Mostrando postagens com marcador Livros. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Livros. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 24 de julho de 2012

A vida íntima das papinhas (parte 4)

Ou "o que aprendi com Dr. Carlos González"

As mamães mais antenadas devem conhecer o Dr. Carlos González, pediatra espanhol, autor de alguns livros sobre cuidados na primeira infância e fundador do centro de aleitamento materno lá na Cataluña. Ele é bastante conhecido por ir contra a corrente da modernidade (tanto que o subtítulo de um de seus livros mais conhecidos, "Besame Mucho", diz assim: "um livro que ensina a cuidar dos filhos como antes") quando o assunto é criar filhos - ou seja, em linhas gerais, ele defende a amamentação em livre demanda e prolongada, dar muito colo e carinho, dormir na mesma cama com os bebês, ter disponibilidade emocional e de tempo para a educação - e, por isso mesmo, é um tanto polêmico. Há quem defenda e goste muito e há quem discorde.

Eu particularmente gostei muito de tudo o que li, especialmente o livro "Mi niño no me come" (ainda não foi traduzido para o português, mas há uma comunidade no Facebook que traduz trechos), em que ele trata justamente da introdução de alimentos complementares e de eventuais problemas que ocorrem nessa fase pré-desmame. Sem querer fazer um resumo do livro, vou comentar apenas algumas coisas que me chamaram a atenção.

A primeira delas é que o Dr. González atribui todos os chamados "problemas" de alimentação a um desequilibrio entre a realidade do bebê (seu apetite, vontade, paciência, paladar) e a expectativa da mãe. Sim, porque toda mãe que diz que a criança "não come nada" está exagerando, caso contrário o rebento morreria de fome, não é? O fato é que as crianças comem mesmo (e devem comer) menos do que esperamos, especialmente na fase entre um e dois anos, quando começam a crescer menos rapidamente do que no primeiro ano de vida.

O que me leva ao segundo ponto, que para mim é fundamental, que é o respeito ao bebê (e posteriomente à criança). "Confie no seu filho, ele sabe do que precisa", diz o pediatra. Ele sabe muito bem mostrar se está ou não com fome, se gostou ou não do almoço. Afinal, todo bebê aprende muito rápido a fechar a boca e virar o rosto, mesmo quando coloca qualquer porcaria na boca. Cabe a nós ter paciência para ouvir e respeitar. Nós não ficaríamos muito chateados se alguém (a quem amamos muito) de repente teimasse em nos forçar a comer o que não queremos quando não estamos com fome?

Ele então propõe um exercício para as mães que acreditam que seus filhos não comem (mas que serve para todas): nada de forçar a comida, enganar, dar de comer na frente da televisão, usar comida como moeda de troca (castigo ou recompensa), comparar, subornar, usar estimulantes de apetite (que, pasmem, alguns pediatras até recomendam). Dr. González defende o que os americanos chamam de "baby-led weaning", algo como "desmame à cargo do bebê", ou seja, que o próprio bebê escolha o que, quando e quanto comer.

É preciso saber que essa filosofia, para um bebê que ainda não sabe sequer levar comida à boca, vai significar muita bagunça, comida espalhada por todo lado, alguns (vários) momentos de frustração quando ele não quiser comer nada e dúvida, muita dúvida. Mas também há momentos enriquecedores quando você vê que seu filho começa a participar da mesa e curtir de verdade as refeições em família. Nós vivemos para comer, e não o contrário.


Aos dez meses, Marcel adora segurar a comida com as próprias mãos - seja pedaços de pão, banana, macarrão, grãos de feijão ou floretes de brócolis - e levar sozinho à boca (às vezes com ajuda da mamãe, sempre de colher em punho)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Panquecas para um domingo preguiçoso


Acordei no domingo com vontade de comer panquecas, daquelas que estamos acostumados a ver nos filmes e desenhos animados americanos. Só de pensar na imagem daquela pilha de panquecas quentinhas e fofinhas eu já podia sentir o gosto - o que me pareceu estranho, muito estranho aliás, já que eu nunca havia feito nem comido as tais panquecas antes. Quem mandou ver tanto filme? Já estou imaginando coisas.


