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sexta-feira, outubro 03, 2008

É pró menino e prá menina!

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Imagem KAOS

Subitamente a escola ficou invadida de panfletos publicitários de computadores portáteis e ofertas de redes. Vêm nas mochilas e minam as conversas da família. Nunca os jovens foram tão aliciados: "OS MELHORES PORTÁTEIS DO MERCADO ESTÃO DE VOLTA. ESCOLHE JÁ O TEU!" Os jovens funcionam como um forte grupo de pressão junto dos pais. Os ditos panfletos pertencem a marcas, mas vêm assinados por baixo com o timbre "PLANO TECNOLÓGICO/PORTUGAL A INOVAR". Tanto comprometimento chega a ser obsceno. Nunca houve uma aliança tão perfeita entre o Estado e as empresas para vender mercadoria, talvez só no tempo da Companhia das Índias.

quarta-feira, abril 04, 2007

Retrato do país das meias tintas

Costumo dizer que se ainda alguma das chamadas "conquistas de Abril" nos resta como tábua de salvação, ela é sem dúvida a da liberdade de expressão. Pelo menos por enquanto ainda se pode falar e, nem sequer se paga imposto. Claro que as pessoas, principalmente depois que Portugal entrou para a CEE (actualmente degenerada em União Europeia), de repente descobriram que tinham poder de compra, nem que fosse à custa do endividamento, e que pagar lhes dava um certo poder. Por isso passámos a preferir pagar para falarmos uns com os outros, optando por usar os telemóveis e os SMS's e por nos comunicarmos pela Internet, serviços que nos permitem "falar" até não poder mais e cuja publicidade enganadora nos cria a sensação de que temos toda a liberdade do mundo de passarmos horas e horas a comunicarmos por um preço irrisório. Banimos das nossas vidas o prazer de nos encontrarmos com os amigos nas mesas de café para, olhos nos olhos, concordarmos como este país está uma choldra. Cada vez esses momentos são mais raros e chega até a haver casos em que, quando as pessoas se encontram corpo a corpo, ficam assim meio à toa sem saberem o que dizerem umas às outras. Como se lhes faltasse o suporte, como se o telemóvel funcionasse como uma espécie de cigarro desbloqueador de inibições. Ao telemóvel, pelo computador, blá blá blá, palavra puxa palavra, conversas ininterruptas; cara a cara, então tudo bem? Tudo bem. E está tudo dito, adeus que se faz tarde, logo ligo-te. Xau. Foi o que ganhámos com este estado de choque tecnológico.
Voltando à questão inicial da nossa liberdade de expressão: será que ela existe realmente ou tornou-se deveras virtual? Pois ao que parece mesmo as palavras mais fortes tendem a modificar-se. Ouviram hoje aquela do Carvalho da Silva a apelar à "greve generalizada"? Mas afinal o que é isso de "greve generalizada"? Será uma greve de generais? Ou uma espécie de senha para se referir ao que em tempos se exprimia claramente por "Greve Geral" e que passa agora a assumir esta forma velada? Será realmente liberdade de expressão não chamarmos os bois pelos nomes? Somos assim tão púdicos e preconceituosos em nomear formas de luta meritoriamente conquistadas e tememos reivindicar publicamente o nosso direito ao trabalho, à saúde, à educação digna e de qualidade? E tão debochados que acham por bem nos oferecerem declaradamente a possibilidade de excluir da factura as nossas pequenas perversões voyeristas, acenando-nos com uma publicidade pulha e cúmplice, mais pornográfica que toda a pornografia alguma vez vista às escondidas.
Somos um povo mentiroso e cobarde por natureza. Capazes de enganarmo-nos até a nós próprios e nem isso admitimos. Temos medo de assumirmos seja o que for, muito menos qualquer tipo de compromisso, de tomar uma posição clara, de lutarmos pelos nossos direitos. Preferimos perdê-los calados e carpirmos depois, quando já for tarde demais. Gostamos mais de viver atolados na mentira do que admitir que nos enganámos. Daí esta maioria parlamentar. Daí este governo. Daí este primeiro-ministro com as suas crescentes sondagens. Daí um fraco em Belém. Daí este país burlesco e grotesco que mete dó.
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