quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Oficina do Livro em prol da cultura e do património.



Exmo. Senhor Presidente
Dr. António Costa


Voltamos ao contacto contacto de V. Exa. para lhe dar
conta da efectiva ilegalidade da operação de remoção dos
letreiros modernistas originais das fachadas da antiga livraria (agência) do
Diário de Notícias, no Rossio, uma vez que fomos informados de que não deu
entrada na DRC-LVT nenhum pedido de alteração àquela loja.

Aqui chegados, pedimos a V. Exa. que nos esclareça
quanto ao procedimento a adoptar pela CML no sentido de repor a
legalidade, ou seja, instar o proprietário a recolocar os letreiros
naquelas fachadas, respeitando o património da cidade (a fachada de loja está
inscrita na Carta do Património anexo ao PDM, e a loja está inserida na Baixa
Pombalina, IIP) e o que resta do projecto original modernista do Arq. Cristino
da Silva, de 1936.

Na expectativa, subscrevemo-nos com os melhores
cumprimentos

Fernando Jorge, António Branco Almeida, Luís Marques da
Silva, João Filipe Guerreiro, António Araújo,

C.c. AML, Media.

Calçada da Glória.

Exmo. Senhor Presidente da CML,
Dr. António Costa


Como é do conhecimento de V. Exa, a Calçada da Glória é um arruamento do centro de Lisboa cheio de personalidade, cumprindo funções essenciais como facilitar o acesso ao Bairro Alto desde a Avenida da Liberdade, e vice-versa. Nela corre o elevador da Glória, uma peça iconográfica da cidade.

No entanto, o estado em que a calçada e o elevador se encontram, tal como, aliás, a situação lastimável do Largo da Oliveirinha; contrasta fortemente com a sua importância e a sua dignidade, esta totalmente perdida desde há alguns anos.

Na verdade, a calçada apresenta um amplo conjunto de problemas, todos da responsabilidade directa ou indirecta da CML, já que decorrem da gestão do espaço público., a saber:

- As paredes do edificios estão cobertas de grafitis, tornando a calçada um "túnel surreal" dos Restauradores a S.Pedro de Alcântara;
- O Largo da Oliveirinha apresenta-se no mais baixo nível de desprezo, após incêndios, derrocadas e demolições, que até hoje nunca sofreram qualquer reparação;
- O chafariz no topo de calçada apresenta-se totalmente degradado e vandalizado;
- Painéis de grafitis escondem a degradação do muro de sustentação da Rua das Taipas, sendo eles próprios o maior contributo crítico para a degradação da imagem desejável do local;
- A entrada para a Travessa do Fala-Só, arruamento tão típico de Lisboa e que bem merecia o estatuto de Interesse Municipal, mostra-se igualmente num estado de degradação limite;
- O piso apresenta-se, na sua totalidade, em particular mau estado, desrespeitando e pondo em risco quem sobe e desce a calçada a pé;
- O nível de sujidade quase permanente é inadmíssivel;
- A maioria dos edificios está em mau estado, apenas se vendo edifícios abandonados e vandalizados;
- Os dois veículos elevadores apresentam-se sistematicamente vandalizados, o que sucede cada vez com maior frequência.
Por todas estas razões, a Calçada da Glória é hoje um local triste, vergonhoso e insalubre, em vez de cumprir a sua função com a dignidade que a cidade requer. Acresce que o elevador é utilizado maioritariamente por turistas, o que agrava ainda mais a situação.

Estes problemas podem e devem ser alvo das políticas públicas de regeneração urbana, devem ser corajosamente enfrentados, por via de acções de policiamento permanentes e de desencorajamento aos "grafiters" (ao invés do que sucede presentemente com os painéis!). A reabilitação dos edificios degradados e abandonados é igualmente urgente. Os elevadores devem ser protegidos durante a noite (porque não remontar a estrutura/garagem da primeira metade do séc. XX?).

