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19/07/2018

Adeus à Pelaria Pampas e ... atenção ao legado (único) de Donnat:


«A destruição de património artístico e arquitectónico na Baixa lisboeta continua acelerada.
Agora que encerra também a Pelaria Pampas, chamamos à atenção da Câmara Municipal de Lisboa para a necessidade de conservação dos painéis azulejares e interiores da autoria de Lucien Donnat (1920-2013).»

Fotos e texto via Cerâmica Modernista em Portugal

26/06/2015

CARRIS: mais para turistas, menos para lisboetas



É cada vez mais frequente o uso por parte da CARRIS de material circulante dos electricos clássicos para fins meramente turisticos. 

Ontem, na Rua da Conceição, dia 25 JUNHO de 2015 pelas 15.30 passaram 4 electricos seguidos em serviço de «aluger».

Considerando que nós os utentes do electrico 28 estamos a perder qualidade no serviço devido à invasão insustentável por parte de turistas, é pois lamentável que a CARRIS continue a utilizar material circulante para uso exclusivo dos turistas em prejuízo dos moradores de Lisboa.

De igual forma é lamentável que a CARRIS esteja a utilizar parte dos carris do antigo electrico 24 também para mais um serviço destinado aos turistas.

Tanto interesse e investimento na direcção do "turista" e tão pouco investimento no serviço de transporte público. E assim se contribui irresponsavelmente para o conflito crescente entre turistas e residentes em Lisboa.

24/09/2013

BAIXA: Dispositivos de Publicidade sem licença



Publi-Cidade. Cada vez mais frequente vermos telas, autocolantes ou outros dispositivos de publicidade sem licença, na mais completa ilegalidade; e mesmo quando a CML é informada, tudo fica na mesma, durante meses, anos até. Rua da Conceição 23 / Rua dos Fanqueiros. A Baixa continua repleta de maus exemplos de publicidade como este caso; a CML não parece ter interesse em qualificar esta zona histórica. Porquê Dr. António Costa? Porquê Vereador José Sá Fernnades?

30/05/2012

Rua da Conceição: Porque ainda está o abrigo de paragem neste local?


A paragem do eléctrico 28 na Rua da Conceição foi avançada para após a Rua do Ouro, por indicação da Câmara Municipal de Lisboa em 16 Novembro 2010, deixando portanto de se efetuar no local indicado nesta fotografia. Porque é que a CML ainda não retirou este abrigo de paragem? Estará à espera que se passem 2 anos? Já falta pouco...

13/11/2010

ATENÇÃO PEÕES: Rua da Conceição 75-77

AVISO: os estores nos vãos de um prédio pombalino abandonado na Rua da Conceição 75-77 estão em perigo de destacamento para a via pública. Se é peão neste arruamento, tenha muito cuidado! A Direcção Municipal de Conservação Urbana já está informada deste problema.

21/09/2010

Rua da Conceição agitada pelo novo esquema de trânsito da Baixa lisboeta

In Público (21/9/2010)
Por Carlos Filipe


«Ligação entre a Sé e o Chiado mistura transporte público e particular e tenderá a ficar saturada

Sinalização horizontal vai terde esperar mais alguns meses
Buracos mantêm-se

Está em vigor, desde sábado, a primeira parte de mais um novo esquema de circulação automóvel na Baixa de Lisboa. E com potencial carga polémica. Foi aprovado em sessão camarária de Junho e substitui o que vigorava desde 2009, que gerou discussão sobre os seus méritos e defeitos, contrapondo os argumentos da Câmara Municipal aos do Automóvel Clube de Portugal.

O curioso é que foi o actual vereador, Fernando Nunes da Silva, que propôs o modelo em execução, o subscritor da proposta alternativa da associação de automobilistas. Prevaleceu o projecto camarário, que não gerou consenso.

Para já, a peça-chave do quebra-cabeças é a Rua da Conceição, aberta a transporte público e particular, e que deverá saturar, com frequência, o ar respirável dos (poucos) residentes, a tranquilidade do negócio dos (muitos) comerciantes e a paciência dos automobilistas.

