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terça-feira, 5 de maio de 2015

o dia do descanso

O domingo era o dia! O dia passado na igreja. Escola dominical pelas 11h, escola dominical e culto na missão da Zona J às 15:30 e 17h, respetivamente e culto na igreja mãe às 19:30. Foi assim durante toda a minha infância. A maioria das vezes almoçava em casa de alguma jovem da igreja. Era uma penetra nata. A minha família estava ali. Eram os irmãos da igreja. Era para eles que fazia prendas e postais no Natal. Era com eles que desejava passar os meus aniversários. Na adolescência comia na igreja com os amigos. Seguiam-se os ensaios para o culto da noite ou para alguma data especial. na segunda feira, na escola, a professora já sabia como tinha sido o meu fim de semana. Não tinha havido praia, mas eu não me importava nada.
Ao domingo, não se trabalhava em minha casa, era dia de descanso. A máquina de lavar não se ouvia, o ferro e a televisão não eram ligados, o fogão repousava e a loiça lava-se no dia seguinte. Hábitos que trouxe comigo, que tentamos praticar cá em casa.
Quando era pequena, em Inglaterra, reparava ainda assim, no modo como as famílias em geral viviam o domingo, o dia do Senhor. O descanso era palavra cumprida. Mas não um descanso qualquer. Um descanso em Deus. Havia alegria genuína em estar na casa de Deus, em se reunirem à volta de uma mesa a tomar chá e a falar das coisas de Deus, em trocar ideias doutrinárias nos sofás da biblioteca da missão, em ouvir a Palavra, em cantar hinos a uma só voz. Uma alegria palpável, que quase podia segurar com as minhas mãos.
Cresci sabendo que não há melhor dia da semana do que o domingo. Um dia que tiramos para dedicar Àquele que o criou. Já pensámos bem nisto? Um dia inteirinho para nos focarmos no Senhor, sem outras distrações, com a bênção de o fazermos em conjunto com irmãos na fé? Ah...puro gozo! E tantas vezes caímos na loucura de o negligenciar, de o trocarmos por coisas que trazem alegria  superficial e passageira.
Quero aprender a guardar cada vez melhor este dia. Quero desligar-me daquilo que ainda preciso desligar e repousar o meu coração nos céus. É bom saber que o mundo continua, mesmo quando nós paramos. Desejo guardar o dia que Deus destinou para guardarmos desde a criação. Quero que seja um dia que promova a santidade da minha família, levando-nos para mais perto do Criador. Não almejo um descanso qualquer. Quero descansar nEle! Continuo a aprender.
 





O sermão acerca do dia do descanso, aqui.

segunda-feira, 2 de março de 2015

coisas que ficam.

Encontrar uma caixa. Abri-la. Encontrar o dominó da minha infância.
Ainda consigo sentir as peças nas minhas mãos sem nelas pegar. E por momentos volto ao chão da sala da casa dos meus pais.
Há tardes com cheiro a ontem.

sexta-feira, 28 de março de 2014

férias de verão


Dei por mim a pensar nas férias de Verão da minha infância, ao ler este livro.
A escola chega ao fim. 3 meses inteirinhos pela frente! O entusiasmo quase não cabe dentro do peito e os gelados da Olá estão novamente à venda, com um novo cartaz e novidades. [ó não! já não há o corneto de café?!]
Para além das habituais três semanas de acampamento no ABS, altura mais ansiada do ano, ficava por vezes mais uma semana na Farinha Branca, com a minha avó Guida. Comer figos com pão debaixo da enorme figueira, almoçar sardinha ou carapau, tomar banho num alguidar vermelho gigante, lavar roupa no tanque, ir buscar água ao poço do tio António, garantir que mantinha o devido afastamento da burra que já tinha atirado gente ao chão, dormir a sesta e ouvir histórias de outros tempos. Eram algumas das coisas que preenchiam os nossos dias. Na minha mente estão vivas as imagens da minha avó com o seu chapéu de palha largo a caiar a casa e as noites em que me garantia que o barulho que eu ouvia não eram ratos. O seu olhar e sorriso, os mais doces que alguma vez vi.
O restante tempo de férias era passado em casa, pois o meu pai tinha o hábito de não tirar férias. Na verdade nunca me importei com a situação, tinha uma praceta de amigos à minha espera. Respirar fundo e mergulhar nas aventuras dos dias quentes. Acordar cedo e olhar para a então inércia saborosa dos dias largos, sem nada para fazer. Aliás, coisas para fazer não nos faltavam e mesmo o não fazer nada era para nós o estar a fazer alguma coisa. Jogar à bola, tomar banhos de mangueira, conversar nos bancos verdes, ouvir rádio, gravar cassetes, ensaiar teatros de histórias inventadas, ir à biblioteca, alugar VHS no clube de vídeo do bairro, acabar com as bolachas existentes no armário, descer a rua de bicicleta ao final da tarde, jogar às escondidas à noite. Regressar a casa derreada quando as forças se acabavam para no dia seguinte começar tudo de novo como de uma novidade se tratasse. Havia a segurança e a bravura de descobrirmos o mundo, juntos, sob o olhar dos vizinhos que nos guardavam com carinho. Era um mundo dentro de outro maior e a imaginação de criança bastava para nos levar além dele, sem dele sairmos.