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28/04/2009

ruptura

para in-certo amigo...


Eco e Narciso


quebremos os espelhos,
então!

espalhemos os delírios

pelos poros
pelos trilhos

[altos e declínios]

por todos os vãos

o corpo é demasiada-
mente imperfeito

e que se dane...

Platão!


06/02/2008

Insensatez


Havia uma diferença enorme entre eles, mas isso não era o problema maior. Talvez isso até contribuísse para que eles sentissem tamanho amor.

Ela era um pouco dada à distração: sonhadora! Dedicava-se à arte, música, literatura. Apreciava os poetas simbolistas...

Ele era pragmático, metódico, civilizado... Tão racional e categórico que não olhava, ao céu, senão para contar estrelas!

Mas eles se complementavam.

Havia amor entre eles.

E eles se contemplavam como querendo enxergar o eu no outro.


♥♥♥


Há muitas formas de amar. Uma delas se realiza pelo olhar.

No princípio, eles não precisavam de satisfações carnais: beijos, abraços, carícias sensuais... Bastavam-lhes a urgência e a intensidade do olhar.

Mas, os dias foram passando e a cobiça da paixão fora lhes dominando. O anseio fizera com que eles passassem a se estranhar. O que antes consistia pura contemplação fora se transformando, gradativamente, em possessão:

Ela o queria. Ele a ambicionava – um só sentimento em maneiras distintas.


♥♥♥


Porém, toda vez que estavam prestes a se entregarem à insensatez, algo lhes acontecia.

Certo dia, ela embevecida - por tantas letras, canções e asas partidas - lhe escrevera a fim de fazer-lhe ir ao seu encontro.

Ele recebera a escrita tão entusiasmado que até perdera, no percurso, o salto; só para a Lua poder alcançar. Mas, quando ela recebera a resposta já não se encontrava ao seu livre alcance... E não havia mais como retroceder, não havia como de seu Planeta descer!...

O fato é que ela passou muitas luas envolvida àquela mensagem: sonhando, sonhando, sonhando... Ali, enfim, ela tivera certeza da reciprocidade do amor. Entretanto, jamais ela pudera lhe falar sobre a sua impossibilidade de vôo...


♥♥♥


Ele, decepcionado, acreditou que tudo não passava de uma vã brincadeira; jogo de criança mimada.

Ela, ansiosa, fora vendo seu amor se desfazer e, na sua loucura, perdera o equilíbrio e o domínio das ações...

Então, ele deixara de buscar o seu olhar, pois duvidava, duvidava, duvidava...

Ela ainda quis fazer-lhe reconsiderar, mas era tarde demais.


♥♥♥


Como demente ela passou a se comportar, tentando-o ao ciúme. Não que ela aspirasse qualquer outra experiência. Ela só almejava ter de volta o seu amor e o forte sentimento de amizade que, outrora, os uniam. Mas foi aí que ele passou, cada vez mais, a duvidar, duvidar, duvidar...

Ele ficou mudo. Ela entristeceu.


♥♥♥


Não há Natal, Ano Novo ou data de aniversário que ela não o recorde. Durante anos fizera questão de lhe enviar expressões de afeto. Contudo, seu silêncio grita tanto em seus ouvidos que ela também passou a desconfiar, desconfiar, desconfiar...

Ela ainda o ama - não há dúvidas sobre isso! - já que não há um só dia que, dele, se esqueça, embora já não veja a cor do seu olhar.

Hoje seu coração só guarda saudades. Por isso, ela, também, emudeceu!...



"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)