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29.3.12

Golos fora ou factor casa?

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O 0-0 numa primeira mão, é melhor para quem joga em casa ou para quem joga fora? A pergunta, no fundo, compara a vantagem entre o factor casa e a regra dos golos fora. Enfim, é uma dúvida que tem resolução simples, bastando ver o que aconteceu nas eliminatórias que terminaram com 0-0 ao fim dos primeiros 90 minutos. Não tenho a resposta, mas imagino que, como nenhum outro resultado, deixe tudo igual para a segunda mão.

Qualquer eliminatória que envolva o Barça, nos dias que correm, tem como principal ponto de interesse perceber que tipo de dificuldades poderá o seu adversário causar e, no limite, se haverá hipótese de surpresa. A questão da comparação qualitativa não se põe, pura e simplesmente. O Milan não é excepção, e nesse sentido não estranhará que, mesmo em San Siro, fosse sempre o Barça a estar mais perto da vitória, ainda que, em qualidade, as oportunidades tenham surgido para os dois lados.

Já me referi ao interesse desta competição, para além da qualidade, pela possibilidade de vermos em confronto culturas de jogo muito diferentes. E esta eliminatória, permite-nos isso mesmo, ver um choque de culturas em termos tácticos. Em especial, no Milan, sobressai a forma como corta a profundidade e junta à linha de quatro uma outra, de três. Não é uma estrutura muito comum, mas é altamente característica desta formação, sendo apresentada há já vários anos. O futebol italiano tem esta característica, de não arriscar muito na altura do seu posicionamento mas, por outro lado, de não trazer muita gente para trás da linha da bola. A linha de 3 do Milan pretende precisamente fazer o que a maioria das equipas faz com 4 ou 5 jogadores, reservando com isso mais gente para o golpe mortal da transição.

Se o jogo da fase de grupos for uma antecipação fiel daquilo que vamos ver na segunda mão, então não restam muitas esperanças ao Milan. É que apesar do empate final, o Barcelona foi avassalador nesse jogo. Em particular, nesse decisivo momento da transição defesa-ataque, o Milan foi incapaz de tirar partido dos homens que deixava à frente da bola, sendo encurralado por um Barcelona que se adaptou estruturalmente na reacção à perda, nomeadamente em relação à sua última linha, onde se mantiveram quase sempre 3 unidades, em vez de 2 como acontece na generalidade dos jogos da Liga espanhola. Depois, em relação à linha de 3 médios do Milan, as dificuldades de controlo da largura também emergiram, sendo o movimento de superioridade de Dani Alves aquele que naturalmente mais parece fragilizar esta estrutura dos italianos.

A decisão da eliminatória passará muito pela resposta das equipas a estas nuances, que não deverão manter as orientações base, ainda que me pareçam prováveis algumas diferenças...

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28.3.12

Fatalidades...

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Não será propriamente uma surpresa para quem vem lendo a minha visão sobre a incerteza do jogo, mas de facto não há nada que me pareça ter determinado que o desfecho negativo fosse uma fatalidade para o Benfica. Nem as opções iniciais, nem, muito menos, as substituições. É claro que sei, também, que os efeitos da tradicional emotividade pós jogo não fazem da minha posição algo muito consensual. Nem esta, nem outras. Ainda assim, reforço a opinião: fatalidade, mesmo, só vejo uma: a de que entre duas equipas a maior probabilidade de vitória esteja tendencialmente do lado daquela que tiver capacidade para a adquirir, a qualquer momento, qualquer jogador do seu adversário.

Quanto jogo propriamente dito, parece-me que ambos os treinadores tiveram uma abordagem clássica para uma primeira mão de uma eliminatória a este nível. Ou seja, risco mínimo e a noção de que qualquer pequena vantagem poderá rapidamente fazer toda a diferença. Jesus, com o seu "formato Champions", que usa Witsel mais próximo de Javi e Aimar na ligação entre estes dois e Cardozo. Di Matteo, com uma estratégia assumidamente cautelosa em relação aos riscos em posse, tanto pelas ligações directas para os corredores, como pela postura várias vezes especulativa na primeira fase de construção. Para os dois, a ideia era marcar, se possível, mas não sofrer, a todo custo. Aliás, terá sido precisamente nesse sentido que Jesus fez entrar Matic, reconhecendo que a 20 minutos do fim um golo sofrido poderia ter um custo praticamente impossível de corrigir. Deu-se mal, é um facto, e será fortemente punido pelo tradicional nexo de causalidade que se faz entre substituições e o que acontece a seguir. A justiça desse tipo de sentença é, a meu ver, tão boa como outras que, nas mesmas circunstâncias, foram favoráveis ao treinador encarnado. Ou seja, nenhuma.

Dentro do conservadorismo estratégico, o Benfica foi quem mais quis ganhar o jogo e, até, quem mais esteve próximo de o merecer. Mas um jogo equilibrado é assim mesmo, altamente refém da inspiração do momento. Ainda assim, é interessante notar como o plantel do Benfica tem um equilíbrio algo atípico nas suas soluções. Isto é, qualquer equipa, mesmo as melhores, tem mais dificuldade em encontrar jogadores que marquem a diferença pela sua capacidade de desequilíbrio ofensivo. Por isso, substituir um avançado ou um criativo pode ser uma dor de cabeça muito maior do que um médio defensivo ou um defensor. No Benfica, é ao contrário. Tem avançados e extremos de enorme qualidade, e todos de um nível muito semelhante. Substituir Gaitan, por exemplo, é muito menos problemático para o Benfica do que substituir Mata para o Chelsea. Lá atrás, e também às avessas do que é mais comum, é que o problema é maior. Neste jogo, por exemplo, parece-me que a ausência de Garay foi determinante, porque Torres foi um jogador sempre muito difícil de controlar, com Jardel a sentir enormes sempre que o espanhol o atraiu para fora da sua zona de conforto. Ora, se num jogo deste tipo os pormenores contam ainda mais, este é pormenor que, na minha óptica, contou bastante...

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17.3.12

Expectativas

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Não houve surpresas, mas não se pode dizer que tenha sido uma mera formalidade. Pelo menos, para o Porto, que teve um jogo de grande incerteza e muito pouco controlo. Mais um sinal de que o momento não faz antever um grande conforto na recta final, ao contrário do que aconteceu em boa parte da prova. Cumpre-se este fim de semana a 10ª jornada em 2012 e, mesmo descontando o jogo entre ambos, foram mais as jornadas em que pelo menos 1 dos dois perdeu pontos do que aquelas em que, como nesta semana, ambos conseguiram vencer. Veremos o que acontece à medida que a pressão aumenta...

Nem 20 dias passados, jogar-se-á outro Benfica-Porto. O lado mais interessante deste segundo jogo, pelo menos para mim, tem a ver com a diferença de contexto para o primeiro. Ou seja, no jogo para o campeonato, os 90 minutos eram encarados quase que como uma final do campeonato. E o campeonato, quer para um lado, quer para o outro, pode significar muito mais do que uma mera organização das festas de Maio. Pode ter implicações nas carreiras de muitos dos protagonistas, sobretudo dos treinadores. Agora, por outro lado, Benfica e Porto trocariam um resultado na meia final da Taça da Liga por 2 pontos ganhos em mais uma importante jornada (ambos jogam fora) que terá lugar alguns dias depois do reencontro na Luz. É claro que quando a bola começar a rolar, e estando vermelho e azul frente a frente, muito de tudo isto passa para segundo plano. Muito, mas não tudo...

