Mostrar mensagens com a etiqueta Irlanda. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Irlanda. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 19 de junho de 2019

As famílias irlandesas são mais pobres que a média europeia e até que as italianas.

A Irlanda é dada invariavelmente como exemplo dos benefícios do neoliberalismo, no sentido de ter um Estado com pequeno peso na economia (maior que Roménia e Bulgária ainda assim). O tigre celta tem tido taxas de crescimento acima da média, tendo agora dos PIBs/capita mais altos da Europa.
O PIB nunca foi suposto ser um indicador de bem-estar, mas tem uma correlação com este. Tem obviamente vários problemas; o principal é incluir os lucros que empresas estrangeiras declaram num país, mas que os locais não os chegam a ver. Ora, o Eurostat tem um indicador que tenta medir explicitamente o bem-estar material das famílias, chamado Despesa de Consumo Individual per capita. Nele "inclui-se, além das despesas de consumo final das famílias, as transferências sociais em espécie das Administrações Públicas para as famílias,de que são exemplo as comparticipações públicas no preço de medicamentos e outros produtos farmacêuticos", sendo "um indicador mais apropriado para refletir o bem-estar das famílias".

Os dados do DCI de 2018 saíram hoje, e repetem o mesmo de todos os anos: o PIB per capita irlandês (mesmo em PPS) é de longe o que mais engana sobre a qualidade de vida dos irlandeses. Comparando cada indicador com a média europeia, o PIB irlandês diz que eles estão 87% acima da média, quando o bem-estar está 6% abaixo da média. O PIB inflaciona para o dobro, o real proveito económico dos irlandeses. No caso português, por exemplo, o PIB até dá a ideia de sermos mais pobres do que somos, descontando 7% desse bem-estar.
Comparando a Irlanda com outros países, vemos que as famílias irlandesas continuam abaixo das italianas (um país que definha economicamente há duas décadas), e não muito longe das espanholas.

 
Dados do Eurostat, em % da média europeia. O PIB do Luxemburgo também dá uma ideia erradamente alta do bem-estar das famílias, mas o relatório diz que os valores não são de levar a sério (daí o asterisco), por incluir valores de trabalhadores de países vizinhos.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Irlanda fecha embaixada no Vaticano

Num ano marcado por relações muito tensas com a ICAR, que decorrem das revelações do encobrimento, pela hierarquia católica, de crimes de abuso sexual de menores, a Irlanda decidiu fechar a sua embaixada no Vaticano. Não é um corte de relações diplomáticas, e alegadamente não é consequência da crise diplomática que já levou o Vaticano a chamar o núncio papal em Dublin. A decisão é apresentada, isso sim, como um esforço de contenção de gastos num país severamente atingido pela crise financeira. Cita-se como razão a falta de interesse económico  em ter duas embaixadas em Roma, mas é uma estalada evidente: um arcebispo irlandês fala mesmo em «profunda desilusão» e «pouca consideração pelo importante papel desenvolvido pela Santa Sé nas relações internacionais».

O governo português poderia pegar na ideia...

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Irlanda: fim do «segredo de confissão»?

O ministro da Justiça irlandês prometeu publicamente passar uma lei obrigando os sacerdotes católicos a denunciarem qualquer crime de abuso sexual de menores, mesmo que o tenham conhecido durante a «confissão» católica. Esta decisão drástica acontece no contexto do escândalo da pedofilia clerical na Irlanda, o qual já suscitou ao Primeiro Ministro do mais católico dos países da Europa ocidental um discurso tão laicista que nenhum Primeiro Ministro português depois de Afonso Costa ousaria fazê-lo. A gravidade das acusações de encobrimento nesse discurso do PM irlandês levou mesmo a Santa Sé a chamar o seu representante diplomático em Dublin. No sábado, a Santa Sé tentou aliviar a consciência rebatendo as acusações das autoridades civis irlandesas, apesar das comprovadas mentiras de pelo menos um bispo.

