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sábado, 5 de outubro de 2013

JOACY JAMYS



Joacy Jamys era um cara hiperativo. Sempre estava produzindo alguma coisa: seja na sua banda Estrago, nos seus zines Sociedade dos Mutilados, Não Sistema!, Grito?, subindo alguma coisa em seu site, organizando o grupo SingularPlural (anteriormente chamado de Grupo de Risco), manifestando-se contra o sistema, ou mesmo fazendo alguma ilustração para alguma banda ou zine. Nas horas vagas até dava aulas de histórias em quadrinhos.

Ele deve ter colaborado para 90% dos zines dos anos de 1990, sempre tinha uma tira ou HQ sua (geralmente a mesma em diversos zines diferentes). Nos meus zines coloquei diversas delas. Nenhuma exclusiva, exceto a lindíssima capa do Aaah!! #5.

Na época em que fez essa capa, ele me mandou a ilustração original, a qual guardei por muito tempo em minhas coisas. Mais de dez anos depois, já conversando com ele via e-mail, comentou que estava montando uma coletânea que possivelmente sairia em formato de livro e estava recolhendo materiais que produziu. Comentei com ele sobre o original e ele gentilmente me pediu e eu prontamente enviei. Dois meses depois, recebo a notícia de que ele foi acometido por um AVC que o levou para o além. Fiquei anos batendo a cabeça para saber do que se fez com esse material, mas até hoje não obtive uma resposta sobre.

Anos mais tarde (mês passado) recebo em minha casa a primeira edição da publicação Monstros do Fanzine, lançado pela editora independente AtomicBooks, que é inteiramente dedicada a Joacy Jamys! E não é uma publicação qualquer: são 136 páginas dedicadas ao artista radicado em São Luis/MA, com tratamento de imagens, papel especial e impressão magnífica.

Capa da primeira edição da série Monstros dos Fanzines dedicada a Joacy Jamys
Ilustração para a banda
The Power of The Bira

A publicação lançada em setembro de 2013 apresenta diversas fases e estilos de Jamys: desde quando ainda estava engatinhando nos rabiscos, passando pelos traços mais sujos, chegando até um estilo mais maduro, o qual lhe rendeu o título de “Moebius brasileiro”. Além das diversas tiras, HQs, capas de demo-tapes e zines, logotipos e charges, ainda tem um artigo de Gazy Andraus, uma entrevista de 2004 e a apresentação de Henrique Magalhães.

O editor Marcos Freitas acertou em cheio em inaugurar essa publicação com um artista tão eclético e polêmico que, além de ser um artista underground ímpar, era uma grande pessoa, conectada com tudo que acontecia ao seu redor e no mundo e sempre disposta a ajudar de alguma forma.

Um importante registro feito de forma bastante profissional (mais que merecido) e que serve para os velhos relembrarem a arte desse artista que não teve o reconhecimento do “grande público” na sua época e para os mais novos se inspirarem num trabalho que não foi agraciado por mesas digitais ou programas de aperfeiçoamento de imagens.





segunda-feira, 6 de junho de 2011

ENTREVISTA GAZY ANDRAUS - PARTE II

O Zinismo publica a continuação da entrevista feita com o professor (e estudioso de HQs e Fanzines) Gazy Andraus. Nesta segunda parte a conversa segue pelos trabalhos em pós-graduação envolvendo fanzines, passa por uma análise destas publicações nas recentes décadas e resvala em uma miríade de assuntos, como física quântica, filosofia e a utopia de um ser humano melhor. Aperte os cintos e prepare-se para esta viagem "neuroplástica" !

ZINISMO - Como você acompanha a atuação dos fanzines durante as décadas de 80, 90 e atualmente?
GAZY ANDRAUS : Eu já descrevi isso numa matéria que fiz para o Zine Royale do Jozz: a conclusão foi que durante os anos 80 e meados de 90 a criatividade de nossos fanzines brasileiros era inacreditável! Tive homéricas experiências como com o “Só Uma?” do piracicabano Érico San Juan, que colocava uma HQ de uma só página de 6 ou 7 quadrinhistas por número !



Isso era criatividade: ele pensou numa maneira inteligente de ter vários colaboradores num zine de tiragem xerocopiada, forçando-nos a criar HQ de uma só página! De certa maneira, um pouco desse estilo de HQ hai-kai (um tanto quanto koânica) se deve também a esse tipo de experimento. Houve muitos outros fanzines que foram importantíssimos, como o “Tchê” no sul (que existe até hoje, do Denílson Reis, e do qual ainda participo), e o principal, “Barata” de Santos , que fez o mesmo que o “Só Uma?”, na questão de apresentar vários colaboradores por número, mas não havia a necessidade de ser só HQ e podiam ter mais páginas para cada história (até umas 5 ou 6, como média).



