terça-feira, 30 de setembro de 2008

O que o "Magalhães" não mostra.



Escola Secundária David Mourão-Ferreira



Os pais dos alunos esperam no meio da rua e pelos passeios que as crianças lhes sejam entregues. Não existe uma sala de espera, um átrio. Em frente à escola, na Rua das Chagas, o passeio nem um metro tem. E o pior é quando chove...

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A escola, na Freguesia de São Paulo, pertence ao Agrupamento da Escola Passos Manuel. Freguesia e agrupamento são responsáveis por esta situação.
Senhores responsáveis: o que é que se passa?



Uma entrada na Rua Nova do Almada.



Magníficos painéis de azulejos, de ambos os lados da entrada, impecáveis...



Mas...





Não poderiam ter posto estas «caixas técnicas» noutro lado?



Ná, preferiram usar o espaço livre para colocar anúncios a um cabeleireiro...

Tribunal Central de Instrução Criminal.


Tribunal Central de Instrução Criminal.


O problema do capitalismo selvagem.


A velha e eterna Baixa.


Há Fado na Mouraria.


Fátima Fernandes

Domingo foi dia de festa na Travessa da Nazaré, sede do Grupo Desportivo da Mouraria (GDM). A fadista Fátima Fernandes recebeu uma justa e sentida homenagem de colegas e admiradores. Mais de 100 pessoas encheram a «Catedral do Fado» para uma verdadeira maratona de artistas. Nós também lá estivemos, no antigo palácio dos Távora, hoje propriedade da CML. Não digam que somos apenas pessimistas, que só mostramos desgraças. Nós gostamos do Fado e das colectividades.

Pagámos 10 fados, mas foram muitos mais os que ouvimos. O público, atento e participativo, demonstrou a vitalidade das colectividades lisboetas. Aqui, mantém-se viva a tradição e nascem novos cantores. Obrigado a Tony Loreti, Armando Tavares, Rui Simões, Maria Olga e Isaura pela organização.

Na «Catedral do Fado» guarda-se a memória de uma cultura urbana que não tem merecido a devida atenção. Quantos antropólogos, sociólogos ou historiadores estão a estudar a canção de Lisboa? Algumas vozes pessimistas dizem mesmo que esta está moribunda. Porém, são muitos os jovens fadistas e instrumentistas. Cada ano há revelações, a que as rádios e as editoras não dão o devido destaque.

Sua Alteza: o Rei

Quem não conhece e vai pela primeira às matinés do GDM, pode ficar surpreendido ao ouvir falar do «Rei». Sosseguem as almas patrióticas e republicanas (e nós também temos elementos afonsistas neste blogue), pois não é uma referência nem ao Elvis, nem a D. Duarte de Bragança, nem a D. Carlos, baleado por Manuel Buiça, antigo morador das demolidas Escadinhas da Mouraria. O rei aqui é Fernando Maurício (1933-2003), nascido na Rua da Capelão e uma das maiores e mais injustamente esquecidas vozes do Fado.

O público nunca perdeu a garra. Nos intervalos ia-se à varanda fumar um cigarrinho, atacava-se a morcela e o chouriço e aclarava-se a voz com uma cerveja para o "Ai! Boca Linda!", "Ah! Leão!", "Ah! Glorioso!", "Ah, Sandokan!" sair com mais entusiasmo. A D. Francelina nunca nos deixou ficar mal. Da nossa parte, lamentamos apenas a falta de sangria.


O apresentador

A apresentação, sempre impecável, coube a Fernando Oliveira.

Com o entusiasmo da plateia, várias vezes se teve que pedir silêncio na "Catedral do Fado".

Ah! Fadista!








Rui Simões foi o primeiro a cantar e ainda ajudou na apresentação dos outros artistas.
Apesar do visual modernaço é uma grande esperança da tradição.

D. Francelina pensa: "Ah! Quando eu era uma cachopa... Cantava tão bem como um rouxinol!"

E chegam as rádios!


Abandonado pelas grandes cadeias de emissão, o Fado é acarinhado em programas especiais da Rádio Nova Antena 92.0, Sesimbra FM 103.9 e Popular FM 90.9. Na foto, Sónia Lopes e Alberto Silva.



A cativante Inga de Oliveira (Rádio Nova Antena) não deixou de marcar presença.



A alegria da Fadista na hora da consagração.

Canta a Sara Liliana




«Põe esta cinta vermelha
Para adelgaçar-te a cintura
Eu quero que as outras vejam
Que tens bonita figura...»



Sara Liliana: uma futura princesa do Fado.

Ricardo Aires




O talento corre nas veias de Ricardo Aires: é fadista e futebolista. Só uma lesão o impediu de calçar as chuteiras neste domingo. Fátima Fernandes e o público presente agradeceram. É o sonho de qualquer sogra: ter um genro fadista e bem parecido. Como cantou nesta tarde:

«Eu gosto de estar aqui entre vocês
com a gente do fado é que eu estou bem
e cantar um poema, dois ou três»...

Lucinda Gouveia


«Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim o castigo
Não te quero
Eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo»

Lucinda Gouveia presta o tributo a Fátima Fernandes.

