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quarta-feira, 31 de julho de 2024

A(s) image(ns) do dia (II)




A Argentina teve nos anos 50 do século XX pilotos como Juan Manuel Fangio e Froilan Gonzalez, mas poderia ter tido Onofre Marimon. Como alguns pilotos com imenso talento, mas que não tiveram tempo de o mostrar, o potencial de campeão era grande. Especialmente quando ele era o que mais perto Fangio teve de ter um discípulo no automobilismo. 

Onofre era filho de Domingo, que por sua vez, era amigo e competidor de Fangio. Se ele era de Balcarce, no sul, Onofre era de Zárate, no norte. quando Domingo ganhou o campeonato de Turismo Carrera, em 1948, as prestações do seu filho foram de tal forma visíveis que o pai pediu a Fangio que o levasse para a Europa, como um dos membros da delegação argentina que tentaria impressionar os europeus nas suas corridas. 

A sua primeira corrida foi em 1951, mas só se envolveu em 1953, quando ele foi para a Maserati, a pedido de Fangio. E na Bélgica, entrou de rompante, quando foi terceiro classificado. No ano seguinte, continuou na equipa, mas as suas prestações foram escassas, não pontuando nas três primeiras corridas da temporada. Em Reims, antes do GP de França, Fangio foi para a Mercedes e ganhou, mas Marimon mostrou ali o seu talento. Especialmente no GP da Grã-Bretanha, em Silverstone.

A sua qualificação foi horrível, conseguindo 2.02,6 minutos, contra os 1.45,0 de Fangio, no seu Mercedes. Contudo, no dia da corrida, chovia bastante, e Marimon aproveitou muito bem, ao passar carro após carro, mostrando um enorme controlo do bólido naquelas condições, ao ponto de marcar a volta mais rápida, com um tempo de 1.50, bem mais rápido que o da sua qualificação. E a sua obsessão pela velocidade e passar todos os carros que via na sua frente deu-lhe um pódio.

E entre os carros que passou para lá chegar, um deles era o Mercedes de Fangio, que estava a ter uma má tarde e acabaria em quarto, fora do pódio. Mas no lugar mais alto estava outro argentino: Froilan Gonzalez, o "Touro das Pampas".

Marimon mostrava talento. E tinha 30 anos, tempo suficiente para, se calhar, chegar ao topo e ser o digno sucessor de Fangio no automobilismo argentino... e mundial. Mas não teve tempo.

O dia 31 de julho de 1954 era o dos treinos para o GP da Alemanha. Marimon tinha o oitavo melhor tempo, mas sentia que poderia fazer melhor. Não para apanhar os Mercedes, que se sentiam em casa, mas para, pelo menos, aproximar-se deles. Especialmente, o de Fangio, que lutava pela pole com o Ferrari de Mike Hawthorn. Ali estavam cinco argentinos: Fangio, Frolian, Marimon, Clemar Bucci e Roberto Mieres. E Marimon era um dos cinco pilotos que a Maserati trazia para a pista alemã, ao lado de um jovem Stirling Moss, os italianos Luigi Willoresi e Sergio Mantovani, e o americano Harry Schell.

Marimon achava que poderia fazer muito melhor, porque Moss já tinha o terceiro melhor tempo. E claro, quando se acha que se pode fazer melhor, vai além do limite. Perto da Breidscheid, o seu carro voou para fora da pista, e acabou virado de pernas para o ar, depois do chassis ter batido numa árvore e o ter destruído. Um padre que estava ali perto deu-lhe a Extrema-Unção, depois de ser socorrido, e antes de sucumbir aos seus ferimentos, minutos depois. Tempos mais tarde, soube-se que fora uma falha nos travões do seu Maserati. 

Os argentinos ficaram destroçados. A imagem de Froilan Gonzalez a chorar no ombro de um Juan Manuel Fangio destroçado correu mundo, naquilo que tinha sido a primeira morte num fim de semana de Formula 1 na sua história. No dia seguinte, Fangio triunfou para a Mercedes, e ele não sorriu. Tenho a certeza que foi das mais amargas da sua carreira.    

quarta-feira, 19 de abril de 2023

A imagem do dia


Outro dia, quando se falou sobre a primeira grande volta que o Rubens Barrichello fez no GP da Europa de 1993, onde foi de 14º para quarto, e do qual só há uns frames - e não há onboards porque o Jordan não tinha - o Paulo Abreu, a pessoa por trás do blog Volta Rápida, falou-me de algo que foi ainda mais espetacular, e do qual não há, garantidamente, filmagens desse feito. E não há porque aconteceu em... 1954. Também na Grã-Bretanha, mas em Silverstone, e foi provavelmente o último grande feito deste piloto, porque, tragicamente, morreu a seguir, uma das vítimas do Inferno Verde.  