Recorri ao Mark Bittman e seu How to cook everything vegetarian para a receita que segue abaixo. Ele dá ainda dezenas de dicas de como variar as panquecas e torna-las um pouco mais nutritivas, mas eu estava atrás da receita tradicional mesmo. Tenho a impressão de que a nossa farinha é um pouco mais densa que a norte-americana, portanto procurei fazer as panquecas bem finas para que não ficassem muito massudas.

Embora sejam em si um pouco adocicadas, as panquecas precisam ser ajudadas com alguma coisa doce - uns derretem manteiga por cima, outros geléia de fruta, mas o mais tradicional é o xarope de bordo (maple syrup). Eu aproveitei uma lata que ainda tinha do Canadá e achei uma delícia. É um tipo de café da manhã para se fazer nos dias de preguiça e aproveitar com calma, de preferência de pijamas, sem pressa e sem culpa.



Massa de panquecas
(Receita do livro "How to cook everything vegetarian", de Mark Bittman)

- 2 xícaras de farinha de trigo
- 2 col. de chá de fermento químico
- uma pitada de sal
- 1 col. de sopa de açúcar (opcional)
- 2 ovos
- 1 e 1/2 a 2 xícaras de leite
- 2 col. de sopa de manteiga derretida (opcional)

Enquanto faz a massa, esquente uma frigideira em fogo médio (quanto maior for a superfície da frigideira, mais panquecas você fará ao mesmo tempo) e ligue o forno também em temperatura média.

Misture todos os ingredientes secos numa vasilha funda. Em outra vasilha, coloque o leite, a manteiga (se for usar) e quebre os dois ovos. Bata bem até misturar tudo e coloque essa mistura na vasilha com os ingredientes secos.

Misture bem, mas não precisa ser demais - se ficarem ainda alguns carocinhos, não tem problema. A massa deve ficar grossa mas ainda maleável, se ficar grossa demais coloque um pouco mais de leite (*a minha ficou na consistência ideal).

Usando uma concha, coloque um pouco da massa na frigideira quente, fazendo círculos do tamanho que desejar. Se a frigideira for anti-aderente não precisa usar manteiga ou óleo (*eu usei um pouco de manteiga). Quando começarem a aparecer bolhas na superfície da massa, vire-as com a ajuda de uma espátula e deixe dourar do outro lado. Este processo não leva mais de três minutos.

A quantidade de massa é suficiente para quatro pessoas. Se for fazer mais ou demorar um pouco para servir, coloque as panquecas prontas numa assadeira e deixe no forno morno para que não esfriem. Sirva quente com manteiga derretida, geléia ou xarope.

--> Dica do Bittman 1: Se quiser fazer apenas algumas panquecas de cada vez, você pode fazer a massa e deixar na geladeira durante dois ou três dias.

--> Dica do Bittman 2: Você também pode deixar todos os ingredientes secos já pré-misturados na sua despensa, e juntar apenas os ovos, leite e manteiga quando quiser panquecas fresquinhas.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Flor + livros

domingo, 1 de novembro de 2009

Presentão


Quando o carteiro bateu à porta hoje de tarde, eu já tinha me esquecido que o Eduardo Luz havia dito que mandaria um presentinho após o menu chinês do Inter Blogs, como ele sempre faz muito gentilmente. Fiquei pensando que se tratava de alguma correspondência da universidade com mais alguma das muitas pendengas que tenho que resolver até ter o diploma.

Qual não foi então a minha surpresa ao receber um pacote com um livro, um CD com as fotos to jantar, um bilhetinho carinhoso e, espere... o que tem nestes saquinhos? temperos! O livro sobre cozinha peruana - vindo direto de lá, o que o faz ainda mais especial - não podia ter sido mais apropriado para a ocasião, já que a cozinha de lá é bastante influenciada pela China.