Esse limite de páginas, aliás, foi o que nos ajudou a desenvolver esse estilo poético conciso de HQ, forçando-nos a sermos mais gestálticos, lacunosos na sequencialização, já que tínhamos poucas páginas para criar e publicar uma HQ. Além disso, como já mencionei, havia a exposição anual de Zines na Galícia, e sempre mandávamos nossos fanzines pra lá. Eu e o Edgar tínhamos um trabalho similar e sempre que nos encontrávamos havia uma profusão de troca de informações, zines, pesquisas etc que enriquecia sobremaneira ambos! Foi aí que fizemos o “Irmãos Siameses”, já mencionado: um zine que teve relativa penetração, e que foi o estopim para termos a alcunha de “fantasia-filosófica”, graças ao Henrique Torreiro, organizador da Xornadas de Fanzines de Ourense, dando-nos esse estigma ao receber e ler nosso trabalho! Mas depois, mais atualmente, com o barateamento tecnológico e inserção da Internet e dos e-zines, algo mudou: a qualidade criativa parece ter dado lugar mais à mesmice, mas com qualidades gráficas surpreendentes, já que a impressão barateou. Capas coloridas, miolo com papel couchê etc. Acho que isso deslumbrou a maioria dos novos fanzineiros e se descuidaram do foco no criativo. Mas acredito que isso vai voltar e se modificar de algum modo.


Fanzine Royale

O que é o Biograficzine? Como tem sido sua aplicação no ensino superior e quais são os resultados?

Elydio dos Santos Neto, que vim a conhecer no último ano de meu doutorado e agora é grande amigo (dedicando assim a ele também parte dessa entrevista) foi quem teve a idéia como professor de mestrado da área de Pedagogia da Universidade Metodista de São Paulo onde ele lecionou - agora ele está na Universidade Federal da Paraíba -, após me convidar para falar a seus alunos de mestrado da Pedagogia acerca de fanzines e HQ e dar cursos rápidos de capacitação. Como ele estuda teóricos da pedagogia e educação que defendem histórias biográficas de vida como parte do aprendizado e formação do professor, ele pensou que podia aliar isso à criatividade incrível dos fanzines em suas miríades formas e temas! Acertou em cheio e os cursos foram um sucesso com muitos dos alunos do curso (que já eram professores e até diretores de escola) darem vazão a seus arroubos criativos e histórias de vida. Isso esclareceu e reforçou a todos que os zines:

a) unem as pessoas fraternalmente e;
b) permitem com que conheçam mais a si mesmas e a suas capacidades criativas inerentes !



Disso tudo resultou um artigo “Dos zines aos biograficzines: Compartilhar narrativas de vida e formação com imagens, criatividade e autoria”, publicado no livro “Fanzines - Autoria, subjetividade e invenção de si”, organizado por Cellina Muniz - com artigos de outros autores também, como Demetrius Galvão, Fernanda Meireles, Ioneide dos Santos etc.



Recentemente eu e Elydio reestruturamos um pequeno texto derivado do que foi publicado no livro para apresentar na seção de Narrativas Visuais do IV Seminário de Pesquisa em Arte e Cultura Visual que ocorrerá em junho desse ano de 2010 na UFG, em Goiânia. Apresentaremos um dos biograficzines que resultou da oficina em que uma ex-aluna do mestrado mostra todo o percurso principal de sua formação como educadora, na forma de história em quadrinhos.

Creio que esse pioneiro método pedagógico-artístico poderá ser ampliado a partir de mais divulgações, já que explora a criatividade e autoconhecimento dos alunos da área de educação (e quiçá de outras) – que lhes será útil em sua formação e auxílio pedagógico como professores também!


Biografic Zine - Maria Helena Negreiros


Biografic zine - Prof. Elydio


Biograic zine - Gazy

Qual seria o sentido da existência dos Fanzines nos dias de hoje?
Acho que respondi um pouco disso duas perguntas atrás. Mas penso que agora o foco está também no ensino. Fanzines cresceram em fama acadêmica e estão sendo usados em escolas e em cursos de pós graduação, como falei antes. O filme documentário “Pro dia nascer feliz” mostra, por exemplo, num dos momentos que uma professora dá aula de zines na escola, e que eles ajudam a turma a ficar mais unida, a elaborarem seus fanzines dialogando e buscando criativamente fontes e pesquisando! Creio que o caminho atual dos zines é serem descobertos pelas escolas e mais valorizados em pesquisa ainda nas universidades. Ponto para Henrique Magalhães que ajudou a começar isso tudo com sua dissertação de mestrado que virou o livro “O que é fanzine”, o qual a editora Brasiliense teima em não relançar! E seu doutorado também, feito na França, bem como sua magnífica editora “Marca de fantasia”. Outro importante nome é o de Edgard Guimarães e seu tradicional “QI – Quadrinhos Independentes” que faz as vezes de uma revista temática crítica sobre os fanzines no Brasil! São esses que fazem a paratopia zineira ser possível e cobrir as lacunas do sistema capitalista reducionista limitante que castra o potencial criador dos seres humanos! Aliás, nem preciso dizer que dedico a esses dois nomes e pilares do fanzinato já que ambos me publicaram, parte também dessa entrevista!



Fala-se em um novo boom dos fanzines no Brasil nos dias de hoje. Você concorda? Se sim, por que acha que isto está ocorrendo?Reitero que esse boom está mais na valorização das mídias e sistemas acadêmicos que pouco sabiam disso! Isso dá uma valorização maior da liberdade criativa que os zines podem propor!
Creio que os zines sempre vão existir, independente até da tecnologia usada. Considero os blogs uma espécie de fanzine mixado com diário pessoal, por exemplo, e isso se amplia na rede internet. Na verdade, enquanto o ser humano tiver idéia própria, o fanzine vai continuar, não importa de que maneira, mídia ou forma, pois a essência de um zine é sua liberdade ideária e criativa, e isso nada há que tolha, pois reside de modo imaterial na mente humana!

