Já se passaram dois dias sobre o que muitos consideram um vexame: a não qualificação de Fernando Alonso para as 500 Milhas de Indianápolis de 2019 através da McLaren. Já houve consequêcias: Rob Fernley foi demitido do seu lugar e todos admitem que confiar na Carlin para fazer a preparação foi um erro grave, pois esta equipa tinha pouca preparação em ovais, em vez de confiar, por exemplo, na Ed Carpenter Racing.
Contudo, esta segunda-feira, surgiu um artigo da agência de noticias Associated Press, assinado por Jenna Fryer, onde se fala naquilo que muitos já indicam como uma "comédia de erros", admitidos por Zak Brown. E se confiar na Carlin é uma coisa, outra é, por exemplo, procurar por um volante adequado no dia do teste no Texas, que só foi conseguido depois de o próprio Brown ter pedido um à Cosworth.
E os problemas da Carlin não foram só esses. Quando assinaram o contrato, iriam cuidar de três carros: os deles, de Max Chilton e de Charlie Kimball, e o McLaren. Contudo, quando a Harding faliu, ficaram com o carro do mexicano Pato O'Ward, fazendo com que a operação inchasse e ainda sobraria tempo para o carro da McLaren. A Carlin é pequena demais para tanto carro e cedo ficou sem tempo para cuidar do carro laranja. Zak Brown lamenta agora que deveria ter seguido com mais atenção.
"Estava claro que a Carlin não era capaz de cuidar de três carros e ainda mais o nosso", começou por admitir. "Eu deveria ter ficado mais próximo da IndyCar, mas não poderia nunca comprometer a Formula 1. No primeiro teste, quando chegamos um pouco atrasados para acompanhar, foi ali que perdemos a qualificação. Não despertamos na hora certa, poderíamos ter nos recuperado depois daquele primeiro teste. Fico zangado comigo mesmo por não ter seguido meu instinto e acompanhado isso de mais perto", prosseguiu.
Mas outro erro, um pouco ridículo, teve a ver com a cor do carro reserva. Veio em laranja, mas não... no "papaya orange", o que fez com que fosse pintado de novo. E pior: ficou na pintura por um mês, e ainda lá estava, em fila de espera, quando Alonso bateu no muro na quinta-feira. E com os condicionantes relacionados com o tempo fizeram com que perdessem dois dias, que teriam sido preciosos.
E na pista, os outros defeitos vieram à superfície: falta de velocidade de ponta, alguns problemas mecânicos e a batida na quinta-feira que fez perder dois dias preciosos. E durante esses dois dias que cometeram novo erro, esse... um pouco mais compreensível, pois são de fora. Na quinta-feira, depois da batida, Zak Brown e Gil de Ferran correram pelas boxes de Indianápolis procurando por peças novas para meter no carro de Alonso, e iriam também colocar acertos novos no carro para ver se tinham uma melhor velocidade para evitar o "Bump Day". Mas depois descobriram que o acerto era errado... porque eles fizeram nas medidas métricas, em vez as imperiais.
"Nós tínhamos um carro para 229 milhas por hora (368,5 km/hora), mas estávamos a 227.5 milhas por hora (366,1 quilómetros por hora), quase conseguimos mesmo assim. A gente estava muito ansioso, existia um quê de heroísmo na tentativa que fizemos. Não quero que as pessoas achem que nós somos um bando de idiotas na McLaren, temos estrelas por aqui. Sinto na obrigação [de explicar o que sucedeu] aos fãs e patrocinadores. Não cumprimos o prometido e precisamos mais do que pedidos de desculpas. Isto vai ter repercussão negativa e queremos aprender com isso. Espero que as pessoas gostem do nosso esforço, somos corredores, Fernando é uma estrela e não vamos fugir. Queremos voltar.", prometeu Brown no final da entrevista.
Assim sendo, esta comédia de erros teve consequências: McLaren e Alonso verão as 500 Milhas do próximo domingo na televisão ou na pista, como toda a gente. Não poderemos dizer que foi só a arrogância, mas também a imensa negligência que esta aventura foi encarada, e ficaram com ideias erradas depois de terem corrido em 2017 com uma equipa bem apetrechada como é a Andretti Racing. A IndyCar não é a Formula 1, este é um mundo à parte e não é qualquer ovni que aterre aqui, ainda por cima numa prova como são as 500 Milhas e vai logo para a pole-position ou para o Fast Nine. Aliás, a diferença entre o topo e o fundo deveria dizer muito: um erro e acabas de fora. E foi o que aconteceu.
Esperemos que aprendam a lição. A Juncos, pequenissima equipa que há dois anos estava na Indy Lights, esforçou-se bastante para colocar Kyla Kaiser na 33ª e última posição, fazendo uma média quase meio quilómetro mais veloz que o piloto espanhol. E falamos de uma equipa que, poucas semanas antes desta prova, tinha ficado sem os seus patrocinadores principais. O que fizeram ofi um feito e tanto.
A McLaren voltará, não se sabe se em 2020 ou mais tarde, mas de certeza que voltará, disposta a dar o seu melhor, e Alonso quererá alcançar a "Tripla Coroa" do automobilismo. Tem uma reputação a defender.