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Já havia comentado sobre a importância do sorteio para as aspirações do Benfica no sonho da Champions. E a sorte não quis muito com o Benfica. Deixa espreitar para a meia final, mas por essa curta brecha mostra o Barcelona. As probabilidades de vitória do Benfica na prova são nesta altura estimadas em 1,5%. Pode parecer pouco, mas quantas vezes, desde que a Champions permite mais do que um clube por país, é que um clube português atingiu as meias finais?

Na Liga Europa, o Sporting teve melhor sorte (não que sejam comparáveis as hipóteses de um "bom sorteio"). O Metalist mantém o mesmo problema de 2008, quando calhou em sorte ao Benfica. É sempre subestimado. Trata-se da 3ª potência do futebol ucraniano, onde perde sobretudo por não ter tanta capacidade no mercado interno, e por isso não chega à Champions, onde entram equipas com bem menos qualidade. Mas na Liga Europa, está farto de surpreender quem deles duvida, inclusivamente o próprio Benfica nessa experiência de 2008. Entre os sul americanos, que conheço quase todos bem, destaco os argentinos Sebastian Blanco e Cristaldo, que aprecio bastante e gostaria de ter visto no futebol português. Há um outro pormenor a ter em conta no Metalist, é que ao contrário do que pode sugerir a proveniência longínqua, esta equipa tem um registo europeu estranhamente positivo nos jogos fora. E não é deste ano. Os espanhóis lideram o ranking das expectativas (eu acredito que a mentalidade do Bilbao pode fazer deles o principal candidato, nesta altura). Ao Sporting, é creditada uma probabilidade de 8% de erguer a Taça. É pouco, mas para o Sporting as baixas expectativas também não têm sido um problema...

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15.3.12

Goleadas tangenciais

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Stamford Bridge pode não ser o palco que mais memórias guarda no que respeita à história das competições europeias. Nos últimos anos, porém, tem assumido um protagonismo especial a esse nível, e esta terá sido mais uma noite a contribuir para isso. Talvez a primeira desta edição da Champions, mas certamente que não a última. O jogo foi bom, pela emoção e pela divisão permanente do ascendente. O Chelsea terá sido mais forte, mais experiente, ou apenas mais feliz, dependendo do ponto de vista. Eu, diria que foi sempre mais incisivo quando conseguiu entrar na área contrária e que isso foi, como não raras vezes acontece, decisivo. Mas, claramente, terá contado com o cinismo da eficácia, ou pelo menos eu não sou capaz de concordar com uma separação de 3 golos entre as equipas como resultado mais fiel daquilo que vi. E aqui, nos 3 golos de diferença, chego ao ponto que mais me interessa...

3 golos de diferença no marcador, mas dificilmente 3 golos de diferença na cabeça de quem quer que fosse. Adeptos e protagonistas. Todos o viram como um jogo de resultado tangencial. Viram e, mais importante, jogaram. Dos 5 golos marcados, nenhum foi conseguido em situação de vantagem. Ou seja, todos foram marcados como reacção a uma situação de necessidade. Ora, é certo que o jogo teve sempre uma boa atitude de ambos os lados, é certo também que se tratou apenas de um jogo, que não é representativo para conclusão alguma e que tudo pode ter sido apenas um acaso. Mas é também certo que este fenómeno da diferença de atitude em função do resultado está perfeitamente identificado, não só no futebol, mas no desporto em geral. Por regra, não se trata de algo voluntário ou consciente, não há - como tantas vezes reclama o desespero dos adeptos - uma atitude premeditada de treinadores ou jogadores. Simplesmente acontece e se alguém soubesse porquê, seria capaz de contrariar a tendência, o que não se verifica. O futebol é um jogo de humanos...

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14.3.12

Contrastes...

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- Quando o sorteio ditou o confronto entre Bayern e Basel (curiosamente, partilham a abreviatura FCB), imediatamente imaginei um passeio para os alemães. É que, para além da diferença evidente de valores, não havia qualquer contraste de estilos ou choque de culturas. Houve, no entanto, da minha parte uma subvalorização do Basileia actual. O seu momento é tremendo, pulverizando a liga interna e atingindo patamares de confiança que permitem a exacerbação do potencial colectivo, reflectido em feitos como foram, por exemplo, as vitórias caseiras frente a United e a este mesmo Bayern. O mais curioso é verificar o que pode acontecer quando o escudo da confiança é repentinamente retirado por um gigante insaciável como é, culturalmente, o Bayern. Não pode deixar de vir à memória o caso do Sporting em 2009 que, num episódio muito semelhante ao do Basileia (mas ainda mais penoso, porque teve direito a repetição), foi devorado por este mesmo adversário sem que houvesse qualquer relação com a consistência da equipa, quer no seu percurso europeu até aí, quer no próprio momento interno (as goleadas sofridas pelo Sporting coincidiram, paradoxalmente, com o arranque para um excelente ciclo de resultados internos). Não há grande lógica nisto, apenas Fragilidade.

- Do outro apurado do dia, não se pode traçar perfil mais contrastante com o do Bayern. Não tem grande explicação esta modéstia dos clubes franceses. São uma das potências económicas da Europa ocidental, têm dimensão, condições e formação para serem uma potência também ao nível de clubes. Mas não são, e vivem um bastante traumatizados por isso. Talvez a próxima década lhes seja mais favorável e Paris veja, finalmente, uma equipa corresponder à sua importância em todas as restantes áreas sociais e económicas. Refiro-me ao PSG, é claro. Para já, fica apenas o alerta para algo que venho repetindo: os franceses podem não ser uma potência, mas têm o seu valor também algo menosprezado. Porque desprezam a Liga Europa e não têm unhas para a Champions, acabam sempre longe das finais, parecendo por isso mais fracos do que realmente são. Mas, há muita qualidade e, atenção, porque ao contrário da Liga Europa, eles darão tudo por um brilharete na Champions.

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8.3.12

Dois mundos e uma sentença

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A propósito do Bayer-Barcelona da primeira mão, tive a oportunidade de ler uma antevisão de alguém que havia, alguns dias antes, antecipado dificuldades para os catalães na visita a Pamplona (contextualizando, o Barça perdera o jogo frente ao Osasuna no fim de semana anterior à primeira mão). Escrevia que apesar do mau momento do Barça ser evidente, tal não deveria ser suficiente para que uma vitória confortável estivesse em causa na Alemanha, que o potencial das duas equipas era demasiado dispar, que eram duas equipas de dois mundos completamente diferentes.

Ora, não é pela goleada numa segunda mão de uma eliminatória já resolvida, mas a diferença de valor entre Barça e Leverkusen será mais ou menos a mesma que a diferença entre um "grande" e uma equipa da II Divisao, em Portugal (sublinho que estou a comparar diferenças de valor e não o valor das equipas em si mesmo). São dois mundos completamente diferentes.

Não faltam exemplos que corroborem a ideia de que o sucesso de uma caminhada europeia pode depender muito de sorteios e eliminações surpreendentes. É o mesmo para as aspirações de equipas menos conceituadas (ou sobretudo destas) em taças domésticas, por exemplo. Neste sentido, e em relação ao sonho europeu que se vai reavivando no Benfica, a aleatoriedade do sorteio pode tornar inútil qualquer discussão sobre o assunto, mas não coloca, seguramente, em causa a relevância das sortes que serão tiradas antes dos quartos de final. Aliás, se nos centrarmos nos apurados de hoje, Barcelona e Apoel, o sorteio parecerá mais mesmo uma sentença.

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7.3.12

Enfim, um suspiro...

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O valor das equipas não faz desta uma vitória obrigatória ou banal, mas também nada mais do que normal. Por mérito do Benfica, para que não me interpretem mal. No entanto, o contexto torna-a especialmente relevante. Por interromper um terrível momento negativo e pela relevância da competição. Pode ser importante para uma equipa que, mais do que a maioria, tem na confiança um combustível essencial, dado o arrojo da sua proposta de jogo. Pode ser também um factor de distracção para o que resta do campeonato. Será que vai ser? A história do Benfica de Jesus sugere-nos que sim, mas logo se verá.

