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Monday, August 11, 2014

FUNDOS E FUNDILHOS

No meio de tanta maroteira financeira continuam de vento em popa os jogos de azar. Agora, com a permissão de apostas on line, que a APC - Associação Portuguesa de Casinos vê como uma sentença de morte aos casinos físicos, e com as apostas nas corridas de cavalos, não falta nenhuma oportunidade ao portuga para ser milionário à velocidade da luz. E, como é normalíssimo em actividades apostantes, há quem faça batota, e no futebol, que é terreno propício a viciações e manipulações de resultados, quem não pode ganhar em campo é tentado a ganhar perdendo.

Mas, para além dos casinos físicos, (o designativo é da APC) e dos casinos online, das apostas da Santa Casa, para o governo das quais o putativo candidato a próximo PR, sr. Santa Lopes, "dá graças a Deus" por lhe ter concedido tão nobre tarefa, existe o casino bancário, o mais tremendo, porque o mais global e exterminador casino de todos, que continua alegre e eficazmente a encher os bolsos dos banqueiros e seus croupiers. Na realidade, não há jogo de azar mais opaco e mais devastador das economias do que o jogo dos chamados fundos de investimento. Quando há dias, o senhor Carlos Costa afirmava que uma das acções a tomar para evitar a repetição de casos como o BES (e como o BPN, o BPP, etc., são mais os casos que as casas) é aumentar a literacia financeira, não estaria, certamente, a pensar elucidar o cidadão comum que, com algumas poupanças, não sabendo onde as arrumar, investe em fundos ditos de investimento que o podem arruinar e ao país. Sendo o sr. Carlos Costa uma personalidade banqueira jamais lhe passará pela cabeça avisar que os bancos de investimento também são casinos físicos, com a grande diferença imposta pelo seu âmbito, que não se resume aos limites físicos dos casinos da APC: arruinam frequentemente as famílias, põem de pantanas as economias nacionais, e apresentam as contas dos desastres aos contribuintes. Por outro lado, os fundos ditos de investimento em acções ou obrigações estrangeiras são um veículo legal de exportação de capitais, retirando capacidade de financiamento ao investimento produtivo nacional, constituindo , com a importação de endividamento, outro factor de debilitação das economias mais frágeis.

Talvez porque me habituei desde muito cedo a ver cada um a ganhar a vida com o suor do rosto, nunca me fiei em jogos de azar, e se, uma vez por outra me tentaram os croupiers, com grande relutância da minha parte, a colocar umas poucas fichas na mesa dos fundos ditos de investimento, os resultados, devo confessá-lo, foram geralmente negativos. O mesmo não se passa, reconheço também, com amigos e conhecidos que, se a conversa nos leva para aí, me dizem ganhar mundos e fundos com os ditos. Azar só meu? 

Há uns atrás, conversava em fim de tarde e de várias reuniões, com pessoa personalidade pública e fama de gestor de excepção. Quando a conversa o sugeriu, perguntei-lhe que impressão tinha das aplicações em fundos ditos de investimento, que eu considerava um jogo de azar sem freios. 
A melhor!, respondeu-me ele, sem hesitar. Tenho ganho muita massa com a bolsa e, muitas vezes, invisto em fundos. Claro que é preciso acompanhar o mercado ... sem acompanhamento, nada feito.
Calei-me, resignado com a minha inabilidade. O meu interlocutor entendeu, então, dar-me uma prova real da sua sageza financeira. Pegou do telemóvel, marcou um número, atenderam do outro lado. Está lá, ligue-me com F., Oh! F., como é que está hoje a bolsa por aí? Hum! A Sonae, quanto é que está a fazer agora a Sonae? Ah, sim?!, compro trinta mil. Isso, trinta mil. Debita na conta tal.
Olhou para mim, sorridente e vencedor. Está ver? É assim.

Daí a três dias o mercado dava um senhor trambolhão. Meti-me com ele: Desta vez deu raia, não?
Qual raia qual carapuça, não comprei para vender, aquilo é para manter, para deixar estar. 
Fiquei inteirado.  
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Correl.- "Fundos sofrem primeiro impacto do BES. Fundos nacionais abalados com desvalorização da Bolsa - Expresso/Economia (9/8) - Gestoras estão tranquilas e referem que, apesar da crise no GES, o mês de Julho foi positivo, sem registo de resgates significativos ou receios dos investidores neste tipo de produtos"    
Até mais ver.