Obrigada, Eduardo, por este presentão! Mal posso esperar para mergulhar em mais um novo universo gastronômico.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Lançamento do Pequeno livro de cozinha


Ontem foi o lançamento em Salvador do Pequeno Livro de Cozinha - guia para toda hora, das Rainhas do Lar Kátia e Faby. Eu sempre fui fã de carteirinha dessas duas, sabia que um dia elas iriam publicar um livro (o próximo passo tem que ser um programa de TV, né meninas?) e fiquei muito orgulhosa pelo sucesso merecido. Foi ótimo rever Katita depois de anos e conhecer a Faby pessoalmente.


E o filhinho delas é um arraso: pequeno e fofinho, mas carregado de informações que ninguém pode perder. Principalmente aqueles que estão começando na cozinha e precisam de informações básicas - mas não menos importantes - sobre a compra, limpeza e estoque dos alimentos, utensílios e outras dicas que dão praticidade na cozinha e receitas para constar no repertório do dia-a-dia.

Parabéns, meninas!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sobre começos e fins

A esta altura todos já devem estar sabendo que a Gourmet vai sair do mercado - novembro será a última edição da revista, publicada desde 1941. A crise foi o grande fator por trás desta radical decisão da editora Condé Nast, que também publica a Bon Appétit (esta sim, será poupada, já que grande parte de suas páginas são publicidades).

Eu já publiquei aqui dezenas de receitas reproduzidas da Gourmet, que para mim sempre foi a revista mais séria e bonita do mercado. Se eu já estava sentindo falta dela aqui no Brasil, onde só chega importada, agora então... Quem acompanha o twitter da editora Ruch Reichl sabe também que pelo menos o site da Gourmet será mantido e expandido com conteúdo interativo e curiosidades sobre edições passadas.

Mas nem tudo são notícias ruins no mundo das edições culinárias. Passando por uma banca em São Paulo me deparei com o primeiro número de uma revista novíssima da editora Globo, chamada Casa e Comida, focada principalmente em receber bem. A revista conta com a celebrada chef Carla Pernambuco entre as colunistas e tem um projeto editorial bem interessante.


Ainda não testei nenhuma das receitas propostas, mas fiquei com vontade de fazê-lo o mais rápido possível, tão bonitas são as fotos. Espero que o mercado editorial brasileiro seja mais gentil do que o americano, e que a Casa e Comida tenha uma vida longa o suficiente para se estabelecer.

sábado, 15 de novembro de 2008

Conhecendo uma musa


Que sorte maior para uma auto-proclamada "foodie" do que passar, sem querer e numa cidade desconhecida, numa das lojas mais chiques, antigas e lindas de coisas para cozinha? Só se esta mesma loja estiver oferecendo, naquele mesmo dia, uma tarde de autógrafos do mais novo livro de uma de suas musas culinárias!


A loja em questão é a Williams & Sonoma, que além de vender acessórios para cozinha e ingredientes de altíssima qualidade ainda é editora de livros de culinária. E a musa em questão é Ina Garten, mais conhecida por seu programa na Food Network chamado The Barefoot Contessa.


Fiquei surpresa ao ver que a fila para pegar um autógrafo do livro mais novo de Ina, chamado Back to Basics, estava dobrando a fila no quarteirão comercial e ultra-movimentado de San Francisco. Na fila havia muitas madames trocando receitas para o thanksgiving, e eu fiquei de orelhas atentas pois provavelmente vou cozinhar o meu primeiro peru de Ação de Graças este ano.


Só não fiquei surpresa ao ver que os funcionários da loja estavam passando com bandejas prateadas servindo biscoitos, bebidas e água para o pessoal da fila. Tudo muito fino. Lá dentro, a fila ainda subia escadas que levavam ao terceiro andar, onde, depois de uma hora e meia de espera, finalmente ficávamos frente a frente com a "contessa".