Não o referi na altura, mas a opção de Jesus que mais me surpreendeu no clássico de Sexta Feira foi a ausência de Bruno César. O Benfica é uma equipa que tem algumas características raras (o que a torna, em termos tácticos, muito interessante), e uma delas é a disposição que assume em construção, utilizando muitas vezes apenas 1 médio no corredor central. Ora, isto é naturalmente um condicionalismo para que o centro seja uma alternativa de progressão, e por isso vemos tantas vezes os corredores laterais a serem explorados no inicio das jogadas encarnadas. Outra implicação é a exigência de mobilidade de outros jogadores, nomeadamente pelo menos um dos avançados e os extremos. Ora, é aqui que entra Bruno César, já que (e já escrevi sobre isto há algum tempo..) o brasileiro é, com alguma distância, o extremo que mais fiabilidade oferece à posse, sendo essa uma característica que ganha relevo à medida que a zona de intervenção se torna mais central. A minha surpresa em relação à opção não se dá apenas por esta minha constatação, que no limite poderia ser apenas minha, mas pelo facto do próprio Jesus ter feito algumas referências no mesmo sentido, nomeadamente após o jogo da primeira volta, no Dragão. Ora, hoje Bruno César esteve inspirado e foi decisivo, mas mesmo que não o tivesse sido, na minha opinião, a sua utilização fazia sentido, como teria feito frente ao Porto, e fará quase sempre que o adversário seja de um nível qualitativo mais elevado. E essa capacidade viu-se também na fase de maior necessidade de gestão da posse por parte da equipa.

Outro jogador que faz sempre sentido neste Benfica, e um pouco pelos mesmos motivos, é Witsel. Impossível não ser seduzido pela sua forma de tratar a bola, de tal forma até que isso pode até levar a algumas conclusões menos rigorosas sobre a sua influência em termos de presença em posse (o que a meu ver acontece com compreensível frequência). Seja como for, Witsel tem a virtude de ser um jogador de pausa e valorização da posse, numa equipa viciada em aceleração e velocidade. Witsel, diria, acrescenta bom senso ao futebol do Benfica.

Voltando ao inicio, fica a dúvida e um mergulho na irracionalidade que envolve o jogo: até onde é que é preciso ir na Champions, para que se "salve" uma época em que se perde o campeonato?

- No outro jogo da noite, o Arsenal conseguiu o surpreendente feito de encostar a eliminatória em apenas 45 minutos. Por um lado, a ameaça de reviravolta sugere que o 4-0 da primeira mão não fora assim tão decisivo. Por outro, no entanto, essa é precisamente a vantagem decisiva de um 4-0, até dá para perder por 3!

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22.2.12

A identidade napolitana

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- Não sei se será da má fase, mas Villas Boas quase que antecipou a derrota antes da mesma, ao dizer na antevisão da primeira mão que a eliminatória poderia ser invertida na segunda. E pode, pelo que convém não dar as coisas como terminadas. Ainda assim, é sobre o Nápoles que quero escrever, coisa que já estive para fazer, mas que por falta de oportunidade acabou por não acontecer.

Não pode ser nunca um candidato, claro, porque não tem potencial para isso, mas parece-me ter todas as características para ser um perigoso "outsider". Porque tem uma filosofia de jogo muito ajustada ao tipo de jogos da competição, porque é fortíssimo dentro da sua proposta e porque beneficia, depois, de um ambiente muito favorável quando joga em sua casa. O Nápoles não me espanta tanto pela capacidade ofensiva, mas antes pela forma como a consegue. Ao contrário da generalidade das equipas ainda em prova, que procuram vencer "aos pontos", o Nápoles joga tudo no "KO". Ou seja, não procura atacar pela quantidade e, por vezes, parece até que o sofrimento faz parte da estratégia, tal a facilidade com que baixa o bloco enquanto espera pacientemente pelo momento certo para atacar, esticando o jogo de forma tremendamente eficaz, quer em organização, quer em transição. Mais espantoso do que tudo, pelo menos para mim, é a identidade. Seria de esperar que a frieza da sua proposta se desfizesse quando se vê em desvantagem, mas não... O Nápoles permanece impávido e, mesmo a perder, continua a esperar pacientemente pelo momento certo de atacar, e a verdade é que esta reviravolta está longe de ser caso único no currículo da equipa.

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16.2.12

Factor casa

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- O factor casa... Por vezes é ingenuamente desprezado nos discursos, mas raramente o é no campo de jogo. Desta vez, havia mais do que factores psicológicos a condicionar as aspirações do Benfica. Foi um jogo terrível, de sucessivos duelos, acelerações repentinas e uma fluidez quase nula. Tudo isto, claro, perante um adversário muito mais adaptado. 3-2 não é um bom resultado, mas dadas as incidências foi tudo menos mau. Na Luz, claro, tudo será diferente, não querendo isto dizer que forçosamente venha a correr bem. Impressionante o caso de Cardozo: não tem a agressividade exigível, não dá sequência a praticamente nenhum lance que passa por si, mas, depois, é ele que está nos lances decisivos. Não foi a primeira, nem será a última vez, e por isso Jesus não abdica dele.

- Numa das eliminatórias, à partida, mais interessantes, tudo parece ter ficado muito rapidamente resolvido. Porque sucumbiu de forma tão clara o Arsenal? Porque é que as equipas que têm melhores jogadores ficam quase sempre à frente das outras? Não tem de ser uma questão de dinheiro, mas é seguramente uma questão de qualidade.

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14.2.12

O regresso da Europa

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- Não é uma fase final de Champions que levante grandes expectativas. Antes dos oitavos de final, 66% do favoritismo era reservado para os dois grandes de Espanha, e dificilmente alguém imaginará um cenário distinto desse. O aliciante especial neste ano está em perceber se o Barça será capaz de fazer aquilo que nenhuma equipa conseguiu desde que a Champions é "Champions", ou seja, ganhar por dois anos consecutivos. Seria, no fundo, a materialização em termos de títulos de um feito condizente com aquilo que a equipa representa para os anos que passaram. Tudo parece óbvio, mas é só quem tiver muita falta de memória poderá menosprezar os caprichos em que o futebol é fértil em provas destas características.

- Entretanto, na Liga Europa, começou o curioso duelo entre Braga e Besiktas. É interessante perceber como os feitos recentes dos bracarenses lhe creditaram algum favoritismo (ainda que tangencial) para esta eliminatória. É algo que não faz muito sentido, se considerarmos que o Besiktas tem uma série de jogadores com que o Braga não pode sonhar. Para já, o Besiktas conseguiu uma vantagem praticamente decisiva e só um jogo perfeito em Istambul pode inverter esta tendência. Algumas notas sobre alguns protagonistas: Leonardo Jardim, que apesar da derrota volta a fazer uma época excelente, sendo mais um treinador que aparece com um trajecto quase perfeito e já com algum tempo de carreira. Manuel Fernandes, cujo talento sempre me entusiasmou e que parece ter ganho alguma consistência nos últimos meses, sendo aparentemente uma solução a considerar para a Selecção. Finalmente, Carvalhal que tal como tinha antecipado aquando da sua partida para Istambul, abriu para si uma oportunidade interessantíssima num clube de enorme dimensão e num país em que o futebol está em franco crescimento (tem sido a sétima liga da Europa que mais investimento fez nos últimos 3 anos).

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14.9.11

Benfica - Man Utd (breves)

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Estes jogos têm um interesse especial porque permitem cruzar realidades que nos habituamos a observar, mas que evoluem em contextos paralelos. Já havia escrito sobre a ameaça que podia representar o tipo de movimentos de construção do United, mas o Benfica reagiu muito bem para a situação, com Jesus a preparar estrategicamente essa circunstância, destacando os papeis de Witsel, Aimar e Amorim. Em particular, fica-me a dúvida se, sem Aimar, a equipa poderia ter conseguido tão boa resposta perante a construção dos ingleses. A outro nível, também se percebeu a preocupação da linha média em auxiliar a zona central nas situações de cruzamento, uma vez que o Manchester tem como outro ponto forte a capacidade de fazer aparecer muita gente em zona de finalização. Pena o golo de Giggs, porque já se antecipava que houvesse mais dificuldades de controlo na segunda parte. Não apenas pelo potencial que havia no banco, mas porque, como se confirmou, o United iria seguramente construir de outra forma após o intervalo.

Outra nota, tem a ver com a capacidade de adaptação de Ferguson. Incrível como este United, com orientações de jogo tão actuais, tem o mesmo treinador há 25 anos. Este sim, é o maior exemplo a seguir. Porque acreditar no seu próprio trabalho, todos acreditam. Encontrar quem saiba duvidar, é que é mais difícil. E é por isso, por ter sabido duvidar, que foi sempre evoluindo.

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17.8.11

Twente - Benfica, a minha visão sobre 3 golos...

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Não irei fazer uma análise ao jogo, mas ficam aqui alguns apontamentos, partindo de 3 dos golos do jogo de ontem. Curioso como se recuperam tantos temas que aqui tenho abordado recentemente...

Golo 1 - O espaço entre sectores! Não só entre as linhas média e defensiva, o caso mais evidente e grave, mas também entre a primeira e segundas linhas de pressão. Recupero, sucintamente 2 ideias: 1) O Benfica defende pior em 442, do que em 4132, e isso continuará seguramente a ter consequências. 2) O problema principal não é o número de jogadores, mas a coerência de comportamentos, de sector para sector. Daí o "espaço entre sectores"...


Golo 2 - A importância da presença de Aimar, na primeira linha do pressing! Não é um pormenor, é decisivo. Sei que não é tão divertido falar disto como poetizar sobre o que os jogadores fazem, ou não, com a bola nos pés, mas, lamento, o futebol define-se em aspectos objectivos, e não em prosas criativas. Encarando Cardozo e Saviola como as alternativas em equação, não há como não pensar que a presença de Aimar na primeira linha de pressão é fundamental. Não apenas por estes exemplos mais flagrantes, mas por muitos outros, que determinam o constrangimento da saída de bola contrária. Outro plano para que havia alertado tem a ver com a importância de Cardozo, como elemento decisivo, pela capacidade goleadora que tem, e que não encontra paralelo no plantel encarnado. Cardozo deve ser potenciado, sim, e pode-se-lhe exigir muito mais, mas enquanto não houver quem garanta a sua capacidade concretizadora, é muito complicado tirá-lo. Felizmente, para o Benfica, que Jesus percebe bem o valor de ter quem "tem golo".

Golo 3 - Lançamentos laterais! Um tema recorrente nos últimos tempos, porque, de facto, têm acontecido muitos desequilíbrios a partir deste tipo de situações. Criando-se uma zona de atractividade junto à lateral, é fundamental, para quem defende, não deixar sair a bola dessa zona de controlo. Particularmente, se vier para dentro, para o espaço "entrelinhas", o preço pode ser enorme. No Twente, destaque, primeiro, para a pouca preocupação que o jogador, que divide o inicio do lance com Witsel, tem para controlar o espaço interior. Roda no sentido contrário, da linha, e isso determina que fique fora do rota da jogada, que o centro como destino. Depois, várias incongruências no comportamento da linha defensiva, que são típicas do futebol holandês, muito débil neste particular. Um central fecha dentro, o outro baixa na profundidade, sem respeitar a linha colectiva para recorrer a uma tentativa de fora de jogo que, neste caso, devia ser trivial. O lateral mais distante demasiado aberto, e, aparentemente, pouco importado com a coerência colectiva do seu posicionamento.
Outro pormenor, claro, é a qualidade de Witsel. Satisfaz-me, confesso, que se tenha confirmado o valor que previra. Finalmente, nota para Nolito. É um caso diferente, obviamente, mas, tal como Cardozo, enquanto se mostrar sustentadamente decisivo, não há como questionar a sua utilidade. Gostava de o ver testado na frente, em determinadas situações. Tenho curiosidade (e incerteza, também...) sobre a sua capacidade de resposta, desde que o analisei no Barcelona.

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4.8.11

Notas do Trabzonspor - Benfica

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1- Começo pela parte final do jogo. O Benfica tinha tudo para vencer, e realmente devia ter vencido. É grave? Talvez não. Talvez... Não é fácil de ser-se muito objectivo sobre a relevância deste pormenor, mas, há alguns indicadores que o sugerem, e eu acredito na tese de que a exigência colectiva, em termos de intensidade de jogo, pode ser crucial na criação de uma dinâmica vencedora. Nomeadamente, pela potenciação de níveis de confiança intra e inter relacionais (ou seja, confiança do jogador no seu próprio desempenho, e na sua relação com o modelo e restantes jogadores), um aspecto que várias vezes mencionei no passado. Por exemplo? O Porto 2010/11, que começou de forma pouco entusiasmante, mas que manteve sempre níveis de concentração elevados nos primeiros jogos, repetindo protagonistas base e exigindo sempre muito deles, mesmo em jogos sem grande relevância competitiva. Quando se deu por isso, estava montada uma máquina vencedora, que fez da concentração competitiva, precisamente, uma chave do seu extraordinário sucesso. E, aqui, mais do que ganhar, refiro-me a exigir concentração e intensidade competitiva. O Benfica podia não ter ganho o jogo, mas creio que é um erro de abordagem permitir-se que a equipa, ou alguns jogadores, voltem a cara ao jogo, simplesmente porque podem.

2- Aproveito a introdução para uma primeira referência individual: Gaitan. Se há jogador que merece reparo, no que respeita ao que escrevi anteriormente, é Gaitan. Falhou no golo sofrido, num mau ajustamento posicional nas costas de Maxi, mas essa não é critica que mais lhe cabe. Aliás, revelou, até, boa capacidade de trabalho defensivo ao longo do jogo. Normalmente, tem-na. O problema, como facilmente se percebe, é a atitude. Gaitan tem talento e tem, até, capacidade de trabalho defensivo que pode fazer um jogador de grande intensidade e utilidade em todos os momentos do jogo. Diz-se que pode ser um grande jogador (ainda mais), e pode. Mas não o será, nunca, pelo mero aprimorar da arte dos seus números. Isso dar-lhe-á mais prémios "jogador youtube da semana", mas nunca potenciará a capacidade para jogar em patamares de exigência mais elevados. Se o objectivo é potenciar Gaitan, há que trabalhar a sua intensidade, a sua concentração e o seu critério. Porque, a menos que me tenha escapado alguma coisa sobre este assunto, o futebol ainda não contempla notas artísticas no apuramento do resultado final.

