27 fevereiro, 2007

A Sabedoria Infantil - III

Aqui no Brasil, logo após a Quarta-Feira de Cinzas, já começa o comércio dos ovos de Páscoa. Não se sabe se por isso ou porque alguém tocou no assunto, mas a Sobrinha Tagarela Que Confunde os Feriados chega da escola avisando os sabores de sua preferência, assim sem nenhum contexto ou informação prévia:

- Vou pedir de Natal um ovo de “fango”, um ovo de requeijão e um de batata.
- Vai pedir de Natal o quê ?
- Um ovo de “fango”, um de requeijão e um de batata.
- De Natal ? Mas o Papai Noel não traz lista de supermercado.
- Papai Noel não, o Coelhinho da Páscoa !
- Ah ! Então você vai pedir ovo na Páscoa.
- É, na Páscoa.
- Mas só tem ovo de chocolate, não tem esses que você falou.
- Só tem de chocolate ? Mas tem ovo de “binquedo” dentro também.
- Com brinquedo tem sim.
- Vou querer um ovo de menina. Eu vou pedir um ovo da Barbie, um de Homem “Alanha” pro meu irmão e um do Senhor dos Anéis pro meu pai.

Como no Canadá o Coelhinho é bem menos criativo e generoso, deu até vontade de encomendar um do Senhor dos Anéis para o Marido Gringo, já que deve ser um "ovo próprio para pai".

24 fevereiro, 2007

A Sabedoria Infantil - II

"Por que você é Flamengo
E meu pai Botafogo ?
O que significa
'impávido colosso' ?

Por que os ossos doem
Enquanto a gente dorme ?
Por que que os dentes caem ?
Por onde os filhos saem ?

Por que os dedos murcham
Quando estou no banho ?
Por que as ruas enchem
Quando está chovendo ?

Quanto é mil trilhões
Vezes infinito ?
Quem é Jesus Cristo ?
Onde estão meus primos ?"
(Paula Toller)


Quem tem criança em casa geralmente sabe que os filmes podem ser ao mesmo tempo grandes aliados e instrumentos de tortura dos adultos, dependendo das circunstâncias.

Enquanto a Sobrinha na Fase dos Porquês assiste pela milionésima vez numa semana ao insuportável “O Passeio da Princesa”, sobre um bando de pôneis coloridos sem noção (mas alguns com asas e antenas), que só conversam sobre flores, com a voz mais esganiçada do planeta, a Tia Internauta fica de frente para o computador, na mesma sala. E começa o interrogatório:

- Por que você não está assistindo às Princesas ?
- Porque eu já vi esse filme antes.
- Por que você não quer ver de novo ?
- Porque já passou tantas vezes que eu decorei o filme.
- Por que aquela princesa ali está escorregando ?
- Não sei, estou prestando atenção no computador.
- Mas se você já viu o filme antes, por que não sabe ?

21 fevereiro, 2007

A Sabedoria Infantil

Nestes dois meses, o Pacotinho de Férias mudou o dia a dia na casa da Santa Tia. A criadagem gentilmente já informou que ele fará falta quando for embora (só para constar: as duas moças disseram isso, em ocasiões diferentes, mas não sei quando ele as subornou). A Prima Na Fase dos Porquês não perde a oportunidade de aprender um pouco sobre bebezinhos, já que até dezembro, com quase três anos de idade, era ela a mais nova da casa. E, como as perguntas e conclusões nessa idade costumam ser bem interessantes, não dá para deixar passar.

1- O Complexo de Castração
Ao observar a troca de fraldas do neném, a Prima Curiosa pergunta o óbvio:
- Ele tem pipi ?
- Tem, ele é menino.
E, passando a mão no seu próprio equipamento, conclui com uma cara triste:
- O meu arrancou...

2- De Onde Vêm os Bebês ?
- Cuidado com as peças desse jogo espalhadas pelo chão, que são pequenas e o neném pode engolir.
- Aí a gente vai ter que comprar outro jogo.
- Não, aí a gente vai ter que ir ao hospital.
- Para comprar outro bebê, né ?