Onofre Marimon é o menos conhecido dos argentinos voadores que povoaram a Formula 1 nos anos 50. E era o mais novo de todos. Nascido a 23 de dezembro de 1923 em Zárate, na província de Buenos Aires  - 12 anos mais novo que Juan Manuel Fangio, por exemplo - foi a convite do próprio Fangio, que o reparou nas provas locais, que chegou à Europa em 1951 para correr num Maserati inscrito pela Scuderia Milano, sem chegar ao fim. Só regressou dois anos depois, para ser piloto oficial da Maserati, onde logo em Spa-Fracochamps, conseguiu um inesperado terceiro lugar, o seu primeiro pódio. Acabou a temporada na 11ª posição, com quatro pontos.

No ano seguinte, a meio do ano, a Formula 1 recebia o GP da Grã-Bretanha, em Silverstone. A Mercedes tinha acabado de chegar e dominara a corrida anterior, em Reims, o palco do GP de França, com uma dupla Fangio e o alemão Karl Kling. Logo, as expectativas eram altas, especialmente aquele carro era extremamente aerodinâmico. Para Marimon, aquela temporada... estava a ser um desastre. Nas três corridas onde participara, Argentina, Bélgica e França, não chegara ao final. E pior: na qualificação, ele conseguiu apenas o tempo de 2.02,6, meros... 17,6 segundos mais lento que o seu compatriota Fangio, na pole-position, no seu Mercedes.

A razão tinha sido simples: os Maserati tinham chegado atrasados e Silverstone e não teve tempo para dar umas voltas decentes. Por exemplo, Luigi Villoresi, seu companheiro, não conseguiu muito melhor: ficara um lugar acima, a 0,6 segundos. 

Marimon estava na corda bamba. E queria provar o contrário.

Logo na partida, Fangio manteve-se na frente da corrida, mas chovia ligeiramente e os pilotos tentavam agarrar-se à pista com os pneus para seco, porque uma paragem nas boxes demorava... quase um minuto. Aproveitando a situação, Marimon mandou a cautela para as estrelas e começou a passar piloto após piloto. Boa parte deles eram Cooper, Connaughts e Lea-Francis, carros britânicos e menos fortes que os Maseratis, melhores do pelotão, apenas inferiores que Ferrari e agora, Mercedes, mas o que é um facto é que no final da primeira volta, Marimon... era sexto. No final da volta seguinte, passou Stirling Moss, noutro Maserati, antes de ser passado por Moss e o francês Maurice Trintignant, no seu Ferrari. Sexto nas voltas seguintes, Marimon seguia os da frente enquanto Fangio tinha dificuldades em manter o carro na pista, sendo passado pelo carro de Froilan Gonzalez, mais ágil que o aerodinâmico, mas... incómodo Mercedes. É que o carro batia nas barreiras e afetava a direção.  

A partir da volta 60, a chuva aumentou e Marimon, quinto, depois da desistência de Jean Behra, passou Fangio, seu compatriota e mentor, na volta 78, para a seguir, Moss, com problemas com a sua transmissão, desistir e acabar no terceiro posto, atrás de Froilan Gonzalez e o britânico Mike Hawthorn, ambos em Ferrari. 

Dois argentinos no pódio, e Fangio ainda ficou no quarto lugar. Três argentinos nos pontos é algo que não mais iriam ver. E melhor ainda, Marimon foi um dos sete pilotos que partilhariam a volta mais rápida, com o tempo de 1.50. E como nesse tempo isso balia um ponto... este foi dividido em sete, Incluindo Moss, Behra e Ascari, que... não acabaram a corrida.

Apesar de tudo, foi uma grande corrida. Uma demonstração do grande talento que o piloto argentino tinha e da máquina que controlava entre mãos. 

Infelizmente, foi um final trágico. Duas semanas depois, a 31 de julho de 1954, durante a qualificação do GP da Alemanha, Marimon, que procurava melhorar o tempo que tinha conseguido para se aproximar de Fangio, perdeu o controlo e se despistou, matando-se. A imagem de Froilan Gonzalez a chorar no ombro de um desgostoso Juan Manuel Fangio, quando souberam da noticia da morte do seu compatriota, deu a volta o mundo.       

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O piloto do dia - Onofre Marimon

Sempre que há um aniversário de um piloto importante, normalmente tento colocar aqui uma biografia que seja a mais completa possível, que é para que vocês, os visitantes, tenham uma ideia de quem foi esse piloto. Ontem, por uma coincidência do calendário, calhou falar sobre um excelente piloto argentino, da safra de Juan Manuel Fangio e de José Froilan Gonzalez, e que o destino o impediu de mostrar todo o seu talento. Hoje falo de Onofre Marimon.