3- Voltando ao inicio do jogo, devo dizer que, apesar do conforto sempre presente no jogo e na eliminatória, estou longe de ter achado ideal a exibição protagonizada. Começando pelo relevante detalhe da organização defensiva, o Benfica apresentou-se, sem supresa, em 4-4-2, com Aimar e Saviola a pressionar numa primeira linha, e um bloco mais baixo do que é habitual. O que se viu, porém, revelou uma organização ainda débil e vulnerável a uma circulação mais capaz que, para fortuna do Benfica, nunca existiu no Trabzonspor. Pela modéstia da posse e circulação adversária se justifica o controlo do jogo por parte do Benfica. Porque, ver jogadores a fazer movimentos de pressão activa enquanto olham, sucessivamente, para trás e gesticulam, não é um bom indício de qualidade organizativa e, sobretudo, de uma assimilação ideal de tudo o que, colectivamente, devem fazer. Há, de facto, trabalho a fazer em termos de organização colectiva, e parece-me claro que Jesus o sabe bem (também ele gesticulou muito sobre este aspecto).

4- Sobre a utilização de uma estrutura mais protegida na zona central, devo dizer que acho prudente que assim aconteça. Aliás, entendo que o Benfica não deveria fazê-lo de forma alternativa, e apenas em jogos de maior grau de dificuldade, mas que pudesse trabalhar uma estrutura em que se apresentasse em todos os jogos, variando apenas na vertente estratégica. O que se passa, é que o 4-1-3-2 actual expõe demasiado o pivot, havendo frequentemente uma grande distância para os outros elementos da linha média. Este não foi o principal (e decisivo, na minha opinião) problema do Benfica da época anterior, esse foi a segurança em posse, mas entende-se a preocupação de Jesus. O ponto que quero vincar é que a equipa ganharia em termos de consistência de processos se encontrasse uma estrutura que fosse omnipresente (mesmo que fosse o 4-1-3-2, mas com outras dinâmicas).

5- Partindo para o capítulo individual, começo por trás. Emerson e Garay foram as novidades, e ambos estiveram bem, ainda que apenas razoavelmente. Abaixo de Maxi e Luisão, por exemplo. Emerson (que já conhecia do Lille) revela-se um jogador mais forte defensivamente. Esteve bem na transição ataque-defesa e apresentou boa capacidade nos duelos e no posicionamento interior. O problema poderá ser a qualidade que dará em termos de dinâmica ofensiva. Era a ideia que tinha sobre ele no Lille, e, se se confirmar essa percepção, haverá uma grande diferença de perfil em relação a Coentrão. Quanto a Garay, compara-lo com Luisão é injusto, porque o central brasileiro foi, outra vez, fantástico defensivamente. Para mim é, de longe, o melhor central do futebol português, e, sem querer entrar em hierarquizações discutíveis, diria apenas que o imagino a jogar sem problemas em qualquer clube do mundo.

6- No meio campo, Javi e Witsel estiveram muito bem, à parte dos tais problemas de rotinas colectivas. Javi, esteve concentrado e com boa presença defensiva, não tendo sido testado no seu ponto mais débil, a segurança em posse. Witsel foi a novidade e, sem surpresa face ao que tinha antevisto, revelou-se um jogador de utilidade plena, como muito poucos jogadores conseguem ser. Não teve um papel absolutamente simétrico a Javi, revelando-se até importante face à ausência de Cardozo, já que foi várias vezes referência para as saídas longas de Artur. Foi utilizado em posições mais avançadas, tal como acontece frequentemente na Selecção, mas, pessoalmente, entendo que pode ser mais útil em zonas mais atrasadas. Isto, porque apesar da sua capacidade de envolvimento ofensivo, tem um perfil de decisão muito mais próprio da fase de construção. Veremos como continua a evoluir, mas, o que tinha projectado sobre ele parece, para já, confirmar-se na plenitude.

7- Nas alas, e já tendo abordado Gaitan, falta falar sobre Nolito. Merecerá, a meu ver, o estatuto de melhor em campo porque, mesmo não se tendo revelado tão consistente como Aimar ou Witsel, foi, claramente, o jogador mais decisivo neste jogo em concreto. Marcou o golo, viu outro ser-lhe negado e isolou Gaitan, noutra ocasião soberana. Nolito é um pouco o inverso do argentino que jogou no outro flanco do terreno. Não tem a sua habilidade, mas quando parte para uma jogada, parte com tudo, capaz de passar por cima dos adversários, se tal for preciso. Não precisa do "souplesse" de Gaitan (porque também não o conseguiria). É essa intensidade e essa agressividade ofensiva que mais o distinguem, porque, e apesar de confirmar o bom critério de decisão no último terço, não tem uma grande variedade de recursos ou movimentos. Diagonais interiores e condução agressiva com o pé direito, são as suas armas. Enquanto for decisivo, deverá manter a titularidade, mas não penso que se possa manter muito tempo nas principais preferências sem essa tal influência decisiva. Enzo Perez, por exemplo, é um jogador bem mais completo.

8- Finalmente, Aimar e Saviola. Costumam ser referidos em conjunto, e essa ligação justifica-se por motivos óbvios. Há, porém, grandes diferenças no que ambos fazem no presente. Particularmente, em termos de intensidade, bem que podiam ser de extremos opostos do planeta. Enquanto Aimar empresta uma disponibilidade e agressividade plenas em todos os momentos do jogo, Saviola parece à margem do que se está a passar em seu redor. Recepções perdidas, maus desempenhos técnicos e, sobretudo, uma passividade tremenda a nível defensivo. Jogou ao lado de Aimar, pressionou nas mesmas zonas, mas o que produziu não tem absolutamente nada a ver. Vale-lhe a sua fantástica capacidade de movimentação, tendo um invulgar instinto para aproveitar os espaços livres no último terço. Vale-lhe, mas, se continuar neste nível de intensidade, poder-lhe-á não ser suficiente para durar muito mais tempo no onze. Digo eu. Quanto a Aimar, é um grande jogador e isso não passará com a idade, mas apenas quando perder rendimento, o que ainda não aconteceu. Pessoalmente, parece-me que se justificaria uma adaptação mais especifica a zonas mais ofensivas. Porque Aimar, e ao contrário do que escrevi sobre Witsel, é um jogador de fase criativa e não tanto de construção, e porque a sua reactividade pode dotar a primeira linha de pressão de um rendimento que Cardozo e Saviola não garantem. Por outro lado, se maior especificidade implicasse maior doseamento de esforço, talvez pudesse durar mais do que os actuais 60 minutos que Jesus lhe dá. É que restringir uma mais valia a 2/3 do jogo é uma perda significativa...
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31.5.11

Análise Barcelona - Man Utd (II): A estratégia de Ferguson

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Ao recordar a sua primeira vitória europeia ao serviço do United, em 1991 e precisamente sobre o Barcelona de Cruyff, Ferguson não hesita em apontar a importância dos detalhes tácticos. Em particular, da neutralização do papel de Koeman, que normalmente integrava, vindo de trás, as acções ofensivas da equipa, criando uma situação de superioridade no meio campo. Aliás, Ferguson sempre reconheceu a importância destes "jogos tácticos", e frequentemente se usou deles para ganhar vantagem sobre a concorrência interna. Por exemplo, pelo uso de falsos avançados (McClair, Cantona), que baixavam e criavam situações de superioridade no corredor central, dentro de uma realidade britânica onde o 4-4-2 clássico era confundido com uma regra do jogo.

Ora, Ferguson abordou esta final como sempre fez. Verificou a influência de Piqué na construção, e anulou-o com a atenção especial de Hernandez. Constatou a superioridade que o apoio recuado de Busquets poderia criar, e, qual McClair em 1991, baixou Rooney para sua zona. Na sua cabeça, estava anulada a superioridade em construção e a batalha do meio campo reduzida a um 2x2 de Xavi e Iniesta vs Carrick e Giggs. Mas Ferguson foi mais longe. Colocou os alas em posições mais interiores, reconhecendo a qualidade e dinâmica do jogo blaugrana no corredor central e, ainda, deu liberdade a um dos seus centrais para sair bem longe da sua zona e pressionar os movimentos interiores de Messi. O jogo táctico de Ferguson estava montado, mas o seu efeito estava longe de estar bem calculado...