E seguiu-se Américo Lopes...


O fado a ser gravado com as novas tecnologias. Este miúdo merece ter um «Magalhães» já este Natal.



Pois como cantou o fadista:

"Eu fui a semente
Tu és o canteiro
Dum cravo de carne
Que tem o meu cheiro
Eu fui o arado
Tu és a seara
Seara de trigo sem fim
Seara lavrada por mim.
O que um homem sente
Quando a companheira
Dá flor no presente
Para a vida inteira
É como se o sangue fosse uma fogueira
Roseira, botão de gente
Rosa da minha roseira».

(J.C. Ary dos Santos).

O Fado corre-lhe nas veias... Ana Maurício!

É lucidez desatino/ De ler no próprio destino/ Sem poder mudar-lhe a sorte..."

"Somos dois gritos calados/ Dois fados desencontrados/ Dois amantes desunidos."

«Nesta luta, esta agonia/ Canto e choro de alegria/ Sou feliz e desgraçada. Que sina a tua/ meu peito/ Que nunca estás satisfeito/ Que dás tudo... e não tens nada».

«Cada beijo nos conquista porque a boca sabe a Fado».
Uma das grandes vozes que escutámos, ou não fosse ela sobrinha de Fernando Maurício.

Luís de Matos

«Dizem que já não me queres
Que há por aí tantas mulheres melhores do que tu
O que é que sabe essa gente?
Se não sabe nem pressente do que os homens são capazes».

E agora entra na desgarrada Vítor Miranda...

De novo Vítor Miranda.

Vítor Miranda desperta sempre, com a sua bela figura, a simpatia das senhoras presentes.
A sua interpretação do fado da Meia Laranja, um original de José Manuel Osório, é famosa:

«Ali à Meia Laranja
Onde a morte anda a viver
Há milhares de olhos baços
A vida tem quatro braços
Ali à Meia Laranja
Há tanto cavalo à solta
Num galopar que magoa»...

E ainda dizem que o fado só fala da Estalagem dos Camilos, da Severa e da Rosinha dos Limões... Esta é apenas a música mais pungente que há em Portugal sobre o problema da droga. Quem a passa nas rádios?! apenas os do costume.

Não! Ainda não está no elenco de nenhuma novela da TVI: é a Joana Veiga.

“Epá não fiques calado! Epá canta lá o fado/ o fado é assim meus senhores/ o vinho da pipa a correr/ assim malcriado e avinhado/ É que o fado é fado a valer!”

"O xaile da cantadeira é o supremo baluarte do fado de Portugal"

E depois Augusto Jorge




«Podias ter sido alguém
Podias ter sido Mãe
Mas foste esquina de rua».



Artur Batalha






Sempre o mesmo Senhor. Um grande Senhor e uma grande voz.

Carminho: uma voz que seduz e arrebata!








«Por saudade e por memória/ eu só sei contar a história que tu me fazes».
Por muitos considerada uma das melhores vozes actuais, Carminho, cantou pela primeira vez no GDM. Nós já a tínhamos escutado em Braço de Prata.

Os músicos


É hora do cigarrinho!


Conversa na catedral.


De novo Vítor Miranda...






O Fadista Carlos Cruz




"São a minha paixão/ alegram a minha vida/ as meninas dos teus olhos".





Isto há nomes que se tornam azarados. Houve logo na assistências gargantas malevólas que disseram que ele ia cantar "Os Putos". O fado não é só para curtir as desgraças. Também serve para rir e cantarolar. O Carlos tem garra e boa voz. A D. Leonor e D. Teresa não deixaram de gritar "Ah! Fadista!", que saiu como um longo pregão.
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A ensaiar nos bastidores

Pedro Soares e Sara Correia.

Sara Correia




"Ah! Ganda Mouraria! Assim é que se amostra que o povo não tem vergonha!"

E finalmente Fátima Fernandes!


"Lá vai a Rosa Maria/ Que é a alegria desta Ribeira!/ Ouve e ri à gargalhada,/ Qualquer piada por mais brejeira./ Vai bugiar meu menino!/ Não deites barro à parede/ Que esta Rosa é peixe fino/ P'rás malhas da tua rede".




E a homenageada foi a última artista a cantar. Depois ainda se leiloaram um bolo e pitorescos quadros para ajudar às despesas. Quando tudo acabou já passava das 20.30m.

O Rei vela pela Catedral deserta

Mas não impede que o tempo e a incúria danifiquem o velho palácio do século XVIII. Chove dentro de muitos dos salões, os tectos apainelados e pintados apodrecem e as cores vão desbotando. Os azulejos vão desaparecendo lentamente das paredes.
Quem acode à sede do Grupo Desportivo da Mouraria? Uma boa reparação custaria menos do que a «esperimenta desaine» e outras macacadas modernaças... O GDM é a memória viva da cidade, colectividades como ele é que fazem o quotidiano e a História de Lisboa. Se um dia o GDM tiver que abandonar a sua sede, a Mouraria ficará com mais um palácio abandonado. Neste momento já lá estão, para provar a incúria de todos, os palácios da Rosa e do Marquês de Tancos.
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