Historicamente, a Irlanda nunca conheceu o anticlericalismo. Do colonialismo inglês à actualidade, nunca republicanos, bolcheviques ou outros desafiaram o poder da igreja mais popular, a grande aliada da luta contra os ocupantes anglicanos. O que está a acontecer este ano poderá mudar tudo.

Recorde-se que em Portugal está em vigor uma Concordata, assinada em 2004, que garante no seu artigo 5º que «os eclesiásticos não podem ser perguntados pelos magistrados ou outras autoridades sobre factos e coisas de que tenham tido conhecimento por motivo do seu ministério». Ou seja, teoricamente, mesmo que inquiridos em Tribunal podem não denunciar crimes de que tenham tido conhecimento. Os pais que entregam os seus filhos a instituições católicas que interroguem a sua consciência.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

sábado, 23 de julho de 2011

O laicismo chega à Irlanda


O discurso histórico do Primeiro Ministro irlandês, quarta-feira passada no parlamento. Nada será como dantes.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Quem andou a elogiar a Irlanda...




Neste interessante artigo do Prémio Nobel Paul Krugman pode ler-se:

"people who praised Ireland as a role model shouldn’t be giving lectures on responsible government".

Neste aspecto, o discurso de Paulo Portas aqui relembrado e aplaudido na altura pela sua bancada é muito eloquente. Obviamente, os extremistas do Bloco de Esquerda é que estavam equivocados.

Mas o artigo de Krugman descreve também como as elites responsáveis pela crise têm sacudido a água do capote, fazendo-se passar por sérios e austeros (isto faz-se através das televisões que são controladas pela direita) distribuindo acusações ao processo democrático e ao comum eleitor, afastando as atenções dos crimes e imoralidades cometidos pelo sistema financeiro:

"So it was the bad judgment of the elite, not the greediness of the common man, that caused America’s deficit. And much the same is true of the European crisis."

quarta-feira, 2 de março de 2011

Paulo Portas na Ilha das Maravilhas

Em 2001, Paulo Portas visita a Irlanda reunindo com o primeiro-ministro Bertie Ahern do partido Fianna Fáil com o objectivo de "abordar o método irlandês para atingir o equilíbrio orçamental, a contenção da despesa pública, as reformas estruturais e o uso e fiscalização dos fundos comunitários". Entretanto, numerosas instituições financeiras e imobiliárias começavam a delapidar a Irlanda endividando-se fortemente no exterior, incitando o cidadão a endividar-se para comprar a casa que precisava e a que não precisava. Mas nessa altura o dinheiro a crédito fluía a rodos e isso era suficiente para Bertie Ahern e Paulo Portas provarem a validade do sistema.

Até 2008, Paulo Portas falava da Irlanda de Bertie Ahern como se fosse um quadro do Fianna Fáil classificando a sua política económica como "um exemplo a seguir pelo Estado Português". A partir de 2009 Paulo Portas deixou de falar sobre a Irlanda...

Este fim-de-semana, o mesmo Fianna Fáil teve o seu pior resultado de sempre passando de 41% para 17%. As eleições foram ganhas pelo Fine Gael. Julgaria o caro leitor que Paulo Portas reflectisse seriamente sobre a derrota estrondosa do partido e das políticas que tanto tempo apoiou e que levaram a Irlanda ao abismo. Tal como noutras ocasiões Paulo Portas colou-se a uma vitória que não é sua, à vitória do Fine Gael. Vale a pena ler Paulo Portas no facebook felicitar o Fine Gael recorrendo à justificação esfarrapada de que o Fine Gael faz parte do seu grupo político no Parlamento Europeu, o PPE. Adivinha-se já Paulo Portas a cantar as próximas vitórias do PSD, dado que também este pertence ao PPE... Mas a memória é tramada para os troca-tintas, e a memória diz-nos que foi por iniciativa de Paulo Portas em 1999 que o CDS abandonou o PPE para aderir aos nacionalistas da UEN (União para a Europa das Nações) da qual faziam parte os seus grandes amigos do Fianna Fáil. Se hoje o CDS está no PPE deve-se apenas ao acordo de coligação com o PSD nas europeias de 2004 e 2009 que lhe retirou a autonomia para escolher a UEN.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Derrota de Paulo Portas na Irlanda

