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terça-feira, 29 de outubro de 2013

AINDA BEM QUE NÃO EXISTEM UNICÓRNIOS



Gostava de ver uma proposta de lei (uma, vá lá) que fosse pelas pessoas e pelos animais, não contra. Poder incluir facturas de veterinário no IRS, por exemplo. Esta ideia peregrina, vinda agora do Ministério da Agricultura, de limitar o número de animais domésticos por domicílio – dois cães ou quatro gatos – e ainda facilitar o regime das queixinhas pidescas da vizinhança não lembra ao diabo, ó Cristas. Os índices de abandono de animais já são a vergonha que se sabe – e não é este tipo de deliberações que vai melhorar alguma coisa. É preciso ver caso a caso. Excluindo os exemplos patológicos de gente que acumula cães e gatos em casa ou os maltrata por sadismo – e que devia ser rapidamente internada – não vejo por que razão o Estado deva decidir quantos animais é que uma pessoa pode ter. Isto ainda não é a China, ou é? Segundo a notícia do Público, a excepção (há sempre excepções...) faz-se para os criadores de «raças nacionais puras registadas», que podem ter os cães que quiserem. São questões de pedigree. Só o «tio» Victor Veiga, consultor jurídico do Clube Português de Canicultura, é que acha a nova lei muito boa e considera que «quem quer ter mais cães arranja maneira de ter uma casinha na província». Então não arranja? Eu até já lhes perdi a conta.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

EDIÇÕES DALTÓNICAS



Acompanhando a vaga de "Alices" desencadeada pelo filme de Tim Burton, a Europa-América reeditou as duas obras-primas de Lewis Carroll, melhorando as capas (não era difícil) e acrescentando notas biográficas do escritor e do ilustrador, John Tenniel. Mas bem que podiam ter feito o essencial: uma nova tradução (sim, custa dinheiro). Mantém-se a versão antiga de Vera Azancot, que, para não irmos mais longe, achou por bem dividir as dramatis personae de Alice do Outro Lado do Espelho em peças/peões “Brancas” e “Pretas”. Acontece que Lewis Carroll não escreveu isso. Não existe nenhuma Rainha Preta, Rei Preto ou Cavaleiro Preto. O que existe é Rainha Vermelha, Rei Vermelho e Cavaleiro Vermelho. Mais de trinta anos depois da edição de bolso, acima reproduzida, alguém continua a não saber soletrar R-E-D.

P.S. – A propósito, não gostei do filme. Por muito que se aperfeiçoem os efeitos especiais, para mim as emoções ainda são analógicas. Confesso que fiquei tão serena como se o meu apelido fosse Williams. Continuo a preferir o Tim Burton no seu lado mais gore (Sleepy Hollow, Sweeney Todd) e nos filmes animados em stop-motion (O Estranho Mundo de Jack, insuperável).

sábado, 6 de março de 2010

O MASSACRE DOS LIVROS

Não, não acho normal que as editoras sejam massacradas com centenas de cartas e emails a pedir livros para bibliotecas, escolas, jardins-de-infância, associações, instituições ou qualquer outro tipo de ajuntamento com louvável interesse pela leitura. As editoras não dão livros porque isso é mau para o seu negócio; preferem destruí-los e receber o IVA de volta, sempre é dinheiro que se recupera. Também não acho normal que a larga maioria dos livros desapareça dos escaparates ao fim de pouquíssimo tempo, nem que andem continuamente a saltar das livrarias para os armazéns, com prejuízo dos autores e leitores – sempre os elos mais fracos. Tudo isto é estranho e paradoxal e não parece melhorar com o tempo. Se a Ministra da Cultura está preocupada com o “massacre” dos livros, pois que reclame orçamento para comprar livros para escolas e bibliotecas em quantidades que não envergonhem ninguém – de preferência, quando são editados, não quando chegam ao fim da linha. É prática corrente em muitos países com planos nacionais de leitura, inclusive do chamado “terceiro mundo”. Já estamos tão perto deles, que diabo. É só mais um esforço.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

DESESPERADAMENTE À PROCURA DE MIQUELRIUS


O problema dos rituais é que nos trazem cativos das nossas inseguranças. Ao cabo de quase nove anos a tomar notas nestes cadernos da Miquelrius – marca catalã com pergaminhos remontantes a 1839, diz o site –, a ideia de ter de encontrar uma alternativa é assustadora. Sobram-me apenas três míseras folhas em branco, poupadas como um indecente salário mínimo à portuguesa. Não me apetece mudar para os recorrentes Moleskines, nem para os nossos cadernos de merceeiro que o Paul Auster tornou fashion – acho o papel demasiado branco, as linhas demasiado azuis, tudo muito ofuscante. Gosto dos cadernos quadriculados tamanho A6 da Miquelrius porque cabem no bolso e ganham aquele aspecto surrado ao fim de alguns meses, mantendo-se resistentes e maleáveis ao mesmo tempo, o que é todo um programa de vida. A lombada de tecido azul nunca se desfaz, os cantos não se amachucam, a etiqueta de fundo branco suja-se apenas o suficiente para se tornar ilegível à distância. Habituei-me a eles, nada a fazer.

