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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

As rosas cheiram bem?




As compilações Desert Roses (e outras que aparecem por aí a dizer "isto é música árabe") ora são o puro Orientalismo - segundo a Teoria de Edward Said da forma como o "Ocidente" vê os "orientais" - ou é mandar à favas a todos que esperam essa mesma pureza fantasiada. Esta colectânea é um misto das duas atitudes ao ponto de se encontrar aqui Reggaeton (Tres Mundos), um insuportável italiano fatelo (Piero Esteriore) a usar arabescos ("apropriação cultural" dirão os PCs da vida), metal de videojogo (Baghdad Heavy Metal) ou Reggae (Gnawa Diffusion) em alegre sintonia com a Aldeia Global - se calhar num volume anterior até lá 'tá o Candy Shop do 50 Cent! Este é o quinto volume editado pela CIA (Copeland International Arts) e é de 2007. A maioria das músicas são do Líbano mas há aqui também sons do Egipto e da Argélia, por exemplo, sem que essas fronteiras sonoras sejam identificadas algures no objecto editorial. Obviamente que é mais um disco de capitalização do exótico para se ouvir num bar giro - só não sei bem é aonde... O que vale é que os CDs estão baratos, no meio dos espinhos colhe-se umas rosas, nem que seja porque a "média" desta música do "Oriente" turístico sempre é melhor que a merda do Pop Ocidental...

La Légende Du Raï, vol. 1 (The Intense Music; 2003) é uma colectânea manhosa que se calhar deve ser vendida nas autoroutes francesas, tanto que outros volumes da "colecção" inclui outras antologias "best of" de Chales Aznavour, "stars des sixties", Edith Piaf e outras situações que não consigo identificar nem me interessa... O Raï é um estilo de Pop da Argélia, muitas vezes perseguido pelo Estado e senhores da moral mas que devido à sua popularidade não conseguem abafar. Não creio que falem de política directamente mas já sabemos que os ditadores do mundo não curtem nada sensualidade do amor. Não percebendo as letras fica uma impressão de uma música popular - em que os sintetizadores trouxeram uma universalidade seja no mundo árabe, Cabo Verde, Portugal ou Balcãs, vai-se lá explicar, ou então a família humana tem menos diferenças que os nacionalistas nos impingem! - entre vozes sofridas (de amor? luxúria?), algum trolóló funky (amor conquistado?), alguma intoxicação sonora (?), vozes masculinas, vozes femininas, vozes de crianças (?), alguns stars (com centenas de k7s editadas como o Khaled, quem? Bom, o gajo até aparece duas vezes neste CD, por isso, respeitinho!) e outros nada conhecidos (cóf cóf cóf). Um argelino poderá ficar tão fascinado com um disco de Pimba que apanhasse numa gasolineira na A22. Embora o Raï tenha mais pathos e instrumentais mais bonitos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

10 cidades tornam-se numa aldeia

Antes de ser o livro Ten Cities : Clubbing in Nairobi, Cairo, Kyiv, Johannesburg, Naples, Berlin, Luanda, Lagos, Bristol, Lisbon 1960 - March 2020 (Spector; 2020) por Johannes Hossfeld Etyang, Joyce Nyairo e Florian Sievers (e que já lá iremos) foi um disco. Ten Cities (Soundway; 2014) reúne 50 produtores e músicos das dez cidades já referidas para uma saudável e higiénica orgia juntarem-se para criar o monstro sónico Frankenstein que... pariu um ratito aldeão! Sou contra a ideia que "a fusão é um erro" mas é verdade que pode correr muito mal quando os intervenientes não tenham coragem artística para explorar mais do que uma simples fusão de ritmos já mastigados pela Aldeia Global, sobretudo na área da música electrónica funcional ou de dança. A ideia de juntar norte e sul - Europa e África - num laboratório de música de "Clubbing" tem tudo para correr bem. Talvez o dinheiro do Goethe tenha ido para betinhos que não deixaram a malta ir para o desconhecido musical - ao contrário o que tem acontecido entretanto em Kapala. Tudo é previsível mesmo que as línguas desconhecidas africanas apareçam ao longo do disco, o que é considerado como um brinde exótico pelo responsável da edição. Metade do disco é de uma vulgaridade tal que se resume na letra de Quero Falar (Lunabe com MC Sacerdote) que apesar do apelo... nada diz. Um óbvio reflexo do estado da arte no século XXI, muito artifício, pouco conteúdo. A outra metade do disco é mais chill e também mais interessante mas sem rasgos de génio mesmo que tenha o Maurice Louca ou Alva Noto como músicos. A evitar...

