar do conforto do resultado, esta não foi uma exibição isenta de erros. Pelo contrário, em posse, foi raro o jogador que não comprometeu pelo menos 1 vez.
- O Benfica é, realmente, fortíssimo nas bolas paradas, e Jardel vem acrescentar ainda mais capacidade nesse particular. O ex-Olhanense não tem, obviamente, o potencial ou as mais valias de David Luiz, mas pode bem ser competição para Sidnei. Ser central é, hoje em dia, muito “fácil” no Benfica!
- Individualmente, e no Benfica, Aimar foi o melhor. O espaço que o Paços abriu foi um regalo para ele. De resto, é ainda cedo para considerações sobre Carole. A Gaitan, valeu o golo (e que golo!), porque confundiu novamente competição com descompressão, assim que o jogo lhe pareceu resolvido. Já Jara, para além de 1 ou 2 verticalizações (2ºgolo), não valeu quase nada.
- Sobre o Paços, o destaque vai, muito claramente, para o seu lado esquerdo. Aliás, a dinâmica dos corredores laterais é um dos segredos do sucesso desta equipa. Maycon joga como lateral, mas não é bem um defesa. Se conseguirem fazer dele um defesa – e vale a pena tentar – pode ser que dê um lateral para voos bem mais altos. À sua frente, Pizzi, pode nunca chegar a um “grande” mas tem tudo para fazer carreira em boas equipas, e com um papel de relevo...
- Rui Vitória deverá retirar as suas conclusões. À primeira vista, parece que as alterações prejudicaram a equipa. Que Rondon foi um fracasso absoluto à direita, que a sua agressividade fez falta na frente, que Manuel José não teve intensidade para ser agressivo na zona da bola (2ºgolo), que Olímpio e Leão terão feito falta... Talvez... mas uma equipa não pode ter uma percepção “cega” do pressing e tem de garantir, primeiro, a coerência espacial e colectiva antes de “atacar” a bola.
- Curioso como o jogo foi mais controlado pelo Paços, com 10. Curioso, mas não estranho, por tudo o que escrevi atrás. Com menos 1 unidade, a atitude posicional do Paços foi mais prudente e criteriosa. Não discutiu o jogo territorialmente, mas capitalizou vários erros em posse dos encarnados. Aliás, sobre o Benfica, importa dizer que, apesar do conforto do resultado, esta não foi uma exibição isenta de erros. Pelo contrário, em posse, foi raro o jogador que não comprometeu pelo menos 1 vez.
- O Benfica é, realmente, fortíssimo nas bolas paradas, e Jardel vem acrescentar ainda mais capacidade nesse particular. O ex-Olhanense não tem, obviamente, o potencial ou as mais valias de David Luiz, mas pode bem ser competição para Sidnei. Ser central é, hoje em dia, muito “fácil” no Benfica!
- Individualmente, e no Benfica, Aimar foi o melhor. O espaço que o Paços abriu foi um regalo para ele. De resto, é ainda cedo para considerações sobre Carole. A Gaitan, valeu o golo (e que golo!), porque confundiu novamente competição com descompressão, assim que o jogo lhe pareceu resolvido. Já Jara, para além de 1 ou 2 verticalizações (2ºgolo), não valeu quase nada.
- Sobre o Paços, o destaque vai, muito claramente, para o seu lado esquerdo. Aliás, a dinâmica dos corredores laterais é um dos segredos do sucesso desta equipa. Maycon joga como lateral, mas não é bem um defesa. Se conseguirem fazer dele um defesa – e vale a pena tentar – pode ser que dê um lateral para voos bem mais altos. À sua frente, Pizzi, pode nunca chegar a um “grande” mas tem tudo para fazer carreira em boas equipas, e com um papel de relevo...
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3.3.11
Benfica: notas individuais do derbi
Javi Garcia – Claramente a “chave” do jogo, em termos individuais. Não só pelo golo – que não é de bola parada, note-se – mas sobretudo pelo domínio avassalador que exerceu no jogo aéreo na sua zona. Foi o jogador que mais lances ganhou e foi o mais importante no jogo de primeiras e segundas bolas que, como ontem escrevi, foi absolutamente crucial no jogo.
Cardozo – Elogiei o seu momento frente ao Marítimo, apesar de não ter marcado. Desta vez, de novo, destacou-se por ter falhado uma penalidade. Mas voltou a ter uma grande presença e influência, quer fora da área, quer fora dela. Repito, que nem sempre foi assim ao longo da época.
Luisão – Foi mais exposto do que Sidnei e respondeu quase sempre bem. “Quase”, note-se, porque não foi um jogo imaculado. Mas, sem dúvida, foi com Javi uma das grandes forças da equipa.
Coentrão – Voltou a estar eléctrico. Não foi soberbo, mas foi muito bom. Dentro do seu nível, que é elevadíssimo.
Salvio e Gaitan – Trabalharam bem, mas estiveram pouco inspirados ofensivamente, tanto um como outro, mas sobretudo Salvio.
Saviola – Havia referido que está longe da influência de alguns meses e voltou a demonstrar isso mesmo. A constante procura dos corredores laterais limita as suas acções, mas também é verdade que pode ter maior influência.
Cardozo – Elogiei o seu momento frente ao Marítimo, apesar de não ter marcado. Desta vez, de novo, destacou-se por ter falhado uma penalidade. Mas voltou a ter uma grande presença e influência, quer fora da área, quer fora dela. Repito, que nem sempre foi assim ao longo da época.
Luisão – Foi mais exposto do que Sidnei e respondeu quase sempre bem. “Quase”, note-se, porque não foi um jogo imaculado. Mas, sem dúvida, foi com Javi uma das grandes forças da equipa.
Coentrão – Voltou a estar eléctrico. Não foi soberbo, mas foi muito bom. Dentro do seu nível, que é elevadíssimo.
Salvio e Gaitan – Trabalharam bem, mas estiveram pouco inspirados ofensivamente, tanto um como outro, mas sobretudo Salvio.
Saviola – Havia referido que está longe da influência de alguns meses e voltou a demonstrar isso mesmo. A constante procura dos corredores laterais limita as suas acções, mas também é verdade que pode ter maior influência.
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22.2.11
Sporting - Benfica: Análise e números (Benfica)
Notas colectivas
Um pouco à imagem do que escrevi sobre o Sporting, creio que o resultado e a natureza do jogo conduzem a mais elogios do que aqueles que a equipa realmente merece. Isto, note-se, numa perspectiva relativa, ou seja, tendo em conta as expectativas e aquilo que já conhecíamos das equipas. O Benfica venceu e confirmou, desde o primeiro minuto, a sua maior qualidade. Mas não foi um jogo especialmente bem conseguido ou de grande inspiração. Pelo contrário. Colectivamente, e sendo melhor como é, o Benfica permitiu que o Sporting encontrasse o caminho para recuperar alguma esperança, mesmo já estando em vantagem. Individualmente, e no plano ofensivo, poucos foram os jogadores realmente inspirados na equipa de Jorge Jesus. Salvou-se Gaitan e pouco mais.
A vitória foi construída um pouco à semelhança do que acontecera no Dragão. Ou seja, o pressing alto provocou dificuldades ao adversário e permitiu ao Benfica jogar a partir de recuperações rápidas na linha média. O domínio inicial garantiu-se assim, e o primeiro golo também.
Confesso, porém, que esperava mais do Benfica a partir do 0-1. Não imediatamente, porque a equipa começou por manter a mesma toada, mas, mais perto do intervalo, quando a equipa permitiu ao Sporting um jogo de mais espaços e de maior dependência da inspiração individual. Se uma equipa é mais forte colectivamente e está em vantagem, tem tudo a ganhar com relegar o jogo (e o adversário) para os momentos de organização, evitando os de transição. Porque é nos momentos de transição que há menos organização e, por consequência, mais incerteza no destino das jogadas. O Benfica permitiu-o e colocou-se a jeito de um volte face no jogo. Sem necessidade.
Importa também comentar a situação de inferioridade numérica. Em relação à substituição e à opção por Saviola, nada de surpresas. Parece-me lógico que se abdique de um avançado, mas discutível que seja Saviola em vez de Cardozo. Essa é, porém, sempre a opção de Jesus. Resta saber exactamente porquê: Cardozo não garante maior capacidade defensiva, nem melhor aproveitamento da profundidade. Pelo contrário, a equipa perde nessas 2 componentes. Garante, sim, maior capacidade de choque perante a marcação e maior presença nas bolas paradas, mas entre as duas hipóteses parece-me discutível que se privilegia esta última.
De resto, o Benfica beneficiou – do mal o menos – de ter tido a expulsão à beira do intervalo. O descanso serviu para evitar o risco de um descontrolo emocional e a equipa regressou consciente do seu papel em termos tácticos. Regressou, até, mais lúcida do que quando jogou com 11. Não é uma surpresa, porque se há coisa onde este Benfica é forte é na sua capacidade posicional. É, porém, importante salientar também a relevância da eficácia ofensiva para o controlo do jogo. O Benfica controlou sempre bem o adversário, mas poderia ter sofrido bem mais não fosse o golo de Gaitan (na única oportunidade clara da equipa depois do 0-1, diga-se). Uma coisa seria encarar a recta final com 1 golo de desvantagem, outra foi, como aconteceu, fazê-lo tendo pela frente um adversário emocionalmente derrotado. Assim, tudo pareceu muito mais fácil.
Luisão – Outro que continua num rendimento elevadíssimo. Impecável.
Javi Garcia – Um dos melhores jogos da temporada. Muita presença sem bola, quer no meio campo, quer no apoio aos centrais. Não foi forçado a construir com muita frequência e isso é um alívio porque costuma ser nesse capítulo que mais compromete.
Carlos Martins – Um exemplo de como, apesar da vitória, o Benfica não esteve especialmente inspirado.
Salvio – Marcou e foi útil defensivamente. Mas esteve longe de fazer um grande jogo.
Gaitan – O melhor em campo, sem qualquer dúvida. Cumprindo defensivamente, como é hábito, e sendo a grande fonte de inspiração da equipa em termos ofensivos. Quer nas combinações e iniciativas sobre o seu flanco, quer nos cruzamentos que foi tirando.
Cardozo – Teve poucas ou nenhumas oportunidades, mas trabalhou sempre bem sem bola, confirmando a tendência de ser mais útil nos grandes jogos.
Confesso, porém, que esperava mais do Benfica a partir do 0-1. Não imediatamente, porque a equipa começou por manter a mesma toada, mas, mais perto do intervalo, quando a equipa permitiu ao Sporting um jogo de mais espaços e de maior dependência da inspiração individual. Se uma equipa é mais forte colectivamente e está em vantagem, tem tudo a ganhar com relegar o jogo (e o adversário) para os momentos de organização, evitando os de transição. Porque é nos momentos de transição que há menos organização e, por consequência, mais incerteza no destino das jogadas. O Benfica permitiu-o e colocou-se a jeito de um volte face no jogo. Sem necessidade.
Importa também comentar a situação de inferioridade numérica. Em relação à substituição e à opção por Saviola, nada de surpresas. Parece-me lógico que se abdique de um avançado, mas discutível que seja Saviola em vez de Cardozo. Essa é, porém, sempre a opção de Jesus. Resta saber exactamente porquê: Cardozo não garante maior capacidade defensiva, nem melhor aproveitamento da profundidade. Pelo contrário, a equipa perde nessas 2 componentes. Garante, sim, maior capacidade de choque perante a marcação e maior presença nas bolas paradas, mas entre as duas hipóteses parece-me discutível que se privilegia esta última.
De resto, o Benfica beneficiou – do mal o menos – de ter tido a expulsão à beira do intervalo. O descanso serviu para evitar o risco de um descontrolo emocional e a equipa regressou consciente do seu papel em termos tácticos. Regressou, até, mais lúcida do que quando jogou com 11. Não é uma surpresa, porque se há coisa onde este Benfica é forte é na sua capacidade posicional. É, porém, importante salientar também a relevância da eficácia ofensiva para o controlo do jogo. O Benfica controlou sempre bem o adversário, mas poderia ter sofrido bem mais não fosse o golo de Gaitan (na única oportunidade clara da equipa depois do 0-1, diga-se). Uma coisa seria encarar a recta final com 1 golo de desvantagem, outra foi, como aconteceu, fazê-lo tendo pela frente um adversário emocionalmente derrotado. Assim, tudo pareceu muito mais fácil.
Notas individuais
Maxi – Continua a confirmar a sua subida de forma. É, aliás, um dos jogadores em melhor momento.Luisão – Outro que continua num rendimento elevadíssimo. Impecável.
Javi Garcia – Um dos melhores jogos da temporada. Muita presença sem bola, quer no meio campo, quer no apoio aos centrais. Não foi forçado a construir com muita frequência e isso é um alívio porque costuma ser nesse capítulo que mais compromete.
Carlos Martins – Um exemplo de como, apesar da vitória, o Benfica não esteve especialmente inspirado.
Salvio – Marcou e foi útil defensivamente. Mas esteve longe de fazer um grande jogo.
Gaitan – O melhor em campo, sem qualquer dúvida. Cumprindo defensivamente, como é hábito, e sendo a grande fonte de inspiração da equipa em termos ofensivos. Quer nas combinações e iniciativas sobre o seu flanco, quer nos cruzamentos que foi tirando.
Cardozo – Teve poucas ou nenhumas oportunidades, mas trabalhou sempre bem sem bola, confirmando a tendência de ser mais útil nos grandes jogos.
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15.2.11
Benfica - Guimarães: Análise e números
Avassalador! Haverá certamente outros adjectivos para classificar a exibição encarnada, mas não é adjectivação que me parece mais importante no balanço, quer do jogo, como do momento da equipa. Tem sido um ano realmente interessante do ponto de vista da análise: uma equipa que era – como agora volta a ser – demolidora, quebra subitamente os seus níveis de performance, voltando depois a recuperar os níveis mais altos, com uma série de vitórias. Salvo novas evidências – e continuarei obviamente a acompanhar – o “caso Benfica” está para mim encerrado. O seu problema nunca foi táctico ou individual – os motivos que, como tanto tentei explicar, erradamente foram mais apontados. O seu problema foi sempre emocional. É que este Benfica de Jesus, tacticamente forte e tecnicamente rico, é “confiançodependente”!
Em relação ao jogo propriamente dito, há 3 aspectos que quero destacar na forma como o Benfica conseguiu a sua superioridade.
O primeiro tem a ver com a agressividade e capacidade reactiva à perda de bola. Muito agressiva toda a equipa, mas especialmente o corredor central. Javi e Aimar estiveram – como poucas vezes esta época – muito fortes na reactividade à perda, ganhando quase todos os duelos e dominando um corredor onde nem sempre estiveram em superioridade numérica. Este aspecto foi muito importante, obviamente, para manter a bola no meio campo ofensivo e não deixar o Vitória jogar.