Gostaríamos que você indicasse para nossos leitores, algumas dicas de produções, sites etc que você considera fundamentais para entender os fanzines nos dias atuais:
Além do livro que participo com Elydio “Fanzines - Autoria, subjetividade e invenção de si”, aconselho também outros como “O que é fanzine” de Henrique Magalhães, se conseguirem encontrar, porque a editora brasiliense teima em protelar uma reedição desse importante e marco tomo da área de um dos pioneiros da pesquisa zineira do Brasil, que é o Henrique. Há outros como “O rebuliço apaixonante dos fanzines”, “A nova onda dos fanzines” e “A mutação radical dos fanzines”, todos os três do Henrique Magalhães, e que podem ser encontrados diretamente em sua editora Marca de Fantasia. Um artigo que traz uma boa listagem, incluindo livros de HQ está no site Bigorna.net, diretamente no artigo de Elydio dos Santos Neto: “Dez considerações para professores que desejam trabalhar com as histórias em quadrinhos (Parte III - Final)”;

Além desses, claro, o Anuário de Fanzines da Ugrapress recém lançado e que pode ser baixado na Internet ou lido direto no link e o vídeo “Fanzineiros do Século Passado” do Márcio Sno, que pode ser visto no seguinte link .

Aconselho igualmente a leitura de meu artigo “A independente escrita-imagética caótico-organizacional dos fanzines: para uma leitura/feitura autoral criativa e pluriforme” que pode ser baixado no site do 17º. COLE – Congresso de Leitura do Brasil onde eu o expus em Campinas, em que traço um perfil do potencial criativo que os fanzines deflagram na mente, ilustrando com a riqueza de seus formatos e temas. Ainda acerca de meus trabalhos, existe uma série de textos autobiográficos de minha relação com as HQ e zines na seção de História em Quadrinhos do site do IBAC, sem falar de outras colaborações nos blogs ImpulsoHQ com a minha coluna “Consciência e Quadrinhos” e no Bigorna.net.

Não deixem de consultar também mensalmente o site do CCJ-Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, pois este ano sou o curador da “Programação de Formação de HQ e Zines” que acontece desde março seguindo até o segundo semestre de 2011, como parte da comemoração dos 5 anos do CCJ, e que traz um pouco de tudo da área: mesas, debates, palestras e cursos de HQ e de fanzines discutindo-os como arte e educação. Para isso, venho elencando vários expoentes, tais como Laerte, Flávio Grão, Edgar Franco, Will, Bira, Laudo, Paulo Ramos e muitos outros! Acessem mensalmente o site do CCJ para se manterem informados e participarem dos eventos gratuitamente!

Espaço livre para uma mensagem final:
Creio que já expus bastante e com muita liberdade e informação, mas como mensagem final penso que devo alertar que cada um de nós somos seres sempre em formação, e se não nos pomos a criar (seja de que forma for), nós represamos uma força interior extremamente grande, e isso causa prejuízos psíquicos. Recordo-me de Wilhelm Reich que bradava em seu livro “Escuta Zé ninguém” que o ser humano tem uma energia – a que ele denominou de orgone – a qual deveria usar e não represar. Ele acusava que essa energia era represada sexualmente e isso nos tornava a todos doentes, sendo o sistema agrilhoador do homem e culpado por não permitir a fluição (e consequentemente impedindo uma fruição interna).


Escuta Zé Niguém - Wilhelm Reich

Na minha visão, embora ele estivesse certo com relação à energia, ela não necessitaria ser diluída sexualmente como fator primordial e único: outras expressões criativas poderiam auxiliar, substituir e corroborar, como por exemplo o ato desportivo de um grande e criativo jogador de futebol ou um pintor, como exemplos básicos! Essa energia, a meu ver, é a conhecida por “C´hi” oriental, ou o “prana” indiano, que nos envolve e não sabemos nem como usar, ou a utilizamos mal. Daí vêm as distorções e as desgraças psíquicas, junto de egrégoras que vão se formatando (poder-se-ia chamar de campos mórficos até, conforme o biólogo Rupert Sheldrake alcunhou determinadas possibilidades geracionais evolutivas). Mas está na hora de mudarmos nossos padrões de conduta, de pensamento, senão não melhoramos e não mudamos nossos paradigmas!

A mente é neuroplástica e temos que saber disso. Os físicos quânticos, por exemplo, até hoje admitem que não entendem (com a lógica linear) como as micropartículas quânticas são ambivalentes, ora surgindo como ondas e ora como partículas, numa lógica paradoxal. Isso racionalmente era inconcebível, até que eles foram se acostumando com a idéia e agora aceitam-na naturalmente! O que aconteceu? A natureza não se modificou...mas a mente plástica do homem se amplificou e trouxe uma nova possibilidade “lógica” aceitável que antes nos era inconcebível: assim, as coisas que supostamente “não existem”, existem, e as que parecem ser de tal maneira, podem sê-lo totalmente distintas: e creio que os fanzines são exemplos dessas possibilidades! Uma pesquisadora chamada Áurea Zavan os chamou de paratópicos - estão em algum lugar (topia) paralelo (para) às publicações e editorações dos livros ditos oficiais.