O livro logo que saiu estava já aberto às consequências dos horrores humanos. A primeira e assumida é que aborda a história do Clubbing nas ditas cidades desde os anos 60 até Março de 2020 - mês que marca o final de algo contínuo e progressivo nas nossas vidas, devido ao covid-19. Dois anos depois o que aconteceu a alguns dos clubes e discotecas que existiam até então? A segunda consequência é a inclusão de Kyiv que desde Fevereiro deste ano apanhou com a tentativa de invasão russa na Ucrânia. Que noitadas haverá nesta capital desde então?

O gigantesco livro ensina-nos imenso sobre duas coisas, a história da música de clubbing nessas cidades e a sua relação política. Alguns géneros de música são fáceis de associar às cidades, do Krautrock à Capital do Mundo do Techno que é Berlim ou o Afrobeat / Highlife de Fela Kuti em Lagos. Ou ainda o Jazz sul-africano de Joanesburgo e claro o Trip Hop de Bristol. Ah, e o Kuduro de Luanda! Mas que dizer de Nápoles lembrando-me lá eu que já conhecia 99 Posse? Há descobertas para se fazer neste livro mamute. Para além do "género" muito disto passa pela exclusão social, racismo e contestação às autoridades, não esquecendo o nojo do Apartheid e das suas cidades separadas por raças ou o confronto político das Okupas e Raves ilegais na Europa.

Já perceberam que se aprende muito com o livro mas claro quando chegamos a Lisboa temos Judas na área. Rui Miguel Abreu escreve um artigo sobre a história da música urbana portuguesa (deveria ser sobre música de clubbing, boy!) sem aprofundar nada em especial (porque se calhar não há uma música que defina Lisboa) e Vítor Belanciano dá um no cravo e outro na ferradura, armado em rebelde a criticar a gentrificação da cidade mas tal como Abreu também a vende como um sítio excitante e multi-cultural. Não sei onde estes gajos saem à noite mas devem ser sítios do caraças!! Vê-se nas fotografias que acompanham os artigos! Quase todas em volta do Frágil dos anos 80! Ah! Como a cidade vibra ou sempre foi "multi-culti" de artistas e betos brancos... Onde está essa relação entre Europa e África? Sempre foi fraca e estes artigos revelam isso sem o quererem fazer. Lisboa é uma fraude e gera seres fraudulentos que escrevem sobre ela, obrigado por relembrarem isso.

Mau disco, bom livro.

PS - No livro há uma lista de sons criados por cada cidade. Em Lisboa ela começa em Heróis do Mar para acabar em DJ Lilocox. No meio inserido o Pois pois dos Repórter Estrábico. Sim é a única banda portuguesa Pop/Rock que merece estar em qualquer lista de admiração mas que eu saiba ela sempre foi do... Porto! 

PPS - Abreu e Belanciano: ide pastar!

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Música de Pança

Que pensar de um disco que nem se quer está registado no Discogs? E quando não se encontra nada sobre o "músico" Maroon Shaker? Ele que "tocou" todas as músicas deste Arabian Belly Dance (Weton-Wesgram; 2009)... toca tão bem e é tão diversificado que só pode treta e isto ser uma ripada de vários temas soltos. Ou é um "génio" tipo Mulimgauze que depois de morto ainda descobrem dezenas de discos para editar?? cóf cóf cóf... 
A música é vulgar e bonita q.b. para quem gosta de arabescos e aceitar de que nada percebo de música do médio oriente (ou de seus farsantes). Por isso "cala e come". Isto soa a falso mas ao mesmo tempo está tão bem? Parece que são de várias fontes mas o som é tão coerente - no que diz respeito à produção / gravação. Que pensar sobre isto? A ignorância é felicidade e só posso estar grato de ter adquirido este CD a "1 pau" no evento mais importante do ano passado no que toca a edição independente, o M.A.L., que decorreu na Dona Ajuda, onde é despejado "lixo cultural" e onde estas pérolas estão à espera de pequenos fanáticos como eu. Quero mais panças, até podem ser de gajos gordos invés destas belezas da capa, baratinhas e que abram os ouvidos para além de Bagdade.

domingo, 9 de janeiro de 2022

As minhas ancas são árabes




O álbum de estreia dos Fun-Da-Mental começa suave. Alto! O primeiro CD tem como "intro" a gravação de um neo-nazi a cuspir ódio racial e político ao telefone, na "intro" do segundo CD há um político (?) a ser entrevistado que até defensor dos direitos dos animais e vegetariano que não tem nenhuma empatia pelo facto de vender armas e consequente trazer sofrimento às pessoas do "terceiro mundo" - ele responde que não, traçando um pensamento Ocidental que o resto da população do mundo é sub-humana. 