O Fórum Cidadania Lx está disponivel para colaborar com a CML para se discutir a melhor forma para uma requalificação de facto do local, pelo que solicitamos a V. Exa., Senhor Presidente, a marcação de uma reunião para o efeito.

Na expectativa, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos


Nuno Caiado, João Filipe Guerreiro


--
http://cidadanialx.blogspot.com
http://cidadanialx.tripod.com

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Santo Amaro, que futuro?

A lenta agonia, ou a salvação, de um quarteirão de Lisboa


Por José António Cerejo in Público

Um vasto espaço verde do tempo do Palácio Valle Flôr, no Alto de Santo Amaro, conta com cinco projectos em trinta anos. O último, já aprovado, mas agora em tribunal, é de Souto de Moura. Certo é que tudo ali mudará


Vai para dez anos, em Abril de 2002, um projecto para o Alto de Santo Amaro foi chumbado pelo então Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar). O mesmo aconteceu, quatro anos depois, a uma outra proposta para ali apresentada por outro arquitecto. Mas já em 2007, o organismo que sucedeu ao Ippar, o Igespar, viabilizou no mesmo sítio um projecto de um terceiro arquitecto. Só que esta última solução merecera dos consultores do Igespar objecções semelhantes às que tinham levado à recusa das anteriores.
Em Lisboa, a cidade faz-se e desfaz-se assim há muitos anos: o que não se pode agora passa a ser permitido mais logo; o que é negado a este é autorizado àquele; o que se faz reconhecidamente mal acaba por servir de pretexto para se voltar a fazer mal. Basta haver tempo e meios para esperar. Basta insistir, baralhar e voltar a dar. Basta conseguir apoios onde fazem falta. Mas não é obrigatório que os bloqueios sejam bons e as facilidades perversas. Por vezes é só a burocracia que paralisa projectos e condena a cidade.
No Alto de Santo Amaro, entre Alcântara e a Ajuda, os palacetes e os seus generosos jardins coroavam a encosta, subindo da Junqueira. Ainda nos anos 70 do século passado tinham começado as investidas contra os tesouros que por ali abundavam. Já no final da década seguinte, os poderes públicos reagiram, lançando, para uma área mais vasta, o Plano de Salvaguarda e Valorização de Ajuda-Belém e outras medidas preventivas da destruição dos valores patrimoniais ameaçados. Além disso, vários edifícios e monumentos foram classificados - entre os quais o Palácio Valle Flôr, actual Hotel Pestana Pallace - e uma zona de protecção especial de alguns deles foi criada.
Tudo parecia blindado para que o interesse privado não se sobrepusesse ao interesse público. Regras e regulamentos restritivos não faltaram. Mas as contradições entre eles, as guerras de competências entre serviços públicos e as diferentes interpretações das mesmas normas - entre outros factores - abriram portas que o interesse público parecia ter fechado.
Parte destes instrumentos já estavam em vigor quando, em Dezembro de 1989, ainda com Kruz Abecasis na presidência, a Câmara de Lisboa aprovou um estudo que permitia a construção de um conjunto de edifícios de sete pisos, separado do Palácio Valle Flôr apenas pela Rua Soares de Passos. A viabilidade aprovada, de 16.225 m2 de construção acima do solo, era, porém, inferior em mais de 3 mil m2 aos 19.380 m2 previstos no estudo do arquitecto Ronald Hart. O conjunto ocupava todo um quarteirão verde com 5500 m2, delimitado por aquela rua e pelas ruas Jau, João de Barros e Pedro Calmon e pertencente à Sociedade Agrícola Valle Flôr. Uma das metades tinha ainda grandes árvores tropicais do tempo da construção do palácio, no século XIX. A outra tinha (e tem) quatro moradias, de traça semelhante, que asseguravam a transição entre os palacetes e jardins e os quarteirões de habitação colectiva.
Antes de aprovar o que aprovou, Abecasis pedira o parecer do Instituto Português do Património Cultural (IPPC), o qual foi enviado no final de Dezembro de 1989, dias depois de Jorge Sampaio ter ganho a câmara. Era fortemente negativo, dizia que o projecto violava as medidas preventivas, e foi enviado por telegrama dois dias depois da data em que o município entendera verificar-se a aprovação tácita. Face às relações tensas então existentes entre autarquia e o IPPC, a secretária de Estado da Cultura, Teresa Gouveia, escreveu a Sampaio lembrando-lhe que a aprovação de qualquer projecto para o local exigia a autorização do Ministério da Cultura e que essa nem sequer fora pedida.