Porém, e para os indefectíveis do carro, atalhar pela Baixa, de colina em colina, da Sé para o Chiado, ainda pode ser a melhor opção.

Logo no segundo dia do novo esquema caiu o "pregão" de António Costa, segundo o qual "aos domingos o Terreiro do Paço é para as pessoas". É verdade que o novo esquema prevê a passagem de veículos particulares, nos dois sentidos, pelo lado sul da praça, junto ao Cais das Colunas. Mas de futuro, também aos domingos? Um cortejo, lentamente, compactou-se até à entrada do Cais do Sodré. Eram 17h, corria (e corre) a Semana da Mobilidade.

Arsenal ou infernal?

Se assim está previsto daqui por diante, então será um dos locais a evitar. Aliás, toda a circulação pelo Cais do Sodré é uma infâmia. Diz-se que assim tem de ser, enquanto não avançar nova messiânica alteração de circulação de transportes públicos, que só entrará na Rua do Arsenal quando deixar a Ribeira das Naus e virar à esquerda para o Corpo Santo.

Por ali há, agora, uma zona expectante que passou a ser de estacionamento (ad hoc). Há um parque de estacionamento de difícil acesso (e que na fila de entrada complica a vida do bus). E há outro previsto, subterrâneo, do lado do rio. Mas isso só quando for requalificada a Ribeira das Naus.

A Rua do Arsenal - que entre os moradores e comerciantes é classificada como infernal - tem no seu acesso, na Bernardino Costa, uma placa de zona 30 (limite máximo de velocidade: 30 km/h). Até ao Corpo Santo convivem todos os tipos de transportes, e a partir daí os veículos da Carris tomam-na para si em possante cavalgada e enchem a rua, que parece tomada por um "rio amarelo" - a cor da Carris, até ao Terreiro do Paço, antes de romper pelas ruas da Prata e da Alfândega.

Voltar ao mesmo

Delfim Santos, de 75 anos, está na Conceição para apanhar o carro da Graça (o eléctrico 28). Foi à Caixa Geral de Depósitos, mesmo nas suas costas, e já vai lamentando a sua vida, pois os carros vêm cheios. Nota diferenças e recorda que por ali já passaram carros nos dois sentidos, que noutra ocasião os automóveis eram desviados para a Rua Nova do Almada e depois seguiam pela de São Julião. Mas também nota que agora é ao contrário, que por São Julião se acede à da Nova do Almada, e que por ali se pode chegar ao Chiado, mas também pela Calçada do Sacramento. O que não se pode é fazer algumas viragens à direita, para entrar na Rua da Prata, por exemplo, via ruas da Madalena e Comércio.

"Isto pode dar sarilho devido às paragens dos eléctricos", nota Delfim Santos. "Olhe, não sei, não sei, o que não podem é tirar daqui o eléctrico, pois se o tiram deixo de poder vir à Baixa", diz e avança, com dificuldade, para o estribo do 28.

Quem não tem dúvidas é o presidente da Junta de São Nicolau, António Manuel, que num comunicado, ainda em Agosto, colocava reservas à eficácia deste sistema. E identificava os problemas na Conceição: volume de tráfego desadequado às suas características; por não salvaguardar a segurança dos peões e dos patrimónios municipal e arqueológico; por degradar seriamente a qualidade do ar. E, em síntese, pedia a suspensão do plano.

Ouvem-se silvos, dos apitos da Polícia Municipal, condescendente para com os automobilistas, que olhando para a sinalização diziam desconhecer as mudanças. A abordagem do jornalista é infrutífera: "Não posso falar sobre esse assunto." Obviamente...

Os turistas desconhecem o que passa. Há-os muitos, ainda, acumulam-se na Rua do Comércio para a viagem panorâmica, ou pelo arco da Rua Augusta acedem ao rio. Ali se deslumbram até se depararem com outra infâmia: o esgoto de Lisboa, que desagua no Tejo. As gaivotas aplaudem.

...