Se Seize the time (Nation; 1994) mexe para uma pista de dança, tal como um ano antes os Trans-Global Underground já tinham dado o mote (ou hype - já havia outras cenas antes) com a fusão da "world music" (ó termo desgraçado!) e a electrónica de dança, Fun-Da-Mental é a outra face da mesma moeda. Essa face é fodida, cheia de Rap contestatário - apelidos de "Public Enemy asiáticos" tal era a imaginação da imprensa dos anos 90 - e mensagens políticas para os emigrantes ou jovens de segunda geração da Inglaterra. As batidas Hip Hop ou Techno com Bollywood e arabescos contagiam o corpinho enquanto a alminha enche-se de consciência social, assim para gente simpática e com intenções de paz & amor.

A pintura fica estragada com o Erotic Terrorism (Nation; 1998) - verdadeiro segundo disco da banda? Uma vez que With Intent To Pervert The Cause Of Injustice! é uma versão instrumental melhorada / aumentada do Seize... O interior do livro não deixa dúvidas que isto já não é uma peça "chic-freak" para "normies" pois está cheia de fotografias de cadáveres com a Declaração Universal dos Direitos Humanos impressa por cima deste holocausto global. Começa com um drum'n'bass devedor aos Asian Dub Foudation - aliás todas estas bandas aqui referidas estão na mesma casa fonográfica - segue por um Hip Hop mortal a lembrar Consolidated. A terceira faixa é destruição industrial pura que poderia ser dos Ministry do tempo do ΚΕΦΑΛΗΞΘ. Inesperado e raivoso.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Feliz 2022

 



A Discrepant Records é uma editora que atacou por todos os lados em "músicas atípicas" muito à semelhança do que é a Sublime Frequencies. O seu responsável é português que vive entre paraísos fiscais e a capital do império Londres. Sei lá, foi o que percebi...  rumores. A verdade é que captou nos últimos anos quase todos os músicos portugueses de foro experimental ou out, tipo Filipe Felizardo ou Von Calhau, ao mesmo tempo que apresenta sons de mundos exóticos para nós eurocêntricos ou colagistas  sonoros como People Like Us ou ainda novas músicas do mundo não-ocidentalcrata como estes Praed com Fabrication of Silver Dreams (2017) e Rizan Said com King of Keyboard ((2016) ambos parcerias com a editora libanesa Annihaya.

Praed não é coisa fácil de ouvir quando estão em modo de Jazz mas este é um álbum psico-étnico acessível a qualquer cidadão do mundo que não se quer irritar com música. Pegam na música tradicional árabe Shaabi fundem Space Jazz (seja lá o que isso quer dizer) e algum Noise para inglês ver, o que dá para agradar gregos e troianos, acho. Agradável prá trip hipnagógica de sofá porque tem profundidade temporal. Há algo de Maurice Louca mas sem drama. A capa não é prateada, é o efeito da luz no plástico que a faz assim, é mais sonhos de alumínio.

Said é o braço esquerdo do sírio Omar Souleyman - o direito serão os poetas que se segredam as líricas ao ouvido? - e que metralha nos seus concertos o techno-allah mais pujante prá dança sem travões. Este disco é isso mesmo, Said a curtir a sua sem a voz do Souleyman. Tão simples como isso sem ser simplista porque estamos perante uma verdadeira demonstração de virtuosismo no orgão (ehm...) tal como o outro cromo dos E.E.K. A festa de ano novo já 'tá programada em casa com estes LPs todos, só falta mandar vir  as dlogas pela Getir!

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Xenotopia


De tudo de excelente que se pode dizer de Musique de France (Crammed; 2016), álbum de estreia dos Acid Arab, o melhor ainda é o próprio título. Estes dois produtores electrónicos que assinam o trabalho são franceses (um até é luso-descendente), são branquinhos, são europeus e usam músicas orientais com música electrónica de dança ocidental para melhorar ambas. O título não deixa margens para acusações de apropriação cultural pós-colonial.
O fascínio pelo lado arabesco por europeus não é novo, relembro os nossos Çuta Kebab & Party ou o confuso Muslimgauze, ou ainda indo aos pioneiros Byrne & Eno. Da mesma forma que se encontra o inverso como Ahlam ou Maurice Louca... O que vale é que aqui estamos no "state of the art" deste "género", acho que nunca se ouviu de forma tão nítida e bem produzida este híbrido, que faz todo o sentido se misturar.
Em parte percebe-se que há também uma comunidade de músicos do médio-oriente a ajudá-los como Rizan Said (ligado ao Omar Souleyman!) ou Rachid Taha. Entretanto saiu o novo disco deles com mais participações "genuínas" para os que se preocupam tanto com a pureza das coisas...