Projecto desenterrado

Passado mais de um ano, no Verão de 1991, e sem que o IPPC tivesse sido consultado, as obras iniciam-se com o derrube de árvores e a escavação de fundações. Convencido de que se tratava da construção dos edifícios previstos no estudo que reprovara, o IPPC, através do seu presidente, Antero Ferreira, pediu explicações a Sampaio e propôs ao secretário de Estado da Cultura que determinasse o embargo dos trabalhos. O presidente da câmara limitou-se a informar, para espanto do IPPC, que o terreno onde estava a ser feita a obra tinha sido vendido pela sociedade Valle Flôr a uma outra empresa (Mistral) e que os cinco edifícios em construção na Soares dos Passos tinham sido aprovados em 1983, tendo as licenças sido emitidas meses antes.
O que acontecera então? Impedida de avançar em todo o quarteirão nas condições que propôs no estudo de Ronald Hart, a sociedade Valle Flôr socorrera-se de uma aprovação camarária velha de oito anos - que os consultores de Sampaio entenderam não ter caducado -, pedira as licenças e vendera metade do terreno pronto a construir. Foi assim, à revelia do IPPC, que ali foi construido em 1992, com as alterações feitas em curso de obra pelo arquitecto Mário Sua Kay, um bloco de cinco edifícios de sete pisos projectado em 1982 por Fernando Ló e que representava a primeira fase do empreendimento então aprovado. Pelo meio, a proposta de embargo do IPPC caiu no esquecimento, tendo Santana Lopes, então secretário de Estado da Cultura, ordenado que o assunto fosse resolvido em reunião com a câmara, que nunca veio a realizar-se.
Volvida uma década, em 2002, a sociedade Valle Flôr voltou a apostar na urbanização da metade sobrante do quarteirão, a das quatro moradias, então em bom estado e ainda ocupadas pelos seus inquilinos. Para esse espaço já não foi possível recorrer à aprovação global de 1982, até porque os projectos de arquitectura, ao contrário do que sucedeu com os da outra metade, aprovados em 1983, nunca chegaram a ser entregues. Daí que, em 2002, tenha submetido ao Ippar (sucessor do IPPC) um projecto do arquitecto Sua Kay que previa a demolição das moradias e a construção de um conjunto de sete pisos com um total de 10.631 m2 acima do solo, semelhante e simétrico ao que fora feito na parte de cima. A resposta foi negativa, entendendo o Ippar que a solução, incluindo a demolição das moradias, alteraria "de modo significativo" as características ambientais da zona, "contribuindo negativamente para o enquadramento aos vários imóveis classificados existentes".
Falhada esta tentativa, os proprietários avançaram em 2005 com uma nova proposta, esta do arquitecto Ângelo Dias, idêntica à anterior e pressupondo também a demolição das moradias. A seu favor, a sociedade invocou o facto de já ali estar construído um bloco equivalente e apresentou um parecer privado, assinado por um professor de Arquitectura, que sublinhava o "pouco valor representativo das moradias" a demolir. A solução em análise, acrescentava o professor, "não ofende a qualidade ambiental e paisagística" e constitui uma "opção adequada ao local (...) seja pelo bom senso e pelo acerto da concepção de princípio, seja porque não agride a tradição sociocultural do bairro e a sua tradição arquitectónica". O autor era Antero Ferreira, o antigo presidente do IPPC que em 1989 se batera contra a destruição daquele espaço verde.
No Ippar, Flávio Lopes, o então director regional de Lisboa que em 1991 propusera o embargo do bloco da Soares de Passos, defendeu a aprovação do pedido, sustentando que a relação harmoniosa estabelecida entre as moradias e o Palácio Valle Flôr "foi quebrada" com a construção daquele conjunto de edifícios. Quem assim não entendeu foi o conselho consultivo do instituto, que, no ano seguinte, em sintonia com uma outra informação técnica interna, se pronunciou pelo chumbo da nova solução. O parecer do conselho, que mereceu em Julho de 2006 a aprovação do presidente do Ippar, Elísio Summavielle, defendia a redução da altura do imóvel, "a avaliação da possibilidade de integração das moradias" e uma "frente construída com interrupções" - por oposição à solução proposta, que teria uma frente contínua de perto de 80 metros ao longo da Rua Pedro Calmon.

