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terça-feira, 3 de março de 2020

No Nobres do Grid deste mês...

Todos falam de Imola, 1994 como sendo o pior acidente da história do automobilismo. Não é. Nem sequer é da Formula 1. Sendo um desporto perigoso que é, certamente custou a vida de muitos pilotos, mas nunca tantos acabaram no hospital ou na morgue como aquele que aconteceu no fim de semana de 18 e 19 de junho de 1960, no circuito de Spa-Francochamps, na Bélgica. Quando essa corrida terminou, com a vitória de Jack Brabham, dois pilotos estavam mortos e outros dois gravemente feridos. E entre as vitimas esteve o primeiro dos pilotos ao serviço da Lotus, e alguns diziam ser tão bom como Jim Clark. Um dos feridos era Stirling Moss.

Em 1960, a televisão estava na sua infância, embora já tivessem sido transmitidas algumas corridas na Europa, entre os quais o GP do Mónaco. Mas sem gravações que tenham sobrevivido até aos nossos dias, pois não havia o cuidado pela conservação de fitas, nem se sabe se esta corrida teve transmissão televisiva por parte das cadeias locais. Provavelmente isso explica o pouco conhecimento deste fim de semana de Grande Prémio, ou porque não teve tanto impacto como, por exemplo, o acidente das 24 Horas de Le Mans de 1955, apenas cinco anos antes, e que matou mais de 80 pessoas. (,,,)

Com Brabham na liderança, e sem adversários à altura, os motivos de interesse aconteciam logo atrás. O local Gendebien ficou com o segundo posto, mas cedo foi passado pelo Lotus de Ireland, que andou na perseguição a Brabham. Contudo, na volta treze, sofreu um pião devido a problemas de embraiagem e não conseguiu voltar à corrida. O lugar voltou a ser ocupado por Gendebien, mas cedo foi ultrapassado por Bruce McLaren.

(...)

Por esta altura, Chris Bristow e Willy Mairesse lutavam pelo sexto posto, o ultimo lugar pontuável. Ambos eram conhecidos pelo seu estilo agressivo. Bristow, nascido em 1937 em Londres, era dos mais jovens do pelotão, ao lado de Bruce McLaren, mas enquanto o neozelandês era mais ponderado, Bristow era rude. Filho do dono de um concessionário de automóveis em Londres, era conhecido pelo apelido de "o homem selvagem do automobilismo britânico", a sua velocidade pura deu-lhe uma ascensão meteórica para a Formula 1. Naquela temporada, a Yeoman Credit, a equipa de Reg Parnell, dera-lhe um Cooper para competir, e nas três corridas em que participou, a sua velocidade não lhe tinha dado qualquer chegada, mas sabia-se do seu potencial... se alguém o conseguisse domar.

Já Mairesse, nove anos mais velho e bom conhecedor da pista belga, estava a ter a sua estreia na Formula 1 pela Ferrari, depois de ter segurado um lugar na Scuderia no ano anterior. Tinha andado na Endurance, e a sua vontade de correr começava a ser lendária. Certo dia, Peter Revson, no inicio da sua carreira, tinha dito que "olhar para Mairesse antes da partida era como observar o Diabo a correr".

Assim sendo, como nenhum deles cedia posição, eles corriam nos seus limites, até que alguém cedesse. E foi assim na volta 18, quando ambos os carros passavam pela curva Bruneville. Ali, o Cooper de Bristow perdeu o controle e bateu forte na berma, matando-o instantaneamente. (...)

Hoje em dia, quase ninguém sabe quem foi Chris Bristow e Alan Stacey. Mas ambos morreram num dia de há quase 60 anos, com poucas voltas de diferença, e em circunstâncias macabras. E mesmo assim, a corrida não foi parada. Contudo, este dia é dos mais trágicos da Formula 1, com um paralelismo apenas encontrado com o que aconteceu em Imola, 34 anos depois.

E é sobre esse fim de semana de há 60 anos, praticamente esquecido da memória do automobilismo, que vou falar este mês no Nobres do Grid.

sábado, 19 de junho de 2010

GP Memória - Belgica 1960

A nossa geração recorda-se bem dos acontecimentos de Imola, em 1994. Mas trinta e quatro anos antes, em Spa-Francochamps, existiu um outro fim de semana negro do automobilismo, tão grave como foi o de Imola, onde dois promissores pilotos britânicos acabaram por morrer, no mesmo dia, separados por poucos minutos. E as circunstâncias de uma dessas mortes rondaram o bizarro...

A razão porque os acontecimentos de Spa-Francochamps, em 1960, se encontram algo esquecidos hoje em dia, provavelmente tem a haver com os pilotos envolvidos, pilotos relativamente desconhecidos. Mesmo que se possa dizer que houve mais dois pilotos gravemente feridos, e um deles foi Stirling Moss. Provavelmente o facto da televisão ainda estar na sua infância, ou que a atitude das pessoas envolvidas perante a Formula 1 não ser como é agora, talvez fez esquecer aquele negro fim de semana de 18 e 19 de Junho de 1960.

Ao chegarem máquinas e pilotos ao circuito de Spa-Francochamps, na sua extensão de 14 quilómetros, não havia grandes novidades na lista de inscritos. A Ferrari trazia, para além dos habituais pilotos, o alemão Wolfgang Von Trips e o americanos Phil Hill, o local Willy Mairesse, que fazia aqui a sua estreia na Formula 1, e correria no lugar de Richie Ginther. Na Lotus, a equipa oficial era constituída pelos escoceses Innes Ireland e Jim Clark, para além do inglês Alan Stacey. Havia mais dois pilotos inscritos com carros da Lotus, Stirling Moss, com a inscrição da Rob Walker Racing, e Mike Taylor, inscrito pela Taylor-Crawling Racing Team.

A BRM também tinha três carros inscritos, para o inglês Graham Hill, o sueco Jo Bonnier e o americano Dan Gurney, mas a Cooper trazia oficialmente somente dois carros, para o australiano Jack Brabham e o neozelandês Bruce McLaren, enquanto que pela privada Yeoman Credit estavam os ingleses Chris Bristow, Tony Brooks e o belga Olivier Gendebien. Ainda havia mais um Cooper privado, inscrito pela Ecurie Nationale Belge, para o local Lucien Bianchi.

Por fim, a americana Scarab também estava presente, com dois carros para Lance Reventlow e Chuck Daigh.

Os acontecimentos daquele fim de semana fatidico começaram, tal como iria acontecer 34 anos mais tarde, nos treinos. Nos treinos de sexta-feira, o eixo traseiro do Lotus 18 de Moss quebrou-se e perdeu o controlo do seu carro, sendo cuspido para fora. No acidente, o piloto britânico partiu as duas pernas e ficava fora de combate, embora vivo. Nessa mesma tarde, um outro Lotus 18, o de Mike Taylor, sofreu também um acidente, onde os seus ferimentos foram ainda mais graves, pois sofreu fraturas multiplas por todo o corpo. Mais tarde, recuperaria dos ferimentos, mas a sua carreira como piloto terminaria nesse dia.

Apesar dos acidentes, a sessão continuou, com o Cooper oficial de Jack Brabham a fazer a pole-position, tendo a seu lado outro Cooper, mas privado, de Tony Brooks. A completar a primeira fila estaria o Lotus de Stirling Moss, mas sem poder competir, no seu lugar ficou o Ferrari de Phil Hill. Na segunda fila estava outro Cooper privado, o de Gendebien, e o BRM de Graham Hill, enquanto que na terceira fila estaria outro BRM, o de Jo Bonnier, e os Lotus de Ireland e Bristow. A fechar o "top ten" estava o terceiro Lotus de Jim Clark.

Quando os carros alinhavam para a pista, naquele dia 19 de Junho de 1960, não se poderia adivinhar que para dois deles, Chris Bristow e Alan Stacey, este iria ser a sua última corrida das suas vidas. Num espaço de minutos, eles estariam mortos em acidentes separados, e num deles, a roçar o bizarro. Mas quando foi dada a partida, Jack Brabham tomava o comando após fazer o Radillon, para não mais o largar até à 36ª e última volta. Mas entre um e outro momento, iria se assistir a momentos negros do automobilismo.

Com Brabham na liderança, e sem adversários à altura, os motivos de interesse aconteciam atrás. O local Gendebien ficou com o segundo posto, mas cedo foi passado pelo Lotus de Ireland, que andou na perseguição a Brabham, mas na volta treze, sofreu um pião devido a problemas de embraiagem e não conseguiu voltar à corrida. O lugar voltou a ser ocupado por Gendebien, mas cedo foi ultrapassado por Bruce McLaren.

Por esta altura, Chris Bristow e Willy Mairesse lutavam pelo sexto posto, o ultimo lugar pontuável. Conhecidos pelo seu estilo agressivo, nenhum deles cedia e corriam nos seus limites. Até que na volta 18, quando ambos os carros passavam pela curva Bruneville, o Cooper de Bristow perdeu o controle e bateu forte na berma, matando-o instantaneamente.

As circunstâncias da sua morte parece que foram tiradas de um filme de terror, pois naquele sitio, havia um banco com um metro e 20, e três metros mais adiante existia a vedação com arame farpado. Quando Bristow perdeu o controle do seu Cooper, a berma serviu de impulso para que o carro caísse na rede e no impacto, decepasse a cabeça do jovem piloto de 22 anos. Era a primeira fatalidade do dia.

Na volta 25, quando tudo estava mais ou menos decidido, acontecia a segunda fatalidade do dia. E teve tanto de horrível como de bizarro. Perto da temível Masta Kink, uma sequências de curvas à esquerda de direita, feitas em alta velocidade, Stacey foi atingido por um pássaro enquanto rolava a mais de 260 km/hora. Perdeu o controlo do seu carro, bateu na rampa, não muito longe do sitio onde morrera poucos minutos antes o seu compatriota Bristow, e o carro, um Lotus 18, pegou fogo. Até agora não se sabe bem se ele já estaria morto quando foi a colisão com o pássaro ou se quando foi projectado para fora do carro, mas uma coisa era certa: aos 26 anos, a sua vida chegara ao fim.

No final, houve mais confusão: se Brabham e McLaren fderam à Cooper uma dobradinha bem merecida, a atribuição do terceiro lugar foi confusa: Graham Hill parou na última volta devido a problemas de motor, quando estava no terceiro posto, mas como ele não puxou pelo carro até à meta, não foi considerado, e esse lugar ficou nas mãos do Cooper privado de Olivier Gendebien. O Ferrari de Phil Hill conseguiu o quarto posto, enquanto que Jim Clark conseguia os seus primeiros pontos da carreira com o seu quinto posto, e a fechar os pontos estava outro belga: Lucien Bianchi.

Contudo, dadas as circunstâncias daquela tarde sombria, não houve celebrações no pódio belga. E algum tempo depois, um os feridos, Mike Taylor, processou Colin Chapman num tribunal britânico pelo facto do seu chassis lhe ter causado a sua invalidez. O processo demorou algum tempo, mas no final, Mike ganhou e a Lotus foi obrigada a pagar uma indemnização. A fama dos seus chassis, no pior sentido, já começava a surgir...

Fontes: