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À Beira do Abismo



Os meus passos não faziam qualquer ruído sobre a terra húmida. O homem voltou a tossir; depois abafou a tosse com um lenço ou a manga do casaco. Aproximei-me mais dele. Distingui o seu vulto postado à beira do caminho. Não sei que instinto me levou a ocultar-me por detrás de uma árvore. O homem voltou a cabeça. O seu rosto devia ter formado uma mancha branca sobre o escuro do fato. Tal não aconteceu porém. Estava coberto por uma máscara.
Protegido pela árvore, fiquei à espera.”
Raymond Chandler «À Beira do Abismo»

(As traduções têm destas coisas, este título é de um livro de um dos meus escritores favoritos, R. Chandler, e também do filme que o adaptou, realizado pelo grande Howard Hawks com, lembram-se? Humphrey Bogart e Lauren Bacall - até parece bom demais para ser verdade. O título até é um bom título, só que o original, The Big Sleep, que é um óptimo título, já não ficava aqui muito bem, acho eu. E o que é que as fotografias têm a ver com isto tudo? Pois, não sei. Talvez o Philip Marlowe possa dar uma ajudinha. Agora clikes para isto, é que vai ser o bonito…)

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O Ciclista

O meu marido saiu de casa no dia
25 de Janeiro. Levava uma bicicleta
a pedais, caixa de ferramenta de pedreiro,
vestia calças azuis de zuarte, camisa verde,
blusão cinzento, tipo militar, e calçava
botas de borracha e tinha chapéu cinzento
e levava na bicicleta um saco com uma manta
e uma pele de ovelha, um fogão a petróleo
e uma panela de esmalte azul.
Como não tive mais notícias, espero o pior.

                                                                                             A Bicicleta – Alexandre O’Neill
 (E agora, senão se importam, dêem-me música.)

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“Versos da foz dos rios”

Dificuldade:
quem fala dos trabalhos que passou, no momento da chegada? Só quem desceu o rio, perdido na corrente
Eu mergulho, apenas nos rios a quem me dou, para a alegria de alcançar, de cada um, a sua foz
Preço:
Local de encontro, a foz de um rio é generosa. Dá-se-nos, no momento em que nos damos
Ingredientes:
três desejos de aventura; dois sonhos de juventude; uma paixão adolescente; um momento de cansaço verdadeiro; paciência de pescador

Preparação:
Lanço-me ao rio, sem medo e sem vergonha
Meu sonho é navegar é ser feliz
E se agora falhar tento outra vez

A aventura começa se alguém sonha
O futuro é também o que se quis
Eu sei: há sim e não e talvez

Hei-de chegar à foz deste meu rio
Hei-de encontrar meu leito derradeiro
Hei-de ser eu. Hei-de cumprir-me inteiro

Consumir:
Lentamente, sem pressas insatisfeitas, dando espaço aos sonhos e ao cansaço.

(de: Receitas Poéticas de Xico Braga - que me deu o seu livro uma noite destas na Trafaria. Xico, desculpa a fotografia não ser a p&b, eu até experimentei, mas gosto mais dela assim.)

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Monarquia


“Deixando de parte, assim, os assuntos relativos a um príncipe imaginário e falando daqueles que são reais, digo que todos os homens, sobretudo os príncipes por ficarem situados em posição mais proeminente, quando analisados, se fazem notáveis por alguns daqueles atributos que lhes acarretam ou reprovação ou louvor. Assim é que alguns são havidos como liberais, alguns como miseráveis (usando o termo da Toscânia misero, porque “avaro” na nossa língua é ainda aquele que deseja possuir por rapina, enquanto “miserável” chamamos aos que se muito se abstêm de usar as suas posses); alguns são tidos como pródigos, outros rapaces; cruéis ou piedosos; perjuros ou leais; efeminados e pusilânimes ou truculentos e animosos; humanos ou soberbos; lascivos ou castos; simples ou astutos; enérgicos ou tíbios; graves ou levianos; religiosos ou incrédulos, e assim por diante.” Nicolau Maquiavel - O Príncipe 
 
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A Dama do Lago


"Sonhei que me encontrava no fundo de água verde e gelada com um cadáver debaixo do braço. O cadáver tinha cabelos loiros e compridos que flutuavam na água e me envolviam a cara. Um enorme peixe de olhos esbugalhados, corpo inchado e escama fosforescente da putrefacção, nadava em redor, olhando de soslaio como um debochado já idoso. Quando eu estava quase a rebentar com a falta de ar, o cadáver ressuscitou debaixo do meu braço e fugiu-me. Pus-me a lutar com o peixe e o cadáver rolava e rebolava pela água fora, arrastando atrás de si o seu longo cabelo."  
Raymond Chandler
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