Vejamos com atenção os dados da figura seguinte, que consta da mais recente newsletter da Marktest e relativa aos "Protagonistas da informação na Tv em Outubro" último:
Como analisar esta informação? Com que critérios? Pela diversidade político-social dos protagonistas? Pelo equilíbrio entre Governo e Oposição? Pelos motivos que levaram estas personalidades a serem objeto de notícia? Pelas singularidades de alguns casos no ranking?
Aparentemente está tudo dentro de uma certa lógica: o Primeiro Ministro em primeiro e o líder da Oposição em segundo; o ministro das Finanças logo em terceiro; equilíbrio entre protagonistas da área do Governo e da Oposição, com cinco para cada lado. Ao mesmo tempo, pode ser uma surpresa (apenas relativa) o destaque do coordenador do Bloco de Esquerda; o principal partido da oposição com apenas o seu secretário-geral no ranking dos dez (versus a área comunista com três e o CDS com dois); o aparente apagamento do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, além de líder dos centristas, etc. Tudo isto pode ser objeto de reflexão. Mas talvez se possa ir mais longe.
Numa análise mais aprofundada, não será de questionar, por exemplo, aspetos como estes:
- Que critérios editoriais, ideológicos, políticos ou mercantis levam as TVs a dar destaque a estas figuras e não a outras?
- Qual o protagonismo das mulheres na nossa sociedade? Porque será que nem uma aperece neste ranking?
- Como explicar o eclipse do Presidente da República?
- Por que razão há apenas uma individualidade que representa organizações não partidárias / governamentais?
- Que instituições / pessoas poderiam e eventualmente deveriam figurar neste tipo de rankings, supondo que têm algum valor?
- Que valores ou critérios estão implícitos em rankings que contabilizam apenas o tempo e número de notícias e não os conteúdos e os motivos/contextos das notícias em que essas figuras intervieram?
- Que vantagens e riscos encerra o olhar contido neste tipo de rankings?
- Que outros critérios poderiam ser utilizados para analisar as coberturas noticiosas das televisões e dos media?
Os media constroem a realidade, a sua realidade. Cabe-nos a nós um papel de atenção crítica e vigilante para não ficarmos condicionados pelo mundo retratado por eles. Para isso só detetando as suas apostas, as suas lógicas e preocupações, os seus enviesamentos.