Estava-se a ver que fazer voltar os carros nos 2 sentidos da Rua da Conceição seria um erro crasso. Além do mais, perigoso para os peões, ainda ontem assisti à iminência de um atropelamento grave, uma vez que os srs.condutores que vêm do Chiado e viram à direita na Rua do Ouro fazem-no sem ter em conta que muitas pessoas estão habituadas a atravessar à vontade esta última, desde há vários anos, ainda que fora das passadeiras... Toca a fazer voltar tudo ao que estava, S.F.F.

26/06/2010

Rua dos Retroseiros. Museus sem bilhete


In Diário de Notícias (25/6/2010)
por FERNANDA CÂNCIO

«Na Baixa de Lisboa, a Rua da Conceição e as suas lojas de retrós encenam há mais de cem anos um desfile quieto de estilo. O pronto-a-vestir ainda não derrotou estes pequenos templos da moda - assim à mão

O sortilégio começa cá fora, nas tabuletas arte nova e art déco e nos nomes arrevesados - Arqui-chique, Bijou - que prometem outro século, rendas e chapéus, mãos enluvadas e tempo, um tempo longo, de gente que deixava carruagens à espera ou vinha de "americano", para ver, escolher, hesitar, voltar outra vez. Começa nas montras misturadas, botões e cintos e lantejoulas e elásticos, bolsas e tules, lãs e fios, algumas ainda com a traça desenhada em 1900 e qualquer coisa, e continua lá dentro, nas fileiras de caixas de botões, botões de massa, de madrepérola, de metal, de pedras, de madeira, de osso, de vidro (caixas de cartão bege compradas às centenas a uma fábrica que entretanto fechou, onde, no topo, as amostras dos vários tamanhos e cores e formatos de botões estão cosidas ou agrafadas, uma a uma, por funcionários e proprietários, num labor de paciência que transforma as casas em galerias garridas, cintilantes, irresistíveis). E continua lá dentro - quer se entre só para ver, para descobrir ou para comprar.

Por exemplo o número 87/89 da rua da Conceição - ou dos Retroseiros, como também é conhecida, graças à acumulação de casas do ramo (hoje são dez, mas já foram mais) - no balcão de madeira escura, o trabalho de minúcia aproveita um tempo morto: organza branca é colocada, com cuidado infinitesimal, sob a pequena maquineta, e encaixada entre duas pequenas peças redondas. Um clic e sai botão. São 40, para um vestido de noiva - diz o bilhete ao lado, escrito à mão e preso ao tecido com um alfinete. Mariana Nóvoas, 55 anos, está há 39 ao balcão da Mário Ramos Lda. Foi o seu primeiro emprego e tudo indica será o único. "Gosto, é bom. Só é complicado quando não temos clientes, as horas passam e torna-se muito difícil estar aqui. E as pessoas às vezes não sabem os nomes das coisas. Eu também me confundia: isto é um mundo."

