Os portugueses estão habituados a verem-se classificados, normalmente, entre os primeiros, nos rankings das coisas más. De vez em quando, uma ou outra notícia contraria esta nossa tendência crónica para cair no charco.
Este fim-de-semana fomos agradavelmente surpreendidos pelas notícias do “Expresso” que colocam o BPI em primeiro lugar, o Millennium em terceiro lugar e o Totta em quarto lugar, num ranking decorrente de um estudo da empresa britânica Lafferty, que conclui que “as agências bancárias portuguesas são as melhores da Europa”. O BES e a Caixa Geral de Depósitos (11º. e 12º. lugares, respectivamente) também se salientam no grupo de 75 bancos europeus analisados.
“Surpreendentemente”, acrescenta o Expresso, “a banca espanhola e a italiana é arrasada neste estudo.”
Ainda segundo o Expresso, no início da tarde de 6 de Julho, Horta Osório convocou uma conferência de imprensa para anunciar que fora escolhido para presidir ao Abbey Bank, o sexto maior banco inglês, do grupo Santander, o que “como é óbvio, fez a Europa abrir a boca de espanto”.
Evidentemente que isto são ninharias, quando comparado com a briosa actuação da equipa nacional no Campeonato do Mundo e o admirável quarto lugar obtido, após duas derrotas seguidas. Tivesse o treinador sido o Presidente do BPI, a táctica teria sido diferente e Portugal, talvez, tivesse arrebatado o primeiro lugar.
As notícias que "nos" colocam nos lugares cimeiros em matéria de atendimento bancário e liderança da banca, e põem a Europa, quiçá o Mundo, de boca aberta, só pecam por não surpreender. Já todos estamos habituados ao “Millennium” como “case study”, ao estonteante crescimento do Banco Português de Negócios, ao perfume cultural do dinheiro do Banco Privado, ao imparável nacional-futebolismo da expansão orgânica do BES, à apetência que o BPI suscita, à produtividade de um mastodonte chamado Caixa. Sem pretender desmerecer o génio que Horta Osório é, a verdade que nos exalta e nos assusta é que, ao lado dele, ombreiam, pelo menos, mais dez gigantes, todos portugueses.
Não sei se o relatório apreciou apenas a qualidade dos balcões ou se também os contou. Porque, como se sabe, temos muitos e bons: temos praças em Lisboa com um balcão bancário em cada esquina. E, às vezes, dois, ou mais.
Ninguém tem mais ATMs que nós. Zurique, ao pé de Lisboa, quanto a ATMs, é Barrancos em ponto grande.
E, “last but not least”, nenhuma outra banca ganha à banca portuguesa em rentabilidade.
Quem levantou a questão da legalidade da inclusão dos logótipos do BES e do Expresso no estandarte nacional ignorava, indesculpavelmente, por um lado, a honrosa participação do primeiro no décimo primeiro lugar do ranking, e por outro, o casamento, após arrufo, do BES com o Expresso, que os tornou inseparáveis para sempre. Se alguma coisa há a contestar é a isolada presença do BES na bandeira verde rubra. Por maioria de razão deveria lá estar o BPI, o Totta, a Caixa, e todos os restantes, que fazem deste Portugal pequeno um Portugal maior em cada agência bancária.
Uma questão, mesquinha, sobra de tudo isto: Como é que pode, e até quando, uma vaca escanzelada desfazer-se em tanto leite?