Mostrar mensagens com a etiqueta Lua. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Lua. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 3 de agosto de 2021

A imagem do dia


Há meio século, o mundo estava de novo de olhos postos na Lua, e com uma boa razão: pela primeira vez, duas pessoas guiavam um automóvel noutro corpo celeste. E fizeram-no por alguns dias.

Em julho de 1971, na altura do lançamento da Apollo 15, a grande missão do qual mais de 400 mil pessoas foram mobilizadas ao longo de uma década, tinha sido concretizada. E o público já não estava muito mais interessada nisso, porque tinham conseguido bater os soviéticos na corrida ao Espaço. Contudo, a NASA tinha um conjunto de missões tripuladas para cumprir, embora nessa altura já tinha cortado a hipótese de ir à Lua até meados de 1974, com a Apollo 20, decidindo concentrar-se na próxima geração da exploração espacial, com o Space Shuttle e a reutilização de naves espaciais.

A Apollo 15 era a quinta ida à Lua, quarta bem sucedida - tinha havido o susto da Apollo 13, na primavera do ano anterior - e a tripulação era constituída pelos astronautas David Scott, Alfred Worden e James Irwin, e dentro do módulo lunar tinha uma novidade: o Lunar Roving Vehicle, primeiro automóvel a ser usado num outro corpo celeste, 85 anos depois de Karl Benz ter demonstrado a viabilidade de uma carruagem auto-propulsionada.

Desenhado pela General Motors para caber dentro do módulo lunar e ser desdobrado em vinte minutos, tinha um motor elétrico de 0.18kW e 0.25cv de potência em cada roda, alimentado por duas baterias de prata e zinco que forneciam uma tensão de 36 volts, com capacidade de 121 Ah. Apesar de ter 210 quilos de peso - um pluma - na lua, seria uma pena: apenas 36 quilos. Com uma velocidade máxima de 13 km/hora, tinha uma autonomia de 92 quilómetros. 

Os astronautas usaram o veículo por quase cinco dias, percorreram cerca de 27 quilómetros, a um raio de cinco quilómetros à volta do módulo lunar, essencialmente para recolher amostras. No final da missão, o automóvel foi abandonado, pronto para ser usado pelas gerações seguintes, quando lá aterrarem, num futuro próximo. A missão acabou a 2 de agosto, quando regressaram à Terra, aterrando no Pacifico cinco dias depois, a 7 de agosto. 

As duas missões seguintes, os Apollo 16 e Apollo 17, também levaram os seus Rovers, que foram mais adiante nas suas andanças lunares, e lá estão paradas no nosso satélite, esperando provavelmente por novos condutores. 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Neil Armstrong e a Formula 1

Que Neil Armstrong, morto este sábado aos 82 anos, foi um herói para todos nós, isso é claro. De uma certa forma, é o melhor exemplo de um "nerd" bem sucedido, pois somente um entendido em engenharia é que poderia compreender e manobrar uma máquina tão frágil como o Módulo de Comando, que colocou a ele e a Edwin "Buzz" Aldrin na Lua, naquele já distante 20 de julho de 1969. O feito da Missão Apollo deve ser um dos - senão o mais bem conseguido - feito de engenharia do século XX.

Contudo, desconhecia o tamanho do impacto de Neil Armstrong, especialmente numa engenharia do qual nunca colocou os pés: no automobilismo, especialmente na Formula 1. Claro, colocar um homem no Espaço e noutro corpo celestial não tem nada a ver com a ciência de "conseguir leveza e  depois acrescentar velocidade", nas palavras de Colin Chapman. Mas tem um principio em comum: o de superar obstáculos que aparentemente parecem ser impossiveis. E muitos do que hoje em dia trabalham no automobilismo começaram a interessar-se pela engenharia devido à missão Apollo. Como Ron Dennis, que em 1969 tinha 22 anos e era um aprendiz de mecânico na Brabham, e que fez um tributo ao astronauta americano:

Fiquei triste por saber da morte de Neil Armstrong, o primeiro homem a chegar à Lua", começou por dizer Dennis, de 64 anos. "O feito de Armstrong e os seus colegas continua a ser o maior triunfo de engenharia que o mundo viu, contra todas as probabilidades. Foi - e continua a ser - inspirador para toda uma geração. É um feito que me inspirou. Em 1969, quando Armstrong disse as icónicas palavras 'um pequeno passo para o Homem, um grande salto para a Humanidade', tinha 22 anos e trabalhava como técnico na industria automobilistica. Armstrong mostrou-me, tal como muitos outros, de que à nossa maneira, temos de nos 'atrever a tentar' - e esse atrever a tentar que permanece um mantra na McLaren até aos nossos dias.", concluiu.

