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sábado, 17 de novembro de 2012

TUSQ: ENTREVISTA EXCLUSIVA + NOVO CLIPE

A banda alemã Tusq, que já esteve no Brasil e aqui no Zinismo em 2011, lançou recentemente o clipe “drive”, música que faz parte do seu novo álbum, que será lançado no começo de 2013. Com exclusividade, o Zinismo conversou com o vocalista Uli, que falou sobre o clipe, o disco novo (Hailuoto) e os recentes shows na Rússia. Veja o clipe e confira a entrevista.



Zinismo: O Tusq recentemente lançou um novo vídeo, para a música “drive”. O clipe traz imagens da banda na estrada, na Rússia, Brasil, Argentina. Você já captou essas imagens com o pensamento de usá-las num clipe?
Uli: Eu trabalho como produtor de vídeo, então pra mim é muito natural documentar nossas viagens, shows e tours. Minha câmera estava comigo o tempo todo, e essas imagens foram registradas sem pensar necessariamente no clipe. Quando terminamos as gravações para o nosso novo disco, Hailuoto, tivemos a certeza que a música “drive” seria o primeiro single, o que me deixou muito feliz porque tinha o material perfeito para editar um vídeo de tour.

E o novo disco? Pelo que escutei, ele me pareceu “menos feliz” do que o anterior...
Bem, dá pra dizer que o segundo álbum tem um pouco mais de melancolia. Se por um lado as músicas são um pouco mais lentas, por outro são muito mais melódicas. A diferença em relação ao primeiro disco é que agora nós somos uma banda de verdade, porque fizemos muitos shows juntos. Quando escrevemos e gravamos o primeiro disco, nós não tínhamos feito sequer um show.

O nome Hailuoto é a cidade onde foi gravado?
Na verdade não é uma cidade, mas sim uma ilha. Hailuoto fica no extremo norte da Finlândia. É um lugar impressionante, e as 4 semanas que passamos lá foram muito intensas. Então pensamos que esse nome sintetiza bem o que são essas músicas, além de soar muito bem.

Esse ano vocês tocaram na Rússia pela primeira vez. Como foi a experiência?
Nós fizemos 5 shows na Rússia: 3 em Moscou e 2 em São Petersburgo. Foi fantástico. O público muito entusiasmado nos shows, além do que esperávamos. A vibe e a empolgação me lembraram da minha primeira tour no Brasil, em 2002. Ok, o clima é um “pouco diferente” (substitua sol e coqueiros por temperatura negativa e neve), e além disso imagine beber vodka ao invés de cachaça (risos). A Rússia é realmente gigante, e as duas cidades que visitamos foram muito impressionantes.

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terça-feira, 28 de agosto de 2012

SEM VOZ


Não é exatamente comum bandas de punk/hardcore que apostam na música instrumental. Esse é o ponto que, logo de cara, diferencia ao mesmo tempo que chama a atenção para a banda Àbrasa, de São José dos Campos (SP). Na estrada há pouquíssimo tempo (2010), o quarteto acaba de lançar seu primeiro álbum, chamado Osso!, com 12 músicas. Nem todas sem voz, verdade seja dita, afinal contam com vocalistas convidados em algumas faixas. As influências sonoras passeiam por Hot Water Music, ALL (olha o bom gosto aí, minha gente!), Noção de Nada e afins. E o disco pode ser baixado clicando aqui. Conversei por email com o guitarrista Diego Xavier, e acabou rendendo uma mini-entrevista. Confira logo abaixo:

Zinismo: O fato das músicas serem instrumentais fez com que vocês tivessem uma preocupação de fazê-las mais curtas?

Àbrasa: Na verdade a gente nunca pensou sobre isso, elas saíram mais curtas por terem essa pegada mais punk mesmo, mais rápido, a gente achava que um som rock instrumental muito longo poderia cansar. Gravamos o disco ano passado, rolou troca de baterista, enfim, uma séria de tretas. Mas hoje, por exemplo, andamos fazendo músicas novas um pouco mais longas, é mais vibe mesmo, a gente não se preocupa com o tamanho em si, mas a ideia de ser trilha de vídeos já vem desde a fundação da banda.

Zinismo: E por que tem alguns sons com voz?

