Mostrando postagens com marcador Natureza. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Natureza. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Cordel e música popular (Zé Vicente da Paraíba)

VIOLA E AMIGOS

Meu interesse pela poesia popular tem me trazido muitas coisas boas. Dentre elas, muito me emociona quando alguém me presenteia com um folheto de cordel ou um CD de violeiros, encontrado em uma feira ou um recital. Menos que o valor econômico do presente, anima mais ouvir a frase “Vi esse folheto e lembrei de você...”.
Semana passada uma tia mandou deixar em minha casa O CD “Viola e Amigos” de Zé Vicente da Paraíba. Tenho me deleitado com cada faixa, as quais trazem poesias em vários estilos, além de depoimentos do autor que traduzem bem a realidade e a cultura do poeta popular.
Em um desses depoimentos, emociona a forma como o poeta fala da sua emoção ao ganhar a primeira viola. É por isso que trago o depoimento para Mundo Cordel. Basta clicar na imagem da capa do CD, acima, para ouvir.
Mas saibamos um pouco mais sobre o poeta, lendo o que escreveu o jornalista José Teles no encarte:

Zé Vicente da Paraíba (nascido em Pocinhos, agosto de 1922) é uma daquelas figuras lendárias da cultura popular brasileira. Cantador de viola desde os anos 30, contemporâneo de outras lendas como os irmãos Batista (Lourival, Dimas e Otacílio, e Zé Limeira, para citar uns poucos nomes). Com 83 anos, morando em Altinho, longe das pelejas, muita gente imaginava que houvesse morrido. Pois não só não morreu, como continua com a memória mais afiada do que muitos cantadores jovens.
Nos anos 70, Zé Vicente da Paraíba alcançou notoriedade por ter versos seus cantados por Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Marília Pêra. O seu Quanto é Grande o Autor da Natureza passou pela música de um bando de figurões da MPB, mas direitos autorais que é bom, cala-te boca! Zé Vicente da Paraíba ganhou muito pouco. Também pouca foi badalação entre essas estrelas. Em pouco tempo ele voltava à rotina, e ao desafio de viola.
Assim como vários outros grandes artistas da cultura popular, Zé Vicente estava fadado a viver o resto da vida no ostracismo, já que não sai mais mundo afora com viola pronta para embalar seus versos afiados. Foi aí que Herbert Lucena encarou este desafio de registrar em disco, a poesia e as histórias do veterano cantador. Aliás, é bom ressaltar, foi Zé Vicente o primeiro violeiro a gravar um álbum de cantoria, isto há 50 anos, na extinta gravadora pernambucana Rozenblit.
Zé Vicente da Paraíba, Viola e Amigos faz justiça ao cantador paraibano, em particular, e à cantoria de viola em geral. Lucena não se limitou a simplesmente registrar a voz e viola do repentista (como a grande maioria dos discos do gênero, inclusive do próprio Zé Vicente). Ele enriqueceu a música (música, sim, por que não?), do cantador com outros instrumentos, músicos, colegas de viola. Tornando este projeto pioneiro em disco-tributo a um cantador (eu, pelo menos, não conheço outro igual).
Estão aqui reverenciando este gênio da poesia nordestina, repentistas como Raulino Silva, Rogério Meneses, Hipólito Moura, Antonio Lisboa, Edmilson Ferreira, Raimundo Caetano, Severino Feitosa e Daudete Bandeira, Oliveira de Panelas, bandas de pífanos, o forrozeiro Valdir Santos, o grande João do Pife, Tavares da Gaita, enfim, muita gente boa. Herbert Lucena divide com Zé Vicente da Paraíba a honra de cantar a antológica Quanto é Grande o Autor da Natureza, um improviso que virou referência perene da cantoria de viola. E prova do prestígio do velho cantador entre as novas gerações da viola é a homenagem que lhe presta a dupla de repentistas Raimundo Nonato e Nonato Costa, considerada a maior revelação da cantoria nos últimos vinte anos.
Zé Vicente da Paraíba, Viola e Amigos, é um trabalho que aponta um novo caminho para popularizar os versos de repentistas em disco. Um achado de Herbert Lucena a redescoberta de Zé Vicente, e excelente o formato que encontrou para perpetuar o talento deste mestre de uma arte que é a cara do Nordeste.

Para encerrar, a Rádio Mundo Cordel traz a obra Quanto é Grande o Autor da Natureza: