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Monday, February 13, 2017

O ERRO SISTEMÁTICO DOS ANALISTAS FINANCEIROS


Pedro Romano comentava, aqui, há dias um artigo do Economist, vd. aqui, revelando o erro sistemático dos analistas nas projecções da evolução dos mercados accionistas e obrigacionistas.  A explicação de PR para uma tendência para errar, que já dura há três décadas, parece-me excessivamente rebuscada e coloquei um comentário que não mereceu acordo nem contestação do autor.

Comentário que, resumidamente, afirma a minha convicção de que as previsões dos analistas financeiros são geralmente optimistas porque esse é o cenário que interessa aos agentes financeiros. 
Hoje, em contraditório com um comentador que afirma "Se o Pedro Romano estiver certo, as instituições vão aperceber-se deste erro sistemático em particular, e alterar as suas previsões em conformidade" acrescentei:

"... nunca vi um vendedor reconhecer que o mercado (de comodities) vai cair, ou continuar a cair, nem nenhum comprador reconhecer que o mercado vai subir, ou continuar a subir. Simplemente reagem de acordo com aquilo que sabem ou pressentem. Salvo se, inside trading, tiram partido de posições privilegiadas...

Pergunte -se a um agente de imobiliário se o mercado está a subir ou a descer,  como comprador. Ou como vendedor, tanto faz. No primeiro caso, o prognóstico é que está a subir. No segundo caso, mais complicado porque mercado em queda não interessa ao negócio do agente, dir-lhe-á reticentemente que está a cair.

Os mercados financeiros não se distinguem muito, neste aspecto, dos mercados de comodities. Os agentes financeiros ganham nas compras e nas vendas mas, obviamente, interessa-lhes mais um mercado vendedor (bull market) que um mercado comprador (bearing market) porque o volume de transacções é, neste último caso, muito menos compensador."

Curiosamente, ou talvez não, porque o que não falta é gente a opinar sobre os mercados financeiros, um opinador no JNegócios - vd. aqui - depois de um circunlóquio disperso, tendo começado por afirmar que é "falta de senso absolouto" investir em dívida pública portuguesa acaba por informar que o que valeu a pena foi investir na bolsa de Paris em 2016. Saberia ele que essa era a melhor e mais segura aposta no começo do ano passado? 
Por que não nos deu uma dica?
Curiosamente no mesmo JNegócios de hoje pode ler-se que "os investidores receiam o efeito Le Pen", e, ainda no mesmo jornal, que "O Frexit poderá custar 80 mil milhões aos franceses"

Quem dá mais?








Monday, August 24, 2015

POR CÁ TUDO NORMAL

- Como é que vão as coisas por aí?
- Tudo normal ... salvo a Bolsa.
- Amanhã recupera.
Achas ...?
- Acho que é mais uma manifestação do caos que governa o mundo.

(Why the Stock Market Is So Turbulent)

NomeCotaçãoMínMáx
VarVar %VolumeData
Altri 3,1990 3,1100 3,3800 -0,2610 -7,54 869.612 16:35
Banco BPI 0,8950 0,8730 0,9300 -0,0650 -6,77 3.507.060 16:35
Banif 0,0052 0,0051 0,0056 -0,0006 -10,34 138.297.106 16:35
BCP 0,0563 0,0541 0,0585 -0,0038 -6,32 522.577.629 16:39
CTT 8,8810 8,1200 9,0080 -0,3580 -3,87 750.799 16:35
EDP 2,9750 2,9510 3,1290 -0,1920 -6,06 8.059.031 16:35
EDP Renováveis 5,8250 5,7560 6,0510 -0,2930 -4,79 887.187 16:35
Galp Energia 8,6110 8,4840 9,1490 -0,7450 -7,96 1.858.367 16:36
Impresa 0,7000 0,6700 0,7100 -0,0370 -5,02 165.598 16:35
Jerónimo Martins 11,7250 11,3350 12,0000 -0,6850 -5,52 1.956.923 16:35
Mota-Engil 1,9670 1,9200 2,0200 -0,0910 -4,42 1.185.250 16:35
NOS 7,0800 6,8500 7,2830 -0,3500 -4,71 1.077.316 16:35
PHAROL 0,2400 0,2330 0,2560 -0,0230 -8,75 12.477.737 16:35
Portucel 3,0600 3,0070 3,1730 -0,2310 -7,02 856.018 16:35
REN 2,6250 2,6100 2,6800 -0,0960 -3,53 1.262.068 16:35
Semapa 12,6550 12,3850 12,9000 -0,4000 -3,06 131.131 16:35
Sonae SGPS 1,0600 1,0140 1,1130 -0,0820 -7,18 7.945.948 16:35
Teixeira Duarte 0,4780 0,4310 0,5080 -0,0200 -4,02 350.325 16:35