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Arabi Jazz



Antes de Amir ElSaffar e antes das foleiradas da ERC Records, em 1958 já se tinha fundido o Jazz com os sons das Arábias, graças a Ahmed Abdul-Malik (1927-1993) a tocar oud no East Meets West (Riverside). Nascido nos EUA, dizia que o pai dele era sudanês, mas "wikis" consultados dizem que o pai era das Caraíbas, bof, talvez por isso que Abdul-Malik não voltará a fazer discos assim (a peta não pegou?) - FAKE, volta a fazer um disco este-encontra-oeste em 1963!
No primeiro LP a fórmula ainda está para se descobrir mas é melhor que o segundo disco e mais tarde e melhor em Jazz Sahara (RCA, 1960) porque tem faixas mais longas, e por isso, mais adequadas às expansões melódicas da música árabe - especialmente a faixa El Haris / Anxious. Há muito saxofones intrometidos ao ritmo dromedário da coisa mas mais tarde ou mais cedo calam-se. Uma boa descoberta que me faz esquecer o excesso de ElSaffar...

terça-feira, 26 de junho de 2018

Em frente em todas as direcções!


Num ano é música dos Balcãs, noutro é Cubano, no seguinte é Afrobeat e Highlife, depois é Klezmer, etc... O Ocidente capitalista e bronco vai descobrindo a música do "resto do mundo" desta forma homeopática. Para quem quer tudo ao mesmo tempo há uma solução e não, não são os Clash nem os Mano Negra!

É uma banda inglesa que se pode meter no meio dessas duas, os 3 Mustaphas 3, um verdadeiro "melting pot" de músicas do mundo pelos quais não temos de esperar pelo David Byrne ou pela Soul Jazz para esperar pela moda musical primavera / verão. Estes ingleses eram uns sete em palco mais o seu frigorífico, onde guardavam fruta fresca - colocando o Bez dos Happy Mondays numa situação complicada: o que é melhor ter como elemento extra de uma banda? Um gajo que dança ou um electrodoméstico que dá vitaminas? O Bez arranjava drogas, hummmm...

Quer ouvindo Shopping (1987) ou Heart of Uncle (1989) não encontro grande diferenças entre os discos. A base desta banda é Balcãs, Klezmer, música árabe e cigana mas nada impede que eles mudem para ritmos Africanos e Afro-latinos ou até para Funk e Rap. A diferença passa pelos formatos de edição apenas, Shopping é ainda um disco pensado para LP e o outro já se estica para o tempo de uma hora graças à tecnologia do CD - que se imponha na altura como o formato áudio do futuro [rir nesta parte]. Uncle incluía mais vozes femininas também ou assim parece, se calhar tem a mesma proporção para uma hora de música... Quem sabe?

Apesar de serem todos uns branquelos britânicos - e tal como todos os ingleses tem focinho que parece que gostam de tau tau - os 3M3 (posso-vos tratar assim?) eram contra as fronteiras físicas e musicais, estavam nitidamente 30 anos à frente da Inglaterra-Brexit de hoje. Em 2018 é bom ouvir música destes tipos com aqueles chapéus marados (o chapéu chama-se "fez" ou "tarbush"), ainda dá alguma esperança na Humanidade ou naquela ilha...


Thanks Fikaris for the tip. Obrigado à Glam-O-Rama por ser o único sítio em Lisboa (essa capital tão falsamente cosmopolita) que tem estes discos!

PS - entretanto apanhei Soup of the Century (Ace / Ryko; 1990), o último disco desta banda e é uma grande seca. A inspiração passou a gordura de comer muito, provavelmente... pena!

domingo, 29 de abril de 2018

Procissão


Um disco inesperado este Gahvoreh (Transmedia; 1988) de António Emiliano, músico e académico, para um bailado do luso-iraniano Gagik Ismailian na Gulbenkian. Que existam peças destas não seria de admirar mas editadas é que é inesperado. New Age manhoso, com travos de Rão Kyao, mistura música persa com sintetizadores, eis uma espécie de Dead Can Dance mais oriental que ocidental. É um LP instrumental que deixa a dúvida entre a beleza, o kitsch e o insuportável, ainda assim é bom saber que em 1988 nem tudo neste país atrasado era só GNR ou Xutos... Claro que isto passou-me ao lado quando era puto e descobri recentemente na Megastore by Largo, no Intendente.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O melhor disco de... [raios, o que se passa comigo?]