De uma certa forma, todos os que trabalham nas engenharias foram inspirados pelo programa Apollo e pela corrida espacial dos anos 60 e 70, entre americanos e soviéticos. E mesmo que nem todos os engenheiros formados tenham ido parar à industria aeroespacial, muitos acabaram na industria automotiva, também competitiva e também de ponta, com objectivos e feitos que à partida eram classificados como "impossiveis".

Este tributo de Ron Dennis é de facto dos mais inesperados. Mas vindo de quem vêm, não me surpreende.

sábado, 25 de agosto de 2012

The End: Neil Armstrong (1930-2012)

Qualquer pessoa que faz algo pela primeira vez, que realiza um sonho da Humanidade, torna-se automaticamente o nosso herói. Mesmo que depois faça coisas infames, ou depois se torne numa pessoa reclusiva, como foi o caso de Neil Armstrong. O primeiro homem a pisar a superfície de outro corpo celestial, no já distante ano de 1969, mais concretamente a 20 de julho, morreu esta noite aos 82 anos. Estava doente há algum tempo, tendo sido operado no inicio do mês para um "bypass" coronário.

Neil Alden Armstrong nasceu a 5 de agosto de 1930 num sitio chamado Wapakoneta, no estado do Ohio. Apaixonado pela aviação, voou na Guerra da Coreia e depois se tornou piloto de testes,  nomeadamente o X-15, o primeiro avião a passar a atmosfera. Em 1958, é criada a NASA, como reação ao lançamento do primeiro foguetão para o Espaço por parte dos soviéticos, o Sputnik. Curiosamente, Armstrong não foi um dos sete primeiros astronautas escolhidos para o programa Mercury e Gemini, retratados anos depois por Tom Wolf no livro "The Right Stuff", que depois virou filme: Alan Shepard, John Glen, Scott Carpenter, Walter Schirra, Gus Grissom, Gordon Cooper e Deke Slayton. Destes, apenas Glen - fez agora 91 anos - e Carpenter estão atualmente vivos. 

Entrou no programa na segunda leva, em 1962. A sua primeira missão foi o Gemini 8, em 1966, e aos poucos participou no passo seguinte, que foi a missão Apollo, que consistia em colocar um ser humano noutro corpo celestial, a Lua. Logo em 1967 soube que iria comandar a missão Apollo 11, desconhecendo-se ainda se esse seria a tal que pousaria na Lua.

Nessa altura, houve um episódio que marcou a sua aptidão para a liderança: em 1966, durante os testes de ensaio para a aterragem e descolagem do módulo lunar, houve uma avaria a poucos metros do solo. Armstrong, na sua calma, tentou controlar o módulo até quase ao último momento, antes de se ejectar, deixando o módulo estatelar-se e explodir no solo. Isso foi um dos motivos pelo qual ele foi escolhido para ser o comandante de missão: pela sua calma e sangue frio.

Em abril de 1969, a NASA anunciou a Apollo 11 e o resto do mundo ficou a saber que aquela iria ser a tripulação que iria fazer a primeira aterragem na Lua: Neil Arnstrong, o comandante, "Buzz" Aldrin, o piloto, e Michael Collins, que ficaria no Módulo de Comando e iria orbitar à volta da Lua. Tudo iria começar dali a três meses, a 16 de julho e se tudo corresse bem, iriam pousar no dia 20.

Para a história, tudo correu bem, mas quando se ouve da boca dos astronautas, parece que foi mais um milagre. Quando se ouve que Armstrong esteve a menos de dez segundos de ficar sem gasolina no momento da aterragem do "Eagle" na Lua, antes de poder dizer "A Águia alunou". Aliás, a resposta a essa frase foi: "Rapazes, algum do pessoal aqui em Houston já começava a ficar azul de tanto suster a respiração". Para terem uma ideia de que até que ponto estiveram perto do desastre.

O resto é história. Ninguém se esquecerá das palavras dele: "Um pequeno passo para o Homem, um salto de gigante para a Humanidade". Aliás, será sempre recordado por essa frase, e pelo facto de ter feito sonhar gerações inteiras. Afinal de contas, ele é o homem que realizou um dos mais velhos sonhos da Humanidade: pisar outro corpo celestial.