Sunday, February 23, 2014

CONCEITOS ABSURDOS

Há vários. Tenho anotado neste bloco de notas alguns deles. Um daqueles em que mais tenho insistido é a consideração como despesa pública o pagamento de reformas aos contributivos da segurança social; outro, que não é absurdo porque é  uma mentira insolente, descarada, a consideração da CES sobre as pensões de fundos privados como redução da despesa pública.

Ontem referi aqui a influência da desvalorização do ouro do BP no crescimento da dívida externa líquida e o reflexo que essa desvalorização acaba por determinar na pressão da UE para mais reduções de salários. Se atendermos ao princípio que está subjacente a este critério - da valorização dos activos segundo os valores de mercado - o conceito é correcto. O que não é correcto é que a variação do valor de mercado deste activo seja razão para uma imposição sobre outro factor macro económico com o qual não há correlação alguma.

O mesmo pode dizer-se da valorização no mercado secundário das obrigações do Estado. Tendo-se observado uma redução do prémio de risco cobrado pelos investidores, essas obrigações estão agora mais valorizadas que há alguns tempos atrás, traduzindo-se esse facto num yield agora menor. Em consequência, segundo este critério, as obrigações valem agora mais que antes e, por essa razão, a dívida cresceu.

Como (ao que parece) não foi possível vender ouro na melhor altura e não foi consentido ao Tesouro comprar dívida no mercado secundário quando estava desvelorizada, a dívida cresce, além do mais, tanto pelos bons motivos (redução do risco do país) como pelos maus (desvalorização do ouro).

À conta dos salários e das pensões de reforma. 

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Correl.- ( 24/2) Governo vai avançar para operação de recompra de dívida pública

Wednesday, May 22, 2013

ROBIN TOBIN - 2

A taxa sobre transacções financeiras (FTT), objecto do meu apontamento de ontem, já vem de longe e ao assunto já dediquei vários comentários, o último dos quais em Setembro de 2011, aqui. Nele, registei a declaração de Duração Barroso de pretender a introdução da FTT em 2014. Se, como agora se prevê, a medida for avante, ainda que bastante mitigada relativamente aos objectivos iniciais, a Comissão Europeia averbará uma quase vitória, o que, nos tempos que correm, tem de se considerar um feito.   

Em complemento do que anotei ontem sobre o assunto, e reportando-me ainda ao artigo publicado no Financial Times, há ainda a realçar que os custos ou proveitos, consoante os observadores, previstos,  resultantes da FTT excedem largamente os valores calculados pela Comissão Europeia (entre  30 e 35 biliões de euros). E isto porque, apesar da aparente irrelevância da taxa unitária, os valores acumulados, em consequência da alta velocidade a que as operações se realizam, podem atingir níveis quíntuplos daqueles. É, então, muito provável que o volume de transacções se reduza, aumentando significativamente, por outro lado, o seu valor unitário. A Comissão Europeia calcula que, por exemplo, as operações com derivados observem uma contração de 75%.  
 
Com o objectivo de garantir fundos, são feitas diariamente dezenas de milhares de operações temporárias, por exemplo a venda de obrigações do tesouro com condição de recompra. A FTT tornará esta prática desinteressante. A discussão do assunto redireciona-se então para os efeitos da medida sobre a redução da liquidez do sistema, e, consequentemente, das deslocalizações das operações dos países onde a taxa se aplica para os outros.
 
Para alguns, mesmo não banqueiros, a FTT poderá ter um efeito gravoso sobre os custos das dívidas soberanas. (Um aspecto que, naturalmente, não pode deixar de ser considerado muito relevante se aquele diagnóstico se confirmar, sobretudo porque a introdução da FTT precederá a união bancária, a centralização da supervisão e da garantia dos depósitos).  
 
