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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

IRONIA DE UM POVO ATENTO



Um povo que não deixa de usar a ironia, está atento e acordado. O Governo deve ter isso em atenção e evitar a «indignação» ou a «zanga», que pode ser demasiado onerosa para pessoas inocentes.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

ALERTA PARA RISCO E «EXPERIÊNCIAS POLÍTICAS» PERIGOSAS


Transcrição de artigo seguida de NOTA:

Cervejarias
Correio da Manhã. 25-10-2013. 01h00. Por: João Pereira Coutinho, Colunista

O governo é ‘um bando de delinquentes’, disse Soares. Que também desejava julgar Cavaco pelas ‘roubalheiras’ do BPN. Helena Roseta, na SIC, pediu julgamento para Passos Coelho por atentados contra a Constituição.


Sócrates, em entrevista ao ‘Expresso’, considera Santana Lopes um ‘bandalho’. Catroga, em resposta, quer prender Sócrates por ter levado o país à falência. É provável que, no momento em que esta coluna for publicada, alguém já tenha pedido o fuzilamento de alguém. Estejam à vontade.

O problema é que, historicamente, esta espécie de retórica selvagem sempre antecedeu experiências políticas de igual calibre. A falência de um regime pode começar pela economia. Mas ela torna-se irreversível quando discursos de ódio, mais próprios das cervejarias de Munique nos anos 20, se convertem no único programa ideológico.

Cuidado, povo: nas cervejarias não nascem messias.


NOTA:

O autor quis referir-se ao episódio conhecido como "Putsch da Cervejaria", ou "Golpe da Baviera", de 9 de novembro de 1923, quando Adolf Hitler, ainda um agitador obscuro, desafiou a polícia de Munique na frente de três mil pessoas e em companhia do prestigioso general Erich Ludendorff, considerado pelos alemães um herói na I Guerra.

Além das palavras de Mário Soares e de Helena Roseta, podem ser referidas muitas outras como as da deputada Isabel Moreira que definiu Cavaco Silva como «nada, zero, inútil, traidor, autocentrado, calculista, contraditório,» e as do bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas que disse com o que tem acontecido em Portugal "era para ter uma guerra civil em cima"

Estes repetidos alertas para o risco de «experiências políticas» perigosas devem ser tomados em atenção pelos responsáveis pelo País, a fim de esvaziar os motivos que a elas podem conduzir. Nada acontece por acaso nem surge de repente, pois o bom observador detecta, com antecedência, variados sinais prenunciadores.

As referências a julgamentos devem ser aproveitadas pelo Governo por forma a que a Justiça deixe de ser pressionada ou obstaculizada perante infracções dos políticos. Sócrates (referido por Eduardo Catroga), como muitos outros, têm publicamente sido suspeitos de abusos do Poder e do dinheiro público que deviam ser rigorosamente analisados pela Justiça. Mas parece que esta respeita a sua «interpretação» da imunidade e da impunidade dos políticos.

Mas atenção aos alertas!!!

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domingo, 15 de setembro de 2013

O CAUDAL FLUVIAL ESTÁ A ENGROSSAR


Não é necessário pesquisar muito para detectar os sinais de que o caudal fluvial está a avolumar-se e é urgente que os homens do Poder passem a raciocinar de forma mais democrática, isto é, pensando mais nas pessoas e na equidade do que nas suas regalias oligárquicas, mais nas realidades sociais do que nos números, mais na solidariedade do que na obstinação do «quero, posso e mando».

Os avisos vêm de dentro do principal partido da coligação como se infere das notícias
Cortes nas reformas são um teste para outros cortes, diz Ferreira Leite e
Marques Mendes defende cortes a juízes e políticos.

Mas, além destes avisos de confrades dos governantes, surge na notícia Vasco Lourenço inconformado com "país sequestrado pelo medo" um sinal que merece ainda mais atenção, por poder representar uma força crescente e irreversível que convinha atenuar de forma inteligente, retirando-lhe as razões da sua motivação, isto é, aliviando o mal-estar que está a indignar a população.