Assim, os fanzines parecem as micropartículas atômicas: embora aparentem existir fisicamente, se comportam também como possibilidades quânticas de energia: são passíveis de serem medidos no tempo/espaço, se o observador/leitor/pesquisador/buscador assim o fizer. Do contrário, aparentam não existir materialmente, mas sim como energia imanifesta em qualquer lugar. Ora, os fanzines não são “oficiais” e a grande maioria nem sabe que existem: mas estão aí como publicações paratópicas aos livros e revistas, trazendo as possibilidades de reflexão das idéias humanas mais ainda que a limitação comercial e capital das editoras que impediriam – se apenas pelas vias editoriais conhecidas – a manifestação de muitos autores que extravasam seu potencial de energia (orgone, c-hi, prana etc) na paratopia zineira, mancomunando-se e espargindo-se num campo mórfico extremante resiliente e criativo!

O cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que construiu um centro científico de conhecimentos e sobre o cérebro na periferia de Natal – contra todas as opiniões que afirmavam que a idéia não resultaria devido à pobreza do local – disse numa entrevista que os alunos de lá, após visitarem o complexo e interagirem nele como uma escola prático-teórica alternativa, passaram a vislumbrar a vontade de serem físicos, paleontólogos, arqueólogos etc, diferentemente das idéias preconcebidas que tinham antes, de serem apenas jogadores de futebol ou atores e atrizes de tv! Acessem o link da entrevista dele para verem!

O que aconteceu foi que um mundo se abriu e amplificou a estreiteza mental a que estavam acostumados! O ensino, o conhecimento rico, amplia nossa inteligência e nos estimula a sermos co-criadores universais! Ao contrário, a mesmice sempre repetitiva e a falta de objetivos ulteriores nos mina a energia e nos faz limitados, ludibriando-nos, metaforicamente como a história da águia e a galinha trazida por Leonardo Boff: para ele, o homem é águia, mas enquanto não percebe isso, se coloca como galinha e acaba não usando as asas de águia que tem para voar, ficando sempre ao chão ciscando! Metáfora melhor não existe do que somos exponencialmente, e do que perdemos em não percebermos e ingressarmos nesse novo paradigma de realidade!

Fazer e ler fanzine é uma dessas miríades de possibilidades geradas, e que podem nos ajudar a empregar as asas de águia novamente!
Grande abraço!

O ZINISMO agradece ao professor Gazy Andraus pela entrevista e por permitir que compartilhemos com nossas leitores suas inquietantes idéias! Para frente é que se segue!

PS: Leia a primeira parte da entrevista aqui.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

ENTREVISTA GAZY ANDRAUS - PARTE I



É sempre bom levar um discurso além do lugar comum. Em muitas das conversas interessantes a respeito de fanzines que tenho ouvido ultimamente, ecoa o nome do professor Gazy Andraus. Doutor em Ciências da Comunicação, na área de Interfaces da Comunicação, pela ECA-USP, (premiado com a melhor tese de 2006 pelo HQ-MIX-2007), mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, pesquisador do Observatório de HQ da USP; da Interculturalidade e Poéticas da Fronteira - UFU e do INTERESPE – Interdisciplinaridade e Espiritualidade; editor e autor independente de histórias em quadrinhos adultas de temática fantástico-filosófica e Professor e Coordenador do Curso de Pós em Docência no Ensino Superior da FIG-Unimesp
O Zinismo foi atrás e compartilha com seus leitores uma rica conversa (dividida em duas partes) com o mestre, que vai do zen budismo à neurociência sem fugir do tema: fanzines e HQs...


ZINISMO: Gazy como se deu seu envolvimento com a ilustração e os fanzines?
GAZY: Desde pequeno, como toda criança, gostava de ver desenhos. Daí para arriscar a fazê-los, é algo natural. Depois foi num crescendo e se ampliou dos 8 aos 15 anos, principalmente porque eu gostava muito de ver os quadrinhos de super-heróis na adolescência e absorvendo os estilos de vários desenhistas, tentava a meu modo recriar (sem copiar, mas de memória, imitando estilos de desenhistas que mais me apraziam).

Aliás, o fato de ter trabalhado no restaurante comercial de meu pai me obrigou a desenhar muito para equilibrar minha insatisfação em ficar no estabelecimento a maior parte do tempo De toda maneira, contribuiu para eu continuar desenhando – e independente disso, eu sorvia os desenhos nos gibis pelo prazer que os traços me instigavam, como a música nos faz ao ouvi-la. E assim, as artes fantásticas também de ficção científica e ilustradores como Kaluta, Rodney Matthews e Roger Dean ou Frank Frazetta ativariam cada vez mais meu gosto pelas ilustrações fantásticas e capacidades do ser humano em retratar o imaginário!