Porém, o maior obstáculo à introdução da FTT continua a ser a oposição dos EUA, podendo o Congresso retaliar com uma lei de banimento do cumprimento da directiva comunitária europeia tornando impraticável a liquidação da taxa sobre as transacções de activos detidos por residentes na zona euro realizadas em território norte-americano. Para complicar ainda mais o exercício, não há ainda consenso entre os diferentes membros da zona euro acerca do modelo aplicável.

(Nesta, como em todas as decisões que têm moldado a construção europeia, sobretudo depois da eurupção da crise, os anões esperam o anúncio da vontade da dona da casa).
 
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A proposta do Prof James Tobin 1972, quando se atravessava também um grande instabilidade financeira, não era original: Keynes tinha  proposto em 1936 uma pequena taxa sobre todas as transacções realizadas na bolsa. Os objectivos da FTT são, contudo, significativamente diferentes daqueles que motivaram a ideia de Keynes e a sua recuperação por Tobin. Nem Keynes nem Tobin poderiam imaginar que um dia as transacções financeiras se viriam a efectuar à velocidade da luz. Mas ambos já tinham constatado a tremenda dificuldade em fazer alinhar o sistema financeiro a nível global atrás de uma ideia por mais brilhante que seja.    

Sunday, February 05, 2012

QUEM NÃO SABE, ENSINA

"A bolsa não é um jogo de casino. Ganhar dinheiro no mercado de capitais não é uma questão de sorte mas sim de conhecimento.", lê-se no Expresso/Economia de ontem.
José Neves Adelino, professor de finanças da Universidade Nova de Lisboa, deve ser um homem muito rico. Disse ele, num almoço no PABE com outros comensais ilustres, que "a literacia financeira em Portugal é muito baixa e uma iniciativa como o GIC (Global Investment Challenge) leva as pessoas a perceberem o mundo em que vivem."  Segundo a notícia, o professor deixou também alguns conselhos aos participantes do GIC  e a quem investe na bolsa.

Neves Adelino é tido como um respeitável professor de finanças mas não são conhecidos sucessos seus na bolsa que o tenham tornado o George Soros português. Aliás, Neves Adelino, como tantos outros que ganham a vida a prescrever receitas para o sucesso, continua como prescritor porque é incapaz de concretizar em proveito próprio os conselhos que distribui aos outros. 

É preciso ter muito cuidado com analistas e assessores financeiros. É por demais evidente que o que eles dizem ou são palpites ou sugestões requentadas. Se o sucesso na bolsa dependesse sobretudo do "conhecimento dos mecanismos da bolsa, de informações sobre as empresas*, sectores e economia e fazer escolhas ponderadas e não do instinto", analistas e assessores financeiros não seriam isso mas multimilionários ocupados exclusivamente com a gestão dos seus portfólios, e mandavam o resto às urtigas.

Antes da era "internet", da facilidade do copy/paste, coleccionava uma ou outra fotocópia de artigos publicados com o objectivo de lhe testar mais tarde a perdurabilidade da consistência dos conteúdos.  
Há dias, andava à procura de uns papeis e tropecei num desses artigos fotocopiados há uns anos atrás.

Foi publicado a 6/9/1999 no Diário Económico e intitulava-se "Vem aí a década de ouro das acções europeias. A próxima década vai ser de ouro para as acções europeias, depois de nos anos 80 terem sido os asiáticos a brilhar e, nos anos 90, os Estados Unidos terem desempenhado esse papel".

O autor, Mark Howdle, era, na altura, economista sénior da Schroder Solomon Smith Barney, tinha produzido uma projecção para a evolução dos mercados nos primeiros dez anos do milénio mas realçava que a futurologia é marcadamente um jogo de sorte e azar, e por isso é que muita gente se afasta desse exercício.

Mark Howdle abandonou o cargo de responsável pela estratégia do Citigroup para a Europa em 2002, segundo notícia que agora encontrei aqui, e voltou como professor à Universidade de Cambridge, onde se tinha doutorado.

Quem sabe fazer, faz. Mark Howdle preferiu voltar a ensinar.
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* Admito que não inclui o conhecimento por "insider trading" 

Wednesday, November 30, 2011

UM DIA DIFERENTE?

