Descobri esta por acaso, quando procurava fotos de outro assunto. A foto é de Bernard Cahier, e foi tirada no inicio da sua carreira, em 1952. O piloto em questão é Robert Manzon, morto no passado dia 19 de janeiro, aos 97 anos de idade. Nessa altura, Bernard tinha 25 anos, e tinha começado aquela que viria a ser uma longa carreira a tirar fotos de provas automobilísticas, algo que viria a ser seguido pelo seu filho Paul-Henri Cahier até aos dias de hoje.
Manzon era o "último moicano" da primeira temporada de sempre da Formula 1, onde não só participou, como também pontuou, graças a um quarto lugar no GP de França. Nessa corrida retratada, em Monza, Manzon terminou na 14ª posição com o seu Gordini, naquela que foi a sua melhor temporada de sempre, com um um pódio (um terceiro lugar), nove pontos e o sexto lugar da geral.
Nesses anos iniciais, a Formula 1 era uma competição para senhores endinheirados e pilotos com talento, que com o financiamento ideal, conseguiam carros relativamente competitivos e corriam para conseguir os "prize-money" dados pelos organizadores das corridas, pois era a única maneira que eles tinham de receberem. Não havia patrocinios sem ser os de gasolina ou pneus, não havia salários, os mecânicos eram resumidos a um ou dois, quando não era o próprio piloto a fazer de mecânico.
Manzon estava numa equipa de fábrica, a francesa Gordini. Reunia a fina-flor francesa, com pilotos como Maurice Trintignant, André Simon e Jean Behra. Naquele ano, Manzon e Behra conseguiram dois terceiros lugares e 15 pontos no total, provavelmente dos melhores anos que a equipa teve na Formula 1. Mas estavam a milhas de distância da Ferrari, a dominadora do campeonato. Contudo, foi um dos sortudos.
E ele também foi dos sortudos que viveu para contar a história. Viu pilotos como Onofre Marimon, Louis Rosier, Alberto Ascari ou até Jean Behra, a terem pior sorte do que ele, mortos nos destroços dos seus carros ou projetados deles para acabarem com pescoços partidos ou cabeças rachadas por terem aterrado mal. E há quem afirmava que na altura, não ter um cinto e ser projetado era a melhor garantia de sobrevivência. De uma certa maneira, sim. Mas nem sempre.
Visto isto seis décadas mais tarde, parece que não queremos acreditar que a Formula 1 foi um dia assim. Mas foi. E desse tempo, muito poucos já sobram.