(in Público).

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Os invisíveis.



Descobrir os velhos que se tornaram invisíveis
Por Kátia Catulo
Numa freguesia de Lisboa com 37 mil habitantes, descobrir um velho fechado num apartamento é um trabalho de formiga. Os números dos Censos 2011, neste caso, pouco ou nada ajudam; servem apenas para comprovar que a tarefa vai demorar muito tempo – há 10 700 idosos a viver em Benfica. Agora só falta saber onde é que eles estão e quantos passam o dia metidos com os seus botões. Esta é uma missão para os técnicos da equipa GIRO – Grupo de Intervenção de Rua – da Junta de Freguesia de Benfica. O nome de código engana os que julgam estar perante uma brigada de acção radical. São na maioria mulheres com um estilo mais próximo de mamãs. Andam acompanhadas por dois agentes da PSP a conversar com quem atravessa a estrada ou quem abre a porta para saber o que é que elas estão para aí a dizer pelo intercomunicador do prédio. O trabalho das três assistentes sociais e dos voluntários começou em Janeiro, no bairro do Charquinho e acaba quando acabar. Isto é, assim que percorrerem todos os bairros da freguesia e sinalizarem todos os velhos a viver sozinhos. Como é que numa torre de sete andares é possível saber se há um velhote solitário? Batendo às portas. Pois que não há outra maneira. No 3.o esquerdo, ou no 4.o direito pode viver um, no lote 46, mais um e, na rua a seguir, mais outro. Se a folha A4 de Rosário Lopes, coordenadora do programa, fosse um mapa, teria vários círculos à volta, sinalizando os perigos – velhos acamados, velhos que não saem de casa porque cuidam de outros velhos, velhos que andam em casa a resmungar com as doenças da velhice. Um a um, os nomes vão surgindo no papel: são 2300 moradores no Charquinho, 380 são idosos apoiados por família ou por instituições e 72 isolados do mundo. A contabilidade, no entanto, está ainda em aberto, já que o balanço final só é feito depois de se riscar todas as portas do bairro e partir para novo bairro. Quem se mete nestes trabalhos, ouve de tudo. Desde lamúrias de Lisete Cardinal, pensionista de 71 anos, cuida de uma mãe de 88, que depois do AVC não saiu mais da cama; queixumes de Maria da Conceição que teve o marido a noite inteira a oxigénio e agora saiu de casa por se sentir “abafado”; convites para provar um caldo verde “acabadinho de sair do fogão”; confissões de um pai viúvo que tem duas filhas a viver na margem sul, mas consegue muito bem tratar da roupa, cozinhar e ainda lavar a loiça; temores do senhor Pato, que tem a mulher internada e que ficou sem ninguém para cuidar dele. Ouvir é só uma parte deste ofício, há uma outra mais ambiciosa. A missão da equipa GIRO é quase uma utopia se considerarmos que as cidades são lugares frios e sem tempo para ouvir os velhotes ou sequer saber quem mora na porta ao lado. Estas mulheres da junta de Benfica querem restaurar as redes de vizinhança de que as gerações mais novas só sabem que existem porque algures na infância passaram as férias de Verão numa aldeia do interior. A estratégia passa por preparar residentes e comerciantes para ficarem atentos: uma luz acesa noite e dia, a caixa do correio cheia de papéis, um cliente habitual que não aparece no café ou na mercearia. São sinais que qualquer morador pode detectar e avisar de imediato os técnicos da junta de freguesia ou os agentes da PSP que têm um telemóvel para estes casos.“A ideia é conseguir que os vizinhos disparem os alertas para depois podermos actuar com a nossa rede de voluntários ou através da entreajuda dos moradores”, conta a presidente Inês Drummond Gomes. O objectivo passa por os velhos a continuarem na sua vida, mas que possam, a pouco e pouco, deixar de ser invisíveis.
ionline

Alfama-te.