Há vários problemas na aplicação prática das intenções de Ferguson:

1- Primeiro, e mais grave, a presunção de que dinâmica deste Barcelona é igual, ou sequer comparável, com outras equipas (como o Barça de Cruyff, por exemplo).

2- Os papeis de Hernandez e Rooney foram, de facto, suficientes para limitar significativamente a acção de Piqué e Busquets, que tiveram uma influência muito mais reduzida do que é hábito. Mas, foram também uma forma de desfocalizar atenções naquelas que são as zonas essenciais. A dinâmica do Barça foi mais do que suficiente para contornar as "ausências" de Busquets, utilizando Mascherano e Abidal, por exemplo.

3- O papel interior dos alas, foi permanentemente contrariado pelas acções dos laterais, especialmente Alves, que surgiu sempre como ameaça à direita, forçando o ala a abrir.

4- Toda a estratégia foi alicerçada em equilíbrios individuais e não na redução de zonas de jogo. Por exemplo, a profundidade da linha defensiva foi contra producente para que se conseguisse parar o meio campo do Barça, nomeadamente pelo espaço que ofereceu a quem aí pretendia receber a bola.

5- Houve dificuldades óbvias na interpretação da missão por parte de alguns jogadores. Rooney é um caso claro, pela falta de intensidade que teve em vários momentos ("perdeu" Busquets demasiadas e decisivas vezes), mas igualmente Giggs teve vários problemas, quer na primeira parte na zona central, quer na segunda, quando Ferguson o trocou com Park e o colocou na esquerda.

6- O condicionamento de Messi nunca foi feito no momento da recepção, como deveria ter acontecido, mas sempre após esse instante.

7- O corolário de tudo isto foi que a construção baixa do Barça ficou realmente condicionada, mas o seu condicionamento teve como implicação maior liberdade para o trio mais importante de anular no jogo do Barça: Xavi-Iniesta-Messi. Este foi o efeito secundário que Ferguson não antecipou.
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30.5.11

Análise Barcelona - Man Utd (I): Estatística e opinião

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1- Na antevisão, havia confessado a minha dificuldade em antecipar qual a solução de Ferguson para conseguir conciliar 1)a necessidade de manter o jogo longe da sua área e 2) a sua aversão a correr riscos no posicionamento da última linha. A resposta não foi a que esperava, mas, devo dizer, foi ao encontro das minhas piores expectativas. A estratégia de Ferguson para o condicionamento da posse do Barça foi, a meu ver, e com larga distância, o factor que mais condicionou as possibilidades do United.

2- Voltarei ao tema com imagens, mas, para já, digo apenas que, apesar de Piqué e Busquets serem elementos importantes na construção blaugrana, estão longe de poder ser considerados "prioritários", face a outras unidades. Creio que a origem do pensamento de Ferguson e tentarei enquadrar a solução com um episódio passado, mas, para já, fica apenas a opinião de que ao tentar "prender" Piqué e Busquets, Ferguson deu também mais liberdade ao trio Xavi, Iniesta e Messi, e complicou ainda mais as possibilidades da sua equipa controlar o espaço entre linhas. O aproveitamento que o Barcelona fez desse espaço - de onde resultou a maioria das suas ocasiões, note-se - foi, e repito a opinião, o que mais desequilibrou a balança do jogo.


3- Para além do descontrolo no espaço entre linhas, o United denotou também grande incapacidade em provocar o erro e, como consequência, aproveitar o momento de transição para ser perigoso. É curioso, aliás, verificar que o United teve até uma quantidade razoável de posse de bola, com boa percentagem de sequência em posse e sem grandes problemas em termos de perdas de risco. Não são dados que se esperem frente ao Barcelona, mas esta constatação serve também para verificar como estes indicadores podem ser absolutamente irrelevantes num jogo de futebol. E são-no porque, por si só, não garantem, nem controlo defensivo, nem capacidade de desequilíbrio ofensiva. Em suma, o United comprometeu todas as suas possibilidades por aquilo que aconteceu no seu momento de organização defensiva.

4- Não é a primeira vez que o escrevo, mas parece-me que o Barça de hoje é o mais difícil de neutralizar. Mesmo, considerando a qualidade que Eto'o lhe trazia antes do erro que foi a sua troca por Ibrahimovic. E tudo tem a ver com o papel de Messi. A sua posição como falso avançado cria um dilema táctico, até agora sem resolução: nenhuma equipa arrisca perder presença na última linha defensiva, mas, ao manter essa prioridade, os adversários do Barça estão também a tornar impossível garantir superioridade nas zonas mais interiores, onde o Barcelona é mais forte. O ideal seria poder jogar com 12!

5- Volto, de novo ao tema dos 4 duelos com o Real Madrid. Não há paralelo possível entre aquilo que fez Mourinho nos primeiros 3 jogos - onde dividiu por completo as possibilidades de vitória - e aquilo que o United fez nesta final. A diferença, basicamente, está na noção de quais os espaços que são importantes condicionar. Mas há uma coincidência entre ambos os casos: depois da derrota, os dois treinadores serão acusados de terem sido demasiado "defensivos". O ponto, e outra vez, é que ninguém escolhe "atacar" ou "defender". Ataca-se quando se consegue e, para o conseguir, é preciso ser-se bom a defender. Essa foi a diferença entre Real e United: ambos jogaram "pouco" (até menos o Real) mas, ao contrário de Ferguson, Mourinho foi capaz de colocar a sua equipa a jogar "pouco", mas "bem". E, se o objectivo do futebol ainda é marcar mais e sofrer menos, então... é só isso que é preciso.

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28.5.11

Mais um título para o Super Barcelona (breves)

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- Os primeiros minutos ainda deram outra ideia: muita vontade do United de pressionar alto e retirar proveitos das recuperações que pudesse na zona de construção do adversário. Sem pressa, no seu ritmo, porém, o Barça foi-se impondo, acabando depressa por revelar o problema que abordara na antevisão. Ou seja, pressionar alto sem subir a linha defensiva, mais do que provavelmente, iria implicar a abertura espaços no bloco defensivo. Um regalo para o futebol de Xavi, Iniesta e Messi, que mais não parecem procurar do que os espaços entre linhas. Apenas o golo do empate adiou o inevitável, e a segunda parte foi de domínio avassalador. Domínio e descontrolo do United, é preciso notar. O Barça parou no 3-1, quando quis.

- O triunfo blaugrana faz justiça ao futebol que a equipa pratica. Não se pode querer ficar na História sem vitórias, mas, com elas, este Barça terá certamente um lugar bem vincado na memória de todos. Quanto tempo durará? Têm a palavra, parece-me, dois homens: Guardiola e Mourinho. Guardiola, porque quando decidir abandonar Camp Nou, nada garante que não teremos um retrocesso ao tempo de Rijkaard. Mourinho, porque, goste-se ou não, é o único que consegue tornar incerta uma série de duelos com esta fenomenal equipa. Guardiola perdeu três títulos, dois pelas mãos de Mourinho e, como hoje se viu, o que fez o Real não está ao alcance de qualquer um...

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27.5.11

Final da Champions: O derradeiro(?) desafio de Ferguson

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É curiosa a relação de Alex Ferguson com Barcelona. Não foram muitos os duelos - aliás, foram estranhamente poucos nos últimos anos, dada a performance europeia dos dois emblemas - nem, tão pouco, o treinador escocês se pode gabar de não ter passado por dissabores (as dores de cabeça que Romário deu em 1994!). Mas, sem dúvida, poucas palavras terão suscitado tão boas memórias como "Barcelona", durante muito tempo. Foi frente aos catalães que Ferguson conquistou o seu primeiro troféu europeu pelo United (1991), e foi em Camp Nau que ganhou a sensacional final de 1999. Mas "Barcelona" deve, hoje, soar de forma diferente nos ouvidos de Ferguson...

