No meio de tanta maroteira financeira continuam de vento em popa os jogos de azar. Agora, com a permissão de apostas on line, que a APC - Associação Portuguesa de Casinos vê como uma sentença de morte aos casinos físicos, e com as apostas nas corridas de cavalos, não falta nenhuma oportunidade ao portuga para ser milionário à velocidade da luz. E, como é normalíssimo em actividades apostantes, há quem faça batota, e no futebol, que é terreno propício a viciações e manipulações de resultados, quem não pode ganhar em campo é tentado a ganhar perdendo.
Mas, para além dos casinos físicos, (o designativo é da APC) e dos casinos online, das apostas da Santa Casa, para o governo das quais o putativo candidato a próximo PR, sr. Santa Lopes, "dá graças a Deus" por lhe ter concedido tão nobre tarefa, existe o casino bancário, o mais tremendo, porque o mais global e exterminador casino de todos, que continua alegre e eficazmente a encher os bolsos dos banqueiros e seus croupiers. Na realidade, não há jogo de azar mais opaco e mais devastador das economias do que o jogo dos chamados fundos de investimento. Quando há dias, o senhor Carlos Costa afirmava que uma das acções a tomar para evitar a repetição de casos como o BES (e como o BPN, o BPP, etc., são mais os casos que as casas) é aumentar a literacia financeira, não estaria, certamente, a pensar elucidar o cidadão comum que, com algumas poupanças, não sabendo onde as arrumar, investe em fundos ditos de investimento que o podem arruinar e ao país. Sendo o sr. Carlos Costa uma personalidade banqueira jamais lhe passará pela cabeça avisar que os bancos de investimento também são casinos físicos, com a grande diferença imposta pelo seu âmbito, que não se resume aos limites físicos dos casinos da APC: arruinam frequentemente as famílias, põem de pantanas as economias nacionais, e apresentam as contas dos desastres aos contribuintes. Por outro lado, os fundos ditos de investimento em acções ou obrigações estrangeiras são um veículo legal de exportação de capitais, retirando capacidade de financiamento ao investimento produtivo nacional, constituindo , com a importação de endividamento, outro factor de debilitação das economias mais frágeis.
Talvez porque me habituei desde muito cedo a ver cada um a ganhar a vida com o suor do rosto, nunca me fiei em jogos de azar, e se, uma vez por outra me tentaram os croupiers, com grande relutância da minha parte, a colocar umas poucas fichas na mesa dos fundos ditos de investimento, os resultados, devo confessá-lo, foram geralmente negativos. O mesmo não se passa, reconheço também, com amigos e conhecidos que, se a conversa nos leva para aí, me dizem ganhar mundos e fundos com os ditos. Azar só meu?
Há uns atrás, conversava em fim de tarde e de várias reuniões, com pessoa personalidade pública e fama de gestor de excepção. Quando a conversa o sugeriu, perguntei-lhe que impressão tinha das aplicações em fundos ditos de investimento, que eu considerava um jogo de azar sem freios.
A melhor!, respondeu-me ele, sem hesitar. Tenho ganho muita massa com a bolsa e, muitas vezes, invisto em fundos. Claro que é preciso acompanhar o mercado ... sem acompanhamento, nada feito.
Calei-me, resignado com a minha inabilidade. O meu interlocutor entendeu, então, dar-me uma prova real da sua sageza financeira. Pegou do telemóvel, marcou um número, atenderam do outro lado. Está lá, ligue-me com F., Oh! F., como é que está hoje a bolsa por aí? Hum! A Sonae, quanto é que está a fazer agora a Sonae? Ah, sim?!, compro trinta mil. Isso, trinta mil. Debita na conta tal.
Olhou para mim, sorridente e vencedor. Está ver? É assim.
Daí a três dias o mercado dava um senhor trambolhão. Meti-me com ele: Desta vez deu raia, não?
Qual raia qual carapuça, não comprei para vender, aquilo é para manter, para deixar estar.
Fiquei inteirado.
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Correl.- "Fundos sofrem primeiro impacto do BES. Fundos nacionais abalados com desvalorização da Bolsa - Expresso/Economia (9/8) - Gestoras estão tranquilas e referem que, apesar da crise no GES, o mês de Julho foi positivo, sem registo de resgates significativos ou receios dos investidores neste tipo de produtos"
Até mais ver.
Fiquei inteirado.
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Correl.- "Fundos sofrem primeiro impacto do BES. Fundos nacionais abalados com desvalorização da Bolsa - Expresso/Economia (9/8) - Gestoras estão tranquilas e referem que, apesar da crise no GES, o mês de Julho foi positivo, sem registo de resgates significativos ou receios dos investidores neste tipo de produtos"
Até mais ver.