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06/02/2011

borrões de rio


estou cansada

de mim
de você

da ideia de você em mim

:

dessa ausência de vida


lavrei as páginas

com olhos borrados
por lástimas

chuva de nós

nada deixei no lugar
tudo se transforma

ensopa

no borrão de rio


mesmo assim, assim, voo
não vê?

há/a saudade


*Imagem localizada aqui.

20/12/2010

um a um

Nunca eu tivera querido
dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
depois no teu ouvido.

Levou somente a palavra,
deixou ficar o sentido.

Cecília Meireles in fragmento de Canção
(Viagem, 1939)



saudade da época em que os rabiscos,
sendo rabiscos, caminhavam um a um
ao precipício

a palavra ia... deixava morar o sentido
sua indelével figuração...



*Imagem disponível aqui.

20/11/2010

feito rio


 Açúde Itans (Caicó-RN)
Foto disponível no Balaio Porreta

há tanta saudade
- dentro de mim –
sou capaz de fazer
sangrar o Itans
tamanha a escassez
dos dias das noites
que se alonga alonga
feito rio


04/04/2010

asa & partida



Essa saudade
o cigarro, a luz acesa
e a noite posta sobre a mesa
Em cada canto da casa:
asa partida e dor
Gemido morto, amor
tão longe vai, tão longe vou
Nuvem sem rumo é assim mesmo...

(Asa Partida: Fagner / Abel Silva)

 ***

Dar-te-ia a vida
por breves instantes ao teu lado
Contudo, não existem príncipes lebres
grilos sobreposto mobiliário
Nem magias para materializar não vividos.
Nem receitas para subtrair saudades.
Eu voo nuvem.
Mudo segundo desordem dos ventos
Vou do silêncio trigo ao lamento
E chamo-te, mas não vens.

hercília fernandes


31/01/2010

peso e medida



De repente...

Não mais que de repente...

E só ficaram as vestes noturnas da saudade

E pousaram, sobre mim, as escuras asas da sobriedade.


Porque o verde virou cinza

(tenho visto, não há cor pior!)

E o azul glicerina

(tenho dito: a imagem deformou-se por tanta dó).


O olhar sereno, meigo, inocente

perdeu a cor, o ritmo, o tom

Dando lugar à dúvida, à luxúria...

ao peso e à medida da razão.


E o olhar entristecido,

embevecido no trajeto e no passo vazio,

rio estarrecido das cores cinza do frio coração.


Assim, haja vista!...



(02 Jan. 2007)


*Imagem localizada no Google.

15/01/2010

contudos

à nina rizzi

foto: José de Almeida & Maria Flores


então é isso...

foram peixes

ficaram anzóis

fome de-lírio

: isca nós


(14 jan. 2010)


Sinais do vento


O interessante de tudo é que não houve contudos...

Aceitaram, enfim, a fatalidade na lei da gravidade e os sinais de alerta no trânsito.

O interessante de tudo é que tinha de ser assim...

Havia de haver um ponto final às vírgulas embriagadas na comprida estrada.

– Então, por que a saudade?

Porque permanecem os sonhos e os naufrágios. Gotas de orvalho decorando cartas de amor.

O relógio em descompasso mapeando a geografia do corpo quando se perde a primeira hora no café da manhã.

Porque pulsa e toma força estranha: reclama, arranha e desembocam rios na aspereza e na esterilidade.

Porque se percebe, no abismo, um lugar habitável e não há como transpor extremidades no curso natural do vento.

Isso tudo é interessante e requer sofia.

Não para oferecer explicações às indeléveis expedições humanas na enciclopédia do tempo.

Mas para acalmar a ventania que assola as noites de tempestade...


(30 ago. 2008)


16/06/2009

Avalanche




Faz frio.

Rio lânguido cesto de vazio

avolumou, semântico, avalanche

em meu peito...





Poema publicado em

ogatodaodete



30/05/2009

Re(s)postando...


— Coitada dela! Falava-lhe a voz da in-consciência.

Ela sentia-se vazia: sem cor, sem parede, sem teto, sem chão.

Faltava-lhe o ar comprimido... élan vital. Faltavam-lhe o pôr-do-sol, a primavera e a voracidade matinal. Faltavam-lhe o néctar da tarde e o solo frugal. Todas essas coisas in-sensatas que adoçam o peito de saudade...