Rodney Matthews

Os fanzines só vim a conhecer depois, perto de meus 19 para 20 anos, possibilitando-me saber que eu poderia publicar minhas HQ e imagens em revistas, ainda que independentes Foi uma janela que se descortinou na qual nunca havia pensado antes!


Fale um pouco sobre os quadrinhos fantásticos-filosóficos. É verdade que é um gênero genuinamente brasileiro? Quem são seus principais autores?É. Mas baseado em peculiaridades e influenciado pelos quadrinhos principalmente franceses da trupe da Metal Hurlant: Moebius, Caza e Druillet!



No Brasil temos principalmente Calazans, que me apresentou ao universo dos fanzines, Henry Jaepelt, Edgar Franco, Antonio Amaral e eu, além de Joacy Jamys que incursionou um pouco por esse estilo (mas já passaram também Al Greco e Rosemário).
Como Moebius que fazia HQ nonsenses e Caza com suas HQ metafóricas, a gente ia construindo nossas HQ, porém, mais curtas do que eles, por causa da maior facilidade de assim publicá-las dessa maneira em zines. Ou seja, a crise de não ter como publicar HQ no Brasil e nem de ficar desenvolvendo narrativas homéricas nos possibilitou algo extraordinário: HQ curtas e “grossas”, lacunosas como as poesias Hai-kais ou os Koans zen-budistas! Esse termo “fantástico-filosófico” adveio de Henrique Torreiro, organizador das Xornadas de Fanzines anuais em Ourense na Espanha, quando recebeu e leu o fanzine “Irmãos Siameses” criado por mim e por Edgar Franco.

Fanzine Irmãos Siameses

As histórias em quadrinhos por muito tempo foram consideradas uma barreira na aprendizagem da leitura. Gostaria que você explicasse como esta visão tem mudado com avanço da neurociência.
Realmente, na minha infância e adolescência, não se misturavam estudos escolares com a leitura de HQ. Para o sistema cartesiano, os quadrinhos com seus desenhos atrapalhariam o potencial das palavras (fonemas) e suas possibilidades de passar mensagens conteudísticas!
Porém, com a evolução das tecnologias, possibilita-se agora visualizar áreas do cérebro que são ativadas por diferentes modalidades, como por exemplo, leitura e meditação. É por isso também que conseguiram saber que as imagens (e ideogramas chineses) ativam certas regiões e áreas do hemisfério cerebral direito – que responde pela criatividade e intuição e a não linearidade, enquanto que os fonemas e a fala pelo hemisfério esquerdo - que responde pela razão Eis a razão de as HQ terem ficado de fora: o hemisfério esquerdo, racional e com o “dom” da palavra, sobrepujou o direito (tido como obscuro), desvalorizando o potencial de informação imagético dos desenhos, mas que na verdade era essencial, pois é o hemisfério direito que cria, já que o esquerdo só trabalha com base na memória, no passado. E o hemisfério direito, já que “lê” as imagens (sem identificá-las, trabalho que fica para o esquerdo), funcionando junto ao outro lado, exponencializa a inteligência mental, tornando-a sistêmica, isto é, não cindida, não cartesiana apenas. Isso faz com que o cérebro neuroplástico humano se amplie, aumentando as considerações e reflexões (e o processo criativo). “Beber” imagens nos torna mais ricos, como absorver músicas. Ao contrário, se pouco estimulados nisso, viramos “robôs” com informações cartesianas somente, sem desenvolver direito a emoção, a criatividade e até a fraternidade!
Queremos adultos profissionais cindidos, que só veem o lucro e o trabalho racional? Ou preferimos que também sejam humanistas, amistosos e criativos?
Pois as imagens desenhadas nos quadrinhos, bem como os próprios fanzines criativos em suas miríades de formas e temas (bem como as cenas do cinemas, as músicas etc) nos levam para isso também, para o lado fraterno e universal estético/ético da mente e da vida!

Assista o trecho do filme “Pink Floyd – The Wall” em que o professor pune o aluno por escrever um poema e não repetir com ele a ladainha do valor de um hectare, e veja que o sistema racional cartesiano cindido (reducionista) não tem sido um problema só da educação brasileira, mas mundial!