Um russo com nome de Holy Palms fez um disco do caraças! Lançado em digital e em k7 pela italiana Arte Tetra, soa a um "up grade" dos Secret Chiefs 3 ou ao disco novo que nunca irá acontecer dos Çuta Kebab &Party. Mais do que isso, é um labirinto...
Metam a versão k7 de Jungle Judge (2016) em "loop" no vosso leitor (ok, na treta do leitor mp3 também serve em "loop") e vão sentir que estão andar à roda pelo deserto - sim, aquela imagem típica de quem se perde no deserto - e que ao descobrir as pegadas feitas anteriormente, ao contrário do normal, não haverá desespero mas antes alegria em identificar alguma parte desse deserto.
É um disco que tem o exotismo ao gosto Muzak, ao mesmo tempo que é denso em informação. Ouvem-se guitarradas Surf ou Metal (Secret Chiefs 3 sem tirar nem por) com ritmos manipulados tradicionais e Hip Hop / Techno (Çuta!) sempre em constante mutação, o que torna cada faixa difícil de identificar. Ao todo é uma hora de música instrumental de metamorfoses várias que estimula uma audição constante, ora para o festão/ orgia ora para o repouso de sofá / "siesta". Acredito piamente que se pode passar isto a toda a hora num "shopping" ou naquelas lojas de roupa durante um ano que tudo seria diferente e mais interessante.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

O melhor disco de 2017 é de 1967



O Kárlon que me perdoe mas o disco dos Devil's Anvil - Hard Rock From The Middle East (Columbia; 1967; reed. Rev-Ola; 2009) - é um concorrente para melhor disco do momento para qualquer um que o descubra.

Há 10 anos escrevi sobre eles mas designados por Kareem Issaq & Middle Eastern e tenho pena que não escrito isto: a malha deles é tão potente que quase apetece vestir um cinto de explosivos e suicidar-me para dentro de uma carrinha de transporte de putos israelitas. Isto era sobre outra banda muito boa que desconfio que não se chama Raks... Ainda assim escrevi que o tema deles na colectânea: numa língua incompreensível usa um "fuzz" infernal e um andamento mortal, Besaha é o nome desta petita de ouro negro!

10 anos depois lembrei-me de procurar pela banda e descobri que tinham um álbum inteiro! Yes! Comprei o disco em formato CD baratinho claro, não há cu para pagar balúrdios pelas edições originais e tal. No CD vêm a história todo do grupo... É malta árabe e norte-americana de Nova Iorque que fazem fusão de Rock e Folk árabe (usando instrumentos tradicionais). Tiveram um azar com a carreira porque lançaram este (único) disco no meio da guerra entre Israel e os países árabes. Ninguém quis pegar neles. Com as ondulações típicas da música que se celebram na voz, ritmos e cordas acrescente-se peso Rock garageiro, bem sujo e energético - oiçam o tema Selim Alai e não me digam que não é o tinido juvenil desejado!!! A combinação é explosiva (as piadas são para manter, desculpem lá) e sem uma ruga do tempo. Há quem diga que é um disco feito antes do seu tempo. Em 2017 estava fresco, em 2018 vai continuar a bombar nas colunas...

E já agora: FREE AHED TAMINI!!!

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O Santuário de Fāṭimah


Mdou Moctar : Afelan (Sahel Sounds; 2012)

Há uma idade em que um gajo fica com menos energia mas há música calma chata e outra que é calma e estimulante. Há um cliché enorme da beleza dos Blues do Sáara. Há uma ideia Ocidental que as músicas dos outros povos - do Terceiro Mundo - é sempre bonita e cheias de boas intenções. Moctar pode estar a dizer que os portugueses são uns idiotas (o que é uma verdade pouco ofensiva, diga-se) mas um gajo papa esta música sem perceber pevas. Ela é feita em ambiente de volta da fogueira com uma festa para acontecer... Não a sério, este disco é bonito, fofinho e aconchegante. Perfeito para a noite de verão, fim de verão e até na noite de inverno, ao contrário da música ocidental que cada vez mais é histriónica pela overdose de açucar digital e café plastificado.
Como é bom voltar a casa depois de um dia de stress e ouvir este LP e ler o Albert Cossery!

sábado, 27 de maio de 2017

O meu coração não é árabe


Muita polémica se gera sobre Muslimgauze, um bife que mistura música electrónica com excertos de música árabe. Defensor da causa palestiniana, o falecido Bryn Jones (o gajo detrás do nome) deveria ser só mais um parvinho autista - a julgar pela quantidade enorme de música que fez, cerca de 2000 músicas! - incapaz de separar o sentido de injustiça que sente pelo conflito Israel-Palestina do ódio anti-semita propagando pela Extrema Direita e o Islamismo Radical que mais do que uma vez se apoiam um no outro -Israel a financiar o Estado Islâmico, por exemplo. Pior de que Jones não ter uma causa humanista é ter tido um excesso de naïvité (ou falta de intelecto?) para confundir o anti-imperialismo com movimentos fascistas islâmicos, da mesma forma como o burro do Valete rapou numa faixa de 2004. Aliás, é um erro comum na Esquerda radical achar que alguns movimentos terroristas no mundo árabe ou do Terceiro Mundo são "cool" porque matam gringos, esquecem-se que se alguma vez estes grupos subirem ao poder, os primeiros da lista para o extermínio serão justamente eles, a malta de Esquerda. Enfim... 
Ouvindo Chapter of Purity (Tantric Harmonies; 2002) que reedita faixas de inicio de carreira, de 1985 a 1987, confirma-se que a música de Muslimgauze é chata e preguiçosa, Dub e electrónica ambiental sobre excertos orientais, em que se ouve mais multidões em fúria (manifestações sacadas da TV?) do que melodias hipnotizantes com cheirinho a kif - nem podia, um tema é dedicado ao "Santo" Jarnaii Singh Bindranwale que era contra as drogas. Valerá a pena explorar mais discos dele? Tudo neste CD de uma editora russa é manhoso, desde os temas que se intitulam de Hezbollah ao "artwork" pró-militarista típico dos merdinhas do Industrial Militar e Dark Folk. Ainda bem que Jones já deu o badagaio, deve ter morrido virgem e foi para o céu de Allah fazer das 72 prometidas para o suicida-bombista que cumpre o seu dever...

domingo, 16 de abril de 2017

Ghostalking


Dois carros param no vermelho no meio de um deserto (um semáforo no meio de nenhures já é uma grande cena).  Num dos carros o condutor é um israelita, no outro é um palestiniano. Ficam ali parados, à espera do verde, a ouvir uma versão trip-hop-arabesca de I Put a Spell on You pela maravilhosa Natacha Atlas, talvez a melhor versão de sempre desta emblemática música de Screamin' Jay Hawkins (1929-2000). Reparem como a letra ganha contornos irónicos perante a javardice territorial-política daquela zona: I put a spell on you / Because you're mine / You better stop the things you do / I tell ya I ain't lyin' I ain't lyin' / You know I can't stand it / You're runnin' around / (...) I can't stand it 'cause you put me down / Oh no I put a spell on you / Because you're mine  / You know I love you I love you I love you I love you anyhow / And I don't care if you don't want me / I'm yours right now (...) Esta era a melhor cena do filme Intervention Divine (2002) do palestiniano Elia Sulelman.
Não sei porque raios só gravei metade da banda sonora original, em 2003 (?), para uma k7, toda ela é uma maravilha, ora mostrando alguns clássicos da música árabe como Mohamed Abdel Wahab ou Nour El Houda, novas estrelas Pop como Amr Diab, indies libaneses como os Soapkills ou ainda produtores electrónicos como Amon Tobin, Mirwais ou Marc Collin. Esta grande miscelânea de velho e moderno é uma joia. Compra-se isto nos dias de hoje por 3 euros, vale bem a pena...

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Intermezzo


Music from Saharan Cellphones (Sahel Sounds; 2011) é um LP (originalmente editado em k7) que compila a múica mais popular que se ouvia em 2010 no deserto do Saara através da transferência de ficheiros via Bluetooh dos telemóveis... Já quando o autor Bruno Borges foi à Mauritânia (creio...) tinha-me contado que não encontrou nem k7s nem CD-Rs das músicas regionais, como se esperava para quem pensar por exemplo na Awesome Tapes of Africa. Invés disso, era preciso ter uma pen USB para os locais colocassem músicas nela. Uma sofisticação tecnológica inesperada sem dúvida. Voltando à compilação, uns gringos de Portland, andaram pelo Saara, gamaram essas músicas e fizeram a tal k7. Mais tarde depois de localizar os compositores saiu o LP, supostamente pagando os royalties aos seus autores. Alguns deles aliás que se transformaram em stars do circuito "world music" como Mdou Moctar ou repetentes para outras colectâneas da Sahel como Kaba Blon. Além do "Blues tuaregue" que já há muitos anos tem sido difundido pelos Tinariwen à escala global, encontra-se Hip Hop e Techno do Mali - a lembrar o kuduro - mostrando de quem anda de camelo no meio do deserto sabe curtir mais a vida do que os coninhas ocidentais que ouvem Arcade Fire e outras bandinhas indie da tanga.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Kebab de fusão