O segundo aspecto tem a ver com a opção de utilizar quase exclusivamente os corredores laterais em ataque posicional. Javi baixou para a zona dos centrais, dando maior largura à circulação nessa linha, e Aimar apareceu poucas vezes a construir e muito mais a jogar a partir de posicionamentos mais adiantados (caso do 2ºgolo). A bola entrava quase sempre nos corredores laterais e nos extremos. Foi fundamental para o Benfica a produtividade destas combinações, quase sempre bem sucedidas. Há muito mérito da movimentação colectiva, algum demérito da falta de agressividade do Vitória, mas um também notável desempenho técnico dos jogadores, que conseguiram, muitas vezes, sair com bola de situações pouco favoráveis – mais uma vez, está aqui bem presente a importância da confiança.
O terceiro aspecto tem a ver com as bolas paradas. O Benfica é uma equipa com uma qualidade extraordinária neste plano. Extraordinária! A importância deste aspecto não está apenas circunscrito aos golos que consegue, mas estende-se também ao impacto emocional que os lances de perigo podem ter no jogo. Por serem situações emocionalmente intensas (de golo eminente) podem afectar os jogadores, positiva e negativamente, fazendo-os sentir mais confiantes ou inseguros, consoante o caso. Neste caso, isso pareceu-me importante. O Benfica, mesmo antes do golo (por sinal, conseguido de canto), fora ameaçador de bola parada e isso terá contribuído para o entusiasmo dos adeptos, para a confiança dos seus jogadores e para a insegurança do adversário. Isso reflectiu-se na grande diferença no desempenho técnico dos jogadores.
Sobre o Vitória, finalmente, importa dizer apenas que a equipa não esteve à altura das adversidades que lhe foram colocadas e sucumbiu à pressão a que foi submetida. Em termos tácticos, Machado optou por um 4-3-3 largo e pouco profundo, mas não foi por isso que o Vitória perdeu. Quando os jogadores não são capazes de controlar zonas em que têm superioridade, de dividir duelos directos e de manter um desempenho técnico que garanta, no mínimo, a segurança em posse, não há táctica ou estratégia que lhes possa valer...
Sidnei – A influência decisiva é óbvia e suficiente para ofuscar, quase por completo, qualquer outro aspecto. Ainda assim, foi também um jogador importante a jogar em antecipação na fase em que a equipa exerceu maior domínio. Foi bom para ele entrar neste momento positivo, dá-lhe - a ele e à equipa - maior margem na integração.
Javi Garcia – Esteve mais junto dos centrais em posse, o que lhe valeu maior presença e também mais segurança com bola. Sem bola, esteve também bem e sobretudo melhor do que é hábito, contribuindo de forma relevante para o "sufoco" da primeira parte.
Aimar – Indiscutivelmente o melhor em campo, combinando influência decisiva com um desempenho táctico bem acima do que lhe vem sendo hábito. Porém, convém não confundir grandes exibições com grande rendimento continuado. Aimar vai oscilando o óptimo com o insuficiente e esse é o seu problema desta temporada. Por exemplo, em Setúbal, tinha tido uma prestação bastante fraca, com muita insegurança em zona de construção.
Gaitan – Marcou em Setúbal e vem assumindo maior protagonismo mediático. Digo, porém, que o seu rendimento nos últimos 2 jogos foi inferior ao que era hábito. Particularmente, quando o jogo fica fácil, Gaitan torna-se displicente. É giro, porque torna-se uma espécie de “show” individual, com calcanhares e pormenores deliciosos. A equipa é que não ganha muito com a atitude.
Salvio – Um rendimento global fantástico. Desequilibra, trabalha e ainda consegue manter níveis de concentração muito elevados a cada posse de bola. Dificilmente o Benfica arranjará outro jogador com este rendimento e com a sua idade.
Cardozo – Uma nota para ele, porque, apesar de não ter marcado e de ter desperdiçado um penalti, apareceu mais solicito no jogo colectivo. Algo que acontece muito raramente. É que, apesar de algumas considerações em sentido contrário, Cardozo trabalha normalmente muito pouco para a equipa, para além dos golos que marca. Acredito que muito menos do que aquilo que pode e deve fazer.
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Notas colectivas
A importância da confiança no jogo do Benfica explica-se pela forma como a equipa privilegia a velocidade sobre o critério nas suas acções. Ou seja, os jogadores tentam sempre imprimir um ritmo muito elevado no jogo, verticalizando o mais rapidamente possível, mesmo que esse nem sempre seja o caminho mais seguro para avançar. A importância da confiança está nos índices de sucesso de cada acção: isto é, quando a equipa está bem, torna-se muito difícil de parar porque é muito forte em termos técnicos e tácticos. Quando está mal, porém, os riscos que assume tornam-se uma ameaça tremenda para o seu equilíbrio e recuperação defensivas.Em relação ao jogo propriamente dito, há 3 aspectos que quero destacar na forma como o Benfica conseguiu a sua superioridade.
O primeiro tem a ver com a agressividade e capacidade reactiva à perda de bola. Muito agressiva toda a equipa, mas especialmente o corredor central. Javi e Aimar estiveram – como poucas vezes esta época – muito fortes na reactividade à perda, ganhando quase todos os duelos e dominando um corredor onde nem sempre estiveram em superioridade numérica. Este aspecto foi muito importante, obviamente, para manter a bola no meio campo ofensivo e não deixar o Vitória jogar.
O segundo aspecto tem a ver com a opção de utilizar quase exclusivamente os corredores laterais em ataque posicional. Javi baixou para a zona dos centrais, dando maior largura à circulação nessa linha, e Aimar apareceu poucas vezes a construir e muito mais a jogar a partir de posicionamentos mais adiantados (caso do 2ºgolo). A bola entrava quase sempre nos corredores laterais e nos extremos. Foi fundamental para o Benfica a produtividade destas combinações, quase sempre bem sucedidas. Há muito mérito da movimentação colectiva, algum demérito da falta de agressividade do Vitória, mas um também notável desempenho técnico dos jogadores, que conseguiram, muitas vezes, sair com bola de situações pouco favoráveis – mais uma vez, está aqui bem presente a importância da confiança.
O terceiro aspecto tem a ver com as bolas paradas. O Benfica é uma equipa com uma qualidade extraordinária neste plano. Extraordinária! A importância deste aspecto não está apenas circunscrito aos golos que consegue, mas estende-se também ao impacto emocional que os lances de perigo podem ter no jogo. Por serem situações emocionalmente intensas (de golo eminente) podem afectar os jogadores, positiva e negativamente, fazendo-os sentir mais confiantes ou inseguros, consoante o caso. Neste caso, isso pareceu-me importante. O Benfica, mesmo antes do golo (por sinal, conseguido de canto), fora ameaçador de bola parada e isso terá contribuído para o entusiasmo dos adeptos, para a confiança dos seus jogadores e para a insegurança do adversário. Isso reflectiu-se na grande diferença no desempenho técnico dos jogadores.
Sobre o Vitória, finalmente, importa dizer apenas que a equipa não esteve à altura das adversidades que lhe foram colocadas e sucumbiu à pressão a que foi submetida. Em termos tácticos, Machado optou por um 4-3-3 largo e pouco profundo, mas não foi por isso que o Vitória perdeu. Quando os jogadores não são capazes de controlar zonas em que têm superioridade, de dividir duelos directos e de manter um desempenho técnico que garanta, no mínimo, a segurança em posse, não há táctica ou estratégia que lhes possa valer...
Notas individuais
Maxi – Está num óptimo momento, crescendo com a equipa e, também, com o entendimento com Salvio. Já em Setúbal tinha sido dos melhores.Sidnei – A influência decisiva é óbvia e suficiente para ofuscar, quase por completo, qualquer outro aspecto. Ainda assim, foi também um jogador importante a jogar em antecipação na fase em que a equipa exerceu maior domínio. Foi bom para ele entrar neste momento positivo, dá-lhe - a ele e à equipa - maior margem na integração.
Javi Garcia – Esteve mais junto dos centrais em posse, o que lhe valeu maior presença e também mais segurança com bola. Sem bola, esteve também bem e sobretudo melhor do que é hábito, contribuindo de forma relevante para o "sufoco" da primeira parte.
Aimar – Indiscutivelmente o melhor em campo, combinando influência decisiva com um desempenho táctico bem acima do que lhe vem sendo hábito. Porém, convém não confundir grandes exibições com grande rendimento continuado. Aimar vai oscilando o óptimo com o insuficiente e esse é o seu problema desta temporada. Por exemplo, em Setúbal, tinha tido uma prestação bastante fraca, com muita insegurança em zona de construção.
Gaitan – Marcou em Setúbal e vem assumindo maior protagonismo mediático. Digo, porém, que o seu rendimento nos últimos 2 jogos foi inferior ao que era hábito. Particularmente, quando o jogo fica fácil, Gaitan torna-se displicente. É giro, porque torna-se uma espécie de “show” individual, com calcanhares e pormenores deliciosos. A equipa é que não ganha muito com a atitude.
Salvio – Um rendimento global fantástico. Desequilibra, trabalha e ainda consegue manter níveis de concentração muito elevados a cada posse de bola. Dificilmente o Benfica arranjará outro jogador com este rendimento e com a sua idade.
Cardozo – Uma nota para ele, porque, apesar de não ter marcado e de ter desperdiçado um penalti, apareceu mais solicito no jogo colectivo. Algo que acontece muito raramente. É que, apesar de algumas considerações em sentido contrário, Cardozo trabalha normalmente muito pouco para a equipa, para além dos golos que marca. Acredito que muito menos do que aquilo que pode e deve fazer.
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3.2.11
Porto - Benfica: Análise e números (Benfica)
Notas colectivas
É mais engraçado falar-se de “vitórias tácticas” e outras coisas que tal. O facto é que os alicerces da vitória encarnada são, a meu ver, três: atitude, eficácia e qualidade. Sendo que a qualidade sempre esteve lá, só que quase sempre, e quase todos, só a vêm depois de saberem o resultado.Quanto ao lado táctico, na verdade, não há assim tanta novidade. A equipa jogou em 4-4-2 clássico como já fizera em tantas outras ocasiões, nomeadamente nos jogos da Liga dos campeões. Mesmo frente ao Porto, no “pesadelo” do Dragão, havia apresentado uma linha de 4 no meio campo. Mas houve uma diferença, de facto.
No jogo para o campeonato, e apesar da tal aproximação de Martins a Garcia, não existiu qualquer preocupação em relação aos movimentos de Belluschi em largura. O argentino libertou-se algumas vezes e nessas ocasiões teve um impacto decisivo. Desta vez, Jesus foi precavido como já devia ter ido para o primeiro jogo. É que esse tipo de movimentos são comuns no Porto. Muito mais do que o nome do jogador, houve a preocupação de o alertar para o que teria de ser feito. O facto de ter jogado Peixoto, o que não é normal, ajuda a realçar a preocupação do treinador, mas ela podia ter existido mesmo mantendo Aimar ou Martins no meio campo.
De resto, e aproveitando a vantagem que conseguiu, o Benfica esteve sempre muito bem e ao seu nível. Conseguiu potenciar o erro do adversário e levar a melhor através da pressão e agressividade que introduziu. Depois, e com o passar do tempo, acabou por ter de assumir uma postura mais posicional, sobretudo após a expulsão. Durante muito tempo conseguiu evitar uma exposição dos centrais e quando o Porto os forçou a abrir mais pelos movimentos de Hulk, eles responderam bem, contando também com uma cobertura solidária da equipa.
É importante, finalmente, destacar o papel fundamental de Sálvio e Gaitan no desempenho táctico da equipa. Há algum tempo que venho escrevendo que os argentinos estão perfeitamente ao nível das exigências defensivas do modelo e que há uma visão tão generalizada como mal fundamentada sobre a sua utilidade táctica. Isso foi mais claro neste jogo, mas não foi novidade nenhuma.
Luisão e Sidnei – Estiveram ambos bem. Melhor Luisão, sobretudo porque não cometeu alguns erros do seu parceiro, mas ambos estiveram bem. É certo que protegidos pela equipa, mas corresponderam bem quando foram forçados a sair da sua zona.
Javi Garcia – Marcou um golo importante e esteve bem na sua missão posicional. O facto da equipa não ter assumido um jogo com mais posse, ajuda-o porque claramente não se sente muito confortável nesse momento. Tudo somado, esteve praticamente perfeito em tudo o que fez.
Peixoto – Fez de facto um bom jogo. Cumpriu a missão específica sobre a esquerda e com bola também esteve bem.
Gaitan – As estatísticas indicam-no há muito e aquilo que aqui venho escrevendo deve começar a ser mais evidente com o passar do tempo. Mantém-se sem a intensidade (com e sem bola) que o poderia catapultar para outro rendimento, mas é um jogador de grande qualidade técnica e muito útil tacticamente, porque, simplesmente, se posiciona bem, no local certo e no tempo certo. Recuperou um número muito elevado de bolas apenas e só porque entende a sua missão táctica.
Salvio – Não teve o protagonismo de Gaitan no trabalho defensivo, mas é bom notar que também Salvio se relaciona muito bem com Maxi no corredor. Muito rápido a compensar o lateral e, mesmo que não tenha tido grande impacto no jogo, esteve bem na generalidade das oportunidades que teve para jogar.
Cardozo – A meu ver, não se justificava a sua permanência em campo depois da expulsão de Coentrão. Ainda assim, é de notar o esforço que fez na sua missão, conseguindo muitas vezes ser útil em situações muito complicadas, e quase construindo um golo praticamente sozinho. O ponto sobre Cardozo é que a sua capacidade de trabalho parece aumentar em jogos de maior grau de dificuldade. O que indicia que se lhe pode exigir noutras ocasiões onde até lhe é mais fácil fazer mais.
De resto, e aproveitando a vantagem que conseguiu, o Benfica esteve sempre muito bem e ao seu nível. Conseguiu potenciar o erro do adversário e levar a melhor através da pressão e agressividade que introduziu. Depois, e com o passar do tempo, acabou por ter de assumir uma postura mais posicional, sobretudo após a expulsão. Durante muito tempo conseguiu evitar uma exposição dos centrais e quando o Porto os forçou a abrir mais pelos movimentos de Hulk, eles responderam bem, contando também com uma cobertura solidária da equipa.
É importante, finalmente, destacar o papel fundamental de Sálvio e Gaitan no desempenho táctico da equipa. Há algum tempo que venho escrevendo que os argentinos estão perfeitamente ao nível das exigências defensivas do modelo e que há uma visão tão generalizada como mal fundamentada sobre a sua utilidade táctica. Isso foi mais claro neste jogo, mas não foi novidade nenhuma.
Notas individuais
Coentrão – Espectacular actuação! De tal modo que, mesmo expulso, acho que merece o estatuto de melhor em campo. Discute-se se deve ser defesa ou médio, mas há jogos onde Coentrão parece ser defesa e médio ao mesmo tempo, tal a intensidade que coloca nas suas acções.Luisão e Sidnei – Estiveram ambos bem. Melhor Luisão, sobretudo porque não cometeu alguns erros do seu parceiro, mas ambos estiveram bem. É certo que protegidos pela equipa, mas corresponderam bem quando foram forçados a sair da sua zona.
Javi Garcia – Marcou um golo importante e esteve bem na sua missão posicional. O facto da equipa não ter assumido um jogo com mais posse, ajuda-o porque claramente não se sente muito confortável nesse momento. Tudo somado, esteve praticamente perfeito em tudo o que fez.
Peixoto – Fez de facto um bom jogo. Cumpriu a missão específica sobre a esquerda e com bola também esteve bem.
Gaitan – As estatísticas indicam-no há muito e aquilo que aqui venho escrevendo deve começar a ser mais evidente com o passar do tempo. Mantém-se sem a intensidade (com e sem bola) que o poderia catapultar para outro rendimento, mas é um jogador de grande qualidade técnica e muito útil tacticamente, porque, simplesmente, se posiciona bem, no local certo e no tempo certo. Recuperou um número muito elevado de bolas apenas e só porque entende a sua missão táctica.
Salvio – Não teve o protagonismo de Gaitan no trabalho defensivo, mas é bom notar que também Salvio se relaciona muito bem com Maxi no corredor. Muito rápido a compensar o lateral e, mesmo que não tenha tido grande impacto no jogo, esteve bem na generalidade das oportunidades que teve para jogar.
Cardozo – A meu ver, não se justificava a sua permanência em campo depois da expulsão de Coentrão. Ainda assim, é de notar o esforço que fez na sua missão, conseguindo muitas vezes ser útil em situações muito complicadas, e quase construindo um golo praticamente sozinho. O ponto sobre Cardozo é que a sua capacidade de trabalho parece aumentar em jogos de maior grau de dificuldade. O que indicia que se lhe pode exigir noutras ocasiões onde até lhe é mais fácil fazer mais.
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25.1.11
Benfica - Nacional: Análise e números
A nova era de goleadas mantém-se na Luz. Desta vez, porém, com um sabor mais agridoce do que noutras ocasiões. É que, ao contrário de outros jogos, em teoria até mais difíceis, o Benfica consentiu demasiado ao adversário, acabando por ter de passar por uma ansiedade de todo inesperada para quem vencia por tão confortável margem. Jesus tentou desdramatizar, atirando a justificação para a natureza competitiva do jogo e o arrojo das equipas que defrontam o Benfica. Ficou dito e escrito, mas todos sabemos que, nem os adeptos, nem o próprio treinador ficarão convencidos com a explicação. O Benfica fez um bom jogo, mas a sua instabilidade na retaguarda – que tem motivos não novos e já aqui abordados – deve, de facto, preocupar.
Essa é a primeira nota sobre o Benfica: a sua confiança, que acrescida à qualidade dos intérpretes e à óptima dinâmica colectiva do modelo do seu treinador, leva sempre a uma grande facilidade para criar problemas sérios às defensivas contrárias. Aliás, e já que falo disso, é interessante notar como os intérpretes sempre lá estiveram e o modelo táctico também é o mesmo. Isto para assinalar que algumas infundadas criticas, tanto à falta de qualidade do plantel encarnado, como à previsibilidade do modelo de Jesus, parecem hoje esquecidas quando foram motivo para tanta tinta no inicio de época. É pena se assim for, porque quem não tem memória, também não aprende.
Mais interessante, porém, é falar do outro lado, do porquê de um jogo tão esticado, veloz e, sobretudo, o porquê de tantos embaraços junto da baliza encarnada? Aqui, volto a reforçar algumas ideias que vêm de trás, simplesmente porque continuo a ver nelas o principal motivo para esta situação. O Benfica recupera bem em transição e posiciona-se melhor em organização. O problema continua a ser o tipo de situações a que a equipa se submete. Continua a perder vários passes em zonas perigosas, potenciadores de ataques rápidos difíceis de controlar, e continua, também, a não ter grande noção estratégica em função das diversas fases do jogo. Nomeadamente, em vantagem e com o adversário a tentar reagir, convém não potenciar um jogo partido e privilegiar mais um ataque equilibrado e racional. Lá está, o problema é defensivo, mas tudo começa com o critério da equipa quando tem a bola em sua posse.
Luisão – Na minha opinião, é o melhor central do campeonato até ao momento. Forte posicionalmente, certo com bola (embora neste jogo tenha cometido alguns erros), interventivo quase sempre na medida certa e, como complemento, ainda capaz de ser um terror sempre que se adianta nas bolas paradas. Perder David Luiz será mau, mas continua a ser bom ter Luisão.
Javi Garcia – A nota vai, sobretudo, para a sua titularidade. Na minha opinião, Airton justificava a continuidade da aposta, porque se apresenta muito mais útil em certos aspectos, como o papel de apoio em posse. Mas Javi regressou e cumpriu, dentro do que dele se espera.
Aimar – Outro regresso, este sim, bastante feliz. Não tem sido sempre assim ao longo da época, mas Aimar foi, na primeira parte, o 10 que o Benfica tantas vezes não teve. Sempre dinâmico com bola, e reactivo sem ela. O problema é que a época de Aimar tem sido demasiado inconstante, tanto em termos de presença, como em termos de consistência exibicional. Acabou por sair numa fase em que não estava já tão bem.
Gaitan – Joga com o ar de quem está no aquecimento e isso não lhe traz muitos amigos. É verdade que Gaitan não tem a melhor intensidade com bola e isso parece sobretudo um desperdício para o potencial que tem. O facto é que o argentino tem melhorado claramente em termos de entrosamento e consistência com o desenrolar da época. Cumpre muito bem o seu papel posicional – nomeadamente a relação com Coentrão – e é útil em todos os momentos do jogo. Para mais, e mesmo com a tal falta de intensidade, o seu talento é suficiente para desequilibre, marque e assista com uma regularidade assinalável. Goste-se ou não do estilo, está ser uma primeira época bastante boa.
Salvio – Ao contrário de Gaitan, a energia que coloca em cada jogada é suficiente para empolgar as bancadas, mesmo quando ainda nada aconteceu. O facto é que Salvio, sem fazer um jogo excepcional em termos de impacto decisivo, esteve muito bem ao nível da decisão, acabando por dar sequência à grande maioria das posses de bola que por si passaram. E esse é sempre um indicador positivo para quem, como ele, sente a pressão de trazer algo de novo em cada vez que tem a bola. Entre outras coisas, um indicador de confiança.
Saviola e Cardozo – Não vou falar do que fizeram com bola, até porque, quer num caso quer noutro, não se desvia muito do que é hábito. A nota vai para a pouca utilidade dos 2 – especialmente Cardozo – nos momentos defensivos. Uma equipa que quer ser dominadora tem de começar a sê-lo na capacidade de pressionar, quer em transição, quer em organização. Saviola e Cardozo dão muito pouco à equipa nesse aspecto e isso tem mais implicações do que possa parecer.
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Notas colectivas
Não há dúvida de que a confiança pode representar muito - quase tudo - para uma equipa. Repare-se na entrada do jogo e compare-se com outros casos, de outras fases, desta mesma equipa: o Nacional parecia ter entrado melhor, mas, à primeira aproximação que fez à baliza contrária, o Benfica marcou, acabando por “matar” praticamente o jogo, pouco depois.Essa é a primeira nota sobre o Benfica: a sua confiança, que acrescida à qualidade dos intérpretes e à óptima dinâmica colectiva do modelo do seu treinador, leva sempre a uma grande facilidade para criar problemas sérios às defensivas contrárias. Aliás, e já que falo disso, é interessante notar como os intérpretes sempre lá estiveram e o modelo táctico também é o mesmo. Isto para assinalar que algumas infundadas criticas, tanto à falta de qualidade do plantel encarnado, como à previsibilidade do modelo de Jesus, parecem hoje esquecidas quando foram motivo para tanta tinta no inicio de época. É pena se assim for, porque quem não tem memória, também não aprende.
Mais interessante, porém, é falar do outro lado, do porquê de um jogo tão esticado, veloz e, sobretudo, o porquê de tantos embaraços junto da baliza encarnada? Aqui, volto a reforçar algumas ideias que vêm de trás, simplesmente porque continuo a ver nelas o principal motivo para esta situação. O Benfica recupera bem em transição e posiciona-se melhor em organização. O problema continua a ser o tipo de situações a que a equipa se submete. Continua a perder vários passes em zonas perigosas, potenciadores de ataques rápidos difíceis de controlar, e continua, também, a não ter grande noção estratégica em função das diversas fases do jogo. Nomeadamente, em vantagem e com o adversário a tentar reagir, convém não potenciar um jogo partido e privilegiar mais um ataque equilibrado e racional. Lá está, o problema é defensivo, mas tudo começa com o critério da equipa quando tem a bola em sua posse.
Notas individuais
Sidnei – Marcou 1 golo e teve intervenções importantes. Acho que é um jogador com potencial, mas também tenho a forte convicção que, se David Luiz sair, o Benfica poderá pagar um preço desportivo por isso. É que Sidnei, actualmente, não erra menos do que o David Luiz e tem a agravante de não ter, nem a capacidade física, nem o entrosamento posicional do ainda titular da posição. Jesus terá de puxar por ele, porque a zona central da sua defesa é fundamental, podendo abrir-se aqui um novo problema para a fase terminal da temporada.Luisão – Na minha opinião, é o melhor central do campeonato até ao momento. Forte posicionalmente, certo com bola (embora neste jogo tenha cometido alguns erros), interventivo quase sempre na medida certa e, como complemento, ainda capaz de ser um terror sempre que se adianta nas bolas paradas. Perder David Luiz será mau, mas continua a ser bom ter Luisão.
Javi Garcia – A nota vai, sobretudo, para a sua titularidade. Na minha opinião, Airton justificava a continuidade da aposta, porque se apresenta muito mais útil em certos aspectos, como o papel de apoio em posse. Mas Javi regressou e cumpriu, dentro do que dele se espera.
Aimar – Outro regresso, este sim, bastante feliz. Não tem sido sempre assim ao longo da época, mas Aimar foi, na primeira parte, o 10 que o Benfica tantas vezes não teve. Sempre dinâmico com bola, e reactivo sem ela. O problema é que a época de Aimar tem sido demasiado inconstante, tanto em termos de presença, como em termos de consistência exibicional. Acabou por sair numa fase em que não estava já tão bem.
Gaitan – Joga com o ar de quem está no aquecimento e isso não lhe traz muitos amigos. É verdade que Gaitan não tem a melhor intensidade com bola e isso parece sobretudo um desperdício para o potencial que tem. O facto é que o argentino tem melhorado claramente em termos de entrosamento e consistência com o desenrolar da época. Cumpre muito bem o seu papel posicional – nomeadamente a relação com Coentrão – e é útil em todos os momentos do jogo. Para mais, e mesmo com a tal falta de intensidade, o seu talento é suficiente para desequilibre, marque e assista com uma regularidade assinalável. Goste-se ou não do estilo, está ser uma primeira época bastante boa.
Salvio – Ao contrário de Gaitan, a energia que coloca em cada jogada é suficiente para empolgar as bancadas, mesmo quando ainda nada aconteceu. O facto é que Salvio, sem fazer um jogo excepcional em termos de impacto decisivo, esteve muito bem ao nível da decisão, acabando por dar sequência à grande maioria das posses de bola que por si passaram. E esse é sempre um indicador positivo para quem, como ele, sente a pressão de trazer algo de novo em cada vez que tem a bola. Entre outras coisas, um indicador de confiança.
Saviola e Cardozo – Não vou falar do que fizeram com bola, até porque, quer num caso quer noutro, não se desvia muito do que é hábito. A nota vai para a pouca utilidade dos 2 – especialmente Cardozo – nos momentos defensivos. Uma equipa que quer ser dominadora tem de começar a sê-lo na capacidade de pressionar, quer em transição, quer em organização. Saviola e Cardozo dão muito pouco à equipa nesse aspecto e isso tem mais implicações do que possa parecer.
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20.1.11
Jogos da Taça da Liga (Breves)
- Na Luz, o jogo pareceu mais um regresso à pré temporada. A verdade é que, depois de parecer estar decidido, o jogo complicou-se mesmo para o Benfica. O mais curioso deste jogo veio depois. Jesus quis ganhar o jogo e ninguém estranhou que, para isso, tivesse a 2 mais valias como Gaitan e Salvio. Gaitan e Salvio, os mesmos que durante tanto tempo foram catalogados como "o problema" do Benfica. Bem... não foi assim tanto tempo, afinal ainda estamos em Janeiro. A memória é que é curta.
- Também no Dragão o jogo soube pouco a competição. A culpa, neste caso, será bem mais do Beira Mar que terá, na primeira parte, rivalizado com os mais frágeis visitantes que o Dragão viu este ano. Nomeadamente, surpreendeu a frequência com que o Porto conseguiu actuar em ataque rápido. A frequência e o espaço, claro. Nota para Walter que voltou, não só a marcar, como a ser decisivo. Continuo a estranhar a pouca utilização deste jogador, nomeadamente, por exemplo, quando se compara a aposta diferente que tem tido James. São 2 jogadores de potencial, sim, mas que precisam de evoluir antes de serem valores seguros. No entanto, a minha estranheza vem do facto de, conhecendo os 2 jogadores, ser da opinião de que é Walter quem tem virtudes mais raras para ser potenciadas. Falta-me saber como treina e a atitude que tem, mas, ainda assim, estranho.
- Uma nota também sobre a espectacular exibição do Paços no dia anterior. Notável a reacção, a lembrar muito a segunda parte de Alvalade. Uma forte machadada na época do Braga que, depois das compreensíveis dificuldades no campeonato e natural afastamento da Taça, tinha outras responsabilidades nesta competição. Talvez seja mesmo a derrota mais censurável da época para o Braga.