17 fevereiro, 2007

A Crise dos Oito Meses

Décadas antes daquela crise que atinge os homens perto da casa dos cinqüenta, vem uma crise que as esposas não precisam aturar, porque ocorre numa época em que eles ainda estão a cargo das mães: a crise dos oito meses. Essa não envolve trocar o carro da família por uma moto possante e muito menos arrumar um caso com uma menina da idade da filha mais nova.

Os psicólogos descrevem esta fase como a idade em que o bebê pela primeira vez descobre-se um indivíduo separado da mãe, porque até então ele julgava serem os dois uma entidade única. Ainda dão o poético nome de ansiedade de separação.

Os avós contam orgulhosamente como uma época gostosa, em que o bebê já engatinha (ou está começando), abana a mãozinha dando tchau e fica, aos olhos dos outros, "mais interessante".

A pobre mãe exausta, crente que já havia dominado as outras fases do videogame "Criando Um Bebê", pena com os obstáculos desta nova fase. Interessante mesmo era quando ele dormia bastante e ficava quietinho no mesmo lugar onde era colocado. Depois de sete meses cuidando de um Pacotinho de Fofura que costumava ser um dos bebês mais bonzinhos de que se tem notícia, ela agora questiona quando foi feita a lavagem cerebral que modificou completamente aquela criaturinha que ela pensava conhecer tão bem.

Este Pacotinho de Travessuras com três dentes, que já acorda de manhã e sai sozinho do quarto (quem mandou tirá-lo do seu bercinho lá no Iglu e deixá-lo dormir num colchão ?), movimenta-se por todos os cômodos da casa, fica de pé para melhor puxar o fio do abajur e garantir assim uma queda no chão (do abajur e dele), arranca a toalha da mesa com a rapidez de um ilusionista (mas sem a técnica que permite não derrubar os pratos em cima), agarra o teclado do computador e joga longe durante a conversa com o Pai Gringo pelo MSN (quem mandou inventarem teclado sem fio ?), definitivamente não é aquele mesmo Pacotinho de Bons Modos entregue pela cegonha meses atrás. E sem recibo ela não aceita devoluções !

Alguns culpam um dente que está no sai-não-sai e parece estar irritando o neném. Outros dizem que é a tal angústia de separação. O fato é que Mamãe Cinéfila foi conferir um lançamento e deixou o Pacotinho de Sono com a amada, idolatrada, salve salve Criadagem da Santa Irmã. E no meio do filme toca o celular para avisar que o Pacotinho da Madrugada estava acordado. "Como assim acordado ? Ele já dorme a noite inteira há muitos anos !" E à meia-noite ela volta e encontra o Pacotinho de Folia aceso, parecendo uma haste no braço da desanimada porta-bandeira. É que se trata do seu primeiro carnaval e ele não queria perder a festa (cá para nós, por mais que eu ame a Capital Federal, mesmo quem dorme a noite inteira não perde nada do carnaval aqui).

E, como o estado atual da barriga da Mamãe fez com que ela tivesse que abrir mão do posto de madrinha da bateria de uma famosa escola de samba do grupo especial, só resta ter paciência e esperar que a tal crise dos oito meses passe logo (e que venha a próxima). Até lá, os interessados em comprar o bilhete de uma rifa cujo prêmio é um Pacotinho de Travessuras, favor enviar a quantia de 5 centavos. Toda a renda será revertida em prol da Associação das Viajantes Aéreas com Bebês Bagunceiros.

10 fevereiro, 2007

Unidos Venceremos !

Mamães de bebezinhos (acho que só vai valer para as que não dispõem de criadagem e não compram comidas prontas para os filhos, ou seja, eu e mais uma meia dúzia de duas ou três), respondam rápido: qual o ingrediente indispensável na papinha do bebê ?

Se seu bebê ainda não começou a comer ou se é uma daquelas crianças finas de sangue azul (não é o caso do meu plebeuzinho), você talvez não saiba o que envolve o momento da refeição. Aquela lambança generalizada, comida espalhada do cabelo aos dedos do pé do neném, o piso da cozinha parecendo o chão de um poleiro, fora um eventual tapa no pratinho, atingindo em cheio a calça da Mamãe. A única comparação cabível com o ato de alimentar uma criança de 6 ou 7 meses é feita com aqueles bonecos do parque de diversões, que têm a boca permanentemente aberta numa cabeça giratória, enquanto alguém atrás do balcão tenta acertá-la com uma pistola de água. Mesmo assim, se 2/3 do alimento entram naquela boquinha, é uma vitória. Angustiam-se muito mais as mães daqueles que são chatos para comer.