Os Trans-global Underground são uma instituição de como a música podia trazer a paz mundial se isso implicasse apenas fazer uma amalgama de sons de um bocado de todo o planeta. A prova é que o pouco que os TGU apanham em Londres, nas lojas de indianos ou de exilados do médio-oriente ou de África, ao qual juntam os "big beats" da música ocidental mostra que resulta e podiamos ser uma verdadeira Aldeia Global, feliz e em festa. Yes Boss Food Corner (Ark 21; 2001) é o sexto disco que mantendo o pézinho de dança de sempre não avança muito mais naquilo que eles projectaram quando começaram a sua carreira fonográfica em 1993. Falta a presença da fantástica cantora Natacha Atlas para que o disco tenha uma aura emblemática.
Desconfio que nesta altura do campeonato (seja em 2001 seja em 2016) algures na Índia ou no Egipto alguém já fez melhor do que isto. Mas como disse logo início, os TGU são tão importantes como a ONU, para o melhor e para o pior, com ou sem apoio da Coca-Cola.

E se o TGU são uma instituição, Nusrat Fateh Ali Khan (1948-97) é uma Lenda. A sua voz e música lembram banhos no mar atlântico, aquele ir e vir de ondas potentes que vão contra o corpo de um gajo, naquela luta inútil e imersa na Natureza, em que só quem se banha perde energia, o mar ganha sempre. Resta depois descansar satisfeito na toalha no meio da areia com a sensação que se foi espancado mas que soube bem! É o que sinto sempre que oiço Body and Soul (Real World; 2001) e deve ser a única vez que fico feliz com a capacidade do CD ultrapassarem o tempo do disco vinil LP. Se isto foi uma das razões porque a música tornou-se balofa nos anos 90 e seguintes com o pessoal a encher chouriços nos discos só porque podiam ir aos 80 minutos, aqui o excesso sabe bem, preenche a Alma com o sufismo e a anca com Qawwali. E por escrever sobre excessos, foi a obesidade mórbida desta voz paquistanesa que lhe causou a morte demasiado cedo. Mesmo morto ele continua a bater-nos...

Crisis (Pi; 2015) de Amir ElSaffar / Two Rivers Ensemble é um grande disco para quem não gosta de Jazz ou de música "árabe" - ou "maqams" iraquianos em especial. Os dois géneros fundem-se em perfeição total, sob as composições e improvisações deste trompetista norte-americano (de pai iraquiano e mãe americana) num formação de sexteto. Disco e temas dedicados à Primavera Árabe, tem tanto de dramático como de exaltação física, de fuga emocional como de conservador ao mesmo tempo. Quem não gosta de Jazz nem reparará que ele está lá. Quem não gosta de "world music" achará que está aqui algo diferente e que se encontra até em algumas ideias dos Secret Chiefs 3 mas muito sinceramente, quem é que não gosta de música árabe?

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Arabic Punk não é para ímpios

Escrevi esta resenha em Agosto do ano passado, bem que desejei ver estes tipos no Milhões de Festa mas foi cancelado e hoje, finalmente, vai haver festa na ZDB! Ah no Porto, quem fez o cartaz do concerto foi o Dr. Uránio (o que fez as capas dos últimos três Mesinha de Cabeceira!).



Há quem diga que a música árabe só deve ser apreciada ao vivo. Talvez por isso muita dela editada em disco são gravações ao vivo. Topa-se a emoção e pujança de uma performance em directo dos deuses Om Kalsoum ou Farid Al-Trash com o público a arrotar postas de pescada, a puxar pelos artistas, a participar na catarse colectiva,... Mas também percebe-se isso em E.E.K. e o LP Live At The Cairo High Cinema Institute (Nashazphone; 2014), projecto de Islam Chipsy que toca sintetizador e de mais dois bateristas, embora a barulheira é tal que mal se ouve o público. O que se ouve é um power-trio (e que power, grande Alá!) que improvisa em palco arabic-punk! Punk que já não se vê no Ocidente, doideira a lembrar os ritmos "Electro" de Omar Souleyman ou Jibóia mas em orgia total de festa e improvisação que a gravação de 2011 capta numa perfeição "lo-fi".
Estes egípcios são loucos!
Por acaso, este sistema "festa ao vivo que se lixe tudo e todos" dá no que pensar quando se vê ao vivo os Flamingods (das realmente boas surpresas do Milhões 2014) e depois quando se ouve o seu LP Sun (Art Is Hard Records; 2013)... pois é, deviam era ter gravado ao vivo!

segunda-feira, 20 de julho de 2015

My kind of people...