Tudo parecia correr de feição em 2008. Antes de vencer o Chelsea em Moscovo, teve de se deparar com o Barcelona de Xavi, Messi e Henry. Era uma equipa difícil de conter pela qualidade e capacidade que tinha para se impor pela posse, mas Ferguson passou bem pelo teste. Controlou sempre o adversário, quer em Camp Nau, quer em Manchester, manteve, sem grande surpresa, as suas redes invioláveis e esperou pelo momento certo para capitalizar um erro que o adversário haveria de cometer em posse. Foi Scholes, em Manchester, mas até já podia ter sido Ronaldo em Barcelona. O que ficou, para lá do bilhete para a final, foi a sensação de que o Barcelona, sendo difícil, estava longe de ser insuperável ou, sequer, merecedor de figurar entre os desafios mais complicados da carreira do escocês.


Um ano mais tarde, porém, tudo mudou. Em Maio de 2009, já ninguém se surpreendia com o poderio do novo Barça de Guardiola. Porém, uma coisa é ver, outra coisa será sentir. Poderia ser tão diferente, de um ano para o outro, e sem grandes novidades no elenco, aquela equipa que havia sido tão seguramente controlada apenas 1 ano antes? A resposta dada pela final de Roma foi um gigantesco "sim". O Barcelona não ganhou apenas a final, mas dominou-a por completo. O United começou por não conseguir defender, e, quando tentou reagir tacticamente, não só se viu neutralizado ofensivamente, como exposto na rectaguarda. A boa notícia para Ferguson, no final desse embate, foi que aquele Barcelona seria apenas um problema hipotético no futuro. Pois bem, dois anos volvidos, ele aí está de novo...

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Ter bola ou atacar, não é uma mera questão de vontade. É preciso conseguir fazê-lo e isso, frente ao Barcelona, será para além de difícil. Ou seja, e voltando a discordar por completo de algumas teorias avançadas aquando dos duelos entre Barça e Real, não há outra alternativa, para quem quer vencer o Barça, se não começar a pensar a estratégia pelo que se vai fazer sem bola. Afinal, é sem bola que se vai passar a maior parte do tempo, quer se queira, ou não.

Não é a primeira vez que o escrevo e, como continuo a acreditar na ideia, volto a repeti-la. É fundamental - senão decisivo - ter a capacidade para manter a posse do Barça longe da sua área. Se o Barça for capaz de ter bola junto da área contrária, torna-se uma tarefa hérculea sobreviver a 90 minutos de jogo. Não só pela qualidade que tem nas suas soluções e movimentações no último terço, mas, talvez até mais, por aquilo que o Barça faz depois de perder a bola. A sua reacção, sendo no meio campo contrário, é de tal forma forte que normalmente o momento de transição do adversário se torna numa ameaça maior para o próprio (pelo o instinto de "abrir" posições), do que para o Barcelona. Foi assim, por exemplo, no "massacre" frente ao Arsenal.

Um dos grandes problemas de Ferguson para este duelo pode ter a ver com a sua pouca propensão para subir a linha defensiva. Ou seja, se quiser defender alto e não arriscar na exposição que oferece nas costas, abrirá a zona entre linhas, onde cada palmo de terreno é capitalizado por Messi, Xavi e Iniesta. Se, por outro lado, se quiser manter compacto, poderá ter de fazê-lo em zonas demasiado baixas, submetendo-se à situação que especifiquei anteriormente.

O que vai fazer Ferguson? Honestamente, não sei, nem tão pouco desejo adivinhar. Mas há duas notas que quero deixar no final desta antevisão:

1) Não há treinador no mundo, e provavelmente na História do jogo, que mereça mais crédito do que Ferguson. Nascer na Escócia no inicio dos anos 40 e ser hoje um treinador no topo da pirâmide do futebol europeu é um feito absolutamente impensável. Para chegar onde chegou, Ferguson teve de se "dobrar" muitas vezes. Teve de superar o problema interno do United, ainda nos anos 80. Teve de superar a cratera filosófica e qualitativa que se abriu entre o "kick 'n rush" britânico e o "Continenental football", nos anos 90. Teve de superar a ascensão do meteórico Chelsea de Mourinho, ou mesmo o "fancy football" de Wenger, na primeira década deste milénio. Todos estes foram desafios dados antecipadamente como perdidos, que todos perderam, mas que ele venceu. Ele e só ele. Ninguém é eterno, nem infalível, mas há que ter respeito por quem, ao longo destes anos, foi sempre capaz de ter a humildade e inteligência para não ficar preso a dogmas, reconhecer as suas limitações e, assim, superá-las. Como a História testemunha... é perigoso substimá-lo.

2) O Barcelona é, a meu ver, amplamente favorito. A verdade, porém, é que o futebol não se compadece com quem facilita. Não há lugar a notas artísticas ou a aplausos antecipados. Ganha-se apenas no final dos jogos e a vitória mede-se por critérios absolutamente objectivos. O principal trabalho de Guardiola, agora e no futuro, passa pela sua capacidade de gerir a "temperatura" motivacional dos seus jogadores, porque não basta ser-se bom e ter-se um grande modelo, é preciso interpretá-lo nos limites, outra e outra vez. Guardiola tem-no feito muito bem e é pouco provável que o problema surja agora, mas é também bom de lembrar que a natureza humana aponta precisamente para que a percepção de sucesso redunde em facilitismo na etapa imediatamente seguinte. Ou seja, esta é uma ameaça está e estará sempre presente...

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4.5.11

Barça na final, no encerramento dos duelos (Breves)

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- Importa, primeiro, realçar a justiça da qualificação do Barcelona. Não que o Real Madrid não o pudesse ter merecido também. Bastaria, por exemplo, que tivesse repetido o rendimento da final da Taça do Rei. O ponto principal do ajuste deste apuramento para a final (e, antecipo, provável vitória), está na qualidade do futebol do Barça, que é - e seria sempre, fosse qual fosse o desfecho da eliminatória, incomparável a toda a concorrência. Estamos a falar, a meu ver inquestionavelmente, da melhor equipa da História do jogo. O mérito de Mourinho e do seu Real Madrid, foi (é, e continuará a ser) levantar a dúvida se isso seria suficiente para ganhar. Estamos perante o mérito da excelência e o mérito da capacidade de superação. Qual deles o mais valioso? É uma discussão possível, mas que me parece ter pouco relevo.

- Termina, para além da eliminatória, uma fantástica série de quatro jogos entre os dois maiores colossos do futebol mundial. O saldo, apesar de empatado em termos de resultados jogo-a-jogo, é favorável ao Barcelona, sobretudo pela importância maior da Champions sobre a Taça do Rei. Voltarei com mais análises a este jogo e balanços desta série de confrontos, mas posso avançar com uma pequena opinião sobre este jogo: apesar de ter terminado com um empate, este foi, sem dúvida, o jogo mais controlado e confortável para o Barcelona. Pela folga no resultado, sem dúvida, mas também porque o Real, e ao contrário do que foi por muitos defendido, trocou o cérebro e a inteligência organizacional estratégica, pelo impulso e pela correria. Mais suor, menos organização, e tudo mais fácil para o Barça. Obviamente.