Àbrasa: Cara, a proposta é ser instrumental mesmo, mas nos shows que fizemos, fomos conhecendo uma galera que curtia, e ficamos muito amigos de várias bandas, e os vocalistas ficaram tentados enfiar letra, e começaram a fazer. Aí num show em Sorocaba, rolou da gente tocar instrumental e a galera cantar a letra! Foi um negócio louco mesmo, de troca, porque no show não tinha microfone, e a galera era a nossa voz. Acabou que deixamos as faixas com vocal, mais como um "bônus" mesmo, e na esperança que cada vez mais nos shows a galera cante.

Zinismo: Quando a música tem letra, muitas vezes o nome do som acaba saindo de algo na letra. E no caso das músicas instrumentais, como nascem os títulos?

Àbrasa: Todos os nossos nomes aparecem na criação dos sons. As vezes é algo besta mesmo, mas que marcou o dia ou o modo como o som foi feito. Por exemplo, “Hot Chilli Beers”, tem esse nome porque no dia que a fizemos jantamos chilli e a cerveja estava quente. “30 segundos”, por sua vez, nasceu com a intenção de ser um som de 30s, mas a gente não conseguiu fazer tão curto (tem 0:51), mas mantivemos o nome, porque já tínhamos acostumado com ele. Já “Podia ser só Isso” foi um som que tivemos que colocar um final nele, senão ele nunca acabava! Hehehe. A maioria dos nomes vem de alguma piada interna pra banda, ou algo marcante, pois como não tem letra, a gente precisa de algo que seja muito fácil de lembrar e associar.

Mais infos sobre a banda: http://tramavirtual.uol.com.br/projetoabrasa

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ENTREVISTA ESKIMO


Eskimo é Patrick Laplan. Ou, pra ser mais exato, é Patrick Laplan, Cauê Nardi (voz) e mais músicos/amigos convidados. Mas o leme está mesmo na mão do Capitão Laplan. Figura ativa da cena musical carioca, com passagens por Los Hermanos, Tom Bloch e Biquíni Cavadão (dentre outras), montou sua banda Eskimo em 2006. E agora lança o primeiro álbum cheio, daqueles cheios de verdade, 70 minutos de música, chamado Felicidade Interna Bruta. O multi-instrumentista trocou uma ideia com o Zinismo, confira!


ZINISMO: Você assina todas as letras? Como é ver/ouvir suas letras interpretadas por outra pessoa?

LAPLAN: Quase todas. “Dama de Honra” é minha com o Carlos Duarte, e “Bipolar” é minha com o Pedro Veríssimo. Sobre a interpretação... Foi um processo de construção muito bonito. O Cauê Nardi foi super respeitoso. Quis entender a história em cada uma, pelo menos a essência, pra fazer jus ao que foi escrito. Pra mim, o sentido de você dividir algo é apreciar as diferenças. Talvez alguém até pudesse interpretar exatamente como eu pensei, mas o frio na barriga vem justamente do "não esperado".

ZINISMO: Felicidade Interna Bruta. O título é um indicativo de que esse álbum é, até agora, a obra de sua vida?

LAPLAN: É isso mesmo. A semente. O começo.

ZINISMO: Você se incomoda com o fato da mídia descrever o Eskimo como seu “projeto” indie e sempre usar como referência sua passagem pelo Los Hermanos e Biquíni Cavadão?

LAPLAN: Não. Não tenho nenhum problema com minhas passagens por essas bandas. Foram experiências felizes, frutíferas e construtivas. Além do fato de ilustrar um pouco de onde eu vim para o possível ouvinte. Acho que isso vai ser sobreposto naturalmente conforme o Eskimo se solidifique como "instituição". Acho que a palavra "Indie" me incomoda mais. É limitadora. Se refere a um tipo de som, e não ao fato de ser uma banda de uma gravadora independente.
Francamente não temos um som "Indie". E isso confunde o ouvinte. Quem gosta de indie vai ouvir e não vai entender o link. Quem não gosta nem vai querer ouvir o disco. É um som trabalhado, pensado e rebuscado demais pra ser indie. Eu gosto de indie, e sei que o Eskimo é Náutico World Music.


ZINISMO: O álbum é 100% independente? Quais serão as formas de distribuição?

LAPLAN: O disco foi feito de maneira 100% independente. Porém, estamos nos juntando a um grupo que vai facilitar a distribuição. Em breve novas sobre isso. Mas a melhor distribuição está sendo feita desde o começo: amigos recomendando para amigos. Isso me deixa muito feliz. É o... "Você conheceu o Eskimo por que viu na TV? Por que ouviu no radio? Por que viu numa revista especializada?" – “Não. Conheci porque um amigo dividiu comigo." Isso é ouro. Isso fica.