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sexta-feira, 1 de março de 2013

Gaspar o irónico



Gaspar tem uma acentuada propensão para brincar com coisas sérias como se estivesse num palco de comédia em que os espectadores estivessem sintonizados com a sua ironia, Mas, actualmente, a sua plateia está cheia de cidadãos descontentes, indignados, a quem têm sido exigidos sacrifícios não previamente calculados e que se tem verificado ser inúteis.

A sua anedota mais recente pode traduzir-se em duas pequenas frases: Aguentem porque somos «um povo de marinheiros capaz de superar as piores tormentas» e agora já estamos a «perspetivar a saída da crise e olhar de frente o futuro».

Enfim, mais frases bonitas sem conteúdo, sem nada de concreto, que evidenciam ironia de mau gosto por pessoa sem respeito pelo povo que sofre e precisa de factos geradores de confiança e de esperança. Como pode falar de futuro, se o presente não foi por ele devidamente previsto e preparado. Se o futuro estiver para o presente na mesma proporção como este está para o passado, ele será um abismo ou um inferno inimaginável.

E ele teve vários alertas, várias situações em que reconheceu os seus erros de previsão e se surpreendeu com os resultados das decisões imponderadas que tomou. Por exemplo, uma corrida rápida aos arquivos mostra em 17-02-2012 a notícia Há 885 novos desempregados por dia. Poucos dias depois, em 04-03-2012, disse com a sua notória criatividade que A história garante que venceremos a crise, mas hoje, passado um ano, verifica-se que essa fada milagrosa não merece mais confiança do que os nossos governantes. E a via dolorosa do nosso ministro continuou e, menos de dois meses depois, em 27-04-2012, mostrou-se preocupado com desemprego que ele não conseguiu prever nem evitar. E entretanto, a austeridade cumpriu o seu dever que muitos técnicos e pensadores perspicazes tinham previsto que era a redução do poder de compra com a paragem da economia, encerramento de empresas, desemprego, e menor volume da colheita fiscal o que levou a que em 20-06-2012 surgisse a notícia Défice orçamental ficou acima do de 2011 no primeiro trimestre

Depois houve o corte do subsídio de férias e de Natal, contra o que surgiram atitudes populares de indignação e em 10-07-2012 veio a notícia de que Governo procura alternativas ao corte dos subsídios que gerem “consenso”. As incapacidades geram confusão com os menores problemas e estes não eram muito simples. Da teimosia em insistir na austeridade, cada vez mais 
agravada, no estilo custe o que custar, doa a quem doer, ou quero posso e mando, o desemprego tem sido o aspecto mais preocupante pelas consequências que acarreta, e em 10-08-2012 surgiu a notícia Desemprego de licenciados sobe 49,5%.

E o percurso tem prosseguido a caminho de um buraco sem hipóteses de regresso, com as palavras «animadoras» citadas no início soframos tudo com cara alegre pois temos a tradição de marinheiros que aguentavam todas as tormentas até ao naufrágio definitivo.

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Verdade e competência ou o quê?


Encontramo-nos numa situação muito crítica em que os eleitos têm que se concentrar, com todas as suas capacidades, na vida dos portugueses. Governar é isso. Mas agora a sensibilidade da situação exige que se mexa nos problemas com pinças, que se olhe para os problemas quase simultaneamente com microscópio e com binóculos, para dar atenção aos mínimos pormenores, sem perder de vista os objectivos distantes com todos os factores internos e externos.

Para isso, os partidos devem deixar de se entreter e desperdiçar energias com tricas entre si, e devem unir esforços para bem de Portugal, para encontrar a melhor solução, a melhor estrutura do Poder e da administração pública, a todos os níveis, etc. Nisso é interessante ver que o Ministro da Defesa desafia secretário-geral do PS a debater reforma do Estado e que Seguro desafia Passos Coelho para debater alternativa para o país, pois será bom que todos colaborem na preparação da Reforma do Estado que deve ser efectuada para durar algumas décadas sem necessidade de recuos e avanços que desnorteiam os cidadãos e os leva a desprezarem os políticos e cantarem a Grândola. Oxalá estes desafios não sejam apenas jogos florais como as guerras do alecrim e da manjerona.