 

Thursday, August 11, 2011

NA RATOEIRA

O Washington Post de hoje, num artigo da primeira página, e a propósito das quedas dos mercados accionistas norte-americanos e europeus, subtitula: A crise está a tornar-se numa crise bancária. E os jornalistas autores do artigo (este) historiam os mais recentes acidentes bolsistas para chegar a uma conclusão que me parece óbvia, e, mais que óbvia, recorrente.

Porque é evidente, e natural, que a crise é sobretudo uma crise bancária. Se não fosse não haveria tanta preocupação com os devedores.

Evidente, porque há muito que se percebeu que os bancos europeus (e não só, mas principalmente) se encontram enredados numa teia de dívidas que os ameaça a todos. Natural, porque foram os bancos que estiveram em ambos os lados do Atlântico na origem do terramoto financeiro de 2008, nas réplicas durante os últimos três anos, e na ameaça de um novo sismo de magnitude por enquanto desconhecida. Foram os banqueiros quem,  fiados na rede fatal do "moral hazard", deram corda ilimitada à sua ganância, forjaram engodos para as ratoeiras em que fizeram cair os incautos e os gulosos.

Até ao momento em que, eles próprios, cairam nas ratoeiras que armaram e tentam, agora como sempre, que sejam os contribuintes a alombar com o peso total das suas irresponsabilidades. Colocados entre o poder dos votos e a força dos lobies banqueiros, os políticos hesitam em fazer o que devem para acabar de vez com os jogos de casino fora dos locais apropriados para o efeito, retirando a rede do moral hazard aos impropriamente chamados bancos de investimentos.

Enquanto existir essa rede a ratoeira continuará armadilhada.

Saturday, June 26, 2010

ALGO TERÁ DE MUDAR - 2

As negociações entre Congressistas e Senadores para aprovação da lei que pretende disciplinar os mercados financeiros nos EUA terminaram de madrugada (vd notícia registada aqui). É considerada a segunda grande vitória política da administração Obama (a primeira foi a segurança social) mas, como a primeira, ficou a meio caminho, segundo uns, excedeu-se, segundo outros.

É ainda considerada a maior alteração legislativa do sistema financeiro depois da Grande Depressão de 1929. Essencialmente reformula a actividade dos reguladores, reforçando-lhe as competências, mas,  e esta é a mais contundente crítica de que desde já  é alvo, atribui aos próprios reguladores a regulamentação de grande parte das condições de operacionalidade das suas atribuições. O que, dito de outro modo, coloca os reguladores na eventual pendência da sua captura pelos operadores financeiros.  

E esse foi, e continua a ser, o maior problema da regulação e da supervisão. Quando se dá por eles, cairam nas mãos daqueles que deveriam supervisionar. Para cada regra, já o tenho anotado neste caderno, há sempre alguém que concebe uma contra-regra. A inovação financeira consiste em grande parte na invenção de soluções que ultrapassem os constrangimentos dos regulamentos.

Lamentavelmente, os grandes colossos financeiros acabaram por, cedendo aparentemente alguma coisa  manterem, realmente, o que para eles era essencial: a continuidade da promiscuidade entre as actividades bancária e a de casino.

Sem uma separação absoluta entre uma coisa e outra nunca os contribuintes se livrarão de pagar os abusos dos banqueiros, too big to fail.

