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(Como alguns de vós sabeis, o dear Zé é um notável e destemido caçador de feras selvagens e indomáveis, o que não sei se sabem é que é também um coleccionador meticuloso e obsessivo de retratos de caçadores ilustres, concentrados e atentos, no momento decisivo da sua mui nobre e perigosa actividade. Ora vejam lá aqui.

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“Davam Grandes Passeios aos Domingos” IV


… gostavam da costa na primavera, as tardes calmas passadas frente ao mar dentro do automóvel, ela a tricotar, ele a ler o jornal ou a ouvir o relato. trocavam poucas palavras, talvez com medo de as gastarem. de vez em quando ele olhava para os surfistas a brincarem com as ondas. às vezes ela seguia o voo de uma gaivota, distraída daquela esgrima de agulhas, e suspirava. não tiveram filhos, não puderam. ele ainda hoje pensa que o corpo dela é solo estéril, nunca teve coragem de lhe revelar o que disse o médico…
se calhar é por isso que ele teve amantes, tantas noites a chegar a casa com o sol a nascer, a deslizar para dentro do quarto devagarinho para eu não ouvir. aquele hábito de tomar sempre um banho primeiro, a lavar os restos da noite com medo que eu cheirasse as putas com quem se deitava. eu, muito quieta, quase sem respirar, no meu canto da cama, com receio que percebesse que estava acordada. nunca me bateu nem nunca me ralhou, é verdade. mas também nunca me elogiou, quanto mais a esmola de uma carícia a disfarçar o desprezo que tem por mim. não sei porque é que não se foi embora. porque é que não te vais embora. um dia queixei-me e disse-me que sempre me respeitou. eu não quero o teu respeito estúpido, não isso a que chamas respeito, quero que me agarres com força, quero o teu corpo no meu, quero os teus dentes na minha nuca, a barba a arranhar-me as coxas. quero que me tomes com o mesmo desejo que guardas para essas mulheres, que me faças as mesmas coisas, que me digas palavras porcas ao ouvido e não esta, esta coisa que fazes por obrigação, esta dor de não te sentir comigo quando estás em mim… quero que passeies comigo de mão dada e me beijes na rua, quero... não sei porque é que eu nunca te disse isto antes e queria tanto dizê-lo.
mas porque é que nunca me disseste isso? eu sempre te quis dar a mão na rua tentei uma vez e tu esquivaste-te não digas que não eras tão solene tão senhora o teu pai tinha bens e eu intimidado é verdade isso do respeito o respeito é muito bonito foi o que me ensinaram e eu não podia pensava que não podia tratar-te como às outras um homem tem desejos vontades e eu não te queria envergonhar e era a ti que eu queria espreitava-te quando te despias a tua pele branca a encadear-me e eu a querer-te assim sem reservas selvagem e sem coragem para não te ofender tu sempre tão recatada tão senhora tão...
… gostam da costa na primavera, as tardes calmas passadas à beira mar, os longos passeios pela praia, os pés descalços quando não está frio, sempre de mãos dadas. há momentos em que param, distraídos, a seguir o voo de uma gaivota ou em que se sentam numa rocha a descansar e a ver os surfistas a brincarem com as ondas. às vezes ela suspira e ele põe-lhe um braço à volta dos ombros, sem dizer nada…