O país está em crise e não suporta mais erros. É preciso que surjam, sem demora, decisões globais e sectoriais, progressivas, bem estudadas, com a colaboração de pessoas capazes, idóneas, isentas e conhecedoras dos problemas do pais (dos portugueses). A situação tem piorado imparavelmente como mostram os seguintes artigos:

- Gaspar reconhece que desemprego será ainda maior
- António Borges: Falta de equidade leva a sentimentos de revolta
- António Borges critica desigualdades na repartição dos sacrifícios
- Desemprego dispara, défice derrapa, dívida cresce e crescimento encolhe
- Marcelo: "Persistir na atual solução é suicida"
- Marcelo Rebelo de Sousa diz que vai ser mais difícil ao governo ganhar as eleições em 2015
- "Zigue-zague" de Gaspar "retira confiança à política"
- Seguro faz duras críticas às políticas de austeridade do Governo

Mas apesar deste quadro nada calmante, surgem notícias que mostram a persistência no voluntarismo, na teimosia obsessiva, na crença de que ideias são realidades que resolvem problemas sem que «haja acção eficaz, que mostram desprezo pela realidade e desconhecimento dos maus resultados das medidas tomadas nos 20 meses que empobreceram a população não abastada, criaram desemprego, paralisaram a economia, encerraram empresas, etc. Essas notícias centram-se na seguinte: Passos Coelho: País está na direcção certa.

Homem honesto não diria uma coisa que não é suportada por qualquer indicador da realidade, não condiz com os textos atrás referidos. Homem inteligente teria mais cuidado em captar a confiança das pessoas de forma mais aceitável. Se a direcção está certa quando se verificam os dados referidos no título desta notícia, tem que se concluir que o objectivo para que ela conduz será o mais profundo abismo de onde não há regresso. Ora, não creio que Passos queira, conscientemente, levar os portugueses para um suicídio colectivo, logo será absolutamente necessário dar umas guinadas no volante e mudar de direcção para evitar o buraco. Gerir é como conduzir um carro, não se pode fixar o volante e cruzar os braços, pois é preciso corrigir a direcção a cada instante.

Por outro lado, se durante 20 meses temos vindo a sofrer crescentes sacrifícios sem que se tenha obtido qualquer melhoria, qualquer resultado positivo e compensador, não podemos esperar que a mesma equipa consiga inverter os resultados, pois a receita está a ser a continuação do uso do mesmo tóxico, maas agora em dose reforçada. Isso não cura dos efeitos negativos do tratamento anterior com dose mais ligeira. Só pode agravar.

Também não parece sensato desprezar os sinais que chegam do descontentamento, da indignação popular, como se vê pelo título da notícia Passos defende que protestos "não são representativos da sociedade portuguesa”. Será que os responsáveis esperam por um milagre? Ou será que em vez de serem cumprimentados pelo som de uma canção popular passem a ser por outro som diferente e de efeitos mais dolorosos? Estamos numa encruzilhada difícil que exige competência nas decisões e verdade na informação dirigida aos cidadãos. E devem ser tomados em consideração, nas devidas proporções, todos os sinais dele advindos.

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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Grândola para mais governantes


Depois de Passos Coelho, Miguel Relvas, Paulo Macedo, Paula Teixeira da Cruz, Vítor Gaspar, foram contemplados com o som da canção «Grândola Vila Morena, o ministro Álvaro Pereira e os secretários de Estado Franquelim Alves e Sérgio Monteiro.

Os portugueses estão a tomar gosto por esta música, e os governantes devem rever o seu estilo com que tratam os assuntos que afectam os cidadãos, porque o que custa é começar e, depois, pode aumentar o risco de o som vir a ser diferente. E, nestas coisas, mais vale prevenir, porque, às vezes, já não é possível remediar…

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quinta-feira, 22 de março de 2012

Greve como forma de protestar ???

Em dia de greve-geral, o jornal PÚBLICO convidou oito intelectuais a responder á pergunta Que razões encontra em Portugal para protestar?. Transcrevem-se as respostas que, no seu conjunto, apresentam uma análise muito completa da situação, embora não tivesse sido focado de forma clara o lado negativo relacionado com os incómodos criados aos utilizadores dos serviços públicos, inocentes da crise e vítimas da austeridade, nem os eventuais efeitos positivos da greve, se é que dela resultou algum passo para vencer a crise.