Mas o que ele não esperava era a reação que isso iria causar. Multidões estavam à espera deles quando chegaram à Terra. Tiveram um acolhimento de heróis, algo do qual não estavam muito preparados para isso. Foram recebidos um pouco por todo o mundo durante 45 dias, deram milhares de autógrafos, numa tourneé digna das grandes estrelas "rock". Isso foi demais para o calmo e timido Armstrong. De facto, podia ser calmo e frio em situação de limite, mas era tímido e reclusivo no dia-a-dia. Reformou-se da NASA em 1971 e tornou-se professor de Engenharia Aeroespacial na Universidade de Cincinati, na sua Ohio natal durante oito anos.

Anos depois, voltou a estar na ribalta quando fez parte da comissão de inquérito para o desastre do Challenger, em 1986, liderada pelo antigo secretário de estado William P. Rogers sobre os motivos do desastre, ocorrido a 28 de janeiro daquele ano. Ele, Rogers, Chuck Yeager (o primeiro homem a passar a barreira do som e nunca foi astronauta), Sally Ride, que em 1983 se tinha tornado na primeira mulher astronauta (e que morreu no mês passado, aos 61 anos) e o professor Richard Feynman descobriram que o Challenger explodiu devido às deficiências no sistema de foguetões que propulsionava o vaivém especial, algo que tinha havido avisos, logo, poderia ter sido evitado.

Depois disso, desapareceu de cena. Não dava autógrafos desde 1994, as suas aparições eram raras e as suas declarações também. Aparecia sempre que a NASA comemorava qualquer aniversário da Apollo 11, como foi em 2009, quando chegaram aos 40 anos da alunagem. E no ano seguinte, quando o Space Shuttle se retirou de vez depois de quase 30 anos de bons serviços, criticou a administração Obama pelo facto da NASA não ter quaisquer objetivos para alcançar nos próximos anos ou décadas, como o regresso à Lua ou a ida a Marte. 

Agora, aos 82 anos de idade, partiu definitivamente para as estrelas, provavelmente para provavelmente o lugar onde queria estar. O homem foi-se, fica a humanidade. Ars lunga, vita brevis

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Grand Prix (18, chegamos à Lua!)

Londres, 20 de Julho de 1969

Alguns dias depois de John O'Hara ter terminado o GP da Grã-Bretanha no quinto posto, no seu Eagle, numa corrida vencida por Bob Turner, após uma batalha épica com o Matra de Pierre Charles de Beaufort, Pete Aaron e a sua mulher convidaram os irmãos O'Hara para um jantar em sua casa. Tinham dito que convidaram um amigo deles para assistir, a cores, a aterragem da Apollo 11 à Lua. O irónico é que se as coisas podiam ser a cores no estúdio da BBC, para ver as imagens em directo, vindas em directo dos Estados Unidos, era... a preto e branco.

Mas o convite não foi só para verem Neil Armstrong e Edward "Buzz" Aldrin a tocar o satélite da Terra. Não tinham dito que esse convidado era o mexicano Teodoro Solana, piloto da BRM, e que em Silverstone teve um raro assomo de sorte numa temporada de azares, ao terminar a corrida no terceiro lugar, batendo o Ferrari de Peter Reinhardt. Para Teddy, era o seu primeiro pódio do ano, após um quarto lugar em Montjuich. E aparentemente, iria trazer alguém que seria do interesse de Pete e do resto da equipa.

O ano de 1969 era de absoluta modificação no panorama da Formula 1. Ferrari, Jordan, Matra, McLaren, BRM e Eagle-Apollo estavam no campeonato, numa altura em que os carros estavam a passar por uma autêntica revolução. Bruce Jordan decidiu colocar asas nos seus carros, depois de no inicio do ano ter incluido o motor no chassis do seu carro, demonstrando uma autêntica revolução nos métodos que o seu pai Jeff tinha poucos anos antes. Manteve a dupla Bedford e Turner, com a velha máxima que "equipa que ganha não se mexe", e eram os claros favoritos à vitória, com o seu belo chassis, agora pintado de negro e ouro, tal como a marca de tabaco que a apoiava, a Black & Gold, uma das subsidiárias da Royal British Tobbaco Company.

