CARTA A MEU IRMÃO, COM SAUDADES
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“Que a morte nos encontre plantando as nossas couves, indiferentes à sua chegada e mais ainda ante as nossas hortas inacabadas” (Michel de Montaigne) Oi Vando, como vai de glória? Hoje faz um ano que você passou para a eternidade. Deve ser bom viver em um tempo sem tempo. Coisa estranha, você sabe, para quem fica. Nós aqui estamos lidando com a ferida. Ainda arde na pele o vazio de não ter você entre nós. Ao redor, às vezes, tudo fica nebuloso e escuro. Um mar se forma no olho. A gente perde o chão. O coração aperta como se murchasse subitamente, numa dor indizível. Mas a gente resiste, enquanto espera o nosso reencontro. E a gente fica com o melhor de nossas vidas juntos. As horas de alegria, as festas, as conversas à beira do fogo, os planos, as fantasias de infância, os amores conjuntos, os sorrisos, as músicas que você gostava de cantar. A gente gosta de lembrar de tudo, para esquecer a ausência e a saudade. Cad...