E como aconteceu o encontro das Histórias em Quadrinhos com o meio acadêmico?
Para elucidar isso, resolvi dividir meu percurso em dois. Na parte 1, antes da(s) faculdade(s), e na parte 2, no ingresso dela(s).
Parte 1:Meu percurso não me fazia me imaginar como um pesquisador dessa área. Quando garoto aventava a hipótese de ser paleontólogo de tanto que eu gostava de dinossauros. Mas no íntimo eu sabia que era mais uma brincadeira minha. Por tanto desenhar, escolhi a carreira de artes. Na primeira tentativa ao prestar vestibular para a USP, isso lá por 1986, não alcancei a vaga devido a minhas baixas notas na segunda fase com relação à matemática (embora eu tenha tirado uma nota altíssima em redação). Classifiquei-me em 28º. de 20 vagas. Meio ano antes eu havia passado em arquitetura na Universidade Católica de Santos, mas estava no meio de um cursinho, aprendendo num ano mais do que o equivalente aos 3 que fiz no colegial do Estado! Embora, é claro – e friso isso – jamais estudei direito nas escolas ou em casa, tendo sido quase sempre ajudado em matérias como química ao fim de ano por um saudoso amigo (falecido entre 2009 e 2010 provavelmente por um AVC, o inteligente colega Baturité Natal de Oliveira – e vai essa parte da entrevista como homenagem a ele). Essas ajudas vinham para recuperar uma ou outra nota de química ou matemática que no fim de ano precisava para não ficar de recuperação. E nunca fiquei: me esmerava ao final com extrema dificuldade por não ter quase nunca prestado atenção nas aulas durante o ano pelo simples motivo que meu foco era sair da escola diariamente: eu cronometrava o tempo de acabar as aulas como um presidiário media seu tempo em cela, porque é assim que eu me sentia lá! A escola tinha (e ainda deve ter) um sistema cartesiano que poda as manifestações criativas de muitos alunos que têm outras maneiras de pensar devido às inteligências múltiplas que não eram levadas em consideração. E aliás, deixei de prestar atenção nas aulas de matemática a partir da 5ª. série porque uma professora me deixou desconfortável ao me dar bronca e dizer que eu estava desperdiçando gizes na escola por ter desenhado dinossauros na lousa. Ela me mandou apagar o desenho bradando dessa forma! Para uma criança de 11 anos, não há trauma nem nada assim muito grave: mas me irritou porque eu não fiz nada de errado, e sim, desenhei no quadro negro. A visão para o ensino era a de que desenhar equivalia a gastar gizes! Para você ver como o desenho (e as histórias em quadrinhos) eram desprezadas. A partir daí ficou uma lacuna no meu aprendizado de matemática, pois aliado à fraca didática da professora eu não me concentrava de maneira alguma nas aulas, pensando apenas em sair daquele claustro!
Isso tudo me enriqueceu, porque enquanto eu também passava pelas faculdades, eu ia verificando a péssima didática da metade do professorado, o que corroborou para eu me direcionar contrariamente ao que via de erros dos outros mestres, não fazendo igual e tentando ser o mais didático e compreensivo possível ao lecionar!


Parte 2:
Pois bem, eu ingressei finalmente no curso de Desenho Industrial na Faculdade de Belas Artes em 1986, mas logo em seguida desfiz a matrícula já que fui aprovado no concurso da Universidade Federal de Goiás no mesmo ano em artes Visuais. Como era gratuito, valia a pena, principalmente porque eu tinha parentes em Goiânia, onde morei por um ano e meio na casa de meus tios (Rafeh, irmão de meu pai e a esposa dele Catarina, eram, na verdade, também meus padrinhos, e aqui dedico a eles também parte dessa entrevista). O curso era fraco, mas os muitos amigos que fiz, principalmente o Jorge Del Bianco, André Rodrigues e Célia Gondo (mais uma homenagem, nesse caso, a eles, que aqui presto), os quais ainda mantenho contato, foram imprescindíveis para o aprimoramento de meu (nosso) processamento criativo, ainda mais que comungávamos de vários gostos na área dos quadrinhos e arte fantástica. Porém, as sucessivas greves naquele período, já que os professores ganhavam mal, me fizeram voltar a São Paulo, onde prestei finalmente a FAAP em meados de 1987, que tinha um curso relativamente barato (distintamente do que é hoje), e o curso de artes era muito forte (na verdade, cursei Licenciatura Plena em Educação Artística). Fiquei 5 anos morando durante a semana em São Paulo, enquanto que quase todo fim de semana guardava um dinheiro para voltar a São Vicente, junto de minhas coisas e minha família (minha mãe Victória faleceu em 1992, logo após eu concluir o curso, e aqui parte da entrevista em memória a ela também). Nesse período da FAAP, para cujo curso consegui uma bolsa que variou de 50 a 70% (agradeço a mantenedoria da FAAP por isso também), acabei conseguindo residir numa igreja árabe de São Paulo, pois os pastores Ragi Khouri e Rosa (ambos in memorian) eram amigos da família e me cederam um quarto. Além disso, outro tio irmão de meu pai, Elias Andraus (também falecido a quem rendo outra homenagem), foi importante pilar para minha estruturação, pois me auxiliou financeiramente para dar conta de meus gastos naquele conturbado período, já que meu pai perdeu quase todo o dinheiro alguns anos depois da venda do restaurante devido à inflação galopante! Ao mesmo tempo, consertei meus dentes com um primo dentista (o grande Fred, ao qual até hoje me consulto, e a quem dedico igualmente parte dessa entrevista), quando estava numa fase muito delicada da vida e com problemas dentários herdados devido ao excesso de refrigerantes na infância! Como se vê, tive os maiores auxílios possíveis para “agüentar” a parada de não ter dinheiro e de fazer um curso improvável para uma família tradicional libanesa que sempre quer os filhos médicos ou engenheiros! Mas o que desenvolvi nesse curso da FAAP foi excelente: a carga era de professores artistas e pelo menos a metade deles aceitava a questão dos quadrinhos. Acabei aglutinando esses saberes das artes que lá desenvolvi com as HQ, enquanto estudava por conta própria em paralelo, conceitos profundos relativos à espiritualidade e autoconhecimento em geral, principalmente com livros do filósofo e educador Huberto Rohden!