O problema é que desapareceram do único sítio de Lisboa onde os encontro à venda: a loja Arte Periférica, no CCB, onde foram avistados pela última vez na Primavera de 2009. Voltei lá antes do Natal e não havia. Telefonei a meio de Janeiro e continuavam ausentes ("Talvez em Fevereiro, depois do inventário", prometeram-me por telefone). Insisti esta semana e a sorte foi a mesma. O empregado que invariavelmente me atende parece-me um rapaz pouco expedito (a dar para o morcão, diria mesmo), insensível às mais básicas noções comerciais. A palavra "encomenda" fará parte do seu léxico? A última réplica deixou-me virada do avesso: "Os cadernos não chegam de um dia para o outro". Já deu para perceber que não, pelo menos desde Dezembro. Também não chegam de uma semana para a outra, nem de um mês para o outro. Caso para perguntar: chegarão de um ano para o outro? Peço encarecidamente aos visitantes deste jardim o favor de me informarem, se conhecerem outros pontos do país onde se vendam os inigualáveis cadernos quadriculados Miquelrius. É que estou quase à beira de um ataque de nervos.

domingo, 24 de janeiro de 2010

IMPORTA-SE DE PERGUNTAR?


Numa época em que os livros envelhecem prematuramente, foi muito gratificante ver o Não Quero Usar Óculos novamente em destaque nos escaparates da FNAC, graças à inclusão na Mini-Biblioteca Essencial organizada pela Casa da Leitura. Pena é que nem todos os funcionários saibam que a coisa existe, a avaliar por uma incursão recente à FNAC Chiado, a única que frequento. "Nunca ouvi falar dessa lista", responderam-me. Muito bem. Então façam o favor de ver aqui. Via O Livro Infantil.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

ASSIM NÃO DÁ


Alguém me explica onde se pode comprar em Lisboa o último número da Malasartes? Fnac, Bertrand e Bulhosa não têm a única revista portuguesa especializada em literatura infanto-juvenil - e na maior parte dos casos nem ouviram falar. É escusado procurá-la em quiosques e tabacarias. Não é discriminação para com "os livros de criancinhas", como diz a outra. Nas mesmas redes livreiras também ainda não está à venda a edição de Dezembro da Ler, que foi para as bancas há mais de uma semana. Estamos a dia 15. Não há compradores para as revistas literárias em Portugal? Pois não. Assim não.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

GUIA PARA NOSTÁLGICOS


Corgo, Tâmega, Tua, Sabor, Barca d’Alva, Vouga, Lamego, Dão, Lena, Lousal, S. Domingos e outras mais. “Nos últimos 20 anos, Portugal perdeu mais de 700 km de vias férreas, desactivadas em nome da boa gestão, do controlo do défice e dessa abstracção onde tudo cabe chamada progresso. À evidência, nem o país ficou mais rico, nem as populações mais bem servidas.” Em Espanha, cerca de 1300 km de linhas de via estreita, de características e idade semelhantes, foram recuperadas e servem hoje de suporte para comboios turísticos, como é o caso do Transcantábrico. Os espanhóis devem pensar que somos uns incompetentes e têm toda a razão. Sobre este tema, a SIC emitiu uma reportagem no início do mês que continua a poder ser vista online. Chama-se, precisamente, "Fim de Linha". As declarações do responsável da Refer, em pose de quem vai de férias ainda nesse dia e se está nas tintas para o assunto, deviam envergonhar a empresa. E mais uns senhores que gravitam acima dela. A ver obrigatoriamente; por exemplo, no blogue Menos Um Carro.

(Pelas Linhas da Nostalgia – Passeios a pé nas vias férreas abandonadas, de Rui Cardoso e Mafalda César Machado, Ed. Afrontamento, 2008)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O QUE É QUE SE DIZ? MAU GOSTO, TALVEZ


Quando os CTT se lançaram no inefável mundo das comunicações móveis, houve alguns senhores administradores (ou accionistas, não sei bem) que manifestaram o seu incómodo pelo nome do produto, uma declinação mariquinhas do vernáculo, que deu pelo nome de Phone-ix. Eu acho que pior do que dizer asneiras, é dizê-las mal, mas o aqui o caso é outro. É puro e simples mau gosto pimba. Mais ainda com esta campanha de Natal, em que uma menina graciosa agradece o presente ao papá, com a frase que se lê na imagem acima. Giro, não é? Daqui a uns anos, se não a estragarem com mimos, talvez ela pergunte aos pais (aos pais de verdade) se estavam assim tão necessitados de dinheiro para a porem a fazer esta triste figura. E o que é que eles lhe vão dizer? Phone-ix, sei lá.