Alfama-te. Invadir aniversários e jantar com estranhos


Por Clara Silva



O projecto que dinamiza o bairro lisboeta organiza festas de anos em que todos podem entrar e jantares com estranhos


Em Alfama pode invadir festas de anos para as quais não foi convidado. Ninguém se vai preocupar com isso. Mas para entrar tem de levar um presente para um desconhecido. “Pode ser o par de meias que a tua avó te deu no último Natal, pode ser aquele DVD que tens repetido, o livro que já leste e queres passar ao próximo, uma mola da roupa...” – o aniversariante não é esquisito. Pelo menos é o que garante a equipa do Alfama-te, responsável por organizar as “crash parties”, como lhes chamam.

“A ideia surgiu quando decidimos – ou fomos forçados, já não me lembro bem – organizar a festa de aniversário de uma amiga”, conta Ângela, de 29 anos, uma das responsáveis pelo Alfama-te. Depois de lerem várias notícias como a de uma rapariga que convidou alguns amigos via Facebook para a sua festa de anos e 15 mil pessoas acabaram por confirmar presença no evento, decidiram “fazer de propósito aquilo que os outros fazem por engano”. A equipa do Alfama-te, que além de Ângela conta com Joana e Frederico na organização, lançou um evento no Facebook com a festa de anos da Paulinha, onde qualquer pessoa podia aparecer. “Sabemos que o conceito não é original, mas ainda há muita gente que nos diz que não conhece os aniversariantes e talvez não se sinta à vontade”, continua Ângela.

A pensar nisso, e para a próxima festa de aniversário, decidiram criar uma série de regras no Facebook para “crashar”. “Sugerimos até que as pessoas que não conhecem os aniversariantes se apresentem”, diz. “Queremos que os aniversariantes tenham a melhor festa de sempre – ou pelo menos a mais estranha.” A próxima, o quarto aniversário organizado pelo Alfama-te, é já hoje à noite no Clube Lusitano, em Alfama, e intitula-se “Mascara-te de amigo da Mariana e do André”. O evento já tem mais de 120 confirmações no Facebook, muitas delas de desconhecidos dos aniversariantes.

Os preços das bebidas também trazem muita gente ao Lusitano: cerveja e ginja a um euro, gin e whisky a 2 euros e caipirinha a 2 euros e meio. Ou melhor, em vez de euros deve dizer-se alfamareis. O Alfama-te tem uma moeda própria e já criou o conceito de República Independente de Alfama, numa festa em Dezembro do ano passado. “Nessa altura criámos os alfamarins. Mas entretanto a moeda mudou, a república caiu e temos os alfamareis.” Os alfamareis são um sistema de senhas. Assim que chegar a uma festa tem de trocar o dinheiro por senhas para consumir. Nas festas ninguém passa fome. Também há bifanas no pão, caldo-verde e chouriço assado e os aniversariantes têm direito a um jantar com amigos antes da festa.

Mas nem só de aniversários vive o Alfama-te. Aliás, o grupo que pretende ser uma associação para a promoção e o de-senvolvimento de Alfama tornou-se conhecido por causa dos jantares que organiza com desconhecidos. O “Alfama-te a 10”, como se chama, “surgiu da vontade de sentar à mesa pessoas de círculos diferentes”, explica Joana, de 28 anos, também da organização. “Os jantares de sempre com os amigos de sempre começavam a ficar repetitivos e assim havia desculpa para cruzar pessoas que não se conheciam na mesma mesa.” Até agora, o Alfama-te já organizou cerca de 40 jantares com estranhos, alguns dos quais acabaram por se tornar amigos e combinar outros jantares. Mas nenhum deles pode voltar a participar num “Alfama-te a 10”, essa é a regra.