1. José Morgado, Professor e investigador do Instituto Superior de Psicologia Aplicada

"Acho [a pergunta] uma provocação. Há imensas razões para protestar, há imensas razões de descontentamento. Há pessoas a passar por grandes dificuldades. Somos um país muito assimétrico. As medidas de austeridade têm contribuído para aumentar essa assimetria, essa desigualdade. Não há equilíbrio na distribuição de sacrifícios. Essa é uma boa razão de descontentamento. Talvez isto sirva para repensar o modo como pensámos o desenvolvimento, a qualidade de vida, a economia."

2. Jardim Moreira, Presidente da Rede Europeia Anti-pobreza

"Estamos na curva da nossa história económica, politica, cultural, religiosa. As incertezas acumulam-se em vários lados e cruzam-se muitas vezes sem coerência e sem objectivos comuns. Neste contexto, o ser humano é menosprezado. As pessoas revoltam-se contra esta situação, que é injusta, que oprime o ser humano. As pessoas querem viver “em liberdade”. A única forma que têm de exteriorizar o seu descontentamento é através do protesto, que pode assumir várias formas."

3. Jaime Nogueira Pinto, Professor do ISCSP

"Não me parece que num tempo em que de facto não há nada para ninguém faça muito sentido uma greve geral”, afirma, ao PÚBLICO, Jaime Nogueira Pinto. O professor de Ciência Política do ISCP salienta, contudo, que “compreendo a dificuldade da vida dos trabalhadores, e já agora também da classe média, mas no ponto em que as coisas estão só demagogicamente se podem esperar ou prometer melhorias a partir de processos de pressão ou violência social".

"A greve, para além de perturbar a estabilidade de todos e testar a capacidade de mobilização da nova direcção da Inter não vai trazer nada de novo”, prossegue Nogueira Pinto. “Dito isto, quero sublinhar que o direito à indignação é um direito importante e que muitos portugueses o devem sentir e manifestar", considera. "Passamos as últimas décadas a destruir as bases morais e materiais da Nação e da economia nacional, parte por estupidez parte por manifesto dolo e vantagem de alguns que o fizeram", conclui o professor.

4. Elísio Estanque, Professor de Sociologia do Trabalho

"Estou um pouco apreensivo quanto ao impacto e aos efeitos que a greve geral possa vir a ter”, afirma, ao PÚBLICO, Elísio Esta2nque, professor de Sociologia do Trabalho da Faculdade de Economia de Coimbra. “As pessoas estão muito atordoadas devido às dificuldades do dia-a-dia, o salário é contado até ao último cêntimo, pelo que abdicar de um dia de salário é muito significativo”, assegura.

Este especialista, também investigador do Centro de Estudos Sociais, considera que “hoje o patronato tem mais poder pelo que os trabalhadores vivem a ansiedade do desemprego, do encerramento da empresa ou da mera retaliação”. “As pessoas estão descontentes, nota-se uma certa crispação, mas tudo pode ser neutralizado pela eficácia da greve geral”, admite. “Tenho a sensação de que a convocatória foi precipitada, talvez pela necessidade de afirmação da corrente maioritária na CGTP”, observa Elísio Estanque.

Um resultado menos bom do protesto sindical pode ter efeitos perversos. “Mesmo que a greve geral não tenha um grande impacto, as suas consequências podem levar ao pessimismo, a retomar o protesto sob outra forma, pois o movimento do 12 de Março de 2011 não está resolvido”, adverte. Outra consequência, “será um enclausuramento do sindicalismo que pode dar um novo alento ao discurso liberal”, alerta o investigador.

5. António Pires de Lima, Presidente da Unicer, Presidente do Conselho Nacional do CDS

"Mais do que razões, as pessoas protestam por emoções e isso é muito respeitável. Estamos a viver momento delicado, em que há muitas pessoas a perderem o trabalho e a viverem momentos de incerteza. Este clima, que é do ponto de vista económico recessivo, afecta as pessoas, fá-las viver com medo, deprimidas. E, por isso, é respeitável que protestem, mesmo sabendo que infelizmente não existe outro caminho, no curto prazo, que não proceder, ao nível da economia e das empresas, aos ajustamentos que estamos todos a fazer."