Não sei quantas vezes Paulo Portas referiu a Irlanda como exemplo político. Quem o ouvia ficava com a sensação que tinha escrito o programa de governo em conjunto com o executivo irlandês, os impostos baixos, uma economia a caminho do estado mínimo, a atracção de capitais estrangeiros, etc. Claro que não referia que o investimento estrangeiro era essencialmente volátil, que as empresas investiam e os particulares compravam casa com o dinheiro que não tinham, apesar dos impostos baixos. Tudo isto coexistia com bolsas de pobreza chocantes financiadas quase exclusivamente pela União Europeia, porque o novo capitalista irlandês era contra os subsídios... Ironicamente, agora vive todo o país de subsídios internacionais por causa dos que eram contra os subsídios.
Paulo Portas é especialista em colar-se às vitórias dos outros (primeiro referendo do aborto, vitória de Durão Barroso nas legislativas, etc.) mas tem esta derrota coladinha à pele.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

38 anos para reconhecer a barbárie

Acho interessante quando sou confrontado com opiniões que dão o Reino Unido como uma democracia exemplar. Ontem, 38 anos depois, um Primeiro Ministro britânico reconhece finalmente o bloody sunday, um massacre de cidadãos que manifestavam desarmados por um regimento de para-quedistas britânicos. Isto não é aceitável em democracia e ainda muito menos numa democracia exemplar.

Quem acompanha a política britânica sabe que assim que se passa do território da Inglaterra para os restantes territórios do Reino Unido os atropelos à democracia são frequentes. A não reunificação da Irlanda - a reunificação era uma promessa dos acordos de independência - é uma mancha na história da Europa que continua a ser alimentada por hooligans orangistas ao serviço de Sua Majestade. Para cúmulo, o contribuinte europeu ainda tem que pagar um programa de pacificação da Irlanda do Norte: o programa PEACE II. Ironicamente, o contribuinte europeu tem a seu cargo os custos da exemplaridade da democracia britânica.

domingo, 31 de maio de 2009

Medb Ruane: «Church power is incompatible with our modern democracy»

Na Irlanda, continua o escândalo do abuso sexual às mãos da «caridade» católica... e há muito quem não queira ouvir.
  • «A generation became 'abused out' while the commission sat. The stories were so harrowing and dark that some started speaking of "abuse fatigue", which was code for saying "don't tell us any more" or "let's keep foolin' ourselves" -- or even "tell them they don't want to hear and we might get away with it". (...)

    The heart of the story is the immense suffering of children in residential care managed by Catholic orders -- how they were treated as objects by sadists, and how those sadists were effectively protected by the religious orders and by the State's gross failure to challenge them.

    The abuse was possible because the orders and the residential homes were run like totalitarian states -- in a State which kept out because of respect for Catholicism and an absence of children's rights. Meanwhile, the orders were answerable only to the Vatican State, where democracy and accountability still don't feature. (...)» (Ler na íntegra.)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Europa em paz? (2)

Depois de uma canção dedicada à amizade franco-alemã, continuamos hoje a nossa volta à Europa com uma canção dedicada à várias vezes centenária amizade anglo-irlandesa.

A guerra da independência da Irlanda ainda não acabou realmente. Entre 1969 e 2001, morreram mais de três mil e quinhentas pessoas na Irlanda do Norte, na violência entre comunidades religiosas que se odeiam visceralmente. Desde 1998 que existe uma paz tensa, mas a segregação entre comunidades não mudou. Esta paz parece um intervalo causado pelo cansaço. Em qualquer dos casos, dificilmente se poderá dizer que o actual período de paz se deve à União Europeia.