Thursday, June 03, 2010

SHORT SELLING - 2

A TT International, uma gestora de fundos de investimento, volta a apostar na queda das acções do BCP. (vd. aqui). 
Vendeu mais de 11 milhões de títulos do banco a descoberto, tendo sido por isso obrigada a comunicar à CMVM.
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Entretanto, a CMVM (vd. aqui) colocou hoje em consulta pública um novo regulamento que aumenta os deveres de transparência sobre as operações de "short selling". O regulador passará a ter de ser informado sempre que a posição curta exceder 0,2% do capital.
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Continua, portanto, o jogo de casino (ou será de corridas de cavalos?) nas redes das bolsas, impantes e impunes. 
Reconheça-se, contudo, que comparar estes jogos financeiros com os jogos de azar dos casinos e dos hipódromos pode ser insultuoso para os segundos. Com efeito, quem aposta nos casinos são os detentores dos valores que joga e o nível de confiança na fiabilidade das máquinas ou na probidade dos croupiers é elevada. Quem aposta nos cavalos não belisca minimamente a raça dos equídeos nem o moral dos jockeys.
Nas apostas financeiras (short selling, entre outras) os apostadores jogam com o dinheiro de quem, muitas vezes, não sabe sequer a quem acabou por o confiar.
E, contrariamente, aos cavalos nos hipódromos, os activos em jogo nas bolsas podem ser, e frequentemente são, profundamente arrombados.
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Acabem-se com eles? Não diria tanto. Proibir nunca é a melhor solução.
Regulamente-se? Não resulta. Para cada regra o sistema inventa uma contra regra.
Taxem-se.
Mas taxem-se de forma mais agravada que a roleta, as slot machines, as apostas nos cavalos ou quaisquer outros jogos de fortune e azar. E, mais importante ainda, separem-se as redes destas apostas financeiras das bolsas de investimentos. 
Para que cada um saiba inequívocamente ao que vai. Sem redes de protecção ao risco (i)moral. 

Saturday, March 21, 2009

BANCOS & CASINOS


Tax havens exist because of the hypocrisy of larger states
In the 1860s, the typical client of a haven was a patron of the entrepreneur François Blanc’s casino. In the years after 2000, the typical client of a haven was a hedge fund registered in Grand Cayman, writes John Kay

Why the Turner report is a watershed for finance
Yet even this radicalism is limited: the report rejects division of the financial system into utilities and a casino, writes Martin Wolf

José Sócrates diz que os bancos europeus têm de deixar de trabalhar com paraísos fiscais
O primeiro-ministro português, José Sócrates, defendeu hoje em Bruxelas que os bancos europeus devem ser proibidos de trabalhar com paraísos fiscais, mesmo que uma decisão idêntica não seja tomada a nível mundial pelo G-20.
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Os offshores só não têm os dias contados porque neles se intersectam muitos interesses inconfessáveis. São entroncamentos por onde passam, além dos que se evadem ao fisco, os traficantes de armas, de droga, de pessoas, e todos quantos vivem à solta no mundo do crime.
Teoricamente, o fim dos offshores não exigiria mais do que o compromisso conjunto dos maiores bancos mundiais de os excluir, e aos que com eles traficassem, das suas relações.
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Diversas vezes já, referi aqui no Aliás uma via que poderia ser seguida se aquele compromiso não fosse possível: o de obrigarem os Estados os bancos a declararem a seu envolvimento, ou não, com contas sediadas em offshores.
Até agora, não li em parte alguma, uma sugestão no sentido que tenho referido.
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Recentemente, contudo, tem sido o assunto abordado por muita gente que, de um modo ou de outro, poderá influenciar, se não a extinção dos offshores, pelo menos o seu recuo para operações escrutináveis.
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A declaração de José Sócrates, na sequência da reunião do Conselho de Chefes de Estado e Primeiros Ministros da União Europeia, que definiu a posição dos 27 na próxima reuinião dos G- 20, de que devem os bancos europeus deixar de operar com contas offshores soa mais a um whishful thinking destinado ao "mercado interno" em ano tri-eleitoral do que a um consenso conseguido na reunião em que participou.
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De qualquer modo, poderia, se quisesse, dar um exemplo com que poderia pavimentar-se o caminho a seguir: bastava que o Estado privilegiasse nas suas operações financeiras os bancos que expressamente assumissem o compromisso de não utilizar offshores. A Caixa Geral de Depósitos poderia, se recebesse ordens nesse sentido, apontar o caminho desimpedido de traficantes.
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Mas não é provável que tal aconteça. Apesar da crise que provocaram, ainda são os bancos quem mandam, não os Estados. Pelo menos, alguns.