Estes manos do Estado Islâmico são tudo menos fixes mas admito sentir uma ponta de admiração em terem explodido com um estádio olímpico no Iraque. Se há algo que merece uma bomba nos cornos são os templos do Desporto. Obrigado por me alegrarem a Segunda-Feira!

terça-feira, 10 de março de 2015

Algaraviada do papagaio

No Monstre andava por lá à procura de um WC (não, não do livro mas realmente de uma casa-de-banho) quando a porta que me parecia com as instalações sanitárias era afinal uma discoteca (não, não uma "dancetaria" mas onde se vendem discos, sabem?). Um sítio que já é mítico pelos vistos, a Urgence Disk que era um sonho de sítio para quem gosta de Industrial e afins. Os tipos da loja foram impecáveis e ficaram logo com três cópias do vinilo dos Çuta Kebab & Party para espalhar por lá! Conversa puxa conversa e foi parar ao catálogo da Barraka El Farnatshi, editora suiça de "arabtronics".
Trouxe o terceiro disco dos Ahlam (sonho), Les Riam (1997) que significa "miúdas" e talvez por isso que eles tenham abandonado os temas sociais que caracterizavam os primeiros discos. Para mim, dá igual sem domínio da linguagem marroquina, restam as linguagens musicais alinhadas ao Techno / Hip Hop / Dub - com algumas passagens pelo Reggae - sem nenhuma inspiração especial. Soa bem mas falta sair do artifício. A capa diz tudo porque roça o mau gosto ácido-digital misturado com universos New Age, ainda assim o que falta mesmo é o ácido na música. A editora é de pesquisar por mais discos de outros projectos, sem dúvida!

Já tinha avisado aqui do meu interesse pelo Maurice Louca, um egípcio que faz manipulação electrónica sobre música árabe mas ao contrário de Çuta Kebab & Party e outros projectos electrónicos do tipo, Louca tem uma série de músicos a quem recebe peças originais para trabalhar. Salute the Parrot (Nawa; 2014) é um álbum simples que nem chega aos 40 minutos mas é viciante de se colocar em "loop" eterno a qualquer hora do dia. A lógica de "remix" está incrustado nos beats e na mesa de mistura que vão alterando, adicionando ou retirando elementos sonoros e que devido aos padrões melódicos e rítmicos da música árabe (o maqam), facilmente consegue-se efeitos psicadélicos e de beleza narcotizante. Técnicas nada novas se pensarmos em My life in the bush of ghost de Eno e Byrne, passando ainda pelo poderoso tema industrial Hizbollah dos Ministry ou as centenas de músicas de Muslimgauze. Não sei se em relação ao último isso acontecia mas nos primeiros os músicos usaram cantares muçulmanos sem pensar (ou saber?) o que estavam a usar (?), talvez por isso que a edição de My life (...) tem temas retirados após a pressão de associações muçulmanas que acharam mal usar textos "divinos" do Corão para fazer música pueril - vulgo "Pop". Com Louca e o seu "papagaio" ou também os Ahlam (ou já agora os Checkpoint 303!) isso não deverá ser um problema porque usam também instrumentos e vocalizações originais, embora claro que não percebemos peva, talvez até haja "esquerda" nestas letras dado às "primaveras orientais" mas não sei! Só sei que com Corão ou com Esquerda Unida Jamais Será Vencida soa sempre bem todos estes arabescos!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Laurence Yadi & Nicolas Cantillon : "Multi Styles FuittFuitt" (Bulbooks; 2014)


Acho que foi a única que trouxe da Monstre - ou melhor, a única coisa que quis mesmo trazer... Trata-se de um guia prático para dançar FuittFuitt, uma dança contemporânea desenvolvida pela Compagnie 7273 - que ainda no mês passado actuou em Portugal. O livro foi desenhado, editado e publicado pelo suiço Nicolas Robel - quem é que se lembra da exposição na CHILI! em 2009?
Esta dança é uma espécie de "punkice" na cena, liberta de formalismos e dogmatismos desta área performativa, conseguindo fazer um ponto de encontro de ideias tão díspares como citar Bruce Lee ou referir a Mohamed Matar mas é sobretudo no "Tarab" em que se focam. Esse êxtase árabe que não há palavra ocidental para a traduzir e que permite uma liberdade de movimentos e de conceitos que não se deve encontrar em mais lado nenhum... Robel fez um excelente trabalho, daqueles que merecem ser copiados por outros de tão exemplar que é, em que mistura fotografia, desenho, infografia, (a técnica de) flipbook e texto num livrinho de simples consulta que até vai ao requinte de fazer padrões árabes no corte dianteiro (o lado oposto da lombada, ou seja todas as folhas do miolo que fazem também uma "lombada") para surpresa dos seus utilizadores. Duvido que olhe para este livro para começar a dançar, mas para roubar boas ideias editoriais é quase certo que voltarei a ele...