Desenhos baseados na leitura de Huberto Brohden.

Foi com toda essa bagagem de artes/educação/ética que trabalhei interdisciplinarmente arte e quadrinhos na faculdade e depois ingressei num mestrado em Artes Visuais. Até então eu estava um pouco perdido, tendo dado aula durante 1 ano e meio em escolas públicas após meu término a licenciatura, e visto que ali era péssimo para se trabalhar! Depois, ingressando no mestrado, um novo rumo surgiu (tendo morado e trabalhado um pouco para meu primo Jorge Andraus, em São Paulo, a quem dedico igualmente mais uma fração dessa entrevista).

Fale um pouco sobre suas pesquisas e teses em pós graduação na área de quadrinhos e zines:


Dissertação de Mestrado

No meu mestrado, orientado pelo Flávio Calazans, quem foi a pessoa que me abriu o caminho para o universo dos fanzines (dedico também parte dessa entrevista à amizade daquele período), eu aprendi a escrever artigos, a participar de congressos e a ter uma visão universitária mais madura de tudo. No início eu estava com o Edgar Franco, que entrou comigo na UNESP como aluno especial (na verdade foi ele que me impulsionou a prestar o mestrado junto, e a outra parte dessa entrevista é dedicada também à nossa irmanada amizade!), mas depois ele entrou na Unicamp na área da multimídia, o que foi ótimo pra ele! Enfim, o mestrado me propiciou escrever vários artigos e desenvolver uma dissertação diferente, já que uni aos quadrinhos poéticos um imbricamento com a física quântica e os koans zen-budistas, ao mesmo tempo que critiquei o reducionismo autista do cartesianismo exagerado acadêmico! Passo seguinte foi uma natural continuidade no doutorado, orientado pelo competente Waldomiro Vergueiro (mais outra parte da entrevista dedicada a ele), em que amplifiquei minhas pesquisas, levando-me a descortinar finalmente porque há o preconceito com as histórias em quadrinhos! Levei 3 anos pra descobrir, e mais um para finalizar (com obstáculos e tudo, como a quebra da perna de meu pai faltando-me 40 dias para acabar a tese que já estava com uma prorrogação: mas dedico a meu pai Said a outra parte dessa reveladora entrevista, pois foi com ele que aprendi a amar verdadeiramente um homem que tinha compaixão pelo ser humano e era belo no coração – lembro-me até hoje que ele se entristeceu, por exemplo, quando o Zacarias, um dos integrantes dos Trapalhões faleceu. Percebi que esse sentimento dele só permeia as pessoas que são empatas e sentem a beleza e o esforço e a perda que faz a falta do próximo com suas qualidades!).
Assim, construí a tese que mostrava que graças ao exagero em usar a mente racional, o ser humano tornou-se crítico e preconceituoso com o que não era racional, como as artes, como os desenhos, já que esses eram lidos pelo hemisfério direito cerebral, cujo desenvolvimento ficava dirimido devido à alta atividade do esquerdo, racional, linear, cartesiano e sem “sentimentos”. Essa foi a chave que me fez ver porque o ser humano criticava o desenho e não me deixava ler gibis em aulas na escola: ao contrário, punia-nos caso fizéssemos isso.


Tese.

Ora, minha formação inteira se deu mais pela marginalidade escolar (no bom sentido), lendo gibis, vendo artes fantásticas, ouvindo músicas que não eram passadas em aulas, estudando dinossauros e espiritualidade misturada com física quântica, e abrangi tudo isso! A escola nem chegou perto de me passar esses informes, salvo raras exceções. Ela teimava em tentar me fazer entender esquemas, por exemplo, de ligações paralelas na elétrica, sem me mostrar relações disso com a vida, ou experimentar tais conceitos na prática! Isso muito me incomodava, e eu ficava sem entender. Já nas aulas das faculdades, mestrado e doutorado os níveis de multidiversidade eram muito mais ampliados proporcionalmente (especialmente nas interdisciplinaridades que o doutorado me permitiu, como as aulas sobre mente, máquina e comunicação).
A escola é manca, totalmente, enquanto que a universidade foi sendo melhorada (apesar de ainda ser consideravelmente elitista e cartesiana)!
Assim, todas minhas pesquisas e envolvimento artístico na atualidade derivam desse percurso que você acabou de ler! Foi intenso, reflexivo e muito duro na juventude! Mas tem sido cada vez mais amplo e rico na maturidade, que é onde me encontro: nosso ensino não sabe disso, nossa educação familiar também está longe de perceber, mas a conclusão a que chego revisando isso tudo nesses escritos é que nenhum de nós pode ser privado de reflexão e auto-reflexão, e nossas sociedades com os trabalhos escravagistas impossibilitam isso, junto de um ensino deturpado e uma desestruturação familiar social resultantes dessa inabilidade de considerações e ponderações. Eu diria que as artes (quadrinhos e zines inclusos) nos possibilitam parte importante dessa formação que o reino pop imediatista e racional não fornece!