Já quase ao fim da tarde, ouço na rádio que os seis maiores bancos centrais do mundo (Banco Central Europeu, Reserva Federal dos EUA, Banco do Canadá, Banco de Inglaterra, Banco do Japão e Banco Nacional da Suíça) anunciaram hoje que vão intervir de forma conjunta para aliviar a pressão dos mercados, numa altura em que a crise na Europa ganha proporções incontroláveis.
.
As bolsas mundiais dispararam na sequência deste anúncio e até o PSI-20 teve a maior subida desde Maio de 2010.  
Terá começado hoje a inversão da tendência diabólica que ameaça estilhaçar o sistema monetário internacional? Esperemos que sim, mas a história das maiores crises regista movimentos sintomáticos de inversão do ciclo, que depois se revelaram episódicos, seguidos de recaídas. Aliás, se alguma conclusão pode retirar-se do comportamento dos mercados financeiros nos últimos meses é a confirmação da sua instabilidade congénita. E essa tara não se elimina, mesmo com a artilharia pesada dos seis maiores bancos centrais do mundo apontada ao fantasma que se agiganta e ameaça destruir o euro, a União Europeia, a Europa, o Mundo.

Ainda que a intervenção concertada dos seis magníficos arrefeça o ambiente baixando temporariamente os juros até aos níveis suportáveis, a solução da crise europeia não é essencialmente financeira porque é fundamentalmente política. A crise financeira apenas precipitou a ocorrência dos efeitos das contradições de uma União que se quer económica e financeiramente integrada mas que não pode subsistir sem a integração política mínima que a suporte de modo sustentável.

Curiosamente, soube-se hoje que a "Fitch" apesar de considerar "baixa" a  probabilidade de a Zona Euro se desmembrar  dados os “enormes custos” económicos, financeiros e políticos que acarretaria, considera útil avaliar alguns cenários hipotéticos, mesmo que também estes encerrem “um grau considerável de incerteza” sobre como se desenrolariam efectivamente na prática. (aqui).
Um verdadeiro achado, este da Fitch, típico de uma agência de "rating": preparem-se para um eventual desastre, mas não sabemos como isso se faz.

Na Autoeuropa, consideram que o possível regresso do escudo a Portugal não seria tão negativo para a empresa por ser     essencialmente exportadora e pertencer a um grupo mundial ... acrescentando a notícia, retirada do Financial Times, que há vários administradores a prepararem-se para a saída do euro.aqui).  

Thursday, November 10, 2011

QUANTO VALE O MAIOR BANCO COMERCIAL PORTUGUÊS



Se a cotação das acções do maior banco comercial português evoluirem segundo a tendência observada nos últimos seis meses, o maior banco comercial português em Setembro do próximo ano terá um valor equivalente aquele a que este quadro acaba de ser vendido em Nova Iorque num leilão que anotei aqui.

Se o cotação cair ao ritmo observado hoje,
o maior banco comercial português valerá tanto como este quadro dentro de um mês. 

Sunday, August 28, 2011

LIMPA FUNDOS

A história está contada aqui.

Resumidamente: Sahm Adrangi nasceu há cerca de 30 anos no Irão, tinha cinco anos quando os pais emigraram  para a Califórnia e dali para Vancouver. Formou-se em Yale, experimentou dois ou três empregos, o último dos quai num banco de investimento, depois atirou-se ao trabalho por conta própia, criou uma empresa de "hedge funds" e, tendo percebido que havia empresas chinesas, relativamente desconhecidas, cotadas nos EUA com bom comportamentos em bolsa, resolveu investigar. 

Investigou, e suspeitou que por detrás dos resultados apresentados deveria haver marosca. Investigou mais, e as suas supeitas confirmaram-se. E passou ao ataque através de operações de short selling: vendia a descoberto, divulgava o que conhecia acerca das empresas em questão, provocava a queda das acções, comprava-as aos preços reduzidos e completava as operações. Nada de original, a não ser a perspicácia para atacar empresas que se sustentavam da manipulação de resultados de operações em grande parte fictícias.  Ganhou 150 milhões de dólares em dois anos.