O Pacotinho de Gula começou a alimentar-se de sólidos durante estas férias e foram quase 2 meses de vontade de colocá-lo numa roupa de astronauta antes de cada refeição. O carrinho onde ele senta para comer já foi devidamente apelidado de “carrinho de papagaio”, dado seu estado de sujeira. Uma amiga da Mamãe, cuja filha já era uma “lady” aos 6 meses e não precisava nem de babador, achava isso um exagero até que presenciou um arremesso de papinha de beterraba atingindo em cheio a porta da cozinha e rapidamente mudou de opinião.

Mas isso tudo foi antes de a Mamãe ver a luz no fim do túnel: um ingrediente mágico que ela descobriu na tentativa de incrementar o cardápio do Pacotinho de Variedades. Nada que ela mesma, que era chatíssima para comer quando criança e hoje em dia evoluiu para somente “exigente”, costuma experimentar, mas cuja eficácia é inegável. A vida alimentar de um bebê divide-se em AQ e DQ: antes do quiabo e depois do quiabo. É só picar e cozinhar esta maravilha culinária junto com a carne e os legumes que, depois de passar tudo na peneira, pode-se até virar o pratinho de cabeça para baixo, sem respingar uma única gota. A consistência de durepóxi antes de endurecer é ideal para um bebê que pretende entornar o máximo possível, mais ainda para uma Mamãe Sem Criadagem que quer ter o mínimo de limpeza pós-almoço e jantar.

Então, com carne ou frango, chuchu ou abobrinha, abóbora ou cenoura, tasque um quiabinho na panela, para garantir aquele grude. Se a Nestlé e a Gerber descobrem isso, são capazes de comercializar como papinha resistente a respingos !

08 fevereiro, 2007

SAL do Iglu

O Serviço de Atendimento Cultural ao Leitor do Iglu responde:

Para Deby, a Baiana Mais Fajuta Que o Pelourinho Já Viu:
"Malino" para baiano é uma corruptela da palavra "maligno". Então, quando querem dizer que uma criança é arteira, bagunceira, chamam a pobre de "malina". Daí se conclui que "malinar" é "fazer arte, bagunçar".

Para Xará Avassaladora:
Tendo esclarecido o verbo "malinar" acima, imagino que você não conheça a expressão "dar ousadia", que significa "dar atenção a alguém". Juntando tudo, o que a moça quis dizer é: "Seu desaforado, quando está fazendo arte, nem presta atenção em mim".

07 fevereiro, 2007

Pacotinho de Deboche ?

Sempre fui uma apaixonada pela nossa língua. Desde a terceira série, já era uma daquelas alunas chatíssimas, adoradas somente pelas professoras de Português. Aquela que sabia as regras na ponta da língua e preferia destrinchar uma "oração coordenada sindética aditiva" a quebrar a cabeça com hipotenusas, senos e seus parentes menos famosos. Atualmente confesso que tenho receio de que o exílio no exterior, o orkut e as bobagens que vejo escritas por aí mais cedo ou mais tarde levem-me a cometer erros que aos 11 anos de idade eu jamais cometeria.

Morando em Brasília, tive a oportunidade de crescer convivendo com pessoas de várias partes do Brasil. Nenhum dos meus amigos de infância tinha pais brasilienses. E depois que fui trabalhar num hospital cuja porta de entrada é um concurso nacional, pude ouvir regionalismos e compreender o quanto é sempre pequeno meu vocabulário.

Sendo assim, não entendi quando minha colega potiguar chamou o segurança do hospital de "cabido", quando queria dizer "enturmado". Confesso que fiquei confusa ao ouvir uma outra enfermeira cearense dizendo cabelo "estaqueado", quando na verdade tratava-se de um cabelo "repicado". Aliás, para continuar no tópico capilar, as colegas maranhenses têm "partinha" no cabelo e não "franja".

Lá em Vancouver descobri que gaúchos "vão aos pés", porque não é educado usar um verbo mais explícito para "fazer o número 2". O melhor é que eles chamam de "joaninha" aquele "alfinete de segurança", misturando os reinos animal com o dos seres inanimados.