O sítio dos jantares varia consoante a altura do ano. Desde Abril que a mesa para dez é posta em pátios, becos, largos de igrejas e, mais recentemente, em casa de moradores. “Começámos a receber contactos de moradores e até numa galeria de arte já fizemos o jantar”, conta Joana. “Só não jantamos em restaurantes.” Quem cozinha é sempre a pessoa responsável pelo sítio, “seja o morador, seja o dono do bar ou da galeria de arte”. O próximo jantar com dez desconhecidos é na quinta-feira, 23, e as inscrições decorrem na página do Alfama-te no Facebook (o jantar custa 20 euros).

O mais curioso é que os membros do Alfama-te não moram em Alfama. “Nenhum de nós mora lá, mas apaixonámo-nos pelo bairro”, diz Frederico, de 38 anos. “Como aliás queremos que aconteça a quem o visita pela nossa mão.” Os três amigos que criaram o Alfama-te também se conheceram no bairro típico lisboeta e não conseguem precisar a data de nascimento do projecto. “É um processo”, explica Frederico. “Antes de ter este nome já se organizavam eventos na comunidade de viajantes Couchsurfing e Alfama foi ganhando cada vez mais destaque.”

Frederico conta que a partir de certa altura surgiu a necessidade de focar os eventos mais em lisboetas que em turistas. “Até porque não era rara a vez que este ou aquele turista de mapa na mão mostrava conhecer melhor este bairro histórico que os lisboetas.”

ionline

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Este país não é para velhos.




Pensava eu ir escarnecer da morte, quando, no passado dia 18 de Fevereiro, lia no Expresso “Um desejo absurdo de sofrer”, a crónica de Maria Filomena Mónica. Estava enganado. Mais à frente, no mesmo jornal, Maria José Morgado escreve, ela também, sobre a morte. Na sua crónica "Justiça de Perdição" fala-nos sobre “Morrer em Lisboa”.

Transcrevo em baixo o texto que me comoveu.

Morrer em Lisboa

Num destes dias consultava atormentada uma estatística de óbitos na cidade de Lisboa. Éa das comunicações da PSP ao MP, sobre cadáveres encontrados abandonados no interior de habitações, na rua ou entrados nos hospitais. Defuntos desamparados, na solidão e na miséria. Entranhas negras da cidade da luz branca onde os mecanismos do apoio social ou familiar se desfazem com a crise, com a desagregação familiar, na indiferença das grandes cidades.
Muitos destes idosos, com pensões inferiores a 500 euros, não tiveram acesso aos lares sociais nem a qualquer assistência. O apoio domiciliário está exaurido. Nas miseráveis habitações de toda uma vida humilde, chegam a descobrir os corpos caídos, putrefactos, cobertos de larvas, em avançado estado de decomposição ausência de globos oculares, no meio de lixo acumulado e de comida seca e podre. Morte sem assistência médica. Vem descrito em certo processos. morte silenciosa dos desvalidos.
No mês de janeiro foram comunicadas 101 destas mortes, corridas na cidade de Lisboa.
Só nos dias 30 e 31 de Janeiro foram comunicadas 21 mortes solitárias. Foram ordenadas 74 autópsias e dispensadas 27. No mês e dezembro foram comunicadas 76 mortes nas mesmas circunstâncias. Ordenadas 53 autópsias e dispensadas 23.
Este serviço do DIAP de Lisboa regista uma média mensal de 70 óbitos. Cada autópsia oscila entre cerca de 700 e 3000 mil euros, consoante os casos. São ordenadas em caso de dúvida sobre a causa da morte.
O maior número de mortes situa-se entre os setenta, oitenta e nove anos. Há mais homens do que mulheres a morrer nestas circunstâncias trágicas. Segue-se a absurda burocracia da morte. A PSP comunica ao MP a existência do cadáver que só pode ser removido com autorização do MP. O delegado de saúde verifica o óbito. Um perito do Instituto Nacional de Medicina Legal faz o exame do hábito externo do cadáver.
O MP providencia o funeral digno e humilde com o apoio da Santa Casa da Misericórdia ou de outra instituição social. Quando se regista a existência de bens, ainda que sejam vasos de plástico com flores de plástico, ainda que sem valor comercial, é obrigatório participar ao tribunal cível num processo de herança jacente. Estes bens sem herdeiros e sem valor revertem para o estado que não os quer e que gastou mais nesta diligência do que se lhes tivesse dado um destino expedito.
É o zelo absurdo da burocracia da morte depois do desamparo em vida. Um esmagador silêncio rodeia tudo. As famílias, os filhos desapareceram. O estado social também.
Há uma procuradora-adjunta de turno, com um telemóvel disponível 24 horas sobre 24 horas, para que ao menos não haja atrasos na autorização da remoção dos cadáveres encontrados em casa ou na via pública. Há o trabalho da PSP e do Instituto de Medicina Legal. Fazemo-lo com o desejo de respeitar a dignidade do ser humano até ao fim. Fazemo-lo no departamento que, tendo por missão principal o combate ao crime também este estranho serviço de óbitos.
Estranho mundo, este.