6. Inês Pedrosa, Escritora e directora da Casa Fernando Pessoa

"Que razões? Todas. Não gostavam do PEC IV, gostam mais do PEC VIII? Agora as pessoas estão a perceber que não gostam. A situação do país é grave e não se está a resolver. Os sacrifícios estão a cair sobre os já sacrificados. Sinto que as prioridades não foram bem definidas e que a sufocação da economia só amplia a crise. A política actual é de puro corte, sem ver que alguns cortes significam a morte de certas áreas e o desfazer do trabalho de anos. Isso será visível a breve trecho na educação e na ciência, áreas onde o governo anterior investiu bastante, na melhoria do sistema de ensino e no desenvolvimento científico. A desculpa da falta de dinheiro é isso mesmo: uma desculpa. As negociações podiam ser diferentes. As contas estão a ser mal feitas e baseadas no puro economicismo, que se tem mostrado ele próprio incompetente. A massa fiscal aumentou e o défice não diminuiu.

Temos um sindicalismo fraco. Esta greve é capaz de ser forte, mas só porque a CGTP tem uma presença marcante no sector dos transportes. Enquanto não houver unidade e entendimento entre as centrais sindicais e enquanto o povo não perceber que a união faz força, os sindicatos vão continuar a ter muito pouca força. Penso que as greves deviam ser conjuntas das duas centrais, não separadas. Essas não me mobilizam.

Quem faz greve perde um dia de trabalho e há muita gente que não pode fazê-lo sob pena de não ter o que comer ao fim do mês. Eu trabalho a recibos verdes e não vou fazer greve. Mas penso que há definitivamente razões para o protesto."

7. Viriato Soromenho Marques, Catedrático de Filosofia da Universidade de Lisboa e especialista em alterações climáticas

"Não faltam razões para protestar, o problema reside sempre em saber quais são as formas mais adequadas e eficazes de protesto. Estamos a assistir a uma espécie de "deslocamento de placas tectónicas" na sociedade contemporânea, e em particular na Europa, com imensas consequências nos planos social, económico, político e até moral.

Vivemos uma crise financeira e económica, que tem também raízes ambientais, alimentando-se ainda no facto de o projecto de construção europeia estar atingido por uma espécie de paralisia e recuo, precisamente na altura em que seria vital o seu aprofundamento e revitalização políticos num sentido claro, que deveria ser o do federalismo europeu.

A crise europeia é uma crise sistémica. Exige respostas estruturais, que impliquem uma óptica europeia, instrumentos de governação europeia, instituições europeias, uma legitimidade política fundada num verdadeiro consentimento dos povos europeus. Precisamente o contrário daquilo a que temos assistido. Medidas avulsas e de recorte nacional, condenadas ao fracasso.

O movimento sindical, as organizações não-governamentais, as associações de cidadãos, as redes sociais, mas também os partidos políticos têm de procurar formas de coordenação europeia das suas acções de protesto, bem como das suas propostas de alternativa. A questão da criação de um espaço público europeu, de uma esfera de participação e cidadania europeias, é hoje uma questão de vida ou de morte não só para o projecto europeu, mas para a possibilidade de democracias avançadas e robustas no Velho Continente."

8. Carlos Trindade, Dirigente da CGTP

"Há um sentimento geral de que estamos a empobrecer e a regredir. Este empobrecimento e este recuo reflecte-se nos salários, na redução dos transportes públicos ou no aumento das taxas moderadoras.

Simultaneamente, as pessoas sentem que todo este processo é pautado por uma grande injustiça e que há uma casta que fica de fora destes sacrifícios. Estas são razões mais do que suficientes para as pessoas protestarem e o ambiente está a tornar-se larvar: foi o recente apedrejamento dos autocarros da Carris ou os trabalhadores dos impostos que falam de agressões."

Imagem do PÚBLICO

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Alerta para risco de «indignação» violenta

Para evitar surpresas desagradáveis, o Governo não deve deixar de estar atento aos diversos sinais de descontentamento e indignação que, embora possam, distraidamente, ser considerados insignificantes por a população ser tradicionalmente pacífica e ordeira, poderão, no entanto, ser um fermento de algo grave que possa estar para acontecer.