Um mundo, sem dúvida. Um universo a dar para o infinito. Basta olhar em volta: prateleiras e mais prateleiras, gavetas e mais gavetas, e armazéns do chão ao tecto (altíssimo) disto nas traseiras, onde os clientes mais afoitos têm por vezes a honra e delícia de poder entrar, em busca de um botão retro há 50 anos perdido nas catacumbas, entre caixas e mais caixas de cartão com dizeres misteriosos - "Extrafort" [fita para costura] ou "Perlé" [fio de algodão para tricotar ou bordar], por exemplo. "As pessoas vêm aqui e pedem 'trasfor' e 'pirolés'". Na Adriano Coelho (números 121-123), rebenta uma gargalhada nos donos e empregados. "E quando me pedem 'felcro'? Eu pergunto: 'Mas quer feltro ou velcro?' Ou 'galamares' - aí digo 'Isso é ali no restaurante', eheheheh - as pessoas querem dizer alamares [um tipo de fecho, geralmente usado em casacos; no dicionário é "requife ou cordão metálico que guarnece, pela frente, uma peça de vestuário, de um lado ao outro da abotoadura"]. Mas a melhor de todas foi uma senhora que queria comprar '10 centímetros de cerzideira [cerzir é recuperar tecidos danificados - traçados ou esburacados de outra forma qualquer - com os próprios fios do tecido, reconstituindo-o numa espécie de filigrana de precisão. Uma actividade em vias de total extinção e muitíssimo cara e disputada pela sua dificuldade: na Adriano Coelho ainda se aceitam peças de vestuário para cerzir, mas só vale a pena, assevera um dos proprietários, se for "algo muito bom, porque pode chegar aos 200 euros o arranjo"]". Susana Pais, 31 anos, é a caçula da rua. Num negócio onde a maioria das caras têm mais de 50 anos e décadas de atendimento (nem sempre prazenteiro), é, na sua energia e jovialidade, uma promessa. "Estou aqui há seis anos. Sou filha de um dos donos e resolvi largar o que estava a fazer - na área do turismo - para vir ajudar a família. O filho do outro proprietário também trabalha aqui. E conheço os funcionários desde que nasci." Uma família, precisamente: é o que se sente quando se entra na Adriano Coelho, cujos actuais proprietários, antigos empregados - José Guilherme Pais, 60 anos, e Orlando Mateus, 71 - compraram o negócio aos herdeiros do fundador que lhe deu o nome, em 1912. No grande armazém de chão de laje (igual ao da Sé de Lisboa) e tectos abobadados que fica nas traseiras da loja cujos móveis de mogno foram algures nas últimas décadas - aposta-se nos anos sessenta - pintados cor de baunilha ("Uma pena, diz Susana, "Agora é muito difícil restaurar") e as portas e montra originais substituídas, nos anos 80, por janelões de inox escuro ("Antigamente não se dava valor ao antigo", arrepende-se Orlando Mateus), o escritório ao fundo ostenta ainda os retratos dos primeiros sócios, dois senhores de ar grave e composto. Nas abóbadas de pedra ecoa uma lenda trágica: diz um dos donos que se terá ali enforcado o avô de Vasco Santana. Muito mais histórias, tragédias, comédias ou a mistura das duas que faz a vida normalmente correram decerto por aqui, nesta loja e nas outras que fazem da rua uma espécie de centro comercial do retrós - isso que dá nome às retrosarias e é no dicionário "fio de seda torcido geralmente usado na costura". Um fio sedoso, colorido, caprichoso que se enrola e desenrola, como um bruxedo ou um sortilégio, e nos traz sempre de volta a esta rua e a estas lojas - as lojas onde, como conta Hugo Barreiros, co-proprietário, com o pai, José Reis Barreiros (aos 84 anos, é o ancião da rua, com 70 de balcão) da Nardo e da Mário Ramos, "os estrangeiros entram e ficam de boca aberta, a olhar". Os estrangeiros e os estranhos e mesmo os habituais, que ainda encontram, após anos e anos de frequência, motivos para maravilhamento. Como Ana Reis, proprietária actual da antiga Luís Fernandes, hoje Casa Brilhante, número 79/81, um dos maiores e mais cuidados estabelecimentos da rua e, segundo a dona, o mais antigo (datará a abertura de 1909). Consultora, acabou por "pegar" na loja que o pai e um sócio, ambos antigos empregados do "tal Luís Fernandes", dirigiam há décadas. "Nunca pensei ter uma loja, ou que iria ser dona de uma retrosaria. Aconteceu mais ou menos por acaso. Era suposto o meu pai ficar mais tempo e acabou por não ficar... E fiquei eu." Ao sábado, dia em que, ao arrepio das outras retrosarias, Ana decidiu manter a loja aberta à tarde (também fez um ajuste nos horários dos dias "normais", abrindo mais tarde, às 10, e fechando às 19.15 - "A minha experiência diz-me que faz sentido ir à procura dos horários que dão jeito aos clientes e tem corrido bem, já temos os clientes dos sábados"), costuma estar no atendimento. E quanto mais "mexe" mais descobre o prazer de mexer. "Sou adepta da reciclagem e cada vez tenho mais tentação porque cada vez entro mais nisto, descubro coisas... Este será sempre mais um negócio de afectos e prazeres que de lucros, sem dúvida. Qualquer pessoa que entre para este negócio tem de pensar com o coração, porque se pensa com a cabeça não se mete. Mas acho que é um negócio com futuro - é um negócio da reciclagem e do embelezamento." Recentemente reabilitada, a Brilhante também já não tem a montra e portas originais. E se o arranjo e o cuidado postos na decoração disfarçam um pouco o facto de a frontaria ser de banal alumínio castanho, o contraste com a Bijou e a sua fachada Arte Nova é descoroçoante. Verdadeiramente a jóia da rua, a Bijou é um cochicho, um rectângulo de uns dois metros e meio por seis (e outro tanto, ou talvez mais, de armazém), de móveis e montra a pedir restauro, o tecto trabalhado desfeado por lâmpadas de halogéneo, o chão de madeira substituído por laje de pedra escura, a máquina registadora antiga, belíssima, sobre o balcão do fundo, discreta - mas mesmo assim, como diz Vítor Monteiro, um dos empregados, há 42/43 anos (não sabe precisar) àquele balcão onde começou aos 16/17, "Mais fotografada que a Claudia Schiffer". Pendurado à porta esteve antes um cisne de ferro, até que o seu peso (30 quilos) e o risco de cair levaram, segundo o dono da loja, José Vilar, a Câmara a solicitar a sua retirada. "Está lá para cima, para o armazém" (a maioria das retrosarias tem um armazém maior num andar superior do mesmo prédio), afiança o jurista de 55 anos, que se divide entre o tribunal e o negócio que herdou da família, onde muitas vezes está, tal como a irmã, ao balcão. "Vim para aqui com 12 anos, sobretudo para fazer companhia, recados. Estava cá ainda o meu avô, que tomou a loja em 1922 ao então patrão. Ele saiu em 1969 e ficou a minha tia a tomar conta disto, porque o meu pai era engenheiro e não tinha queda. Agora não estou cá de forma permanente, mas ainda cá venho para atender um bocado." À rendibilidade do negócio encolhe os ombros, mesmo se ali mais atrás, no número 83, o negócio da Arqui-Chique também é sua propriedade, pelo menos formal. "Fiz isso mais para ajudar, pediram-me", certifica. "Mas todos os negócios com mais de 100 anos não são rentáveis." Valem as rendas baixas, talvez, e o facto de, como comenta Ana Reis, haver muita gente para quem "isto é um entretém". Há quem, no entanto, se não entretenha. Se o empregado da Bijou garante que acha o trabalho de toda a vida "uma seca", "com clientes muito chatas, que não sabem o que querem, e muitas vezes estão aqui imenso tempo e não levam nada" (e ele a ir e a voltar com caixas, caixinhas e caixetas e "Não é bem isto", "Não, era mais outra cor...", "Desculpe, vou procurar nas outras lojas, talvez volte"), na Arqui-chique um ex-empregado, Bernardino de Jesus, 76 anos, que vem conversar para passar o tempo, faz um rol sardónico das suas aventuras nas retrosarias. "Comecei no David & David [loja situada no Chiado, junto à Brasileira, classificada pela sua beleza, e que foi trespassada nos anos 90, sendo neste momento um pronto-a-vestir], aos 12 anos, como marçano. Ia buscar coisas ao armazém, e assim. Depois fui para a Bijou, onde varria e tudo. E vim para aqui, para a Arqui-chique, com 15 anos. Aprendi a vender - a enganar o cliente." Faz uma pausa para sorrir. "As clientes? Exigentes e mal educadas. Entram e não dizem boa tarde." E antes? "Antes a maioria eram modistas. Compravam e gamavam." Ao balcão, as ex-colegas Flora Tavares, 68 anos, e Maria Francisco, 43, riem. Flora Tavares começou por trabalhar na mesma rua, mas na Casa Grilo, que vendia espartilhos, barbas, cintas, e tinha um desenho de montra magnífico do qual nada resta - o prédio foi entaipado há muitos anos. "Quis ficar com a loja mas a Câmara queria o prédio por causa das galerias pombalinas, e afinal a loja fechou e aquilo está anos naquela figura. Uma pena." Maria Francisco, 43 anos, recebeu o nome em honra do fundador da casa - Francisco Coucellos, diz a placa art déco dentro da loja - herdou a casa da madrinha, filha do Coucellos, aos 25. "Vinha para cá com ela desde pequena, tenho gosto nisto." Paquita (é assim que lhe chamam) acabou por vender o negócio a José Vilar (da Bijou) mas continua gerente. "Eu por mim não vendia, mas não podia aguentar isto sozinha."