Ao contrário da Jordan, Matra, McLaren e Ferrari corriam com as suas cores nacionais: a primeira com o azul pálido, a segunda com o laranja cor de melancia e a Scuderia com o seu "rosso". A BRM manteve o British Green com a lista horizontal laranja à volta da entrada de ar, e somente a Eagle-Apollo é que seguiu a tendência da Jordan, pintando o carro de verde, listado de branco, como a marca de whiskey. Contudo, o carro fazia lembrar mais um British Racing Green do que um carro de cor irlandesa...

Como seria de esperar, quando o acordo foi feito, já era tarde para aparecerem em Kyalami, uma prova que contou com muitos pilotos locais e vencida pelo Ferrari de Peter Reinhardt, com Beaufort em segundo e Bruce McLaren em terceiro. Patrick Van Diemen, Bob Bedford e o local Henrik Kruger ficaram nos restantes lugares pontuáveis. Só apareceram em Montjuich, palco do GP de Espanha, em finais de Abril, somente com um carro para John O'Hara, colocaram umas asas e pouco mais. Acabaram num honroso quinto lugar, mas nessa corrida foi mais um sobrevivente do que um feito, pois somente sete carros terminaram, e observou-se alguns acidentes bem feios, principalmente o de Peter Reinhardt, que quebrou a asa... e o seu nariz. Nessa altura, comentou-se o exagero desses aparelhos, e pediu-se à Comission Sportive International para fazer algo. E fez: proíbiu-os de imediato, até nova ordem.

Quanto aos sobreviventes, o primeiro deles foi Bob Turner, seguido por Bruce McLaren, Patrick Van Diemen, Teddy Solana, O'Hara e Bob Bedford.

Assim, eles correram sem eles no Mónaco. Bob Turner ganhou lá, numa dobradinha com Bedford, enquanto que a Ferrari foi buscar um promissor italiano, de seu nome Antonio (Tonio) Bernardini, que logo na sua primeira corrida, terminou no terceiro lugar. John O'Hara ficou no quarto posto, à frente de Bruce McLaren, mas aqui só acabaram sete carros. Um sueco, Andreas Gustafsson, apoiado pela equipa de Peter Holmgren, e a pilotar um McLaren, ficou com o último lugar pontuável.

Por esta altura, Dan Gurney tinha vendido um dos Eagles a um sul-africano, Henrik Kruger, para correr no campeonato local. Não tinha chegado a tempo para correr em Kyalami, mas foi enviado à mesma para lá. Kruger era um experimentado piloto, já com 44 anos e bem sucedido nos negócios, sendo o representante da Ford na área de Pretória, a capital do país. Uns anos antes tinha quase ganho o GP da Africa do Sul com um Jordan datado, e com outro Jordan, do ano anterior, tinha acabado a corrida no sexto lugar, conseguindo mais um ponto na carreira. Um dos melhores pilotos a nivel local, para além dos seus negócios, era dono de uma equipa, a Scuderia Springbok, patrocinada pela petrolifera e tabaqueira locais.

Contudo, a 19 de Junho, ao mesmo tempo que o mundo automobilistico estava de olhos postos nos acontecimentos de Le Mans, soube-se pelos jornais que tinha sofrido um acidente fatal numa prova de Turismos nas ruas de Luanda, Angola, então uma colónia portuguesa. O acidente tinha acontecido na véspera e na partida para a corrida, quando ele, num potente Ford GT40, tentou evitar um carro lento, mas bateu nele e veio atingir um grupo de espectadores. Ironia das ironias, uma dessas vitimas mortais era a sua mulher, que fotografava a partida do seu marido...

O caso tinha chegado aos jornais de todo o mundo, mais pela coincidência do que pela tragédia em si. E nas últimas linhas, falava-se que o acidente tinha deixada orfã a sua unica filha, com 19 anos de idade. Mass o que não falavam os jornais ingleses, falavam os sul-africanos: era a herdeira de uma poderosa fortuna. E algo que nenhum jornal referia na ocasião: "gasolina nas veias".

Mas isso rapidamente passou, pois a Formula 1 fazia três incursões quase de seguida: Holanda, França e Grã-Bretanha. Por esta altura, a Comissão Desportiva Internacional regulou o uso sas asas para o resto da época, permitindo-se o seu uso com efeito imediato. Em Zandvoort, a Ferrari gostou tanto do "seu" piloto que lhe concederam um terceiro carro. Graças ao influxo de dinheiro resultante da venda de 50 por cento do seu capital à Fiat, podia dar-se a esse luxo, apesar do carro já não ser tão competitivo como a Jordan e a Matra. E aqui, o vencedor foi Beaufort, dando a primeira vitória do ano à Matra, com Turner e John O'Hara a acompanhá-lo no pódio. Este terceiro lugar foi devidamente celebrado nas boxes, o primeiro bom resultado do ano, pois tinha ficado à frente dos Ferrari de Bernardini e Van Diemen e do Jordan sobrevivente, o de Turner, num pálido sexto lugar.