Ela simplesmente assinou seu nome e disse "aproveite o livro!". Só isso. Pensei que ela fosse perguntar meu nome (já estava até ensaiando como soletrá-lo) e fazer uma dedicatória engraçadinha, mas não. Mas quem sou eu para reclamar? Não esperava nada e saí dali com um livro autografado de uma das poucas celebrity-chefs para quem eu enfrentaria uma fila dessas.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Hollywood cocktails

Confesso que comprei o livro mais por causa das fotos - takes lindíssimos dos filmes dos anos 50 que eu adoro - do que dos drinks. Mas, por outro lado, o que seriam dos clássicos do cinema norte-americano sem a famosa hora do cocktail? Pense bem: quase todo filme daquela época tem pelo menos uma cena em que alguém beberica, prepara ou fala sobre alguma bebida, com mais naturalidade e menos frescura do que hoje em dia.

O livro "Hollywood Cocktails", de Tobias Steed, é recheado de fotos em preto e branco de filmes inesquecíveis e receitas para drinks igualmente classudos - dry martini, rusty nail, brandy alexander, shirley temple, bloody mary. Cada cocktail vem com a receita e uma explicação: ou eles foram usados no filme, em alguma cena específica, ou foram inspirados por ele ou eram as bebibas preferidas das estrelas da época. Tudo o que você precisa saber para servir um drink ao estilo Hollywoodiano.





sexta-feira, 14 de março de 2008

A is for dining Alone*

Nos dias de semana, quando almoço sozinha em casa, prefiro fazer refeições de um prato só, de preferência que sejam leves, rápidas e que não precisem nem de faca para servir. Quando estou sozinha, não me sento à mesa. Michael Pollan que me perdoe, mas comer na mesa é um ato social demais para se fazer solitariamente. Prefiro pegar o meu prato e comer no sofá em frente à TV.

Mas nem por isso abro mão da qualidade. Geralmente eu vario entre uma salada de frango, ou salada de abacate com cenoura, um prato de macarrão nos dias de mais fome, um resto de sopa de ontem nos dias de preguiça ou falta de tempo, ou este couscous da foto, ao qual misturei uma abobrinha, um pimentão laranja e meia lata de milho levemente dourados no azeite. Temperei com sal, pimenta, orégano seco e um pouco de suco de limão, e terminei com azeite de oliva e lascas de amêndoas.

*A is for dining Alone é a primeira entrada de An Alphabet for Gourmets, história de M.F.K. Fisher publicada originalmente em 1949 e que consta na maravilhosa coletânea The Art of Eating. Nela Fisher fala sobre o ato de comer socialmente, e porque ela prefere comer sozinha a dividir a mesa com certas pessoas ("There are few people alive with whom I care to pray, sleep, dance, sing, or share my bread and wine").

quinta-feira, 13 de março de 2008

A China de Kylie Kwong







Foi amor à primeira vista. Quando eu bati os olhos no livro "My China", de Kylie Kwong, sabia que ele seria meu. Folheando, ainda na livraria, me encantei com as fotos maravilhosas dos mesmos lugares por onde passei na China, retratos do mercado de rua de Yangshuo, do famoso pato em Pequim, dos dumplings que fazem fila em Shanghai, do chá verde à beira do rio de Hangzhou, das cores, dos contrastes, dos sabores dessa viagem que, apesar de recente, já está me dando saudades.

Em casa, lendo com mais calma, me dou conta de que este é um livro mais de histórias do que de receitas. Sim, as receitas estão lá, mas são menos de cem para um livro de quase 600 páginas. O principal é o relato da viagem de Kwong, uma chef e autora famosa que vive na Austrália mas cuja família ancestral é chinesa. Kylie é a 29a geração de uma das famílias mais tradicionais da província de Guandong, e nesta "volta para casa" ela aprende muito sobre a origem do seu povo, o que, segundo ela, mudou sua vida.