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terça-feira, 5 de abril de 2011

PROGRAMA DE FORMAÇÃO EM HQ E ZINE -CENTRO CULTURAL DA JUVENTUDE - RUTH CARDOSO



O professor Gazy Andraus (autor e editor de hqs independentes, pesquisador do observatório de HQs da USP e Doutor em Ciências da comunicação pela ECA - USP) elaborou junto ao Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso uma extensa programação de eventos e oficinas sobre quadrinhos e fanzines, que ocorrerá durante todo o ano de 2011.

A programação é extensa, e o ZINISMO resolveu separar alguns destaques na área de quadrinhos e fanzines para o mês de abril:

Diálogos com Laerte.
Sim, uma conversa sobre quadrinhos com o mestre Laerte, imperdível.
dia 09 de abril - sábado - às 17:00 horas.

Mesa redonda - dos fanzines à fanzinoteca.
Participarei desta mesa ao lado do Douglas Utescher (UGRA PRESS - Anuário de Fanzines) e do Fábio Tatsubô (responsável pela Mostra Nacional de Fanzines de Santos)
dia 17 de abril - domingo - às 14:00 horas.

Exibição do documentário Fanzineiros do Século Passado - Márcio Sno.
e Fanzineiros - Projeto e continuidade - bate papo com Márcio Sno
Nosso colega e guerrilheiro dos fanzines, Márcio Sno, apresentará seu documentário, alémd e participar de uma troca de idéias a respeito dos fanzines.
Data: 21/04 (quinta- feira - feriado), às 14h (exibição do documentário) e às 16h (bate-papo).

Palestra - HQs, um potencial inexplorado.
Palestra com a Mestra em Vivências da Comunicação Alice Caputo sobre as HQs enquanto fonte de conhecimento e estímulo à leitura.
Dia 23 de abril - sábado - às 10:30 horas.

Além, destes eventos, o CCJ oferecerá outras oficinas e atividades, confira na programação abaixo e fique esperto nos modos de inscrição e participação. Detalhe importante - Tudo "de grátis"!



Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso – São Paulo/SP
Av. Deputado Emílio Carlos, 3.641. Vila Nova Cachoeirinha. Zona Norte.
(ao lado do terminal Cachoeirinha)- Telefone: (11) 3984-2466
CEP: 02720-200

sábado, 2 de abril de 2011

1º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS - UGRA PRESS


Em julho de 2010, a UGRA PRESS lançou uma convocatória aos fanzineiros para a elaboração de um Anuário de fanzines.

Mesmo sem saber ao certo quem era e o que queria exatamente a UGRA, atendi à convocatória, e assim como outras dezenas de fanzineiros, enviei meus fanzines pelo correio. No início deste ano (fevereiro) recebi uma nova convocação, desta vez para o lançamento do Anuário. Novamente atendi à convocatória e, ansioso, compareci aos eventos de lançamento da publicação para finalmente tê-la em mãos.

A primeira impressão é a de que o anuário é uma edição feita com muito esmero. A capa em papel duro foi impressa individualmente com Estencil (feito e enviado pelo correio pelo lendário fanzineiro Law Tissot). Já na primeira página, através de uma fotonovela (nos moldes das feitas na saudosa revista Chiclete com Banana) os editores contam de modo bem humorado um pouco da história do anuário. E assim segue todo conteúdo da publicação: uma celebração aos fanzines e publicações independentes, com resenhas, entrevistas e matérias com quem de certo modo, colaborou com o mundo zineiro no ano de 2010.

Com uma leitura apurada, alguns temores que tinha com relação ao Anuário foram espantados. O primeiro era o temor de que o Anuário se tornasse apenas um guia frio de endereços e resenhas insossas e impessoais. Pelo contrário, as resenhas são bem feitas, bem humoradas e incentivam os leitores a conhecerem os fanzines.
Outro temor que foi por água, era o de que a editoração do Anuário fosse “tosca”, dificultando a leitura ou a busca de informações (definitivamente amigos, fanzine não precisa ser sinônimo de gambiarra). A UGRA teve o devido cuidado neste aspecto, e o anuário é uma publicação independente caprichada e bem editorada, com uma diagramação limpa, com algumas ilustrações bem selecionadas que permite uma leitura tranqüila e agradável.

Um ponto extra para o Anuário foi a capacidade de levar o discurso a respeito dos Fanzines além do banal e da nostalgia. O infográfico que mapeou as publicações recebidas dá boas informações a respeito dos fanzines nos dias atuais no Brasil: onde são produzidos, que temas têm, quais são suas tiragens e como foram impressos .

As matérias que finalizam o Anuário abordam também outras perspectivas importantes dos fanzines: as fanzinotecas existentes no Brasil; a utilização dos fanzines como recurso didático, do ensino fundamental à pós-graduação e; uma discussão filosófica a respeito do “Futuro Quântico dos paratópicos zines – feito pelo doutor Gazy Andraus - um dos maiores estudiosos dos fanzines na atualidade.

A leitura do Anuário deixa a agradável sensação de que os fanzines estão vivos, encontrando seu merecido e legitimo lugar na cultura contemporânea.

O anuário é uma publicação indispensável, e você pode adquirir tanto a versão física quanto a virtual gratuita. A UGRA provou que não está para brincadeira, parabéns aos editores Douglas e Leandro, esperamos ansiosos suas próximas conspirações e lançamentos.

ZINISMO RECOMENDA!