O melhor tempo das retrosarias, afiança Carlos Calheiros Cruz, da J. R. Da Silva, passou há pelo menos 30 anos. "No anos 60/70 havia muitas modistas. Éramos dez ao balcão e tínhamos fila de três clientes para cada um. Agora são quatro: ele, que é proprietário, o sócio, Mário Carreira (como ele, era empregado dos anteriores donos), de 63 anos, a mulher Fábia Carreira, de 60, e o empregado Carlos Clara, de 53. "Às vezes estou farto, mas é melhor que estar em casa. E quando nós nos fartarmos de vez, é o fim: os nossos filhos não querem nada com isto." Pena, dirá Leontina Martins, cliente "há muito", mesmo antes de ser funcionária do ministério das Finanças, ali no Terreiro do Paço. "Antes mandava fazer roupa, agora compro e altero. Adoro alterar: mudo os botões, por exemplo, e fica logo uma peça diferente." Mas, lá está: "Não conheço muita gente que faça isto. Tenho uma amiga que também frequenta as retrosarias, mas é raro." Do tempo "bom" fala também, com nostalgia, Alfredo Ricardo, o proprietário da Alexandre Bento, Lda., no número 67/69. "Vinham estafetas de todo o Alentejo, uma vez por semana, com as encomendas das modistas. O último que conheci morreu há uns 15 anos..."