ZINISMO: Na era da Internet e do MP3, o formato de álbum, full-length, parece cada vez mais “coisa de velho”. E, nesse contexto, nasce FIB, 70 minutos, começo, meio e fim. Como é isso?

LAPLAN: É uma coisa forte sob a qual fui criado, na qual ainda acredito. Não é "coisa de velho" não. Se uma banda pensa num disco como um amarrado de singles, ou músicas soltas, sem sentido uma com a outra, não faz sentido o conceito de álbum. O Eskimo precisa dessas músicas juntas pra explicar o que é, e do que é capaz. Se você ouvir "Harbolita" sozinha, terá uma idéia do Eskimo. Se ouvir "Forte Apache" terá outra. Eu quero a terceira idéia, que é o ouvinte saber que ambas são da mesma pessoa, e moram no mesmo prédio. E que é um prédio lindo. Onde se permite. Onde tudo está abrigado e convivendo. Cinematograficamente falando, eu quero mostrar a vida dessas pessoas dentro do prédio, onde elas vivem. Não como é a vida delas andando por aí.

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segunda-feira, 6 de junho de 2011

ENTREVISTA GAZY ANDRAUS - PARTE II

O Zinismo publica a continuação da entrevista feita com o professor (e estudioso de HQs e Fanzines) Gazy Andraus. Nesta segunda parte a conversa segue pelos trabalhos em pós-graduação envolvendo fanzines, passa por uma análise destas publicações nas recentes décadas e resvala em uma miríade de assuntos, como física quântica, filosofia e a utopia de um ser humano melhor. Aperte os cintos e prepare-se para esta viagem "neuroplástica" !

ZINISMO - Como você acompanha a atuação dos fanzines durante as décadas de 80, 90 e atualmente?
GAZY ANDRAUS : Eu já descrevi isso numa matéria que fiz para o Zine Royale do Jozz: a conclusão foi que durante os anos 80 e meados de 90 a criatividade de nossos fanzines brasileiros era inacreditável! Tive homéricas experiências como com o “Só Uma?” do piracicabano Érico San Juan, que colocava uma HQ de uma só página de 6 ou 7 quadrinhistas por número !



Isso era criatividade: ele pensou numa maneira inteligente de ter vários colaboradores num zine de tiragem xerocopiada, forçando-nos a criar HQ de uma só página! De certa maneira, um pouco desse estilo de HQ hai-kai (um tanto quanto koânica) se deve também a esse tipo de experimento. Houve muitos outros fanzines que foram importantíssimos, como o “Tchê” no sul (que existe até hoje, do Denílson Reis, e do qual ainda participo), e o principal, “Barata” de Santos , que fez o mesmo que o “Só Uma?”, na questão de apresentar vários colaboradores por número, mas não havia a necessidade de ser só HQ e podiam ter mais páginas para cada história (até umas 5 ou 6, como média).



Esse limite de páginas, aliás, foi o que nos ajudou a desenvolver esse estilo poético conciso de HQ, forçando-nos a sermos mais gestálticos, lacunosos na sequencialização, já que tínhamos poucas páginas para criar e publicar uma HQ. Além disso, como já mencionei, havia a exposição anual de Zines na Galícia, e sempre mandávamos nossos fanzines pra lá. Eu e o Edgar tínhamos um trabalho similar e sempre que nos encontrávamos havia uma profusão de troca de informações, zines, pesquisas etc que enriquecia sobremaneira ambos! Foi aí que fizemos o “Irmãos Siameses”, já mencionado: um zine que teve relativa penetração, e que foi o estopim para termos a alcunha de “fantasia-filosófica”, graças ao Henrique Torreiro, organizador da Xornadas de Fanzines de Ourense, dando-nos esse estigma ao receber e ler nosso trabalho! Mas depois, mais atualmente, com o barateamento tecnológico e inserção da Internet e dos e-zines, algo mudou: a qualidade criativa parece ter dado lugar mais à mesmice, mas com qualidades gráficas surpreendentes, já que a impressão barateou. Capas coloridas, miolo com papel couchê etc. Acho que isso deslumbrou a maioria dos novos fanzineiros e se descuidaram do foco no criativo. Mas acredito que isso vai voltar e se modificar de algum modo.


Fanzine Royale

O que é o Biograficzine? Como tem sido sua aplicação no ensino superior e quais são os resultados?