sábado, 22 de novembro de 2008

RECLAMAÇÃO: ORTOGRAFIA E GRAMÁTICA

Numa Livraria Bertrand, hoje de manhã. A senhora põe um papelinho escrito diante da livreira, pousa no balcão o livro que traz na mão e diz, com voz tímida: “Bom dia. O assunto que me traz aqui é grave e delicado.” Prevê-se o pior na fila de espera. Um pedido urgente para ajudar alguém, um comunicado caridoso de alguma nova igreja ou algo mais insólito. Mas não. A senhora reclama porque o livro que comprou numa outra livraria, editado pela Bertrand, está, alegadamente, cheio de “erros ortográficos e gramaticais gravíssimos.” A senhora cora, a timidez ganhou matizes de irritação: “Eu comecei a ler e nem queria acreditar. Apontei os erros todos, estão aqui”, diz, mostrando o papelinho com uma lista de frases e palavras antecedidas pelo número de página. “A Bertrand não se pode dar ao luxo de publicar livros assim. Um livro que custa mais de vinte euros! Eu sinto-me enganada. Nunca mais compro livros da Bertrand, isso de certeza.” A livreira ouve com atenção e, no fim, responde: “Tem toda a razão. Vou dar-lhe um número de telefone para onde pode reclamar.” A senhora desfaz-se em agradecimentos. Até que enfim, alguém que não se limita a sacudir a água do capote. Se chegar a ligar o número – e parece determinada a isso – é que vão começar as verdadeiras dificuldades.

PS – Qual é o livro? Beatriz de Portugal, de Paula Cifuentes. Quem tiver em casa, pode confirmar ou desmentir a reclamação. Mas parece-me escusado.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

UMA COISA SIMPLES, PARA VARIAR


Tenho cartão de leitor Bertrand, mas ontem não pude usufruir do desconto de 20 por cento das segundas segundas-feiras do mês, porque não tive tempo de sair. Também tenho cartão Fnac, mas cada vez me apetece menos ir à Fnac, pelas razões que muita gente partilha e também porque embirro com aquele truque de obrigarem uma pessoa a voltar dia após dia, se quiser acumular mais três pontos. Por que é que as coisas não funcionam de outra maneira? Em Dublin, a livraria Hodges Figgis deu-me um desconto imediato de 20 euros, numa conta que trouxe alguma angústia momentânea no momento de encaixar o total: 184 euros e 64 cêntimos (glup). O sistema é simples: cada 10 euros em compras dá direito a um carimbo no cartão preenchido naquele momento, o Hodges Figgis Loyalty Card. Ainda tentei argumentar: “Mas eu não vivo em Dublin.” “Não faz mal”, respondeu o livreiro. “Mas eu não sei quando vou voltar cá”, insisti. “Não há problema.” E pôs mais um carimbo no cartão. Fiz um sorriso satisfeito, paguei e fui embora com os meus sacos. Os vinte euros deram para mais umas quatro ou cinco pints de Smithwick’s.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

LIVROS COM RUÍDO DE FUNDO


Confirma-se aquilo que o José Mário Silva já tinha dito no Bibliotecário de Babel a seguir à inauguração da FNAC Vasco da Gama: o espaço para a apresentação de livros e outros eventos culturais é abaixo de cão. Entalado entre o bar e a área de livros para crianças, é um desafio à paciência auditiva de qualquer um. Além dos spots irritantes do género “tire o cartão FNAC e ganhe dez euros”, uma pessoa tem de levar com o barulho das chávenas e o ruído de fundo espontâneo da miudagem, resultando em sobreposições do género “este é um livro em que…”/“… mamã, anda cá!”/“… as personagens femininas são todas muito…”/“olha a ovelhinha! Méééé! Méééé!”

Claro que os miúdos e pais têm todo o direito de usufruir do espaço – cada vez mais limitado, aliás – que lhes foi destinado. Os escritores e respectivos convidados não têm de tirar cursos de projecção de voz. E o público assistente não tem de levar aparelhos Sonotone. A culpa é exclusivamente de quem pensou este sítio como mais um supermercado onde, já agora, também se vendem livros. Perguntei por um e não havia. A mocinha que me atendeu estava a leste do paraíso quanto ao autor e título. “Mas sabe quando vai estar disponível?”, insisti, frente ao computador. “Não sei, talvez tênhamos (sic) para a semana.” “Como?” “Talvez póssamos (sic) ter para a semana.” “Ah, ok.”

Só mesmo por amizade e solidariedade com a “causa literária” é que se aguenta isto. Mas o essencial é: parabéns, João! E agora vou ler As 3 Vidas.