Não deve ser desprezada a notícia PSP regista forte aumento de posse ou tráfico de armas em Janeiro em relação ao mesmo mês do ano transacto.

A solução do «mais vale prevenir do que remediar» não deve assentar exclusivamente em rusgas e buscas policiais aos locais de mais prováveis existência de armas ilegais, porque o resultado de tais acções não será totalmente satisfatório, nem de efeito dissuasor duradouro. A melhor acção preventiva consistirá em agir sobre as causas e a motivação dos descontentamentos e da indignação. Será aconselhável um contacto mais íntimo com as várias camadas sociais, a explicação das medidas de austeridade que devem ser equitativas e proporcionais às potencialidades económicas dos cidadãos, a rigorosa gestão do dinheiro público, o combate à corrupção, aos abusos e às fugas ao fisco. Dessa forma, aqueles que estão gravemente atingidos pela austeridade poderão atenuar as suas razões de queixa.

Mas tem que haver cuidado, evitando as explicações falsas ou incompletas como as do PR em 20 do corrente que, em vez de serenarem, deitaram mais lenha na fogueira. A crise está a obrigar o povo a pensar e já não é muito fácil enganá-lo com palavras bonitas mas sem apoio visível de factos concretos.

Imagem do JN

sábado, 15 de agosto de 2009

Variação de um notável profissional 051219

(Publicada no Expresso em 19 de Dezembro de 2005, p. 8)

Há poucos anos, um notável «político profissional» disse, segundo os jornais, que em democracia o povo tem direito à indignação. Pareceu-me uma frase pouco correcta porque a indignação, sendo um sentimento como o amor ou o ódio, a alegria ou a tristeza, não carece de outorga, não deve ser contemplada como um direito. Talvez fosse mais ajustado dizer que em democracia o povo tem direito a expressar a indignação. Esta expressão pode ir das simples críticas e comentários, às manifestações de rua e às greves. Porém, as críticas válidas não devem limitar-se a evidenciar discordância mas devem conter uma sugestão ou uma pista de reflexão com vista a melhorar aquilo que não parece perfeito.

Sem dúvida que a indignação tem como objecto aqueles que ocupam cargos públicos com missão de zelar pelos legítimos interesses dos cidadãos, na saúde, na habitação, na segurança, no ensino, etc. Os titulares de cargos governativos e autárquicos e os que desempenham serviços públicos não podem considerar-se acima das críticas e imunes ao «julgamento» dos eleitores, dos contribuintes.

Perante isto, é com espanto que se vê o notável atrás referido vir agora apelar a que se não critiquem os políticos. Mas porquê esta viragem? Porque se defende tal imunidade? De facto, se os políticos em vez de se perderem em questiúnculas inter-partidárias, se preocupassem a fundo com a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, não seriam alvo de crítica. Por outro lado, os seus privilégios e imunidades já são chocantes. Por exemplo, a própria justiça usa para os políticos uma medida diferente da aplicada à generalidade dos cidadãos. Como exemplo, pode referir-se o caso de um político, em pleno dia de eleições autárquicas, à porta da assembleia de voto, ter apelado ao voto no candidato seu filho, por duas vezes, com intervalo de quatro anos, e apesar de se tratar de dois crimes puníveis com prisão, nada consta acerca de qualquer eventual condenação que tenha sido aplicada.

É imperioso que as pessoas assumam que, em democracia, o povo tem direito a criticar tudo aquilo que considere mal e passível de ser melhorado, inclusive os políticos, principalmente os que exercem cargos do Poder legislativo, executivo ou judicial, porque esses prestaram juramento quanto à forma de exercer as funções que lhes são confiadas. Como em democracia o povo é soberano, não se lhe pode retirar o direito de manifestar o seu descontentamento e cabe aos órgãos do Poder usar de seriedade e transparência e prestarem esclarecimentos de todos os seus actos, no mínimo, com a intenção pedagógica tendente a suscitar a participação consciente e o apoio implícito e de livre vontade de todos os cidadãos.