Em Charade, palco do GP de França, a Matra quis aproveitar o momento e conseguiu, vencendo em casa, perante uma multidão em delírio, graças a Pierre de Beaufort. Aí, deram a primeira oportunidade de correr a Giles Carpentier, e ele não desiludiu os responsáveis, terminando a corrida em sexto lugar, conseguindo o seu primeiro ponto. Tinha apenas à sua frente Beaufort, Turner, Van Diemen, Bedford e Reinhardt.

Vendo que a Matra estava em alta, a Jordan tinha de reagir, e foi isso que o fez. Quando a Formula 1 chega a Silverstone, palco do GP da Grã-Bretanha, os mais de 120 mil espectadores assistem a um duelo inesquecível. Nas 84 voltas dadas ao circuito, acontece uma batalha épica em pista, perante um tempo que ameaçava chuva, mas que não chegou a acontecer... por sorte, pois dez minutos depois dos carros cortarem a meta, uma enorme carga de água caiu sobre o circuito.

E durante 68 voltas, o veterano Bob Turner e o jovem Pierre Charles de Beaufort lutaram pela liderança como se não existisse mais o amanhã. A cada curva que faziam, tentavam tudo para se superarem, nunca ficando separados mais do que um segundo. Ora Turner, ora Beuafort, tentavam passar para a liderança, quer fosse na Woodcote, ou ficavam lado a lado na Hangar Straight, para tentar superar-se na Stowe, isto quando se distanciavam-se do resto da concorrência. Nem Van Diemen, nem Reinhardt, nem Solana, nem O'Hara conseguiam apanhar aquele duo. Até que no inicio da volta 69, o motor Matra de Beaufort começou a funcionar mal e a distância alargou-se, lentamente e depois ficou maior. Por essa altura, ambos estavam a mais de um minuto da concorrência, pois ambos decidiram gerir a vantagem, e no caso do francês, levar o carro até ao fim. Foi difícil, mas conseguiu ficar com o segundo posto, com Solana em terceiro, Reinhardt em quarto, O'Hara em quinto e Bob Bedford em sexto.

Poucos dias depois deste evento, o mundo estava de nariz para cima, mais concretamente na Lua: a Apollo 11, o nome da qual eles se inspiraram para construir a sua própria equipa, estava a passear à volta da Lua, preparando-se para tocar solo noutro corpo celeste, algo inédito na história da humanidade. E tudo isto tinha acontecido menos de 70 anos depois dos Irmãos Wright terem feito o seu primeiro atabalhoado vôo nas dunas de Kitty Hawk, na Carolina do Norte...

(continua)

sábado, 25 de julho de 2009

Walter Cronkite e o jornalismo do século XX (3ª parte)




Walter Cronkite acompanhava apaixonadamente a exploração espacial, especialmente a ida do Homem à Lua. Desde os primeiros tempos que relatava, com visivel emoção, as conquistas e as tragédias que acionteciam durante as várias missões nos programas Mercury, Gemini e Apollo. curiosamente, não foi ele que relatou a tragédia da Apollo 1, em 1967, mas sim Mike Wallace, que se tornou famoso por um programa que apareceu mais tarde, o "60 Minutos".




A 16 de Julho de 1969, tudo estava a postos no Cabo Kennedy para conseguir o que é, provavelmente, a maior realização em tempo de paz no século XX: a chegada do Homem à Lua. Cumprindo o desejo de John F. Kennedy, que tinha declarado sete anos antes "We choose to go to the Moon till the end of this decade and do the other things, not beacuse they are easy, bu because they are hard", o governo norteamericano tinha gasto centenas de milhões de dólares para construir um poderoso foguete, com uma cápsula, onde colocou três astronautas, que iriam colocar os pés no solo de outro corpo celeste, nomeadamente no satélite do planeta Terra.




