COM PLÍNIO, MINHA CASA É UM PARAÍSO DOMÉSTICO
Mora na minha casa um animal sereno. Ele tem um pouco de mim e quase tudo de si mesmo. Ele se abre para os silêncios dos meus livros, os pratos, os quadros, os panos todos. Sua empresa ocorre pelas sombras, nos reflexos e nas aragens como eu mesmo nunca teria imaginado fazê-lo. Ele sabe mais da minha casa do que eu, porque ele vê tudo desde baixo, com o olhar horizontal de quem, grudado ao chão com suas quatro patas, ainda carrega as antigas ligações entre animais, vegetais e a terra. O homem não. O homem vê sempre de cima, verticalizando suas ideias, derramando suas objeções. Plínio tem essa preponderância de ensinar coisas desconhecidas. Professor sem disciplina, a sua lição é o exemplo da vida doméstica, da celebração da casa como paraíso doméstico. Habitando na minha casa, ele aprende a me esperar. Eu, quando chego, aprendo a lição da gratuidade revelada no sorriso que eu neguei para muitos durante os dias de correrias e afazeres, rendidos à soberania da press