Não é todo dia que surge no planeta uma figura como
Bernie Ecclestone.
Um cara com uma visão capaz de transformar uma categoria do automobilismo
numa máquina que movimenta dinheiro, paixão e até mesmo países inteiros.
Bernie tentou ser
piloto durante sua juventude.
Mas seu verdadeiro talento apareceu quando começou a vender carros.
Sempre conseguia uma vantagem no "Toma lá Dá cá".
O empreendedor começou a ser reconhecido na Fórmula 1 quando passou a
gerenciar a carreira de
Jochen Rindt ainda na década de 60.
Pouco tempo depois adquiriu a equipe Brabham.
A origem de seu patrimônio já causou muita controvérsia.
A história que Ecclestone teria participação no planejamento do famoso
Assalto
ao Trem Pagador já gerou processos na Inglaterra.
Calúnias.
Tudo por conta do nome de
Roy James, o piloto encarregado de dirigir o carro
dos meliantes no cinematográfico roubo de 1963.
Depois de cumprir sua condenação, James, que também era ourives, trabalhou
confeccionando
troféus para a categoria máxima do automobilismo.
As pessoas ligam as coisas e criam as lendas.
Na
Brabham Bernie tinha a habilidade de sempre equilibrar as contas ao mesmo
tempo em que contratava pilotos promissores.
Economia era a palavra de ordem.
Gordon Murray, projetista ainda no início de carreira, chegou a colocar alguns
elementos de madeira nos primeiros carros da escuderia.
Além dessa criatividade toda, Ecclestone era um mestre em fechar bons acordos.
Martini, Alfa Romeo,
BMW...
A estrutura da equipe sempre contava com um
piloto principal, e até certo
ponto bem pago, e um companheiro que não ferisse o orçamento.
Assim foram formadas a maioria das duplas da Brabham ao longo dos anos.
À sua maneira Ecclestone conseguiu que
Niki Lauda e depois Nelson Piquet
permanecessem por anos defendendo suas cores.
Lauda chegou em 1978 recebendo o mesmo valor que a
Ferrari, sua equipe
anterior, havia lhe dado um ano antes.
Salário que foi dobrado por Bernie para que o austríaco permanecesse com
ele mais um ano.
A relação de vencimentos entre Lauda e Piquet em 1979 deixa claro como a
coisa funcionava.
Enquanto Lauda recebia
1 milhão de dólares por temporada, o brasileiro ganhava
20 mil.
Numa comparação, Jame Hunt tirava 750 mil na Wolf.
Valores da época.
Quando se tornou o primeiro piloto, Ecclestone particamente dobrou o salário
de
Piquet nas duas temporadas seguintes.
Nelson ainda recebia um extra para participar de outras categorias recomendadas
pela equipe.
A coisa melhorou mesmo depois do
primeiro título.
Piquet passou a receber 500 mil dólares anuais.
Nada demais.
Tudo
dentro do orçamento.
Pra se ter uma ideia na mesma época Lauda ganhava 4 milhões na McLaren
e Keke Rosberg 40 mil na Williams.
Bernie teve que renegociar seu contrato com Piquet após seu segundo título.
O brasileiro então teve um merecido aumento: 1 milhão de dólares mais uma
bonificação por ponto.
O acordo que só terminaria após 1985.
Ano em que a proposta da
Williams se revelou muito mais vantajosa financeiramente.
Frank ofereceu o dobro que Ecclestone estava disposto a pagar.
Assim Piquet trocou
Milton Keynes por Grove.
Essa mudança marcou também o início do declínio da equipe que acabou sendo
vendida em 1987 por Bernie.
Com
2 títulos e 22 vitórias e, claro, sem prejuízos financeiros, Ecclestone partiu
para a dedicação exclusiva do negócio Fórmula 1 como um todo.
O resto é história.
Hoje, perto de inaugurar um
Grande Prêmio na Rússia e fazer o skyline de Nova
York cenário de corrida, esse empreendedor, que abandonou os estudos durante
a adolescência, não parece conhecer barreiras para realizar seus desejos.
Pode ser chamado de polêmico, porém sem seu talento a
Fórmula 1 seria apenas
mais um campeonato de automóveis.
Foi Ecclestone quem a elevou a um patamar nunca antes imaginado e mostrou
que nada resiste a um
bom acordo.
Principalmente se for feito por ele.