- Também no Dragão o jogo soube pouco a competição. A culpa, neste caso, será bem mais do Beira Mar que terá, na primeira parte, rivalizado com os mais frágeis visitantes que o Dragão viu este ano. Nomeadamente, surpreendeu a frequência com que o Porto conseguiu actuar em ataque rápido. A frequência e o espaço, claro. Nota para Walter que voltou, não só a marcar, como a ser decisivo. Continuo a estranhar a pouca utilização deste jogador, nomeadamente, por exemplo, quando se compara a aposta diferente que tem tido James. São 2 jogadores de potencial, sim, mas que precisam de evoluir antes de serem valores seguros. No entanto, a minha estranheza vem do facto de, conhecendo os 2 jogadores, ser da opinião de que é Walter quem tem virtudes mais raras para ser potenciadas. Falta-me saber como treina e a atitude que tem, mas, ainda assim, estranho.
- Uma nota também sobre a espectacular exibição do Paços no dia anterior. Notável a reacção, a lembrar muito a segunda parte de Alvalade. Uma forte machadada na época do Braga que, depois das compreensíveis dificuldades no campeonato e natural afastamento da Taça, tinha outras responsabilidades nesta competição. Talvez seja mesmo a derrota mais censurável da época para o Braga.
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19.1.11
Académica - Benfica: Análise e números
Foi, começo por dizer, um jogo algo atípico em termos de eficácia. Atípico e pela negativa, porque foram criadas muitas oportunidades para o magro golo concretizado. A consequência desta situação é que para ambas as equipas terá ficado a sensação de um jogo mal aproveitado. A verdade, porém, é que a vitória assenta bem ao Benfica, justificando-se, a meu ver, tanto os 3 pontos como a margem mínima. Uma opinião que não invalida uma outra, mais critica em relação a alguns aspectos da exibição benfiquista.
Perante isto – e aqui surge a primeira critica ao Benfica – a equipa da Luz não teve grande capacidade de resposta. Não conseguiu encontrar Saviola, não conseguiu descobrir algumas das suas habituais combinações nas alas e faltou-lhe muitas vezes o arrojo para inventar algo de novo, em ataque posicional.
Só que, e apesar disto, o Benfica foi beneficiando do amplo domínio que ia tendo e, em situações circunstanciais mas frequentes, foi-se aproximando de forma assinalável do golo, acabando por justificar a vantagem que conseguiu ao intervalo. Por exemplo, algumas das melhores jogadas encarnadas resultaram de combinações após lançamentos laterais à esquerda, uma situação que normalmente dá vantagem a quem defende e que, como é óbvio, merece revisão por parte da Académica.
A outra critica que há a fazer ao Benfica é mais óbvia e tem a ver com a segunda parte. Jesus falou do desgaste físico provocado pela sobrecarga de jogos, mas acho difícil que a parte física seja realmente o problema de uma equipa que jogou em superioridade numérica e que não teve de travar grandes duelos em termos físicos. Na verdade, acho possível que se recorra ao desgaste como justificação, mas terá sempre de ser um desgaste mental, responsável por uma menor capacidade de decisão e criatividade no último terço, e que explique, assim, tanto domínio e tão poucas situações de finalização. Seja como for, não me parece que se deva aceitar o desgaste como desculpa, seja ele mental ou físico, parecendo-me que houve – isso sim – algum relaxamento imprudente para um jogo que, parecendo resolvido, não o estava.
Nota sobre a Académica para assinalar que a equipa deve estar contente com muito do que fez. Não discutiu nunca o jogo em termos de domínio, mas também nunca o pareceu querer fazer. Tinha, isso sim, uma estratégia centrada no controlo dos espaços considerados mais importantes e numa transição que conseguisse aproveitar a característica e largura do seu trio ofensivo. Isso foi, em alguns casos, muito bem conseguido, mas faltaram detalhes que acabaram por dar ao Benfica as brechas que precisava. Seja como for, a expulsão penalizou muito a equipa e é possível pensar que em igualdade numérica pudesse ter causado mais dificuldades na segunda parte.
Coentrão – Grande jogo, outra vez. Está de volta às grandes exibições, recuperando do mau período iniciado na traumática derrocada do Dragão. Agora, ainda por cima, parece ter um entendimento muito maior com Gaitan, o que ainda o beneficia mais. Apenas realçar que Coentrão não é um dos melhores do mundo apenas pelo que faz ofensivamente. Defensivamente também é, invariavelmente, o dono do seu corredor.
Airton – Tinha falado, durante a semana, da falta de presença de Javi Garcia em posse. Pois bem, Airton fez 77 passes completados no jogo! É certo que o jogo permitiu-lhe aparecer mais, é certo, também, que não é um jogador forte na capacidade de passe, mas é também um dado adquirido que é um jogador que privilegia a segurança e que tem muito mais presença do que Javi Garcia nessa função (Javi nunca chegou sequer perto destes números em qualquer jogo). Em termos de domínio da sua zona também ganha em relação ao espanhol, ficando apenas a dúvida em alguns pormenores posicionais que podem ser importantes e onde Garcia é mais forte. Aspectos que podem ser corrigidos e que não impedem que se justifique uma aposta mais séria neste brasileiro.
Gaitan – Posicionalmente voltou a cumprir o seu papel, talvez até melhor do que noutras ocasiões, sendo um jogador útil nos momentos defensivos e entendendo-se cada vez melhor em termos posicionais com Coentrão. O problema foi no capítulo técnico. Vários pormenores que revelam o seu enorme talento, várias aparições, mas poucas consequências práticas. Denota sempre alguma displicência quando os jogos estão resolvidos e este pareceu-lhe resolvido cedo de mais.
Carlos Martins – Em parte foi um dos responsáveis pelas dificuldades da equipa em ataque posicional. Mas, por outro lado, foi dos elementos mais presentes nas principais jogadas da equipa, o que compensa claramente a primeira critica. Compensa, mas não a apaga.
Saviola – Foi a grande vitima do bom jogo posicional da Académica e, já agora, da incapacidade da própria equipa em alguns aspectos. A sua preponderância não foi a habitual e, por isso, não tenho desta vez quaisquer elogios a fazer-lhe. Aliás, reavivo uma critica: Saviola, com Cardozo, produz muito pouco para uma pressão defensiva que se pretende agressiva e potenciadora de erros na posse adversária.
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Notas colectivas
Com a expulsão, a coisa acentuou-se ainda mais, mas foi sempre um jogo muito confortável para o Benfica em termos de primeira fase de organização. Isto, porque a Académica teve como estratégia dar alguma liberdade ao papel do trio formado pelos centrais e Airton na saída de bola, mas bloqueando sempre a saída pelos corredores e – mais importante ainda – muito bem os espaços em zonas próximas da área, onde habitualmente surge a solução Saviola. A neutralização do papel do “Conejo”, aliás, parece-me ter sido a grande virtude de uma estratégia estudante, que, parcialmente, obteve bons resultados. Parcialmente, reforço.Perante isto – e aqui surge a primeira critica ao Benfica – a equipa da Luz não teve grande capacidade de resposta. Não conseguiu encontrar Saviola, não conseguiu descobrir algumas das suas habituais combinações nas alas e faltou-lhe muitas vezes o arrojo para inventar algo de novo, em ataque posicional.
Só que, e apesar disto, o Benfica foi beneficiando do amplo domínio que ia tendo e, em situações circunstanciais mas frequentes, foi-se aproximando de forma assinalável do golo, acabando por justificar a vantagem que conseguiu ao intervalo. Por exemplo, algumas das melhores jogadas encarnadas resultaram de combinações após lançamentos laterais à esquerda, uma situação que normalmente dá vantagem a quem defende e que, como é óbvio, merece revisão por parte da Académica.
A outra critica que há a fazer ao Benfica é mais óbvia e tem a ver com a segunda parte. Jesus falou do desgaste físico provocado pela sobrecarga de jogos, mas acho difícil que a parte física seja realmente o problema de uma equipa que jogou em superioridade numérica e que não teve de travar grandes duelos em termos físicos. Na verdade, acho possível que se recorra ao desgaste como justificação, mas terá sempre de ser um desgaste mental, responsável por uma menor capacidade de decisão e criatividade no último terço, e que explique, assim, tanto domínio e tão poucas situações de finalização. Seja como for, não me parece que se deva aceitar o desgaste como desculpa, seja ele mental ou físico, parecendo-me que houve – isso sim – algum relaxamento imprudente para um jogo que, parecendo resolvido, não o estava.
Nota sobre a Académica para assinalar que a equipa deve estar contente com muito do que fez. Não discutiu nunca o jogo em termos de domínio, mas também nunca o pareceu querer fazer. Tinha, isso sim, uma estratégia centrada no controlo dos espaços considerados mais importantes e numa transição que conseguisse aproveitar a característica e largura do seu trio ofensivo. Isso foi, em alguns casos, muito bem conseguido, mas faltaram detalhes que acabaram por dar ao Benfica as brechas que precisava. Seja como for, a expulsão penalizou muito a equipa e é possível pensar que em igualdade numérica pudesse ter causado mais dificuldades na segunda parte.
Notas individuais
Ruben Amorim – A lateral era outra alternativa para ele, conseguindo um nível idêntico – em alguns aspectos superior – ao de Maxi. É pena, para ele e para o Benfica, que se tenha lesionado. Coentrão – Grande jogo, outra vez. Está de volta às grandes exibições, recuperando do mau período iniciado na traumática derrocada do Dragão. Agora, ainda por cima, parece ter um entendimento muito maior com Gaitan, o que ainda o beneficia mais. Apenas realçar que Coentrão não é um dos melhores do mundo apenas pelo que faz ofensivamente. Defensivamente também é, invariavelmente, o dono do seu corredor.
Airton – Tinha falado, durante a semana, da falta de presença de Javi Garcia em posse. Pois bem, Airton fez 77 passes completados no jogo! É certo que o jogo permitiu-lhe aparecer mais, é certo, também, que não é um jogador forte na capacidade de passe, mas é também um dado adquirido que é um jogador que privilegia a segurança e que tem muito mais presença do que Javi Garcia nessa função (Javi nunca chegou sequer perto destes números em qualquer jogo). Em termos de domínio da sua zona também ganha em relação ao espanhol, ficando apenas a dúvida em alguns pormenores posicionais que podem ser importantes e onde Garcia é mais forte. Aspectos que podem ser corrigidos e que não impedem que se justifique uma aposta mais séria neste brasileiro.
Gaitan – Posicionalmente voltou a cumprir o seu papel, talvez até melhor do que noutras ocasiões, sendo um jogador útil nos momentos defensivos e entendendo-se cada vez melhor em termos posicionais com Coentrão. O problema foi no capítulo técnico. Vários pormenores que revelam o seu enorme talento, várias aparições, mas poucas consequências práticas. Denota sempre alguma displicência quando os jogos estão resolvidos e este pareceu-lhe resolvido cedo de mais.
Carlos Martins – Em parte foi um dos responsáveis pelas dificuldades da equipa em ataque posicional. Mas, por outro lado, foi dos elementos mais presentes nas principais jogadas da equipa, o que compensa claramente a primeira critica. Compensa, mas não a apaga.
Saviola – Foi a grande vitima do bom jogo posicional da Académica e, já agora, da incapacidade da própria equipa em alguns aspectos. A sua preponderância não foi a habitual e, por isso, não tenho desta vez quaisquer elogios a fazer-lhe. Aliás, reavivo uma critica: Saviola, com Cardozo, produz muito pouco para uma pressão defensiva que se pretende agressiva e potenciadora de erros na posse adversária.
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13.1.11
Comportamento defensivo do Benfica (I): Organização
Recorro ao caso de Gaitan, porque creio que muita gente não percebe o porquê das minhas afirmações em relação ao seu desempenho defensivo, mas o caso de Gaitan é apenas um exemplo da forte característica posicional do Benfica e das equipas de Jesus, em geral. Ou seja, o texto refere-se ao comportamento defensivo do Benfica em organização, para explicar a sua qualidade neste plano, mas também para dar a minha explicação das diferenças de aproveitamento do “pressing” em relação ao ano anterior. Para depois, fica o caso de Javi Garcia e da transição ataque-defesa.
Não se trata de um virtude individual, mas, tão simplesmente, de uma compreensão do que tem de fazer no plano do posicionamento táctico. O vídeo – que utiliza apenas o jogo de Leiria – tenta fazer perceber isso mesmo. Ou seja, que Gaitan se posiciona adequadamente dentro do que está previsto no modelo táctico do seu treinador e que isso, por si só, lhe permite estar bem preparado para ser útil defensivamente, relacionando-se bem com o posicionamento de Coentrão, a sua principal referência em termos de ajustes e compensações posicionais. Isto - repito para que não se confundam as coisas - não implica que Gaitan seja, por si só, um jogador forte defensivamente.
Aqui, o papel de Jesus é fundamental. É que se há aspecto em que Jesus é meticuloso e implacável é no posicionamento base dos seus jogadores. É normalmente por isso que gesticula e salta tanto na linha lateral. Ora, alguém acha que Jesus manteria a aposta num jogador tacticamente indisciplinado ou que não tivesse um comportamento posicional correcto?!
Já defini várias vezes que entendo por “qualidade táctica” a capacidade da equipa reagir e se ajustar às várias incidências do jogo. Ora, se o Benfica está bem posicionado – como está – porque não consegue os mesmos resultados na pressão que faz sobre a construção adversária?
A resposta está, a meu ver, na reactividade dos jogadores. Ou seja, na rapidez e eficácia com que os jogadores passam de uma postura mais posicional para uma postura mais pressionante. E essa perda de eficácia, embora não tenha a ver com aspectos posicionais, implica também uma perda de “qualidade táctica”.
Jogadores como Ramires e Di Maria, por exemplo, tinham uma reactividade e agressividade muito superior do que acontece hoje com Salvio e, especialmente, Gaitan, Peixoto ou Martins. Passavam de uma postura posicional para uma postura pressionante com muito maior eficácia do que hoje se observa. Mas há mais. Também na posição 10 está um elemento fundamental no encurtamento dos espaços. Aliás, provavelmente a mais importante. Aqui, não há comparação entre Aimar e Carlos Martins, com o português a perder claramente na capacidade e qualidade de antecipação e reacção nas jogadas – mais uma vez, não é o posicionamento base que está em causa. O problema é que, estranhamente, também o argentino não parece tão bem como no ano anterior e, embora ofereça maior capacidade do que Martins neste plano, não tem conseguido a mesma eficácia na pressão que é feita sobre a saída de bola contrária.
Finalmente, importa também falar dos avançados, porque me parece que o Benfica não beneficia muito da sua característica em termos defensivos. De Cardozo nem é preciso falar muito, mas também Saviola não tem conseguido provocar muitos erros nos defensores adversários. Algo que, como é evidente, não tem apenas a ver com o seu desempenho individual mas que prejudica a equipa em termos de performance global.