Ainda assim: se o pai, José Reis Barreiros, sumariza a prosperi-dade - "O negócio é tão bom que com 84 anos estou atrás de um balcão" -, Hugo Barreiras, da Nardo e da Mário Ramos, uma de cada lado da rua, veio de oficial do exército e depois chefe de compras de uma fábrica de confecções para retroseiro e parece capaz de acompanhar as evoluções do mercado - e, sobretudo, compreendê-las. "É verdade que de há uns 12 anos para cá isto não está regular. Há muito menos pessoas a trabalhar nesta área e menos pessoas a coser. E uma mudança de mentalidade que é perfeitamente normal nos consumidores: entram aqui como num supermercado, e aqui têm mesmo de ver, escolher, pedir, esperar. Faz parte..." Tão parte como o gosto com que ele e Ana Reis, da Brilhante, falam dos produtos que vendem, dos serviços que comercializam, dos clientes de décadas que reconhecem ao longe na rua e cumprimentam como velhos amigos a quem na maior parte dos casos nunca souberam o nome. "Forramos sapatos, malas, fazemos malas de raiz, pochettes, cintos, forramos fivelas, plissados de variados feitios, flores da forma tradicional antiga com ferros quentes, de qualquer tecido, pregamos fecho-éclairs, fazemos pequenos arranjos, transformações de vestuários, até anéis e brincos com botões..." A lista parece infinita, como o desejo - assim o desejo de ter e ser diferente, único, o prazer de fazer e escolher e procurar permaneça. Assim haja quem se encante, sempre, com este nome, que, como resume José Reis Barreiros, "diz tudo": retrosaria. »

04/06/2010

Esquema de circulação da Baixa revisto para resolver casos de congestionamento

In Público (4/6/2010)
Por Inês Boaventura


«Autarquia quer mudar gradualmente o acesso às colinas e a distribuição de tráfego na Baixa, bem como a circulação dos transportes públicos. A proposta é discutida segunda-feira

Tráfego de atravessamento teve "reduções significativas"

O vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa afirma que o novo esquema de circulação da Baixa e frente ribeirinha, que contempla "algumas alterações importantes" em relação ao actual, deverá estar operacional no fim de 2011. A proposta, que vai ser discutida segunda-feira, pretende "proceder a uma optimização ao nível da gestão das circulações".