Mas "My China" também é um relato de viagem pela China, pois Kwong, que não fala Mandarim ou Cantonês, visitou também o Lhasa, Beijing, a lindíssima província de Guangzhou, Shanghai e Hong Kong, comeu, cozinhou, se perdeu, conheceu gente e riu muito. Eu também passei por muitos destes lugares e, apesar de ainda não ter lido ainda todas as histórias, já me identifiquei com muito da estranheza e estupefação que ela diz ter experimentado. A China não é um outro país, ela é um outro planeta!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Em defesa da comida


Senta que lá vem a história.

Terminei de ler “In Defense of Food”, novo livro de Michael Pollan (autor de O Dilema do Onívoro) e, como acontecera com seu livro anterior, fiquei meio perplexa com o que li. Enquanto no livro anterior Pollan seguiu a rota das cadeias alimentares modernas para mostrar o processo de industrialização da agricultura, neste livro ele contempla outros problemas associados ao que ele chama de “dieta ocidental” (que não é o mesmo que fast-food, chegarei lá), mais diretamente relacionados à nossa nutrição e saúde. Porque os norte-americanos são tão preocupados com comer comidas saudáveis e fazer dietas e estão, ao mesmo tempo, cada vez mais gordos e doentes? Pollan tenta provar que “orthorexia”, preocupação excessiva ou doentia com alimentação (pseudo)saudável, deveria ser um transtorno alimentar reconhecido pela ciência, e de quebra dá dicas para escapar dessa terrível situação. Daí a frase que saiu no New York Times e sintetiza a filosofia por trás do livro: “Coma comida. Não muito. Na maioria plantas” (Eat food. Not too much. Mostly plants).

Pollan é surpreendentemente severo com os nutricionistas que, em sua opinião, são culpados por essa tendência reducionista de olhar a comida não pelo que ela é, mas pelos nutrientes (vitaminas, gordura, antioxidantes etc.) que contém. Para quem estava esperando uma critica na linha “neo-hippie” ao consumismo americano, às grandes corporações que promovem a industrialização dos alimentos, e à publicidade que empurra estes produtos especialmente nas crianças, ele preferiu um caminho muito menos navegado e, por isso mesmo, ousado: questionar a hierarquia da ciência sobre coisas como cultura e tradição. Enquanto acho que ele é muito radical às vezes (questionando se nutricionismo é mesmo uma ciência, e duvidando dos valores dos nutricionistas), concordo absolutamente com a idéia de que aqueles que dizem “coma isto, não coma aquilo” nem sempre sabem o que estão dizendo. Uma hora devemos evitar gorduras e carne vermelha; na outra os vilões são os carboidratos, e nós ficamos cada vez mais perdidos lendo as embalagens dos milhares de novos produtos que chegam regularmente ao mercado. Resumindo: às vezes nossas mães, nossa cultura, sabem mais o que é melhor para a gente do que os cientistas.

Tudo isso leva Pollan à conclusão de que comida não deve ser tratada como “nutrição” ou “remédio”, porque isso nunca vai funcionar. Em primeiro lugar, porque comida é muito mais do que a soma de seus nutrientes (muitos dos quais os cientistas ainda nem conhecem), e comer é um ato social e cultural, agricultural e político. Em segundo lugar, porque quanto mais se processa industrialmente um alimento, mais se perde o controle sobre seus nutrientes, de maneira que um anti-oxidante benéfico encontrado naturalmente numa fruta pode não servir para nada quando isolado e colocado num iogurte ou numa pílula. É daí que vem, pelo menos para mim, a maior revelação do livro: os alimentos lights, com fibra, vitaminas e omega-3 adicionados são tão processados quanto uma refeição de fast-food - ou mais, já que para tirar a gordura natural do leite no iogurte light eles precisam substituir com alguma coisa (99% de chance dessa “alguma coisa” não ser nada boa...).