Recordo que na mesma semana vimos na televisão no programa Linha da Frente, um excelente trabalho da jornalista Rita Ramos, “Está alguém em casa?”.

http://tv1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=25508&c_id=1&dif=tv&idpod=72651

Estas denúncias, estes gritos de alerta, não podem continuar a ser ignorados pelo Estado e pelas instituições. Está aí alguém?

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

No Museu do Neo-Realismo, Leonor Areal.

No próximo Sábado, dia 25 de Fevereiro,


o Museu do Neo-Realismo apresenta o livro de Leonor Areal



Cinema Português – Um País Imaginado

São dois extensos volumes, correspondentes à tese de doutoramento da autora - que percorrem a história do cinema português antes e depois do 25 de Abril de 1974: Cinema Português – Um País Imaginado, de Leonor Areal, será apresentado por Rui Zink, no Auditório do Museu do Neo-Realismo, no próximo Sábado, dia 25 de Fevereiro, pelas 16h00.




Trata-se de uma obra que nos traz uma visão diferente sobre a história do cinema, isto é, a história de um país imaginada a partir da história do seu cinema, ou, se quisermos, a imagem possível de um país feita a partir da representação cinematográfica.




O trabalho de Leonor Areal foca, nomeadamente, o cinema feito pelo realizador Manuel Guimarães, cujos filmes em torno da obra de Alves Redol (ou com argumento e participação do escritor vila-franquense) foram apresentados no Auditório do MNR, ao longo de 2011, no âmbito das Comemorações do Centenário do Nascimento de Alves Redol (Ciclo de Cinema “Imagens e Palavras de Alves Redol”). Para Leonor Areal, aliás, Manuel Guimarães é “o único representante do neo-realismo” no cinema português (declarações da autora ao jornal “I” de 28.12.2011).




O Museu do Neo-Realismo convida-vos a assistir a esta sessão e agradece, desde já, a divulgação da mesma.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Viva a Princesa / ชีวิตของเจ้าหญิง

Princesa tailandesa Maha Chakri Sirindhorn em Lisboa






A princesa tailandesa Maha Chakri Sirindhorn está em Lisboa em visita de dois dias a Portugal por ocasião das celebrações dos 500 anos da chegada dos portugueses ao reino do Sião. Hoje foi inaugurada em Lisboa a Sala Thai.








Durante a passagem por Lisboa, Maha Chakri Sirindhorn visita ainda o Museu do Oriente, o Museu do Azulejo e o Centro de Investigação da Fundação Champalimaud.Lusa/SOL




















































































































Miguel Castelo-Branco com o Embaixador Melo Gouveia