Curiosamente, o CEO de uma das empresas alvejadas por Sahm, na tentativa de sutentar as cotações da empresa, desconhecendo, talvez, a presença do atirador, interveio comprando massivamente acções próprias. Aguentou pouco tempo, evidentemente.  

Os "hedge funds" são vistos frequentemente como bandos de manipuladores dos mercados financeiros, empilhando fortunas com truques que uma desregulação desenfreada consente. Mas há casos e casos.
Neste caso, Sahm Adrangi, e outros limpa fundos, ficam podres de ricos mas realizam uma tarefa útil.

Trata-se, obviamente, de uma recompensa escandalosamente excessiva. Mas a culpa não é do Sahm & Cª., mas do sistema que continua desregulado por regras obsoletas e permissivas no casino.

Tuesday, August 16, 2011

DOW JONES

A HISTÓRIA DO DOW, aqui
            clicar para aumentar
Mais: What is the market telling us?
Five myths about the Dow

Thursday, August 11, 2011

Sunday, April 10, 2011

INÚMEROS

escândalos

clicar para aumentar

Friday, September 03, 2010

CAPRICHOS & OPÇÕES

Robert Reich

What passes for business reporting in the United States is too often a series of breathless reports about the stock market. When the Dow rises precipitously, as it did today (Wednesday), the business press predicts an end to the Great Recession. When the stock market plummets, as it did last week, the Great Recession is said to be worsening.

Pay no attention. The stock market has as much to do with the real economy as the weather has to do with geology. Day by day there’s no relationship at all. Over time, weather and geology interact but the results aren’t evident for many years. The biggest impact of the weather is on peoples’ moods, as are the daily ups and downs of the market.


Thursday, June 03, 2010

SHORT SELLING - 2

A TT International, uma gestora de fundos de investimento, volta a apostar na queda das acções do BCP. (vd. aqui). 
Vendeu mais de 11 milhões de títulos do banco a descoberto, tendo sido por isso obrigada a comunicar à CMVM.
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Entretanto, a CMVM (vd. aqui) colocou hoje em consulta pública um novo regulamento que aumenta os deveres de transparência sobre as operações de "short selling". O regulador passará a ter de ser informado sempre que a posição curta exceder 0,2% do capital.
.
Continua, portanto, o jogo de casino (ou será de corridas de cavalos?) nas redes das bolsas, impantes e impunes. 
Reconheça-se, contudo, que comparar estes jogos financeiros com os jogos de azar dos casinos e dos hipódromos pode ser insultuoso para os segundos. Com efeito, quem aposta nos casinos são os detentores dos valores que joga e o nível de confiança na fiabilidade das máquinas ou na probidade dos croupiers é elevada. Quem aposta nos cavalos não belisca minimamente a raça dos equídeos nem o moral dos jockeys.
Nas apostas financeiras (short selling, entre outras) os apostadores jogam com o dinheiro de quem, muitas vezes, não sabe sequer a quem acabou por o confiar.
E, contrariamente, aos cavalos nos hipódromos, os activos em jogo nas bolsas podem ser, e frequentemente são, profundamente arrombados.
.
Acabem-se com eles? Não diria tanto. Proibir nunca é a melhor solução.
Regulamente-se? Não resulta. Para cada regra o sistema inventa uma contra regra.
Taxem-se.
Mas taxem-se de forma mais agravada que a roleta, as slot machines, as apostas nos cavalos ou quaisquer outros jogos de fortune e azar. E, mais importante ainda, separem-se as redes destas apostas financeiras das bolsas de investimentos. 
Para que cada um saiba inequívocamente ao que vai. Sem redes de protecção ao risco (i)moral. 