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O caso de Gaitan e a disciplina de Jesus
De facto, Gaitan tem tudo para ser um jogador improdutivo defensivamente. Não é agressivo, não é reactivo, nem, tão pouco, é forte nos duelos que trava. Porquê, então, Gaitan ter um bom aproveitamento defensivo, como tão fielmente retratam os seus números a cada jogo? A resposta é simples: capacidade posicional. Não se trata de um virtude individual, mas, tão simplesmente, de uma compreensão do que tem de fazer no plano do posicionamento táctico. O vídeo – que utiliza apenas o jogo de Leiria – tenta fazer perceber isso mesmo. Ou seja, que Gaitan se posiciona adequadamente dentro do que está previsto no modelo táctico do seu treinador e que isso, por si só, lhe permite estar bem preparado para ser útil defensivamente, relacionando-se bem com o posicionamento de Coentrão, a sua principal referência em termos de ajustes e compensações posicionais. Isto - repito para que não se confundam as coisas - não implica que Gaitan seja, por si só, um jogador forte defensivamente.
Aqui, o papel de Jesus é fundamental. É que se há aspecto em que Jesus é meticuloso e implacável é no posicionamento base dos seus jogadores. É normalmente por isso que gesticula e salta tanto na linha lateral. Ora, alguém acha que Jesus manteria a aposta num jogador tacticamente indisciplinado ou que não tivesse um comportamento posicional correcto?!
A reactividade e o problema do “pressing”
Com o rigor e qualidade posicional da equipa se explica a qualidade do Benfica em organização defensiva e o porquê de aguentar muito bem fases em que não consegue ter tanto domínio territorial sem que isso belisque o seu controlo do jogo. Mas há outro problema que, particularmente, tem marcado a diferença entre o Benfica da época passada e o desta: o pressing alto em organização.Já defini várias vezes que entendo por “qualidade táctica” a capacidade da equipa reagir e se ajustar às várias incidências do jogo. Ora, se o Benfica está bem posicionado – como está – porque não consegue os mesmos resultados na pressão que faz sobre a construção adversária?
A resposta está, a meu ver, na reactividade dos jogadores. Ou seja, na rapidez e eficácia com que os jogadores passam de uma postura mais posicional para uma postura mais pressionante. E essa perda de eficácia, embora não tenha a ver com aspectos posicionais, implica também uma perda de “qualidade táctica”.
Jogadores como Ramires e Di Maria, por exemplo, tinham uma reactividade e agressividade muito superior do que acontece hoje com Salvio e, especialmente, Gaitan, Peixoto ou Martins. Passavam de uma postura posicional para uma postura pressionante com muito maior eficácia do que hoje se observa. Mas há mais. Também na posição 10 está um elemento fundamental no encurtamento dos espaços. Aliás, provavelmente a mais importante. Aqui, não há comparação entre Aimar e Carlos Martins, com o português a perder claramente na capacidade e qualidade de antecipação e reacção nas jogadas – mais uma vez, não é o posicionamento base que está em causa. O problema é que, estranhamente, também o argentino não parece tão bem como no ano anterior e, embora ofereça maior capacidade do que Martins neste plano, não tem conseguido a mesma eficácia na pressão que é feita sobre a saída de bola contrária.
Finalmente, importa também falar dos avançados, porque me parece que o Benfica não beneficia muito da sua característica em termos defensivos. De Cardozo nem é preciso falar muito, mas também Saviola não tem conseguido provocar muitos erros nos defensores adversários. Algo que, como é evidente, não tem apenas a ver com o seu desempenho individual mas que prejudica a equipa em termos de performance global.
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12.1.11
Leiria - Benfica: Análise e números
Dizer que foi um jogo muito confortável é sempre um exagero para uma partida que passou a maior parte do seu tempo num resultado tangencial. A verdade, porém, é que entre Benfica e Leiria houve sempre um grande diferença no que respeita à proximidade com o golo. E esse, a meu ver, é sempre o indicador mais importante em qualquer jogo de futebol: a proximidade com o golo. Tudo somado, é Jesus quem tem motivos para sorrir.
De notar, por exemplo, que várias das mais perigosas jogadas encarnadas resultam do mesmo tipo de lance. Com a bola a ser colocada rapidamente nas costas do meio campo leiriense e a causar muitos problemas de equilíbrio no extremo reduto contrário. Isto, porque o Leiria ficava com pouca gente atrás da linha da bola e incapaz de controlar a largura do campo. Por isso vimos tantas vezes Gaitan aparecer solto na esquerda a partir de jogadas deste tipo.
Ainda assim, nem sempre o jogo foi igual. Na segunda parte, por exemplo, observou-se uma reacção positiva do Leiria, com maior agressividade e maior proximidade entre os jogadores nas zonas de pressão. O Benfica teve mais dificuldades em dominar o jogo – essencialmente porque foi ineficaz no momento em que ganhava a bola – mas é curioso observar-se que não foi nesse período que o Leiria foi mais perigoso. Aliás, à parte de um pontapé de canto, não teve qualquer chegada sequer ameaçadora à área encarnada, ao contrário do primeiro tempo.
Porquê, então, ter o Leiria chegado com mais condições à área contrária no período em que menos conseguiu dividir o jogo? A resposta é óbvia e recorrente no Benfica 10/11: porque na primeira parte o Benfica perdeu 6 bolas em zonas recuadas e na segunda não perdeu nenhuma. O problema da transição defensiva do Benfica não é, nem nunca foi, a recuperação em si mesmo. Foi, isso sim, a zona de perda de bola. Foi, e é.
Outra constatação que foi tirada no final do jogo teve a ver com associação da entrada de Ruben Amorim com um melhor período do Benfica. É verdade que coincidiram, é verdade que Ruben entrou bem e que era uma aposta que se justificava, mas, até pelo que escrevi antes, não entendo que o problema do Benfica na segunda parte tivesse a ver com o que fazia sem bola. Aliás, se o Leiria nunca se aproximou com perigo da área do Benfica, acho difícil sustentar essa tese. Teve, isso sim, muito mais a ver com aquilo que o Benfica não conseguira fazer com bola depois do intervalo. E, aí, não se pode dissociar as oportunidades na recta final do jogo com o risco táctico assumido por Caixinha. Tal como a entrada de Amorim, coincide com o melhor período do Benfica no final do jogo, só que, parece-me, tem um correlação muito maior com a alteração de tendência observada.
Em relação ao Leiria, é uma equipa que vejo cometer muitos erros posicionais nos jogos com os grandes. Está a fazer um excelente campeonato e continua a ter bons jogadores, mesmo depois da saída de Carlão e Silas, mas não tenho a certeza de que terá o mesmo andamento depois destas perdas. Falando de Carlão, aliás, é uma perda importante para o futebol português. Estava a ser um dos melhores avançados do campeonato e, não tenho grandes dúvidas, tinha condições para merecer a aposta de um “grande”. Apesar de ter ido para muito longe, tem ainda tempo para que possamos ouvir falar dele...
Javi Garcia – É como um relógio, tanto em relação à sua compreensão dos equilíbrios tácticos, como em relação às perdas de bola que acumula em todos os jogos. Francamente, custa-me a entender como continua a ser dono inquestionável do lugar quando revela tantas dificuldades com bola.
Carlos Martins – Não conseguiu ser um jogador determinante em termos ofensivos – frequentemente é – mas foi, com alguma distância, o mais participativo em termos de posse. Fez, em termos de eficácia em posse, um jogo ao nível da equipa, perdendo 1 bola comprometedora na primeira parte. Defensivamente, é o habitual: não tem grande capacidade de trabalho mas mantém, tal como todos, um posicionamento base correcto.
Gaitan – Foi fácil este jogo. Devagar, sem grande agressividade nem grande inspiração e, mesmo assim, cumpriu posicionalmente e foi determinante ofensivamente. Porquê? Porque Gaitan compreende bem onde tem de estar, quer com bola, quer sem ela, e porque tem um pé esquerdo que cruza como poucos (provavelmente o melhor da liga como já venho alertando há algum tempo). Apareceu no espaço certo, a bola ia-lhe sendo colocada e ele cruzava. O resto, todos viram...
Salvio – Não foi uma exibição eufórica como frente ao Rio Ave, mas Salvio vem confirmando a característica que lhe venho descrevendo: ou seja que é um extremo forte em zonas de finalização e que por isso se encontra facilmente com o golo. Fez uma assistência, criou a jogada do segundo golo e ainda perdeu mais 2. Não dá para pedir mais...
Saviola – Começou por ser o grande destaque do jogo pela frequência com que apareceu a desequilibrar. A sua invulgar qualidade de movimentos sem bola continua a fazer mossa com uma regularidade incrível e se Saviola tivesse outro nível de aproveitamento seria um destaque ainda maior. Na segunda parte não apareceu tanto e decidiu pior, com a equipa a ressentir-se. Nota para a pouca eficiência em termos defensivos.
Cardozo – Foi, durante muito tempo, muito discreto e, pessoalmente, gosto pouco de ver jogadores a passar tanto tempo longe do jogo. No entanto, e ao contrário do que muitas vezes acontece, manteve sempre uma participação positiva a cada intervenção, acabando por emergir em grande plano na recta final do jogo.
Ruben Amorim – Como escrevi atrás, a sua entrada justificava-se e justificou-se. Ruben é um jogador muito completo e que dava, em relação a Gaitan, maior agressividade e presença ao jogo. Mesmo, se não tem o mesmo talento. Numa altura em que se aguarda para ver José Luis Fernandez, arrisco que Ruben será o único jogador com capacidade para discutir, realmente, um lugar no meio campo com Gaitan, Salvio e Martins, até porque tem mais valias diferentes.
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Notas colectivas
Na verdade, a superioridade do Benfica, facilmente observável, não resultou de um domínio territorial avassalador, nem, tão pouco, de uma exibição soberba em termos técnicos. Resultou, isso sim, de uma mais competente ocupação dos espaços, para além, claro, das evidentes mais valias individuais que a equipa possui. Ou seja, a União conseguiu dividir o jogo territorialmente em diversos momentos, mas teve muita dificuldade em controlar todos os espaços do campo, especialmente quando a bola viajava rapidamente de uma zona para a outra. De notar, por exemplo, que várias das mais perigosas jogadas encarnadas resultam do mesmo tipo de lance. Com a bola a ser colocada rapidamente nas costas do meio campo leiriense e a causar muitos problemas de equilíbrio no extremo reduto contrário. Isto, porque o Leiria ficava com pouca gente atrás da linha da bola e incapaz de controlar a largura do campo. Por isso vimos tantas vezes Gaitan aparecer solto na esquerda a partir de jogadas deste tipo.
Ainda assim, nem sempre o jogo foi igual. Na segunda parte, por exemplo, observou-se uma reacção positiva do Leiria, com maior agressividade e maior proximidade entre os jogadores nas zonas de pressão. O Benfica teve mais dificuldades em dominar o jogo – essencialmente porque foi ineficaz no momento em que ganhava a bola – mas é curioso observar-se que não foi nesse período que o Leiria foi mais perigoso. Aliás, à parte de um pontapé de canto, não teve qualquer chegada sequer ameaçadora à área encarnada, ao contrário do primeiro tempo.
Porquê, então, ter o Leiria chegado com mais condições à área contrária no período em que menos conseguiu dividir o jogo? A resposta é óbvia e recorrente no Benfica 10/11: porque na primeira parte o Benfica perdeu 6 bolas em zonas recuadas e na segunda não perdeu nenhuma. O problema da transição defensiva do Benfica não é, nem nunca foi, a recuperação em si mesmo. Foi, isso sim, a zona de perda de bola. Foi, e é.
Outra constatação que foi tirada no final do jogo teve a ver com associação da entrada de Ruben Amorim com um melhor período do Benfica. É verdade que coincidiram, é verdade que Ruben entrou bem e que era uma aposta que se justificava, mas, até pelo que escrevi antes, não entendo que o problema do Benfica na segunda parte tivesse a ver com o que fazia sem bola. Aliás, se o Leiria nunca se aproximou com perigo da área do Benfica, acho difícil sustentar essa tese. Teve, isso sim, muito mais a ver com aquilo que o Benfica não conseguira fazer com bola depois do intervalo. E, aí, não se pode dissociar as oportunidades na recta final do jogo com o risco táctico assumido por Caixinha. Tal como a entrada de Amorim, coincide com o melhor período do Benfica no final do jogo, só que, parece-me, tem um correlação muito maior com a alteração de tendência observada.
Em relação ao Leiria, é uma equipa que vejo cometer muitos erros posicionais nos jogos com os grandes. Está a fazer um excelente campeonato e continua a ter bons jogadores, mesmo depois da saída de Carlão e Silas, mas não tenho a certeza de que terá o mesmo andamento depois destas perdas. Falando de Carlão, aliás, é uma perda importante para o futebol português. Estava a ser um dos melhores avançados do campeonato e, não tenho grandes dúvidas, tinha condições para merecer a aposta de um “grande”. Apesar de ter ido para muito longe, tem ainda tempo para que possamos ouvir falar dele...
Notas individuais
Coentrão – Voltou a fazer um grande jogo, sendo apenas de se lamentar 2 más entregas no primeiro tempo que colocaram em risco a equipa. De resto, muito bom, quer a defender quer a atacar. É um dos melhores defesas esquerdos do mundo.Javi Garcia – É como um relógio, tanto em relação à sua compreensão dos equilíbrios tácticos, como em relação às perdas de bola que acumula em todos os jogos. Francamente, custa-me a entender como continua a ser dono inquestionável do lugar quando revela tantas dificuldades com bola.
Carlos Martins – Não conseguiu ser um jogador determinante em termos ofensivos – frequentemente é – mas foi, com alguma distância, o mais participativo em termos de posse. Fez, em termos de eficácia em posse, um jogo ao nível da equipa, perdendo 1 bola comprometedora na primeira parte. Defensivamente, é o habitual: não tem grande capacidade de trabalho mas mantém, tal como todos, um posicionamento base correcto.
Gaitan – Foi fácil este jogo. Devagar, sem grande agressividade nem grande inspiração e, mesmo assim, cumpriu posicionalmente e foi determinante ofensivamente. Porquê? Porque Gaitan compreende bem onde tem de estar, quer com bola, quer sem ela, e porque tem um pé esquerdo que cruza como poucos (provavelmente o melhor da liga como já venho alertando há algum tempo). Apareceu no espaço certo, a bola ia-lhe sendo colocada e ele cruzava. O resto, todos viram...
Salvio – Não foi uma exibição eufórica como frente ao Rio Ave, mas Salvio vem confirmando a característica que lhe venho descrevendo: ou seja que é um extremo forte em zonas de finalização e que por isso se encontra facilmente com o golo. Fez uma assistência, criou a jogada do segundo golo e ainda perdeu mais 2. Não dá para pedir mais...
