Repara, amor, com cuidado, o som de veludo que ecoa das nuvens, quando escorregam as fofaspantufas no teto estrelado, escuta. Repara o halo azulado daquela com laço de fita e sente, ao longo da espinha, o calor que esparramam seus braços, enquanto rodopiam - imensos - de encontro ao dourado do sol. Repara, pequeno, o verdedoce gostoso dos dias, o poder da ínfima gota, a inteireza brilhante do extenuante caminho do broto, germina. Repara os dedos compridos da chuva que tamborila cantigas serenas, no embalo do teu justosono, acalenta. Repara, de olhos fechados, a imensidão do horizonte do mar - as negras ondas, a espuma farta, a luatoda em mergulho nu, submerge. Repara no roto, no feio, no sujo, no espelho - repara em si mesmo, alimenta. Repara o nada que vibra no fundo do peito, repara o vácuo, o liquefeito, revê. Repara, meu filho, repara a vida que escapole da terra molhada e te acarinha - suave cetim. Percebe o sutil e inesgotável prazer que os rios têm em sempre recomeçar. E re-começa - todas as vastas manhãs.
Sylvia Araujo
8 comentários:
grande a espera, mas valeu a pena! ficou linda; você tem bons amigos...
é um sorriso de dentro
que se estende [vasto
e deleitoso]
...
beijo carinhoso.
teus escritos conduzem o leitor a uma conversa. muito bom e muito bonito!
beijos
Completamente sem fôlego, minha Sia.
Fui buscar quem era o novo visitante e vi que era vc, ando sumida e foi tão bom te visitar, te ler.
bjs moça!
Querida, vc tem uma alma linda...toda a beleza dela está refletida aqui, nas tuas palavras, na tua transparência...Um beijo
hmmm, que lindo!
vou mostrar pra minha mãe este!
Um lirismo envolvente está presente neste fragmento. Daqueles que nos salva deste mania que hoje temos de escrever poemas secos.
beijos
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