De férias na Capital Federal, o Pacotinho de Viagens desfruta da mordomia de estar numa casa onde há criadagem (infelizmente ele ainda não aprecia isso tanto quanto a Mamãe). Completamente apaixonado pela moça baiana que trabalha com a Santa Tia, ouve dela diariamente:

"Seu Debochento, quando está malinando nem me dá ousadia !"

Regionalismos à parte, como será que um bebê de 7 meses consegue debochar de alguém ?

06 fevereiro, 2007

SAL do Iglu

O Serviço de Atendimento ao Leitor do Iglu responde para Luciana:

Nós temos um sling, mas sinceramente usamos somente quando ele era pequenininho, no máximo até uns 3 meses. Não nos adaptamos muito, embora possa ser utilizado até uns 2, 3 anos, em várias posições. Compramos pela internet, mas nem lembro o link.

A kepina eu já vi, mas nunca testamos.

Somos mesmo é fãs de carteirinha do canguru Baby Björn (http://www.babybjorn.com/TemplatesWeb/ProductInfo.asp?itemid=24). Eu, particularmente, se tivesse que escolher um único acessório útil para os pais, abriria mão do carrinho e ficaria com o canguru. Esta marca pode ser usada desde o nascimento (começamos com 10 dias) até 12 kg. Com 2 meses, o Pacotinho de Gula literalmente batia perna com a Mamãe no canguru enquanto mamava no peito. Como era difícil fazê-lo dormir de dia, tirava altas sonecas pendurado na Mamãe Ocupada no Computador. Agora, já rapaz, fica virado para frente e vai sacudindo braços e pernas, numa felicidade só. Nas longas viagens de avião, é realmente uma bênção ter um canguru desses. Na hora da mamada, em plena fila, é só virar o neném, dar o peito e continuar com as mãos livres, em pé.

05 fevereiro, 2007

SAL do Iglu

O Serviço de Atendimento ao Leitor responde para Tânia:

Estou no Brasil, então não estou a par do dia a dia do clima em Vancouver, mas a temperatura é fácil checar pela internet (tem inclusive aqui na página do blog).

Posso garantir 3 coisas:
- faz frio nesta época do ano;
- se você pegar um único dia de sol em março/abril pode comemorar;
- nenhuma capa de chuva comprada no Brasil é boa o bastante para a chuva de Raincouver (deixe para comprar lá).

Não precisa levar NENHUMA sandália, tamanco ou sapato aberto de qualquer tipo. Ah ! Nem vestidos.

03 fevereiro, 2007

O Pacotinho de Pobreza

Com a Mamãe Convalescente e a criadagem da Santa Tia Cheia da Mordomia de folga no final de semana, ficou difícil lavar um Pacotinho de Sujeira (só quem já o viu comendo consegue avaliar o grau de imundície pós-refeição) depois do jantar de sábado. Então, já que o resto da turma estava fora e a Tia Fina estava tomando seu banho relaxante de sais e espuma na jacuzzi, surgiu a idéia de colocá-lo lá, ao invés de levá-lo a um lava-jato (não havia mais ninguém em casa, nem Mamãe de Barriga Aberta e muito menos a Tia de Tapa-Olho podiam dirigir até o posto de gasolina mais próximo).

Infelizmente o Pacotinho de Pobreza não sabe mesmo ser fino e abriu a boca a chorar, assim que sentiu aquela espuma toda no seu corpinho sujo de brócolis com arroz integral. Ele, que não é de berrar fora dos dias de vacina, fez um escândalo quando tentaram lavar seus cabelos cobertos de abóbora e feijão "naquela" banheira . Então, numa rápida manobra improvisada que quase arrebentou os pontos na barriga da Mamãe Aflita, foi colocado na sua banheirinha de plástico. Sabe aquelas que sempre ficam por cima do caminhão numa típica mudança de barraco na favela ? Pois é, essa mesma...

A gente cria um filho com tanto amor para ele preferir a breguice, já aos 7 meses de idade ! Ainda bem que até agora não ouviu funk, senão será capaz de chorar quando voltar pro Canadá e Mamãe Metida a Pianista tocar Mozart !