Saviola – Começou por ser o grande destaque do jogo pela frequência com que apareceu a desequilibrar. A sua invulgar qualidade de movimentos sem bola continua a fazer mossa com uma regularidade incrível e se Saviola tivesse outro nível de aproveitamento seria um destaque ainda maior. Na segunda parte não apareceu tanto e decidiu pior, com a equipa a ressentir-se. Nota para a pouca eficiência em termos defensivos.
Cardozo – Foi, durante muito tempo, muito discreto e, pessoalmente, gosto pouco de ver jogadores a passar tanto tempo longe do jogo. No entanto, e ao contrário do que muitas vezes acontece, manteve sempre uma participação positiva a cada intervenção, acabando por emergir em grande plano na recta final do jogo.
Ruben Amorim – Como escrevi atrás, a sua entrada justificava-se e justificou-se. Ruben é um jogador muito completo e que dava, em relação a Gaitan, maior agressividade e presença ao jogo. Mesmo, se não tem o mesmo talento. Numa altura em que se aguarda para ver José Luis Fernandez, arrisco que Ruben será o único jogador com capacidade para discutir, realmente, um lugar no meio campo com Gaitan, Salvio e Martins, até porque tem mais valias diferentes.
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4.1.11
Sálvio & Gaitan: 2 casos
Dois casos semelhantes em muitas coisas, mas também distintos noutras. Dois casos que, para o Benfica, devem representar muita esperança para o futuro, porque, tanto ao nível da qualidade como da velocidade de afirmação, os indícios são bastante bons. Dois casos que conheço bem, mesmo antes de Portugal ser, sequer, um destino provável, e que, por isso, tenho especial interesse em acompanhar. Dois casos de que discordo de muitas opiniões, entretanto generalizadas. Aqui fica a minha opinião sobre alguns pontos...
Gaitan – Vou-me repetir, mas a coisa mais fantástica nas apreciações feitas a Gaitan é a conclusão sobre a sua “posição ideal”. Nomeadamente, porque 90% das pessoas que afirmam ser um jogador de posições interiores só o viram jogar no Benfica, onde, por sinal, só jogou nas alas. A verdade é que é mesmo um ala, e até quando, na Argentina, jogava como avançado móvel, era sempre nas alas que aparecia. De qualquer modo, Gaitan está bem onde está, especialmente forte na esquerda por causa do seu cruzamento, e sem a necessidade de jogar demasiado perto dos avançados, onde não tem espaço para o seu futebol de transporte de bola e drible largo. Tem que evoluir em alguns pontos, mas está bem onde está.
Gaitan – Não é tão agressivo como Sálvio, nem tem a mesma potência física, mas partilha com o seu compatriota da sua capacidade de trabalho e da disciplina táctica. Aliás, os números de Gaitan são, tal como os de Sálvio, inequívocos: as intercepções que consegue são superiores a jogadores como César Peixoto, Aimar ou Carlos Martins. Bastante superiores. A realidade, ao contrário do que tantas vezes é dito e escrito, é que Gaitan tem uma capacidade de trabalho boa e bem acima de outros casos análogos, tanto no Benfica, como noutros clubes. A ideia que "não defende" ou que "defende mal"? Um mito!
Decisões: o fosso cultural
Sálvio – Não será um caso especialmente problemático, até porque Sálvio não se aventura muito em zonas de construção. Ainda assim, a sua vida foi passada com mais espaços, com mais momentos de transição, com mais liberdade para definir e desequilibrar em ataque rápido. No Benfica – e no futebol europeu – as coisas são diferentes: é preciso mais razão na decisão sobre o que fazer a cada posse e não há apenas que pensar na baliza mas também no que pode acontecer em caso de perda. Como disse, não é um caso problemático, porque Sálvio sabe bem onde gosta de jogar. Aliás, o principal problema de Sálvio é precisamente o facto de se envolver pouco nos momentos de construção, criando poucas soluções à dinâmica na primeira fase de circulação. Algo que normalmente é mais exigido à sua posição, dentro do modelo de Jesus.
Gaitan – Aqui sim, está o problema de Gaitan. Ou seja, apesar de, ao contrário de Sálvio, ser um jogador que gosta de vir à fase de construção dar o seu cunho pessoal, a verdade é que o seu jogo se torna muitas vezes demasiado arriscado para zonas tão baixas. Um drible ou uma combinação mais rápida em certas zonas podem tornar-se, de repente, numa ameaça para a própria equipa e isso, esta época, já aconteceu muitas – demasiadas! – vezes. Perceber o “onde” e o “quando” deve ser a sua principal preocupação em termos de evolução nos próximos tempos.
Gaitan – Ao contrário de Sálvio, nunca foi uma estrela de selecção nacional como “teenager”, nem tão pouco foi fácil a sua afirmação no Boca. A sua “gambeta” e qualidade de definição eram óbvias, mas o estatuto nunca foi tanto que fizesse supor os 8 milhões que o Benfica por ele pagou. Ainda assim, creio que acabará por render mais do que suficiente em termos desportivos, correspondendo quase em absoluto às expectativas que dele tinha. Faz-se a comparação com Di Maria e diz-se que com o seu tempo em Portugal Di Maria não rendia tanto. Inquestionável. Porém, há algo em Gaitan que pode limitar-lhe a ascensão a patamares ainda mais elevados: o carácter. Não é um jogador muito confiante e parece encolher-se em alguns momentos. Ou seja, tem uma qualidade óbvia, mas precisa de ser constantemente “empurrado” por quem o dirige.
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Posição: Extremos, ou não?
Sálvio – Na Argentina jogava, ora como ala direito, ora como avançado, sempre (ou quase) em 4-4-2 clássico. No Benfica, o papel prevê-lhe a missão de ala interior, mas Sálvio será sempre menos interior e mais ala. Na verdade, creio que a sua posição ideal é de falso extremo, jogando por fora, na linha, quando a bola está do seu lado, mas aparecendo como segundo avançado quando a bola está no outro flanco. É que a área é também um “habitat” onde se dá muito bem. Ou seja, Sálvio pode jogar como ala no modelo de Jesus, mas será sempre um ala muito mais próximo dos avançados do que aquilo que está previsto no papel, e isso tem de ser considerado.Gaitan – Vou-me repetir, mas a coisa mais fantástica nas apreciações feitas a Gaitan é a conclusão sobre a sua “posição ideal”. Nomeadamente, porque 90% das pessoas que afirmam ser um jogador de posições interiores só o viram jogar no Benfica, onde, por sinal, só jogou nas alas. A verdade é que é mesmo um ala, e até quando, na Argentina, jogava como avançado móvel, era sempre nas alas que aparecia. De qualquer modo, Gaitan está bem onde está, especialmente forte na esquerda por causa do seu cruzamento, e sem a necessidade de jogar demasiado perto dos avançados, onde não tem espaço para o seu futebol de transporte de bola e drible largo. Tem que evoluir em alguns pontos, mas está bem onde está.
Defender: problema ou mito?
Sálvio – O jogador argentino tem uma vantagem: a capacidade de trabalho. Não é uma regra de ouro, aplicável a todos, mas é uma característica do futebolista das “Pampas”, que lhe confere uma vantagem em relação a outras escolas. Sálvio não é excepção. A sua capacidade de trabalho é inatacável: é agressivo, disciplinado e culto o suficiente para defender correctamente ao longo do corredor. O número de intercepções que consegue por jogo é bastante elevado para a posição que ocupa e isso confirma precisamente a ideia da sua utilidade nos momentos sem bola.Gaitan – Não é tão agressivo como Sálvio, nem tem a mesma potência física, mas partilha com o seu compatriota da sua capacidade de trabalho e da disciplina táctica. Aliás, os números de Gaitan são, tal como os de Sálvio, inequívocos: as intercepções que consegue são superiores a jogadores como César Peixoto, Aimar ou Carlos Martins. Bastante superiores. A realidade, ao contrário do que tantas vezes é dito e escrito, é que Gaitan tem uma capacidade de trabalho boa e bem acima de outros casos análogos, tanto no Benfica, como noutros clubes. A ideia que "não defende" ou que "defende mal"? Um mito!
Sálvio – Não será um caso especialmente problemático, até porque Sálvio não se aventura muito em zonas de construção. Ainda assim, a sua vida foi passada com mais espaços, com mais momentos de transição, com mais liberdade para definir e desequilibrar em ataque rápido. No Benfica – e no futebol europeu – as coisas são diferentes: é preciso mais razão na decisão sobre o que fazer a cada posse e não há apenas que pensar na baliza mas também no que pode acontecer em caso de perda. Como disse, não é um caso problemático, porque Sálvio sabe bem onde gosta de jogar. Aliás, o principal problema de Sálvio é precisamente o facto de se envolver pouco nos momentos de construção, criando poucas soluções à dinâmica na primeira fase de circulação. Algo que normalmente é mais exigido à sua posição, dentro do modelo de Jesus.
Gaitan – Aqui sim, está o problema de Gaitan. Ou seja, apesar de, ao contrário de Sálvio, ser um jogador que gosta de vir à fase de construção dar o seu cunho pessoal, a verdade é que o seu jogo se torna muitas vezes demasiado arriscado para zonas tão baixas. Um drible ou uma combinação mais rápida em certas zonas podem tornar-se, de repente, numa ameaça para a própria equipa e isso, esta época, já aconteceu muitas – demasiadas! – vezes. Perceber o “onde” e o “quando” deve ser a sua principal preocupação em termos de evolução nos próximos tempos.
Potencial: inegável
Sálvio – Há ainda quem pense que há por aí muitos “Sálvios” de 20 anos e desate a criticar jogador e quem o contratou. O desencanto, é que não há. Não há em Portugal, na Argentina ou em praticamente lado nenhum. Ou melhor, haver, há, mas os que há são quase todos incomportáveis para o futebol português – tal como era o próprio Sálvio quando veio para a Europa. Os outros, os que são mais acessíveis, são muito mais raros e estão ainda incógnitos. É possível, mas é preciso muito “olho”. Ou seja, Sálvio é, nesta altura da sua carreira, um jogador de qualidades raras, ficando agora por definir até que ponto poderá evoluir. Uma coisa me parece clara: a experiência no Benfica está a ser muito positiva e com os níveis de confiança que actualmente demonstra, o melhor é que dele se espere continuidade ao que tem feito, com muitos golos à mistura - porque tem apetência para os marcar. Isto, claro, se a aposta se mantiver.Gaitan – Ao contrário de Sálvio, nunca foi uma estrela de selecção nacional como “teenager”, nem tão pouco foi fácil a sua afirmação no Boca. A sua “gambeta” e qualidade de definição eram óbvias, mas o estatuto nunca foi tanto que fizesse supor os 8 milhões que o Benfica por ele pagou. Ainda assim, creio que acabará por render mais do que suficiente em termos desportivos, correspondendo quase em absoluto às expectativas que dele tinha. Faz-se a comparação com Di Maria e diz-se que com o seu tempo em Portugal Di Maria não rendia tanto. Inquestionável. Porém, há algo em Gaitan que pode limitar-lhe a ascensão a patamares ainda mais elevados: o carácter. Não é um jogador muito confiante e parece encolher-se em alguns momentos. Ou seja, tem uma qualidade óbvia, mas precisa de ser constantemente “empurrado” por quem o dirige.
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20.12.10
Benfica - Rio Ave: Análise e números
“A melhor exibição da época”. Jesus não hesitou, a maioria concordou, e eu partilho em parte da ideia. Em parte, sublinho. Não há dúvidas que o Benfica termina o ano num pico de confiança e que, sendo essa a origem fundamental do problema, também este se evaporou em grande medida com o melhor desempenho individual de cada um dos seus jogadores. Mas, como referi, há um lado avesso na avaliação que tenho a fazer. É que, do outro lado da goleada, está também uma exibição plena de erros perfeitamente evitáveis e que explicam a réplica do Rio Ave, com 2 golos e um número incomum de oportunidades.
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Notas colectivas
Comecemos então pelo que há de bom: o crescimento de confiança. Não posso assegurar que não seja um acaso, mas é um facto que o discurso voltado para este factor coincide com uma melhoria global da equipa nesse plano. Ter confiança implica que se decida e execute melhor individualmente e, assim, se projecte também o colectivo para níveis de performance mais elevados. É por isso que a confiança é o bem mais precioso de uma equipa, sendo possível dizer que, no limite, um treinador não é mais do que um gestor dos níveis de confiança da sua equipa. Os seus recursos – táctica, treino e liderança – servem para transmitir confiança à equipa e é quando esta é maximizada que o seu rendimento é óptimo. Isso, e vice versa, claro.
Sendo o modelo táctico bom – como é – e os jogadores capazes – como são – não há porque duvidar das próprias capacidades. É por isso que é importante que se interiorize a mensagem de que o rumo é bom e que se os jogadores confiarem nele encontrarão, de novo, o sucesso. Reforçar a série de vitórias e não a diferença pontual é o único caminho que pode devolver esperança à época encarnada.
Dito isto, convém também dizer que quem lidera o processo deve manter uma atitude permanentemente critica e, nesse sentido, há bastantes coisas a melhorar. Primeiro, o número de erros em fase de construção é – e continua a ser – demasiado elevado. Em particular, Sidnei e Javi Garcia estiveram desastrados neste plano. Outra vez, aliás. Depois, há que saber gerir os ritmos e momentos do jogo. Neste ponto, a critica maior vai para as iniciativas de David Luiz que, podendo ser pontualmente úteis ofensivamente, são, defensivamente, quase sempre um risco. Um risco que, em vantagem e com o jogo controlado, deve ser evitado. Finalmente, o “pressing”. Foi o primeiro pilar do Benfica 09/10, e era aí que começavam as dificuldades tremendas dos adversários. Hoje, a realidade não é a mesma e as equipas dividem muito mais o jogo no campo todo, quer em organização, quer em transição. Responsabilidade colectiva ou individual? Não tenho a certeza, mas convinha rever.
Sobre o Rio Ave, assinalar que também o “agridoce” da sua exibição foi condimento essencial para o tipo de jogo que pudemos ver. Mal, esteve apenas defensivamente e muito em particular na primeira parte. Começou por lidar de forma péssima com as movimentações do ataque posicional encarnado, confundindo-se e perdendo harmonia na ocupação dos espaços defensivos sempre que um movimento inesperado acontecia. Depois, e um pouco à imagem da época que está a fazer, reagiu bem e mostrou-se capaz de discutir o jogo no campo todo, ameaçando sucessivamente em transições muito bem preparadas que tinham no cruzamento, e em João Tomás, o objectivo final. Marcou 2 e não foi surpresa nenhuma.