Tuesday, April 27, 2010

TERÇA-FEIRA NEGRA

Empresa/Cot./Var.último fecho. (abs/%) /Máx. Sessão/Mín. Sessão/Volume
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Altri 4,308/ -0,429/ -9,060/ 4,708/ 4,308/951.835
BCP 0,671 /-0,055 /-7,580 /0,728 /0,671 /63.672.745
BES 3,240 /-0,259 /-7,400/3,500/3,210/6.960.409
BPI 1,669/-0,089/-5,060/1,762/1,603/3.012.927
Brisa 5,150/-0,447/-7,990/5,586/5,104/3.197.494
Cimpor 5,299/-0,085/-1,580/5,490/5,150/2.971.876
EDP 2,622/-0,104/-3,820/2,756/2,622/16.836.967
EDP R 5,063/-0,057/-1,110/5,350/5,063/3.142.294
Galp En 11,950/-0,375/-3,040/12,370/11,950/3.752.638
Inapa 0,530/-0,050/-8,620/0,580/0,530/1.101.671
JMartins 7,463/-0,286/-3,690/7,768/7,439/2.487.531
Mota-Engil 2,750/-0,139/-4,810/2,850/2,750/853.148
P. Tel 7,463 /-0,537/-6,710/7,955/7,463/8.800.553
Portucel 1,910/-0,131/-6,420/2,039/1,900/1.707.749
REN 2,585/-0,125/-4,610/2,730/2,584/840.568
Semapa 7,600/-0,303/-3,830/8,048/7,501/203.312
Sonae Ind 2,170/-0,240/-9,960/2,410/2,170/869.264
Sonae SGPS 0,763/-0,063/-7,630/0,824/0,763/7.931.772
Sonaecom 1,306/-0,099/-7,050/1,400/1,305/810.922
Zon Multimedia 3,343/-0,272/-7,520/3,612/3,343/870.052

DE MAU A PIOR

Enquanto na Assembleia da República prosseguem as declarações dos convocados para os inquéritos parlamentares que hão-de provar o antecipadamente provado, enquanto os donos dos transportes colectivos colocam o país em paragens forçadas, as amaldiçoadas agências de rating* continuam a degradar-nos o crédito e a Bolsa cai desalmadamente.
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Ouvi há pouco o Ministro da Presidência dizer, receosamente, como quem pede desculpa, que esta não é a melhor altura para greves e reclamações de salários. Receosamente, porque, por este andar imparável para o desastre, sem que ninguém tenha mão na barca descontrolada, um dia destes terá dizer que chegou a altura em que o governo não tem alternativa senão baixá-los ou deixar de os pagar.
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Quantos erros nos falta fazer ainda, senhor PR, para chegarmos à bancarrota?
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Saturday, February 20, 2010

TOBIN OR NOT TOBIN


Richard Curtis encena campanha a favor da taxa "Robin dos Bosques"Depois de ter escrito livros que inspiraram alguns dos maiores êxitos de Hollywood, como "Quatro Casamentos e um Funeral", e de ter conquistado fama na TV como argumentista de "Mr. Bean", a mais recente obra de Richard Curtis é o guião de uma campanha contra os salários bilionários da banca e a favor da velha taxa Tobin, reconvertida em "Taxa Robin dos Bosques". Veja aqui o vídeo.
Todos os Vídeos
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350 economists call for a financial transaction tax
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This is the complete text of a letter calling for a financial transaction tax. It is signed by 350 economists from dozens of countries, including two Nobel laureates. The letter was discussed by Sean O’Grady in today’s
Independent Newspaper.
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Dear G20
As economists from across the world, we call on you to implement a financial transaction tax (FTT).
This tax is an idea that has come of age. The financial crisis has shown us the dangers of unregulated finance, and the link between the financial sector and society has been broken. It is time to fix this link and for the financial sector to give something back to society.
Even at very low rates of 0.05% or less, this tax could raise hundreds of billions of dollars annually and calm excessive speculation. The UK already levies a tax on sharetransactions of 0.5%, or ten times this rate, without unduly impacting on the competitiveness of the City of London.
This money is urgently needed. The crises of poverty and of climate change require an historic transfer of billions of dollars from the rich world to the poor world, and this tax would offer a clear way to help fund this.
Given the automation of payments, this tax is technically feasible. It is morally right. We call on you to implement it as a matter of urgency.
.
Yours.
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Wednesday, February 17, 2010

O SEXO DA ECONOMIA

Ainda a propósito do que escrevi nos dois últimos apontamentos, (aqui e aqui) quanto mais penso na posicionamento de muitos economistas relativamente às responsabilidades que assacam às Universidades onde ensinam na gestação da crise financeira global, mais se me arreiga a ideia de que essa auto incriminação (de que eles, ainda que críticos não podem, honestamente, desvincular-se) é, sobretudo, uma atitude partidária. Não é por acaso, julgo eu, que Castro Caldas refere no comentário que transcrevi aqui a falta de pluralismo no ensino da economia.