— Coitada dela! Coitada dela!... O canto tenebroso da insistência insistia-lhe aos ouvidos.

Faltava-lhe o sexto sentido: o bruma da paixão, o pêndulo do esquecimento. Vale de larvas e flocos de prata se desdobrando em flor de cimento.

— Coitada dela, coitada dela...

Exposição fria, cruel, nua. Paisagem viva-morta n’alguma in-existente aquarela...

— Coitada dela!...



Texto postado em 13/10/07.

22/05/2009

Contagem


Se me faltares,
direi sem qualquer dúvida,
sombra ou roupagem:
"a saudade me desapruma, me abate
confunde-me as brumas, quando
em contagem"...



14/05/2009

Insônia


Sinto saudade do cheiro
o sabor-de-hortelã
a pele, os dedos
uma
infinidade de coisas sen-
tidas, quando chega a noite
me agita, me reviram
nos travesseiros
mal percebo...
.................é manhã.



20/02/2009

Rios


As folhas caem
enquanto a chuva derrama rios de lamento
foi-se o tempo, foi-se o rouxinol
e o seu coração é inverno
imerso em navio de saudade
quando bem longe...
é carnaval.




28/01/2009

Lembranças

Para Taninha Nascimento



Ele partiu.
Deixando suas vestes pelo caminho.
De quando meus olhos risonhos seguiam
E hoje, tristonhos, se sabem sozinhos.

Ele partiu.
E o meu peito é vale e é concha aberta
triturada em moinhos.
Mas a saudade é alvura em praia deserta
e alveja os meus escaninhos.



30/08/2008

Sinais do vento

Arte: Van Gogh


O interessante de tudo é que não houve contudos...
Aceitaram, enfim, a fatalidade na lei da gravidade e os sinais de alerta no trânsito. O interessante de tudo é que tinha de ser assim...
Havia de haver um ponto final às vírgulas embriagadas na comprida estrada.
- Então, por que a saudade?
Porque permanecem os sonhos e os naufrágios. Gotas de orvalho decorando cartas de amor.
O relógio em descompasso mapeando a geografia do corpo quando se perde a primeira hora no café da manhã.
Porque pulsa e toma força estranha: reclama, arranha e desembocam rios na aspereza e na esterilidade.
Porque se percebe, no abismo, um lugar habitável e não há como transpor extremidades no curso natural do vento.
Isso tudo é interessante e requer sofia.
Não para oferecer explicações às indeléveis expedições humanas na enciclopédia do tempo.
Mas para acalmar a ventania que assola as noites de tempestade...


08/06/2008

Contudo(s)



Agora que as coisas andam...
surpreende o medo.

Quando tudo era pranto e válido:
hálito, sândalo, pastoreio.


Agora nada de lunares
nem verdades esculpidas.

Lentes, arcos, moldares
furores e medidas.


Agora, nada de saudade
nem inquietações.

Sonhos mirabolantes
fabulários e demonstrações...


Agora...
nada de estrelas na tarde
nem surtos.

Nada de clara e dócil obscuridade
nem contudo(s)...



Arte: Marc Chagall


06/02/2008

Insensatez


Havia uma diferença enorme entre eles, mas isso não era o problema maior. Talvez isso até contribuísse para que eles sentissem tamanho amor.

Ela era um pouco dada à distração: sonhadora! Dedicava-se à arte, música, literatura. Apreciava os poetas simbolistas...

Ele era pragmático, metódico, civilizado... Tão racional e categórico que não olhava, ao céu, senão para contar estrelas!

Mas eles se complementavam.

Havia amor entre eles.

E eles se contemplavam como querendo enxergar o eu no outro.


♥♥♥


Há muitas formas de amar. Uma delas se realiza pelo olhar.

No princípio, eles não precisavam de satisfações carnais: beijos, abraços, carícias sensuais... Bastavam-lhes a urgência e a intensidade do olhar.

Mas, os dias foram passando e a cobiça da paixão fora lhes dominando. O anseio fizera com que eles passassem a se estranhar. O que antes consistia pura contemplação fora se transformando, gradativamente, em possessão:

Ela o queria. Ele a ambicionava – um só sentimento em maneiras distintas.


♥♥♥


Porém, toda vez que estavam prestes a se entregarem à insensatez, algo lhes acontecia.