Notas individuais
Coentrão – A nota estatística penaliza-o pelo penalti e expulsão, mas é bom de assinalar que Coentrão voltou a ser ele próprio. Ou seja, foi um jogador cheio de intensidade, agressividade e qualidade em todos os momentos do jogo. Aliás, a sua capacidade de recuperação foi mesmo determinante na fase mais errática da equipa.
David Luiz – O único reparo que lhe faço está escrito acima e diz respeito à frequência com que tenta sair a jogar. O problema não é a sua posição, porque a equipa protege-a com o recuo de Javi Garcia. O problema é o próprio Javi Garcia, que deixa de estar onde está, tornando a transição muito mais difícil de controlar.
Sidnei – Está desacreditado mas penso que tem mais potencial do que lhe é reconhecido nesta altura. O problema é que Sidnei precisa de jogar. E precisa de o fazer por 2 motivos: o primeiro é porque claramente precisa de ritmo e entrosamento colectivo. O segundo é porque só jogando erra, e só errando – como erra quando joga – pode perceber onde tem de melhorar. Até pode ser que nunca o faça, mas só jogando poderá lá chegar.
Javi Garcia – Teve um dos jogos mais participativos em termos de posse. Não determinante, mas participativo. Javi Garcia, porém, continua a ser a fonte de demasiadas perdas em construção, e um potencial trunfo para os adversários. Não é o número de passes que falha, é o tipo de passes que falha. E todos os jogos é assim...
Aimar – Num jogo em que a equipa conseguiu um mar de desequilíbrios, Aimar esteve apenas em 1, por sinal, para finalizar. Em termos de “pressing”, algo em que se notabilizava no ano anterior pelo número de recuperações que conseguia no meio campo adversário, também continua inexistente. Aimar é sempre Aimar, e tem sempre qualidade, quer com bola, quer sem ela, mas a camisola que trás e aquilo que ela simboliza para o modelo de jogo requer dele mais influência do que a que tem tido. Perante este rendimento, Carlos Martins vale mais.
Gaitan – Jesus facilita-lhe a vida com a definição de que é ao segundo poste que a bola tem de entrar, mas continuo a chamar a atenção para a sua capacidade de cruzamento – para mim, a melhor do campeonato. O recurso valeu-lhe mais 2 assistências e, tudo somado, é um dos 5 jogadores que mais desequilibra na liga (entre os 3 “grandes”), valendo mais de meio golo por jogo completo, somando golos e assistências. Já muito escrevi sobre ele e provavelmente voltarei a fazê-lo, mas não evito o desabafo: meio ano a vê-lo jogar e ainda se repete que é um jogador de corredor central (vá lá que já ninguém diz que é avançado)?!
Salvio – Provavelmente, e em termos estatísticos, a melhor exibição de um jogador no campeonato, até agora. A qualidade de Salvio nunca esteve em dúvida – pelo menos para mim! – mas o seu perfil continua a não ser o ideal para este modelo. Ou, de outro modo, o modelo não é ideal para o seu perfil. Não tem nada a ver com as aspectos defensivos, como quase sempre se confunde (passa-se o mesmo com Gaitan). Tem, isso sim, a ver com aquilo que acontece com bola. Mas deixo mais detalhes sobre esta opinião para outro dia...
Saviola – Está ali na barra lateral: Saviola é o jogador que participa em mais desequilíbrios na liga. E, outra vez, foi assim: só Salvio esteve em tantos como ele. Porque é que isto acontece? Normalmente lê-se e ouve-se falar da sua qualidade técnica... poesias, digo eu! Saviola é um jogador forte tecnicamente, claro, mas só é excepcional por aquilo que faz sem bola. Dentro e fora da área percebe sempre onde deve estar e isso, com esta qualidade, é tão raro que me atrevo a dizer que será quase impossível o Benfica encontrar – acessível, isto é – uma alternativa fiel àquilo que o “Conejo” representa.
João Tomás – Para separar as águas: uma coisa é a sua sapiência de área, realmente invulgar. Outra, é confundir esse atributo com uma envolvência extraordinária no jogo da equipa. João Tomás marcou 2 golos e teve um aproveitamento fantástico na zona de finalização, mas terá sido provavelmente o jogador menos participativo da sua equipa. E isto não é sequer uma critica.
Comecemos então pelo que há de bom: o crescimento de confiança. Não posso assegurar que não seja um acaso, mas é um facto que o discurso voltado para este factor coincide com uma melhoria global da equipa nesse plano. Ter confiança implica que se decida e execute melhor individualmente e, assim, se projecte também o colectivo para níveis de performance mais elevados. É por isso que a confiança é o bem mais precioso de uma equipa, sendo possível dizer que, no limite, um treinador não é mais do que um gestor dos níveis de confiança da sua equipa. Os seus recursos – táctica, treino e liderança – servem para transmitir confiança à equipa e é quando esta é maximizada que o seu rendimento é óptimo. Isso, e vice versa, claro.
Sendo o modelo táctico bom – como é – e os jogadores capazes – como são – não há porque duvidar das próprias capacidades. É por isso que é importante que se interiorize a mensagem de que o rumo é bom e que se os jogadores confiarem nele encontrarão, de novo, o sucesso. Reforçar a série de vitórias e não a diferença pontual é o único caminho que pode devolver esperança à época encarnada.
Dito isto, convém também dizer que quem lidera o processo deve manter uma atitude permanentemente critica e, nesse sentido, há bastantes coisas a melhorar. Primeiro, o número de erros em fase de construção é – e continua a ser – demasiado elevado. Em particular, Sidnei e Javi Garcia estiveram desastrados neste plano. Outra vez, aliás. Depois, há que saber gerir os ritmos e momentos do jogo. Neste ponto, a critica maior vai para as iniciativas de David Luiz que, podendo ser pontualmente úteis ofensivamente, são, defensivamente, quase sempre um risco. Um risco que, em vantagem e com o jogo controlado, deve ser evitado. Finalmente, o “pressing”. Foi o primeiro pilar do Benfica 09/10, e era aí que começavam as dificuldades tremendas dos adversários. Hoje, a realidade não é a mesma e as equipas dividem muito mais o jogo no campo todo, quer em organização, quer em transição. Responsabilidade colectiva ou individual? Não tenho a certeza, mas convinha rever.
Sobre o Rio Ave, assinalar que também o “agridoce” da sua exibição foi condimento essencial para o tipo de jogo que pudemos ver. Mal, esteve apenas defensivamente e muito em particular na primeira parte. Começou por lidar de forma péssima com as movimentações do ataque posicional encarnado, confundindo-se e perdendo harmonia na ocupação dos espaços defensivos sempre que um movimento inesperado acontecia. Depois, e um pouco à imagem da época que está a fazer, reagiu bem e mostrou-se capaz de discutir o jogo no campo todo, ameaçando sucessivamente em transições muito bem preparadas que tinham no cruzamento, e em João Tomás, o objectivo final. Marcou 2 e não foi surpresa nenhuma.
Notas individuais
Coentrão – A nota estatística penaliza-o pelo penalti e expulsão, mas é bom de assinalar que Coentrão voltou a ser ele próprio. Ou seja, foi um jogador cheio de intensidade, agressividade e qualidade em todos os momentos do jogo. Aliás, a sua capacidade de recuperação foi mesmo determinante na fase mais errática da equipa.
David Luiz – O único reparo que lhe faço está escrito acima e diz respeito à frequência com que tenta sair a jogar. O problema não é a sua posição, porque a equipa protege-a com o recuo de Javi Garcia. O problema é o próprio Javi Garcia, que deixa de estar onde está, tornando a transição muito mais difícil de controlar.
Sidnei – Está desacreditado mas penso que tem mais potencial do que lhe é reconhecido nesta altura. O problema é que Sidnei precisa de jogar. E precisa de o fazer por 2 motivos: o primeiro é porque claramente precisa de ritmo e entrosamento colectivo. O segundo é porque só jogando erra, e só errando – como erra quando joga – pode perceber onde tem de melhorar. Até pode ser que nunca o faça, mas só jogando poderá lá chegar.
Javi Garcia – Teve um dos jogos mais participativos em termos de posse. Não determinante, mas participativo. Javi Garcia, porém, continua a ser a fonte de demasiadas perdas em construção, e um potencial trunfo para os adversários. Não é o número de passes que falha, é o tipo de passes que falha. E todos os jogos é assim...
Aimar – Num jogo em que a equipa conseguiu um mar de desequilíbrios, Aimar esteve apenas em 1, por sinal, para finalizar. Em termos de “pressing”, algo em que se notabilizava no ano anterior pelo número de recuperações que conseguia no meio campo adversário, também continua inexistente. Aimar é sempre Aimar, e tem sempre qualidade, quer com bola, quer sem ela, mas a camisola que trás e aquilo que ela simboliza para o modelo de jogo requer dele mais influência do que a que tem tido. Perante este rendimento, Carlos Martins vale mais.
Gaitan – Jesus facilita-lhe a vida com a definição de que é ao segundo poste que a bola tem de entrar, mas continuo a chamar a atenção para a sua capacidade de cruzamento – para mim, a melhor do campeonato. O recurso valeu-lhe mais 2 assistências e, tudo somado, é um dos 5 jogadores que mais desequilibra na liga (entre os 3 “grandes”), valendo mais de meio golo por jogo completo, somando golos e assistências. Já muito escrevi sobre ele e provavelmente voltarei a fazê-lo, mas não evito o desabafo: meio ano a vê-lo jogar e ainda se repete que é um jogador de corredor central (vá lá que já ninguém diz que é avançado)?!
Salvio – Provavelmente, e em termos estatísticos, a melhor exibição de um jogador no campeonato, até agora. A qualidade de Salvio nunca esteve em dúvida – pelo menos para mim! – mas o seu perfil continua a não ser o ideal para este modelo. Ou, de outro modo, o modelo não é ideal para o seu perfil. Não tem nada a ver com as aspectos defensivos, como quase sempre se confunde (passa-se o mesmo com Gaitan). Tem, isso sim, a ver com aquilo que acontece com bola. Mas deixo mais detalhes sobre esta opinião para outro dia...
Saviola – Está ali na barra lateral: Saviola é o jogador que participa em mais desequilíbrios na liga. E, outra vez, foi assim: só Salvio esteve em tantos como ele. Porque é que isto acontece? Normalmente lê-se e ouve-se falar da sua qualidade técnica... poesias, digo eu! Saviola é um jogador forte tecnicamente, claro, mas só é excepcional por aquilo que faz sem bola. Dentro e fora da área percebe sempre onde deve estar e isso, com esta qualidade, é tão raro que me atrevo a dizer que será quase impossível o Benfica encontrar – acessível, isto é – uma alternativa fiel àquilo que o “Conejo” representa.
João Tomás – Para separar as águas: uma coisa é a sua sapiência de área, realmente invulgar. Outra, é confundir esse atributo com uma envolvência extraordinária no jogo da equipa. João Tomás marcou 2 golos e teve um aproveitamento fantástico na zona de finalização, mas terá sido provavelmente o jogador menos participativo da sua equipa. E isto não é sequer uma critica.
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6.12.10
Benfica - Olhanense: Análise e números
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Notas colectivas
Começando então pelos números: o Benfica conseguiu seu o maior número de passes completados num jogo, nesta liga. Conseguiu também a maior % de sucesso ao nível do passe, aqui com uma distância substancial em relação ao anterior máximo colectivo (76%, frente ao Paços). Tudo isto se torna um pouco mais normal se analisarmos o que o Olhanense havia feito, tanto no Dragão, como em Alvalade. Ou seja, também nesses jogos havia permitido uma enorme quantidade de passes aos adversários (mais de 400), mas havia também limitado a sua capacidade de desequilíbrio no último terço. Aliás, é de assinalar que Porto e Sporting conseguiram menos ocasiões frente à equipa de Olhão do que o Benfica.Fica fácil de perceber, por estes números, que a proposta de jogo do Olhanense dificilmente causaria problemas à circulação baixa do Benfica – nunca causou. Mas é também fácil perceber que as dificuldades do Benfica no último terço não são apenas consequência de demérito próprio, mas o destino natural de quem defronta uma equipa tão confortável a jogar “em cima” da sua área, como é o caso do Olhanense.
O jogo só não teve uma toada mais monótona, logo desde o inicio, porque na primeira parte o Olhanense permitiu-se dar profundidade a algumas transições, colocando em sentido a defensiva encarnada. Situações que tiveram sempre origem em recuperações baixas, mas que, ou por displicência em posse, ou por desequilíbrio posicional do Benfica, acabaram do outro lado do campo, perto da baliza de Roberto. Algo que o Benfica corrigiu com o tempo, particularmente na segunda parte, controlando melhor o momento de transição do Olhanense e tornando-se mais seguro em construção – aqui, com a contribuição da maior segurança dada por Carlos Martins.
Corrigido esse problema, controlado o Olhanense e encontrado o caminho do golo – desvendado por Moretto – o jogo ficou realmente monótono. O Benfica continuou a tentar, Jesus experimentou algumas variantes ofensivas, mas a toada nunca fugiu da repetição de ataques posicionais perante um bloco baixo mas pouco permeável. Perante este cenário, o segundo golo explica-se pela aplicação do ditado da “água mole em pedra dura”, terminando assim com o jogo e com quase todo o interesse que o mesmo poderia ter.
Notas individuais
Maxi – Chegou tarde e não começou bem. Mas Maxi é um bom lateral, capaz de valer muito mais do que tem valido. Frente ao Olhanense fez, finalmente, um grande jogo. Estatisticamente foi o jogador mais participativo e teve, na segunda parte, um papel importante no controlo do primeiro passe de transição do Olhanense.Coentrão – Continua a ser um excelente lateral, mas perdeu grande parte da sua confiança no jogo do Dragão. De lá para cá – e já vamos com 3 jogos – não foi protagonista de 1 só desequilíbrio ofensivo. Desta vez, Jesus até tentou abrir-lhe caminho, colocando Amorim muito tempo do seu lado, mas não foi desta que Coentrão voltou a explodir. Tem tempo...
David Luiz – Outro que, como Maxi, fez a sua melhor exibição em termos globais, na liga. Tem sido muito criticado e, de facto, não tem sido uma época condizente com o seu potencial. Estou de acordo até certo ponto, mas há muito exagero nas apreciações que lhe têm sido feitas. Muito, mesmo!
Javi Garcia – Continuo a pensar que não dá as melhores garantias para o lugar. É culto em termos posicionais e forte nas primeiras bolas. Mas não é, nem dominador na sua zona, nem seguro em posse – todos os jogos acumula perdas de bola em zona de construção. Numa equipa que procura tantas vezes verticalizar e que perde, por isso, noção da segurança em zona de construção, não era mal pensado se Jesus procurasse uma solução que oferecesse à equipa mais segurança e presença na construção.