Aí a carapuça serviu. Eu nunca fui fã de fast-food e me considero relativamente imune à tal da “dieta ocidental”, mas tenho que admitir que já fui enfeitiçada por falsos anúncios de coisas low-fat, fat-free e similares, na falsa promessa de comer melhor e/ou perder peso. Já comprei minha cota de barras com fibras e suco de laranja e ovos com omega-3, sem pensar que, ao adicionar a fibra que supostamente tem o omega-3 na ração da galinha, que daí passa para o ovo que eu como, esse omega-3 pode perder sua função natural e pode até ser maléfico (aguardem os próximos relatórios científicos). O que eu não sabia, e Pollan deixa bem claro, é que qualquer alimento processado industrialmente é necessariamente inferior ao original que ele visa substituir, mesmo que seja para, supostamente, torna-lo mais saudável. Na maioria dos casos, os nutrientes adicionados mal compensam aqueles que são perdidos no processo de refinamento – a publicidade apenas foca numa coisa em detrimento da outra. Pode parecer contra-intuitivo, mas Pollan diz para manter distância dos alimentos com anúncios saudáveis (light, fat-free e similares), mesmo aqueles com o selo (corrupto, pois não passa de mais um golpe publicitário) da associação para controle das doenças cardíacas.

Os alimentos mais saudáveis para você são aqueles sem selo do Heart & Stroke Foundation, sem anúncios, provavelmente sem embalagens e códigos de barra. São aqueles que sua avó, ou bisavó, reconheceria como comida. São aqueles que nossos ancestrais vêm consumindo há milhares de anos sem sofrer as mesmas doenças que sofremos hoje (cultura e tradição 1 x 0 ciência). Aqueles cujas combinações e preparos, nossos ancestrais também sabiam, tiram o máximo proveito de seus nutrientes (cultura e tradição 2 x 0 ciência). Aqueles cuja lista de ingredientes não passa de seis nomes, e que não contém nomes desconhecidos ou impronunciáveis. Aqueles que estragarão em uma semana se você não consumi-los (alimentos que duram para sempre não podem ser bons). Melhor ainda se forem aqueles que você sabe quem plantou ou colheu, sem falar nos que você mesmo plantou e colheu. É mais ou menos isso que Pollan quer dizer com “coma comida, não muito, e na maioria plantas”.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

An eater's manifesto

Terminado o Dilema do Onívoro, passei logo para o próximo livro do Michael Pollan, In Defense of Food, para continuar na mesma linha de pensamento. É aqui que Pollan elabora sobre o conselho que deu para as pessoas que, como eu, ficaram se perguntando mas o que então eu devo comer? após ler seu livro: "coma comida. não muito. na maioria plantas". Ainda estou no começo, mas já gostei de lê-lo falar que, em alguns casos, cultura, tradição e bom senso valem mais do que a palavra dos cientistas.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Beleza e destruição

"We butcher, grind, chop, grate, mince and liquefy raw ingredients, breaking down formerly living things so that we might recombine them in new, more cultivated, forms.(...) In 'The Hungry Soul' Leon Kass calls this the great paradox of eating: 'that to preserve their life and form living things necessarily destroy life and form'. If there is any shame in this destruction, only we humans seem to feel it, and then only on occasion. But cooking doesn't only distance us from our destructiveness, turning the pile of blood and guts into a savory salami, it also simbolically redeems it, making good our karma debts: look what good, what beauty, can come of this! Putting a great dish on the table is our way of celebrating the wonders of form we humans can create from this matter - this quantity of sacrificed life - just before the body takes its first destructive bite."

Trecho do Dilema do Onívoro, de Michael Pollan, que me levou às lágrimas e o qual copiei num pedaço de papel e grudei na minha cozinha, como uma espécie de oração.