Filho de Domingo Marimon, um corredor argentino da categoria Turismo de Carretera nos anos 30 e 40, Onofre Agustín Marimón nasceu em Zárate, cidade próxima a Buenos Aires, no dia 19 de Dezembro de 1923. Sua família mudou-se durante a sua infância para a cidade de Cosquín, na região de Córdoba, onde ele começou a participar de provas de estrada, juntamente com seu pai, no início dos anos 1940.


A sua primeira vitória aconteceu numa prova de 860 quilometros disputada em Mar del Plata, em 1949, ao volante de um Chevrolet. No ano seguinte ele começou a correr na categoria Mecânica Nacional, com um Volpi-Chevrolet que havia pertencido a Juan Manuel Fangio, conquistando três vitórias. No final do ano, foi o quarto colocado no GP de Paraná e o sexto colocado no GP Presidente Alessandri, no Chile, pilotando uma Maserati 4 CL. Nessas duas corridas começa a enfrentar pilotos já consagrados, como Juan Manuel Fangio, José Froilán González, Roberto Miéres e o francês Louis Rosier.


Entusiasmado com o desempenho de Marimón, Fangio resolveu levá-lo para a Europa em 1951. A sua estreia na Formula 1 será no GP da França, com uma Maserati da Scuderia Milano. A sua corrida não teve muitoa história: abandona após um motor partido. Participou ainda nas 24 Horas de Le Mans, fazendo dupla com José Froilán González, ao volante de um Talbot Lago T-26 GS, sem conseguir terminar a prova devido a problemas no radiador.

Em 1952 Marimón volta a Argentina, para participar em provas de Mecânica Nacional, conseguindo algumas vitórias. Participou ainda do GP de Montevidéu, extra-campeonato, onde chegou na sexta posição, pilotando uma Ferrari 125.


No início de 1953, Marimón volta à Formula 1, participando no GP de Buenos Aires, onde não conclui a prova, devido a problemas de motor da sua Ferrari 500. De seguida, volta à Europa, onde é contratado pela Maserati para disputar o resto do Mundial. Com o modelo A6-GCM ele terminou em terceiro lugar no GP da Bélgica, no nono lugar no GP da França e em décimo no GP da Itália. Volta a disputar as 24 Horas de Le Mans, em dupla com Juan Manuel Fangio, a bordo de um Alfa Romeo 6 C-3000 CM, abandonando a corrida com a quebra do motor.




Em 1954, Marimon volta a correr, desta vez com a nova Maserati 250F. No GP da Argentina, abandona devido a acidente. Logo a seguir, veio para a Europa, onde consegue bons resultados em provas extra-campeonato: quinto no GP de Siracusa, quarto no GP de Bari e vence o GP de Roma, onde também obteve a pole-position e a volta mais rápida.




Nos Grandes Prémios "oficiais", da Bélgica e da França, Marimon abandona devido a problemas mecânicos, mas logo a seguir, consegue um resultado excepcional no GP da Inglaterra: largando na última fila da grelha de partida, ultrapassou 25 concorrentes durante a prova e chega ao fim na terceira posição, atrás apenas dos Ferrari de José Froilán González e Mike Hawthorn, e à frente da Mercedes Benz de Juan Manuel Fangio. Para além disso, foi um dos seis corredores que fez a volta mais rápida da corrida, e como isso na altura dava pontos, recebeu a sua quota parte: 0,14. Os outros cinco que fizeram o mesmo tempo foram Fróilan González, Mike Hawthorn, Juan Manuel Fangio, Stirling Moss, Alberto Ascari e Jean Behra.


O Grande Prémio seguinte será o da Alemanha, que decorrida no "Inferno Verde", o Nurburgring. A 31 de Julho de 1954, dia de treinos oficiais, Marimón tinha feito um mau tempo e procurava melhorá-lo, saindo mais uma vez para a pista. Na curva Wehrsiefen, perde o controle de sua Maserati, sai da pista e bate numa árvore, capotando várias vezes, tendo morte imediata. Esta seria a primeira fatalidade numa prova válida para o Campeonato Mundial de Pilotos, desde o seu início, em 1950.


A sua carreira na Formula 1: 12 Grandes Prémios, em três temporadas (1951, 1953-54), dois pódios, uma volta mais rápida, 8,14 pontos.


Fontes:

http://www.f1total.com.br/faster/modules.php?name=Forums&file=viewtopic&t=3384
http://www.funof1.com.ar/tx/pi195104050_esp_maxi_.htm
http://gpinsider.wordpress.com/2007/12/19/19-de-dezembro-2/
http://fr.wikipedia.org/wiki/Onofre_Marimón