Aimar – Permanece longe do rendimento da época passada e parece-me discutível se deve ser titular, tendo em conta o rendimento que vem apresentando. Fala-se muito nas alas do Benfica, mas parece-me que é no eixo Garcia-Aimar que o Benfica mais tem a perder em relação ao ano passado. Muito mais, aliás!
Gaitan – O mito de que é um jogador de corredor central, desfaz-se em 2 constatações. A primeira é que um jogador de corredor central não pode construir em transporte de bola, como faz Gaitan. As suas investidas em zona central podem desequilibrar, mas têm de ser controladas porque continua a perder algumas bolas de forma proibitiva quando aparece em construção (creio que foi por isso que saiu). A segunda constatação tem a ver com a sua capacidade de cruzamento: é o jogador que, para mim, melhor cruza no futebol português e isso é suficiente para lhe valer uma capacidade de desequilíbrio acima da média.
Ruben Amorim – Diz-se que a equipa ganha equilibro com a sua chegada. Concordo, sim, mas faço uma nota idêntica à que utilizo sempre com Moutinho. Ou seja, Amorim não é um jogador excepcional em nenhum aspecto específico. É, isso sim, um jogador útil em tudo. Tem uma óptima percepção táctica e posicional, quer ofensivamente, quer defensivamente, é seguro em posse e tem boa capacidade de trabalho. Neste momento, ninguém combina tudo isto no meio campo do Benfica.
Cardozo – Duvido que haja algum avançado no mundo que não jogue melhor quando marca golos. Desde que regressou, Cardozo está mais participativo (embora ainda não muito) e, sobretudo, bem mais inspirado e eficaz (não falo de golos, mas de todas as acções).
Paulo Sérgio – O Olhanense tem outros jogadores a observar, mas este mereceu-me especial atenção. Foi muito importante na melhor fase colectiva, aparecendo bem em transição e transportando a equipa para alguns ataques rápidos. Jogou muitas vezes solto e revelou boa capacidade de movimentação, boa intensidade sem bola e um notável critério com ela. Não lhe faço com isto uma avaliação definitiva, mas creio que nesta altura da sua carreira merece uma análise cuidada de clubes maiores...
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16.11.10
Benfica - Naval: Análise e números
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Notas colectivas
Como se explica então o ritmo de parada e resposta que se viu durante muito tempo, nomeadamente na primeira parte? Sem tirar mérito – que o houve – às acções ofensivas, há que falar daquilo que as defensas não fizeram. Isto porque, se a Naval tem aspirações de retirar pontos a um “grande”, não pode cometer tantos erros na sua linha mais recuada e, por outro lado, o próprio Benfica não pode esperar deixar de passar por sobressaltos se não se acautelar melhor defensivamente.
Em relação ao Benfica, já acontecera a mesma situação com o Paços, que também conseguira um número de finalizações elevadíssimo na Luz. Desta vez a origem não é exactamente a mesma, porque o Paços conseguira impedir o Benfica de sair a jogar através de um pressing mais alto que forçou o Benfica a bater bolas longas e a disputar um jogo mais físico no meio campo. Desta vez, a origem não se repetiu mas o “meio” foi o mesmo.
Ou seja, o Benfica foi, é e continuará a ser uma tacticamente forte. Muito forte, mesmo. Posiciona-se muito bem em todos os momentos e reage rapidamente a todas as mudanças de situação no jogo. O problema é que o modelo de Jesus é bastante exigente porque arrisca sempre muito quando em posse da bola. Opta por uma circulação muito vertical e não hesita em colocar muita gente nos processos ofensivos. Neste sentido, o maior problema desta época – como várias, e várias vezes tentei explicar – está na segurança do passe na zona de construção. Ou seja, perdendo a bola em zona não muito alta, torna-se muito difícil lidar com a transição ataque-defesa, mesmo se a reacção colectiva me parece francamente boa após a perda. Foi isso que custou derrotas como as da Supertaça, de Guimarães, frente a Schalke ou Lyon.
Contra a Naval isso não aconteceu com especial frequência ou gravidade, mas houve alguma displicência na forma como a equipa defendeu, empregando pouca agressividade em duelos individuais que, sendo sucessivamente perdidos, abriram caminho às ocasiões que todos observamos na primeira parte do jogo.
Quanto à Naval, para além de ter permitido muitas ocasiões por parte do Benfica – normalmente uma goleada resulta de uma eficácia assinalável, mas este nem foi um desses casos – permitiu também que essas ocasiões fossem bastante claras. Para comprová-lo basta atentar a este dado: enquanto que no campeonato, o Benfica leva apenas, e média, 40% das suas finalizações à baliza, neste jogo 15 em 20 (75%) tiveram esse desfecho. De assinalar os inúmeros erros que a equipa cometeu no seu último terço, em particular na sua última linha defensiva.
Notas individuais
Coentrão – Não se pode dizer que tenha jogado mal, mas foi uma actuação francamente modesta e discreta para as suas potencialidades, e num jogo que tinha tudo para conseguir outro protagonismo. Pode ser coincidência, mas é impossível deixar de constatar que tal acontece no primeiro jogo após a hecatombe do Dragão.
David Luiz – Ao contrário do que aconteceu no Dragão, creio que a sua actuação deve ser censurada. A forma como abordou os duelos com Fábio Junior foi displicente e custou-lhe a perda de algumas situações proibidas e desnecessárias. Parece desleixo, e parece também estranho porque o aviso sobre a qualidade de Fábio Júnior já vinha do ano anterior.
Airton – Foi o jogador com mais passes completados, com mais intercepções e com maior % de passe da equipa. Um feito que Javi Garcia, nas 10 utilizações como titular nunca havia conseguido. Aliás, Garcia só por 2 vezes fez mais passes do que Airton neste jogo, e em nenhuma ocasião conseguiu tantas intercepções. O espanhol entenderá melhor o modelo e terá uma melhor noção posicional, mas não é, nem tão reactivo, nem tão forte nos duelos individuais, nem tão pouco tão certo no passe como Airton (apesar deste ter cometido 2 erros a este nível). Não digo que Airton só tenha vantagens, ou que o Benfica esteja mal servido com Javi, mas creio – já de há algum tempo, e com sucessivo reforço dessa ideia – que é o brasileiro quem garante melhor rendimento no desempenho do lugar.
Aimar – Fez provavelmente o seu melhor jogo no campeonato. Isto, porque o número de desequilíbrios que criou é incomparável com qualquer outra actuação na prova, ficando a dever a si próprio pelo menos 1 golo, que só por manifesta infelicidade não aconteceu. Ainda assim tenho uma critica a apontar-lhe. 60% de sequência em todas as posses que teve é muito pouco para quem joga ao longo de todo o corredor central. Aimar pode e deve trabalhar melhor o critério quando baixa para zonas onde o risco deve ser menor. E isso, assinale-se, já lhe custou, a ele e à equipa, alguns dissabores esta época.
Gaitan – Tivesse Gaitan outro nome e outra reputação e teria feito todas as manchetes do dia seguinte. Isto porque a sua exibição foi simplesmente estrondosa. Marcou 2 excelentes golos e ainda participou num total de 6(!) desequilíbrios da equipa. Para além disso, evitou erros que vinha comentendo em posse e teve um desempenho defensivo bastante bom, o melhor dos 5 jogadores mais ofensivos. Aliás, sobre isto importa dizer que Gaitan não é um jogador especialmente agressivo e, por exemplo, não consegue ser muito útil num pressing mais alto. Mas, por outro lado, é um jogador que se posiciona bem tacticamente e que tem esse sentido de responsabilidade colectivo. O seu maior problema, a meu ver, é a decisão em posse em zonas mais atrasadas, onde ainda arrisca demasiado e onde já perdeu demasiadas bolas nesta temporada.
Salvio – É mais agressivo do que Gaitan, está a melhorar claramente, mas sente mais dificuldades em termos tácticos. Porquê? Porque Salvio sempre foi um jogador de último terço, mais avançado do que médio, com menos responsabilidades tácticas e sem a necessidade de decidir com frequência a 50 metros da baliza. Nem na Argentina, nem no pouco tempo em que esteve no Atlético. Mas – repito – dê-se-lhe tempo...
Kardec – Marcou um golo e, mesmo se continuou ausente das dinâmicas da equipa, foi muito útil nas primeiras bolas, onde a Naval sentiu dificuldades. Para fazer o que Cardozo fez no campeonato até à lesão (derbi à parte) chega e sobra. Mas isso também não é propriamente um elogio...
Como se explica então o ritmo de parada e resposta que se viu durante muito tempo, nomeadamente na primeira parte? Sem tirar mérito – que o houve – às acções ofensivas, há que falar daquilo que as defensas não fizeram. Isto porque, se a Naval tem aspirações de retirar pontos a um “grande”, não pode cometer tantos erros na sua linha mais recuada e, por outro lado, o próprio Benfica não pode esperar deixar de passar por sobressaltos se não se acautelar melhor defensivamente.
Em relação ao Benfica, já acontecera a mesma situação com o Paços, que também conseguira um número de finalizações elevadíssimo na Luz. Desta vez a origem não é exactamente a mesma, porque o Paços conseguira impedir o Benfica de sair a jogar através de um pressing mais alto que forçou o Benfica a bater bolas longas e a disputar um jogo mais físico no meio campo. Desta vez, a origem não se repetiu mas o “meio” foi o mesmo.
Ou seja, o Benfica foi, é e continuará a ser uma tacticamente forte. Muito forte, mesmo. Posiciona-se muito bem em todos os momentos e reage rapidamente a todas as mudanças de situação no jogo. O problema é que o modelo de Jesus é bastante exigente porque arrisca sempre muito quando em posse da bola. Opta por uma circulação muito vertical e não hesita em colocar muita gente nos processos ofensivos. Neste sentido, o maior problema desta época – como várias, e várias vezes tentei explicar – está na segurança do passe na zona de construção. Ou seja, perdendo a bola em zona não muito alta, torna-se muito difícil lidar com a transição ataque-defesa, mesmo se a reacção colectiva me parece francamente boa após a perda. Foi isso que custou derrotas como as da Supertaça, de Guimarães, frente a Schalke ou Lyon.
Contra a Naval isso não aconteceu com especial frequência ou gravidade, mas houve alguma displicência na forma como a equipa defendeu, empregando pouca agressividade em duelos individuais que, sendo sucessivamente perdidos, abriram caminho às ocasiões que todos observamos na primeira parte do jogo.
Quanto à Naval, para além de ter permitido muitas ocasiões por parte do Benfica – normalmente uma goleada resulta de uma eficácia assinalável, mas este nem foi um desses casos – permitiu também que essas ocasiões fossem bastante claras. Para comprová-lo basta atentar a este dado: enquanto que no campeonato, o Benfica leva apenas, e média, 40% das suas finalizações à baliza, neste jogo 15 em 20 (75%) tiveram esse desfecho. De assinalar os inúmeros erros que a equipa cometeu no seu último terço, em particular na sua última linha defensiva.
Notas individuais
Coentrão – Não se pode dizer que tenha jogado mal, mas foi uma actuação francamente modesta e discreta para as suas potencialidades, e num jogo que tinha tudo para conseguir outro protagonismo. Pode ser coincidência, mas é impossível deixar de constatar que tal acontece no primeiro jogo após a hecatombe do Dragão.
David Luiz – Ao contrário do que aconteceu no Dragão, creio que a sua actuação deve ser censurada. A forma como abordou os duelos com Fábio Junior foi displicente e custou-lhe a perda de algumas situações proibidas e desnecessárias. Parece desleixo, e parece também estranho porque o aviso sobre a qualidade de Fábio Júnior já vinha do ano anterior.
Airton – Foi o jogador com mais passes completados, com mais intercepções e com maior % de passe da equipa. Um feito que Javi Garcia, nas 10 utilizações como titular nunca havia conseguido. Aliás, Garcia só por 2 vezes fez mais passes do que Airton neste jogo, e em nenhuma ocasião conseguiu tantas intercepções. O espanhol entenderá melhor o modelo e terá uma melhor noção posicional, mas não é, nem tão reactivo, nem tão forte nos duelos individuais, nem tão pouco tão certo no passe como Airton (apesar deste ter cometido 2 erros a este nível). Não digo que Airton só tenha vantagens, ou que o Benfica esteja mal servido com Javi, mas creio – já de há algum tempo, e com sucessivo reforço dessa ideia – que é o brasileiro quem garante melhor rendimento no desempenho do lugar.
Aimar – Fez provavelmente o seu melhor jogo no campeonato. Isto, porque o número de desequilíbrios que criou é incomparável com qualquer outra actuação na prova, ficando a dever a si próprio pelo menos 1 golo, que só por manifesta infelicidade não aconteceu. Ainda assim tenho uma critica a apontar-lhe. 60% de sequência em todas as posses que teve é muito pouco para quem joga ao longo de todo o corredor central. Aimar pode e deve trabalhar melhor o critério quando baixa para zonas onde o risco deve ser menor. E isso, assinale-se, já lhe custou, a ele e à equipa, alguns dissabores esta época.
Gaitan – Tivesse Gaitan outro nome e outra reputação e teria feito todas as manchetes do dia seguinte. Isto porque a sua exibição foi simplesmente estrondosa. Marcou 2 excelentes golos e ainda participou num total de 6(!) desequilíbrios da equipa. Para além disso, evitou erros que vinha comentendo em posse e teve um desempenho defensivo bastante bom, o melhor dos 5 jogadores mais ofensivos. Aliás, sobre isto importa dizer que Gaitan não é um jogador especialmente agressivo e, por exemplo, não consegue ser muito útil num pressing mais alto. Mas, por outro lado, é um jogador que se posiciona bem tacticamente e que tem esse sentido de responsabilidade colectivo. O seu maior problema, a meu ver, é a decisão em posse em zonas mais atrasadas, onde ainda arrisca demasiado e onde já perdeu demasiadas bolas nesta temporada.
Salvio – É mais agressivo do que Gaitan, está a melhorar claramente, mas sente mais dificuldades em termos tácticos. Porquê? Porque Salvio sempre foi um jogador de último terço, mais avançado do que médio, com menos responsabilidades tácticas e sem a necessidade de decidir com frequência a 50 metros da baliza. Nem na Argentina, nem no pouco tempo em que esteve no Atlético. Mas – repito – dê-se-lhe tempo...
Kardec – Marcou um golo e, mesmo se continuou ausente das dinâmicas da equipa, foi muito útil nas primeiras bolas, onde a Naval sentiu dificuldades. Para fazer o que Cardozo fez no campeonato até à lesão (derbi à parte) chega e sobra. Mas isso também não é propriamente um elogio...
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