Certo dia, ela embevecida - por tantas letras, canções e asas partidas - lhe escrevera a fim de fazer-lhe ir ao seu encontro.

Ele recebera a escrita tão entusiasmado que até perdera, no percurso, o salto; só para a Lua poder alcançar. Mas, quando ela recebera a resposta já não se encontrava ao seu livre alcance... E não havia mais como retroceder, não havia como de seu Planeta descer!...

O fato é que ela passou muitas luas envolvida àquela mensagem: sonhando, sonhando, sonhando... Ali, enfim, ela tivera certeza da reciprocidade do amor. Entretanto, jamais ela pudera lhe falar sobre a sua impossibilidade de vôo...


♥♥♥


Ele, decepcionado, acreditou que tudo não passava de uma vã brincadeira; jogo de criança mimada.

Ela, ansiosa, fora vendo seu amor se desfazer e, na sua loucura, perdera o equilíbrio e o domínio das ações...

Então, ele deixara de buscar o seu olhar, pois duvidava, duvidava, duvidava...

Ela ainda quis fazer-lhe reconsiderar, mas era tarde demais.


♥♥♥


Como demente ela passou a se comportar, tentando-o ao ciúme. Não que ela aspirasse qualquer outra experiência. Ela só almejava ter de volta o seu amor e o forte sentimento de amizade que, outrora, os uniam. Mas foi aí que ele passou, cada vez mais, a duvidar, duvidar, duvidar...

Ele ficou mudo. Ela entristeceu.


♥♥♥


Não há Natal, Ano Novo ou data de aniversário que ela não o recorde. Durante anos fizera questão de lhe enviar expressões de afeto. Contudo, seu silêncio grita tanto em seus ouvidos que ela também passou a desconfiar, desconfiar, desconfiar...

Ela ainda o ama - não há dúvidas sobre isso! - já que não há um só dia que, dele, se esqueça, embora já não veja a cor do seu olhar.

Hoje seu coração só guarda saudades. Por isso, ela, também, emudeceu!...



21/01/2008

Contador de estrelas



Tem dias em que a saudade grita assustadoramente. Basta a percepção de uma palavra lançada ao vento, a memória de uma paisagem idílica, o sabor de um beijo rápido e deveras às escondidas...

Aí, surge a ansiedade e, com ela, as prováveis suposições: poderia ter sido assim, ali, assado... em um canavial logo, aqui, ao lado; poderia ter sido tempo bom, bem gasto.

Poderia!...

Ah..., poderiam ter sido tantas coisas! Como poderia ter sido absolutamente nada! (Quem irá duvidar das coisas do destino!?...).

Às vezes, está tudo tão claro, tão ao livre alcance..., no entanto, perde-se tanto tempo - que é, diga-se de passagem, bem caro! -, buscando revitalizar velhas lembranças... (estampas infrutíferas de verificação!).

Exemplificando, sem querer parecer piegas, mas já o sendo! Se fôssemos contar a quantidade de estrelas existentes no Universo, o que aconteceria? A vida provavelmente à deriva passaria!...

Ah..., eu que vivo fazendo perguntas, cansei de buscar respostas. A pergunta me lança ao futuro enquanto que as respostas fixam-me no presente. E, como ele, vem à tona: o porão, os ratos e os gestos subservientes...

Isso tudo significa que:

– Posso até contar estrelas..., mas não sou demente!







13/10/2007

Flor de cimento


— Coitada dela! Falava-lhe a voz da in-consciência.

Ela sentia-se vazia: sem cor, sem parede, sem teto e sem chão.
Faltava-lhe o ar comprimido... élan vital. Faltavam-lhe o pôr-do-sol, a primavera e a voracidade matinal. Faltavam-lhe o néctar da tarde e o solo frugal. Todas essas coisas in-sensatas que adoçam o peito de saudade...

— Coitada dela! Coitada dela!... O canto tenebroso da insistência insistia-lhe aos ouvidos.

Faltava-lhe o sexto sentido: o bruma da paixão, o pêndulo do esquecimento. Vale de larvas e flocos de prata se desdobrando em flor de cimento.

— Coitada dela, coitada dela...

Exposição fria, cruel, nua. Paisagem viva-morta n’alguma in-existente aquarela...

— Coitada dela!


"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)