De fato, como disse a Fer um dia desses, depois de ler este livro sua vida muda um pouco. E todo mundo devia lê-lo, mesmo sabendo que, na prática, quem vai ler é quem já se preocupa com alimentação e quer ter certeza de que está fazendo a coisa certa, num exercício válido, mas meio egoísta, de reafirmação. Mas quem deveria mesmo lê-lo são as outras pessoas, aquelas que raramente param para pensar de onde vem esta comida que estamos colocando na boca ou nos carrinhos de mercado todos os dias. E porque é mesmo que nos preocupamos tão pouco com uma coisa que é tão básica e fundamental?

Pollan não é um guru da alimentação natureba. Ele é jornalista, e tenta manter a imparcialidade e o olho clínico com a melhor das intenções. Para além da crítica da industrialização da agricultura (até mesmo a orgânica) e da cultura fast-food, ele promove uma reflexão filosófica sobre a nossa relação com a comida, com os bichos e plantas que nos sustentam. O capítulo final, sobre a refeição que ele fez só de coisas que plantou, colheu, caçou, catou e cozinhou, é absolutamente lindo.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A vida de Julia na França

Minha admiração pela vida e carreira de Julia Child já é pública e notória neste blog. Então vou tentar não me repetir muito e falar apenas do livro My Life in France, que conta os anos em que ela e o marido, Paul Child, moraram em Paris e arredores, e que basicamente fizeram de Julia, Julia. Ela descreve com riqueza de detalhes o primeiro prato que comeu em território francês - um sole meunière perto do porto onde o navio deles aportou -, cujo sabor e simplicidade fizeram um "clic" em seu espírito; e desde então ela passou a entregar-se à nem sempre doce tarefa de tornar-se tão boa cozinheira quanto o melhor dos chefs franceses. Mas isso, para uma americana já não muito jovem, na França da década de 40, não foi tarefa fácil e o livro conta as incontáveis batalhas de Julia com o idioma, os costumes, os ingredientes, o machismo, a xenofobia.

Em seguida ela conta tintim-por-tintim sobre o processo de escritura do Mastering the Art of French Cooking, que rapidamente tornou-se um dos livros mais importantes do mundo da culinária. Desde a difícil seleção das receitas, até a fase enlouquecedora de testes (Julia conta que comeu umas duas galinhas inteiras no mesmo dia testando uma receita!), as brigas com os incrédulos editores, as diferenças de personalidade entre ela e as co-autoras francesas, foram mais de dez anos de labuta, resumidos de modo genial no livro. Quando Mastering é finalmente publicado o leitor sente aquele alívio gostoso de um final feliz.

Para quem gosta de comida e especialmente de Julia, esta é uma leitura obrigatória. Mas ele é também um importante documento sobre a vida de um casal mais ou menos ordinário naquela época, entregue às aventuras de uma vida totalmente nova num país estrangeiro. Talvez por estar eu numa situação parecida, me identifiquei muito com alguns aspectos da narrativa (guardadas as devidas proporções, lógico), pois também tive que enfrentar alguns destes problemas, e também tive o mesmo "clic" proporcionado por estar numa cidade de foodies que mudou o modo como eu encaro comida hoje em dia.

My Life in France é também uma leitura altamente inspiradora, sobre uma mulher que lutou contra adversidades mis para perseguir seu grande sonho, e prosperou. Não é à toa que sua história vai virar filme. Mas eu, se fosse você, não esperava pelo filme e ia logo lendo o livro!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Presente de Natal

O carteiro trouxe meus presentes de Natal esse ano: Mastering the Art of French Cooking, usado mesmo, que é mais barato e tem mais personalidade, e My Life in France, autografado pelo co-autor Alex Prud'homme. Finalmente agora posso dar continuidade à minha obsessão por Julia Child, que começou quando vi os dvds do programa dela na década de 60.


Tudo bem que a encomenda demorou quase um mês para chegar, mas não podia ter vindo num dia melhor. Thank you Mr. Postman!