«Sunday Bloody Sunday» (1983): canção de protesto irlandesa sobre um massacre em Derry, em 1972 (quando soldados da democracia britânica dispararam sobre civis desarmados, matando 14), e sobre os confrontos de 1920 (quando o assassinato de agentes britânicos por independentistas irlandeses levou os britânicos a metralhar uma multidão que assistia a um jogo de futebol).

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Sereis europeus, quer queireis quer não

Quando a Irlanda se atreveu a blasfemar contra o credo europeísta, comentei para um amigo europatriota que a solução seria a mesma encontrada noutras ocasiões: mais um «protocolo anexo» que criasse excepções para a Irlanda, e que permitisse ao governo irlandês fazer um novo referendo garantindo ao eleitorado que A, B e C não se aplicariam à Irlanda.
Previsão confirmada: da reunião do Conselho Europeu já se anunciou que a Irlanda fará novo referendo, para votar «bem» desta vez, e que haverá «garantias jurídicas» de que o Tratado respeitará a «neutralidade militar» irlandesa, a sua «autonomia fiscal» e a sua esplêndida «interdição do aborto» (são os A, B e C do parágrafo anterior). Mais problemática parece-me a garantia de que haverá um comissário europeu por Estado, pois tal garantia implicaria a revisão do Tratado (que foi ratificado na forma actual por 25 Estados membros).
E Portugal? Tudo caladinho. Um Tratado que mantém a estrutura anti-democrática da União Europeia (o Parlamento Europeu não pode iniciar legislação, a Comissão, que não é eleita, pode), que engloba uma normal anti-laicista (garante reconhecer os «direitos nacionais» das comunidades religiosas, e cria uma «câmara consultiva» clerical) e neoliberal (num momento em que o mercado desregulado nos permite contemplar o abismo) deveria ser discutida democraticamente. Mas parece que não somos considerados cidadãos suficientemente crescidos para tal.

domingo, 9 de setembro de 2007

Laicismo na Irlanda

(Eu tinha prometido a mim próprio deixar de copiar ensaios longos para aqui, mas não é todos os dias que os irlandeses começam a questionar a relação do Estado com a ICAR.)

«(...)

Church and State are still intermeshed in health and education. The outmoded concept of ecclesiastical patronage is in conflict with the growing demand for multi-denominational schools. Most of our schools are denominationally controlled, though publicly funded. There is also the vexed and unresolved question of ethos observance in the appointment of teachers, and indeed of the relevance of religious "ethos'' in the modern, secular curriculum.

At the heart of this confused complexity is a Constitution drafted in the Thirties for the racially homogeneous and 95 per cent practising Roman Catholic population of the 26-county State.
###
In some respects, the Constitution has served us well. We have modernised the "fundamental rights'' section and removed the clause specifying the "special position'' of the Catholic Church, though that was really a cosmetic gesture. But Bunreacht na hEireann remains, at heart, a Catholic period piece. The "Directive Principles of Social Policy'' section (Art.45) reflects Catholic social teaching of that time. It enshrines some worthy values, but has remained only a council of perfection since (hypocritically) it is not "cognisable by any court''.

Elsewhere, "the publication of . . . blasphemous matter is an offence'' (Art.40.6.1). Even more bizarre is Art.44.1 -- "the State acknowledges that the homage of public worship is due to almighty God''. If these sentiments were taken seriously, they would suggest an Irish sharia regime. The strongest Catholic note of all is sounded in the preamble which, far from being a decorative overture, has been taken into account in judicial decisions. Here, "the people of Eire'', or the 57 per cent majority of the 65 per cent turnout in 1937, identified themselves blatantly with the Irish Catholic nation and with a partisan, denominational interpretation of Irish history.

(...)

The business of a secular Constitution should be to guarantee religious freedom, and no more. That should have been the common-sense position all along, in a religiously divided country, and more so now in the new pluralist Ireland. It was always the secular republican tradition. The Labour Party, now in search of a new mission, might well make constitutional reform their special project. Their founding father, James Connolly, would strongly approve

The time to separate faith from the fatherland is now», por John Murphy no Independent irlandês.)