No corpo da proposta, o vereador Nunes da Silva salienta que o esquema introduzido em 2009 permitiu obter "inquestionáveis benefícios em termos de qualidade dos espaços públicos", além de "um pequeno acréscimo do número de utilizadores de transporte colectivo". Ainda assim, explica o especialista em transportes, "detectou-se ser possível e desejável" introduzir algumas modificações.

No essencial, diz-se no documento, trata-se de fazer a "correcção do funcionamento de alguns cruzamentos" e de "garantir uma maior clareza em relação a alguns itinerários", para "resolver as situações onde se verificam índices de congestionamento elevados". A nova solução deverá ser gradualmente levada à prática, à medida que forem avançando no terreno as intervenções previstas pela sociedade Frente Tejo.

Nunes da Silva explicou ao PÚBLICO que haverá "algumas alterações importantes", desde logo para acabar com as "sucessivas viragens" à direita entre as ruas da Conceição, de S. Julião e do Comércio, que "entopem a Rua dos Fanqueiros e da Prata". Com o novo esquema, a Rua da Conceição será afecta à ligação entre colinas, evitando que quem queira deslocar-se do Chiado para a Sé ande em "ziguezague". Já a distribuição de tráfego para as várias direcções será feita pelas ruas do Comércio e de S. Julião, com um sentido cada.

Segundo o vereador, as modificações a introduzir vão também permitir "uma clara separação" entre os transportes individuais e colectivos. Para os últimos haverá desde logo "uma melhoria da circulação no topo norte do Terreiro do Paço", já que vai ser criada uma via própria para os autocarros que querem virar à esquerda para entrar na Rua da Prata, evitando conflitos com os eléctricos.

Na Avenida Infante Dom Henrique, junto à Estação Sul e Sueste, também haverá alterações, com o objectivo de desviar para aqui alguns dos autocarros que hoje seguem pela Rua da Alfândega. Do outro lado da Praça do Comércio a ideia é também que parte do fluxo de transportes públicos deixe de se fazer pelas ruas Bernardino Costa e do Arsenal, a partir do Cais do Sodré. Para isso será prolongado o corredor bus da Av. 24 de Julho e os autocarros já só terão que entrar na Rua do Arsenal, junto ao Largo do Corpo Santo.

No Cais do Sodré será criada uma nova geometria de circulação, por forma a que este espaço passe a funcionar como "uma grande rotunda", eliminando-se o problemático cruzamento junto à Rua do Alecrim.»

...

Lá vai a Rua da Conceição voltar ao que era. Nesta coisa do condicionamento ao trânsito na Baixa é como na velha cançoneta: un pasito adelante, dos pasitos atras.

18/04/2010

Aqui nasceu Mário de Sá Carneiro





Publicidade, de legalidade duvidosa, que há vários anos desfigura a fachada de um prédio pombalino na Rua da Conceição 93-99 torneja Rua Augusta. Um estabelecimento comercial, destinado ao turismo de massas, aplicou dispositivos publicitários em todos os vãos assim como nos muros. Este caso é particularmente grave porque a vítima é o imóvel onde nasceu o poeta Mário de Sá Carneiro. O impacto é negativo tanto para a fachada como para a elegante placa comemorativa.

22/01/2010

Depois da Publi-Cidade: desleixo e incompetência na Baixa


Depois do espectáculo da Publi-Cidade vem o puro desleixo e incompetência. Será preciso algum cidadão apanhar primeiro com um objecto na cabeça para que a CML mande retirar estas estruturas enferrujadas e obsoletas? Fotos: Travessa do Cotovelo e Rua da Conceição.