O ensino universitário, a investigação científica, ou são plurais no espectro possível de análise, ou não são nem uma coisa nem outra. Presumo, contudo, que aqueles que hoje tão acirradamente contestam as instituições onde são profissionais, e alegam falta de pluralismo, pretendem que a Universidade seja palco de discussão ideológica sem qualquer constrangimento que o método científico requer para que o seja.

Pego na citação feita por CCaldas de uma afirmação de Samuelson em 1955:

“In recent years, 90 per cent of American economists have stopped being Keynesian economists" or Anti-Keynesian economists." Instead, they have worked toward a synthesis of whatever is valuable in older economics and in modern theories of income determination. The result might be called neo-classical economics and is accepted, in its broad outlines, by all but about 5 per cent of extreme left-wing and right-wing writers.”

e pergunto-me: Poderia ser diferente?
Não é a economia, como qualquer outra área do conhecimento, um edifício em construção, resultante dos contributos que vão sendo carreados ao longo dos tempos? Em 55 anos alguma coisa consistente foi acrescentada ao edifício, espera-se.

Se as ideologias neo-liberais prevaleceram nas últimas décadas, e sobretudo depois do desmoronamento da experiência do socialismo real, se essas ideologias promoveram a desregulação e a desregulação permitiu o saque, o que é que fomentou o descalabro: a ideologia ou a ciência?
Ninguém, se não for comandado por convicções ideológicas inabaláveis, pode continuar a acreditar no princípio do equilíbrio natural dos mercados. Em 1 de Agosto de 2007 transcrevi aqui uma pergunta de Nouriel Roubini, que citava Minsky, o economista que melhor e de forma mais isenta estudou a obra de Keynes. Nouriel Roubini, nessa altura, e tanto quanto julgo saber, ainda era praticamente ignorado em Portugal:
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Specifically, the crucial macro question that we should ask ourselves today is whether we are at the peak of a Minsky Credit Cycle. Or as the UBS economist George Magnus – an expert of financial instability - put it: “Have we reached a Minsky moment?”
.
Há muito tempo que Minsky demonstrou a natural tendência para o desequilíbrio dos mercados financeiros. Quem é que ignorava isso? A Universidade não podia ignorar. Ignoraram aqueles a quem convinha fazer crer que também esses mercados (quais os outros?) tendem para o equilíbrio.
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Evidentemente que os mercados necessitam de regulação. E, sobretudo, precisam de regulação os mercados financeiros onde a lógica de intervenção dos apostadores é, geralmente, a dos jogadores de casino. A começar pela clarificação obrigatória bastante do conteúdo dos produtos transaccionados. E pela não admissão às mesas de jogo daqueles que não têm capacidade nem financeira nem conhecimento suficiente daquilo que se propõem comprar.
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Etc.

Monday, February 08, 2010

OS ISLANDESES

Se há ainda alguém que pense ser exagerado considerar o sistema financeiro internacional como o maior casino do mundo, aconselha-se a leitura de Why Iceland?: How One of the World's Smallest Countries Became the meltdown´s biggest casualty.
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Realço um pormenor: Em 2003 a economia islandesa foi submetida a três factores estimulantes: o investimento em projectos de capital intensivo para a produção energia para duas unidades de smelter de alumínio da Alcoa, liberalização da política monetária, privatização integral do sistema bancário. Os projectos de energia teriam um custo correspondente a aproximadamente 35% do PIB do país e começariam a gerar retorno a partir de 2007, o ano em que o sistema financeiro começou a ruir. A procura de mão-de-obra para estes projectos foi contratada com uma empresa italiana - a Impregilo - que recrutou trabalhadores em Portugal e na China para o trabalho árduo em paisagem gelada. A Impregilo, em desrespeito das leis do trabalho do país e locais, instalou os trabalhadores portugueses e chineses num estaleiro onde viviam isolados, sem quaisquer contactos com as localidades mais próximas.
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Quando tanto se fala da concorrência chinesa com o sector português de baixa tecnologia esta convivência luso-chinesa em terras da Islândia parece paradoxal. Mas, provavelmente, não é tanto quanto parece.