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28.4.11

R.Madrid - Barcelona: Estatística e algumas notas

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1- Como já referira ontem, este foi, na minha opinião, o pior dos três duelos já disputados entre as equipas. O pior, de parte a parte. Do lado do Barcelona, justifica-se a perda de qualidade pelas ausências de Iniesta e Adriano (ou mesmo Maxwell). Esse, aliás, era um ponto a explorar pelo Real Madrid, que não pode ter nas baixas de Khedira e Carvalho explicação suficiente para o jogo menos conseguido em relação aos anteriores. Particularmente, a primeira parte. Como constatação fundamental fica a convergência do jogo em que o Barcelona menos erros cometeu (ou foi forçado a cometer) em posse, e aquele onde o Real menos perigo criou. Sublinho "convergência", para que não se confunda com "coincidência".

2- Começando por essa "nuance", das ausências de Iniesta e Adriano, e num detalhe que gostaria de aprofundar com imagens (mas não sei se haverá oportunidade), creio que Mourinho terá perdido uma oportunidade de ouro para condicionar, melhor e de outra forma, a posse do Barça. Sobretudo, a presença de Puyol à esquerda, e tendo em conta a qualidade dos restantes pontos de saída de bola, devia ter sido explorada, possivelmente libertando o lateral e forçando deliberadamente que a bola entrasse por esse corredor. A ausência de Iniesta era o complemento ideal, porque Keita não é, nem de perto, uma solução tão ameaçadora como o habitual camisola 8. Nada disto foi feito, porém. Puyol foi aquele que menos jogou dos elementos de construção, e teve uma actuação isenta de erros comprometedores, com uma % de sequência em posse próxima dos 90%. Keita, por seu lado, teve cerca de metade da influência em posse de Iniesta na primeira partida, mas sem que isso representasse um problema de segurança em posse para o Barcelona.


3- Na análise ao último jogo, trouxe aqui a importância do aprisionamento dos laterais aos corredores para o sucesso da posse do Barça. Pois bem, Guardiola terá reparado também nisso e, desta vez, abriu claramente Pedro e Villa, impedindo Arbeloa e Marcelo de auxiliar os médios em zonas mais interiores. Este pormenor é importantíssimo para o desconforto do Real no pressing do primeiro tempo. Sobretudo à esquerda, Ozil revelou-se pouco agressivo e útil (também já tinha escrito sobre esta condicionante na utilização criativo alemão), e Lass andou perdido entre a decisão de pressionar a zona de Busquets ou manter a posição na zona de Keita. O resultado foi um notório desconforto do Real no pressing, e um número muito menor de erros em posse do Barcelona. Uma das soluções poderia passar por aproximar mais claramente um dos centrais no espaço entre linhas, ou, como expliquei, "desprezar" deliberadamente a protecção zonal a Puyol.

4- Estes duelos ficam marcados, em termos tácticos, pela adaptação defensiva de Mourinho à fantástica capacidade de posse e circulação do Barça. O que é igualmente importante notar, é que a adaptação faz-se também em relação à capacidade defensiva do Barça. Ou seja, o Real, quando tem a bola, não joga da mesma forma que faz durante toda a época. Tenta soluções mais directas, e os seus jogadores sentem-se muito pouco confiantes com a bola nos pés, como que aterrorizados com a possibilidade da perda. Pode (e deve, a meu ver) discutir-se até que ponto é justificado tamanho respeito, mas o ponto nesta altura mais importante a relevar (e não me canso de o repetir) é que a "revolução Guardiola" dá-se muito pela qualidade transversal que o treinador introduziu na equipa, e que anteriormente não existia. Isto é, o Barcelona não é a melhor equipa do mundo apenas pela sua capacidade em posse, ou pela genialidade de Messi. É, também (e na minha opinião), a equipa que melhor defende no mundo.

5- Importante notar que, apesar da justiça inequívoca da vitória, pouco indiciava que esta fosse tão fácil para o Barça como acabou por acontecer. Ou seja, até à expulsão o jogo distinguiu-se sobretudo pela ausência de oportunidades, tendo havido apenas uma para o Barça, em 60 minutos. Aliás, o Real teve o seu melhor momento precisamente no primeiro quarto de hora do segundo tempo, com a entrada de Adebayor a produzir notórios efeitos, seja pela maior agressividade do togolês, seja pelo acréscimo de clarividência colectiva do Real com essa alteração. Ninguém sabe o que daria o jogo em igualdade numérica, mas sabe-se que, e ao contrário do que acontecera no jogo para o campeonato, foi apenas perante a situação de superioridade numérica que o Barcelona acabou por justificar verdadeiramente o triunfo.

6- Em termos individuais, quero acrescentar algumas notas. Para Piqué, porque quando se fala do "melhor central do mundo", não se pode nunca deixá-lo de fora. Para Pepe, porque a sua utilização à frente do "pivot" voltou a não ser tão produtiva como havia sido no primeiro jogo, onde jogou como elemento mais recuado do meio campo. Para Ronaldo, que tendo feito o jogo mais desinspirado da série, deu um exemplo de entrega, sendo o jogador que mais intercepções conseguiu na sua equipa (notável, para um avançado!), e apenas superado por Piqué, no jogo. Para Messi, que não teve, a meu ver, uma exibição tão boa como noutros jogos, mas que acabou por emergir nos momentos certos, ficando na "fotografia" uma exibição histórica. Para Afellay, sobre quem escrevi algum tempo antes de se transferir para a Catalunha. A sua versatilidade e qualidade permite-lhe jogar em várias posições, mas continuo a pensar que é em zonas de construção que está o seu potencial.

7- Duas notas sobre as peripécias destes duelos (e não só, já agora). Primeiro, para realçar que, ao contrário do que em certos momentos se quis fazer passar, não há equipas mais "nobres" do que outras. Ou, pelo menos, não a este nível. O jogo teatral e de pressão sobre os árbitros em contexto de jogo (e estou a referir-me apenas aos jogadores), é uma "arte" de especialidade latina, mas que acontece em todos os lados e em todos os desportos. O motivo resume-se ao simples facto de os jogadores quererem ganhar e estarem dispostos a fazer tudo o que está ao seu alcance para tal. O ponto deste meu comentário, é que o Barcelona, tal como qualquer equipa, joga essencialmente para ganhar. A sua realização/frustração depende do resultado e não de outras métricas. Não perceber isso, é não perceber boa parte da natureza e mentalidade desta fantástica equipa. Segunda nota, para referir que se adeptos e público não se revêem nos jogos de simulações e pressões sucessivas dos jogadores, então devem censurar quem define as regras do jogo, muito mais do que os jogadores. Os jogadores, como qualquer um de nós, só querem o melhor para eles. E o melhor para eles, hipocrisias à parte, resume-se numa simples palavra: ganhar.

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"Superclásico III", a vez do Barça (breves)

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- É uma semana sobrecarregada pelo "portuguesismo" das meias finais da Liga Europa, mas, ainda assim, tentarei voltar a este jogo mais do que 1 vez. O interesse enriquece-se pela sequência de duelos e pelas "nuances" que vamos observando de um para outro, e este foi mais um que trouxe novos elementos em relação ao jogo anterior. Desta vez, foi o Barcelona a levar a melhor, naquele terá sido o jogo menos conseguido, de parte a parte, nesta sequência. Mais motivos para estar decepcionado consigo próprio tem o Real Madrid, que tinha, nas ausências de Iniesta e Adriano, uma oportunidade para fazer melhor. Acabou por funcionar ao contrário, e, com alguma falta de lógica, foi quando mais condições tinha para ser bem sucedido, que o Real sucumbiu à maior força do adversário. É pena, porque este era precisamente o único embate desta série que poderia "estragar" o interesse do seguinte. Sobre os detalhes, como disse, escreverei mais tarde. Para já, fica apenas a nota de que Messi terá, mais do que provavelmente, garantido mais uma bola de ouro na sua carreira, com esta exibição.

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