O paradoxo
É conhecida a frase de Agostinho da Silva em que este diz sensivelmente (cito de cor) que “não é pelo ortodoxo nem pelo heterodoxo, mas pelo paradoxo”.
Todos os grandes, mesmo quando defendem o “ortodoxo”, sabem que as formas são sempre corpetes e que, portanto, há qualquer coisa para lá, acima, que é além de qualquer forma; essa “qualquer coisa” apresenta-se à razão como paradoxal (por estar acima dela: são as “verdades acima da razão”, a que se refere Sampaio Bruno). No entanto, a mesma razão, vê-se forçada a reconhecer essa coisa, apesar da sua natureza paradoxal, natureza que faz com que seja simultaneamente “isto” e ”aquilo” e, no entanto, não seja nem “isto” nem “aquilo”.
Foi a propósito de uma reflexão deste tipo que me ocorreu qualquer coisa que tinha escrito há uns anos (descobri que é datado de 1-X-1997) e que é, no fundo, uma espécie de modesta hermenêutica do paradoxo: O que é o paradoxo? Uma fricção entre dois pólos que se amam na sua oposição. Luta feita de guerra e amor, luta de apaixonados. Aqueles que vêem o paradoxo apenas à superfície, vêem uma guerra inconciliável. Aqueles que vêem o paradoxo em profundidade, é ao amor que os une que vêem. Cada qual vê com o seu olhar.
A faísca que salta da sua fricção, pedra contra pedra, pode acender em nós, se soubermos e pudermos aguentar a sua intensidade, o fogo da transcendência na imanência, que é a própria natureza da nossa paradoxal existência: imanentes e transcendentes a um só tempo…
A citação exacta é: "Não sou do ortodoxo nem do heterodoxo; cada um deles exprime metade da vida; sou do paradoxo que a contém no total".
ResponderEliminarMas, obviamente, isso em nada altera o sentido...
Abraço
Destaque n'O Bar do Ossian.
ResponderEliminarAbraço lusitano!