Seguido por mais de 500 milhões de pessoas no mundo Ocidental, isto era o auge de uma corrida espacial iniciada doze anos antes pela União Soviética, quando colocou em órbita o satélite "Sputnik". Com os americanos feridos no seu orgulho (quatro anos depois sofreriam outro desaire, quando Yuri Gagarin se tornou no primeiro homem no Espaço), apontaram para o maior dos objectivos até ao final da década. Nesse dia estava tudo pronto para que o foguete Saturno V pudesse impulsionar os astronautas Neil Armstrong, Edwin "Buzz" Aldrin e Michael Collins para fora da orbita da Terra e rondar a superficie da Lua.





A CBS, claro, montou um gigantesco esquema para acompanhar todos os detalhes da missão. E Walter Cronkite acompanhou, como enviado especial ao Cabo Canaveral, acompanhado por um especialista, outro astronauta, Walter Schirra. Observando o lançamento, esteve quase em permanência durante os quatro dias em que demoraram para chegar à Lua, e pilotar o módulo LEM "Eagle" até à Mar da Tranquilidade, o local da aterragem. Com poucos segundos de combustivel e a pericia de Armstrong e Aldrin, tudo correu bem, e ele pode dizer "Daqui Tranquilidade. A Águia aterrou". Nesse momento, Cronkite ficou visivelmente contente.


Mas mais emocionado ficou quando Armstrong deu aquele primeiro passo na Lua. Tão emocionado que... perdeu a famosa frase. Só a ouviu pela metade, o "Um pequeno passo para o Homem..." Depois é que lhe disseram o resto: "...um grande salto para a Humanidade".


(continua)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Extra-Campeonato: "Nós escolhemos ir à Lua"

"Escolhemos ir à Lua. Escolhemos ir à Lua e fazer as outras coisas nesta década, não porque são desafios fáceis de se fazer, mas porque são os mais difíceis (...) porque este é um desafio que estamos dispostos a aceitar, um que não estamos dispostos a adiar, e é um desafio que nós queremos vencer!" (...)


John F. Kennedy (1917-63), discursando em Houston e 12 de Setembro de 1962


Foi provavelmente o maior desafio da década para os americanos. Embalados pela corrida espacial, e pelo facto de terem perdido para os soviéticos algumas "primeiras vezes" como o lançamento espacial e o primeiro homem no Espaço (Yuri Gagarin), o então presidente John F. Kennedy decidiu que, para conseguir bater os soviéticos, teria de pensar em mandar um homem para a Lua até ao final da década. Reforçou o orçamento para a NASA, ordenou a construção do Centro Espacial de Houston e novas instalações no Cabo Canaveral, na Florida, para que fosse lançado um foguetão capaz de impulsionar uma força suficiente para colocar três homens em orbita e ir à Lua, colocar uma bandeira americana e voltar, sãos e salvos.

Kennedy não viveu para ver isto, mas isto foi considerado como um designio nacional, e um objectivo a alcançar. Essas esperanças e sonhos aconteceram a 21 de Julho de 1969, quando Neil Armstrong e Buzz Aldrin, no módulo Eagle, aterrou no Mar da Tranquilidade e afirmou as palavras imortais: "Um pequeno passo para o Homem, um grande pulo para a Humanidade".



Desde há algum tempo que se preparavam algumas coisas para comemorar o 40º aniversário da missão da Apollo 11, a nave que levou Buzz Aldrin, Neil Armstrong e Mike Collins para a lua, sendo que os dois primeiros entraram na história como sendo os primeiros terráqueos a pisar a superficie de outro corpo celestial (neste caso, a Lua, o satélite da Terra).

O mais original, e provavelmente o mais noticiado de todos é este, elaborado pela Biblioteca John F. Kennedy: uma recriação, em tempo real, da missão lunar. A partida foi hoje, pelas 14 horas de Lisboa, e agora a nave, já separada dos seus propulsores, está a caminho da Lua. O nome do site é a famosa frase de Kennedy: "We choose the Moon!". E podem segui-lo via Twitter, por exemplo. É uma forma de mostrar às gerações mais novas o que foi a aventura espacial e o que foi o capítulo mais importante da aventura espacial norte-americana.


Outra boa visão do que aconteceu há quarenta anos atrás é como isto foi acompanhado pelas cadeias americanas, em especial a CBS. O lendário "pivot" Walter Cronkite, um assumido entusiasta pela corrida espacial, relata não só aqui os procedimentos que a Apollo 11 tem de fazer para chegar à Lua, como também a partida do gigantesco e poderoso Saturno V. A não perder!