Elydio dos Santos Neto, que vim a conhecer no último ano de meu doutorado e agora é grande amigo (dedicando assim a ele também parte dessa entrevista) foi quem teve a idéia como professor de mestrado da área de Pedagogia da Universidade Metodista de São Paulo onde ele lecionou - agora ele está na Universidade Federal da Paraíba -, após me convidar para falar a seus alunos de mestrado da Pedagogia acerca de fanzines e HQ e dar cursos rápidos de capacitação. Como ele estuda teóricos da pedagogia e educação que defendem histórias biográficas de vida como parte do aprendizado e formação do professor, ele pensou que podia aliar isso à criatividade incrível dos fanzines em suas miríades formas e temas! Acertou em cheio e os cursos foram um sucesso com muitos dos alunos do curso (que já eram professores e até diretores de escola) darem vazão a seus arroubos criativos e histórias de vida. Isso esclareceu e reforçou a todos que os zines:

a) unem as pessoas fraternalmente e;
b) permitem com que conheçam mais a si mesmas e a suas capacidades criativas inerentes !



Disso tudo resultou um artigo “Dos zines aos biograficzines: Compartilhar narrativas de vida e formação com imagens, criatividade e autoria”, publicado no livro “Fanzines - Autoria, subjetividade e invenção de si”, organizado por Cellina Muniz - com artigos de outros autores também, como Demetrius Galvão, Fernanda Meireles, Ioneide dos Santos etc.



Recentemente eu e Elydio reestruturamos um pequeno texto derivado do que foi publicado no livro para apresentar na seção de Narrativas Visuais do IV Seminário de Pesquisa em Arte e Cultura Visual que ocorrerá em junho desse ano de 2010 na UFG, em Goiânia. Apresentaremos um dos biograficzines que resultou da oficina em que uma ex-aluna do mestrado mostra todo o percurso principal de sua formação como educadora, na forma de história em quadrinhos.

Creio que esse pioneiro método pedagógico-artístico poderá ser ampliado a partir de mais divulgações, já que explora a criatividade e autoconhecimento dos alunos da área de educação (e quiçá de outras) – que lhes será útil em sua formação e auxílio pedagógico como professores também!


Biografic Zine - Maria Helena Negreiros


Biografic zine - Prof. Elydio


Biograic zine - Gazy

Qual seria o sentido da existência dos Fanzines nos dias de hoje?
Acho que respondi um pouco disso duas perguntas atrás. Mas penso que agora o foco está também no ensino. Fanzines cresceram em fama acadêmica e estão sendo usados em escolas e em cursos de pós graduação, como falei antes. O filme documentário “Pro dia nascer feliz” mostra, por exemplo, num dos momentos que uma professora dá aula de zines na escola, e que eles ajudam a turma a ficar mais unida, a elaborarem seus fanzines dialogando e buscando criativamente fontes e pesquisando! Creio que o caminho atual dos zines é serem descobertos pelas escolas e mais valorizados em pesquisa ainda nas universidades. Ponto para Henrique Magalhães que ajudou a começar isso tudo com sua dissertação de mestrado que virou o livro “O que é fanzine”, o qual a editora Brasiliense teima em não relançar! E seu doutorado também, feito na França, bem como sua magnífica editora “Marca de fantasia”. Outro importante nome é o de Edgard Guimarães e seu tradicional “QI – Quadrinhos Independentes” que faz as vezes de uma revista temática crítica sobre os fanzines no Brasil! São esses que fazem a paratopia zineira ser possível e cobrir as lacunas do sistema capitalista reducionista limitante que castra o potencial criador dos seres humanos! Aliás, nem preciso dizer que dedico a esses dois nomes e pilares do fanzinato já que ambos me publicaram, parte também dessa entrevista!



Fala-se em um novo boom dos fanzines no Brasil nos dias de hoje. Você concorda? Se sim, por que acha que isto está ocorrendo?Reitero que esse boom está mais na valorização das mídias e sistemas acadêmicos que pouco sabiam disso! Isso dá uma valorização maior da liberdade criativa que os zines podem propor!
Creio que os zines sempre vão existir, independente até da tecnologia usada. Considero os blogs uma espécie de fanzine mixado com diário pessoal, por exemplo, e isso se amplia na rede internet. Na verdade, enquanto o ser humano tiver idéia própria, o fanzine vai continuar, não importa de que maneira, mídia ou forma, pois a essência de um zine é sua liberdade ideária e criativa, e isso nada há que tolha, pois reside de modo imaterial na mente humana!

Gostaríamos que você indicasse para nossos leitores, algumas dicas de produções, sites etc que você considera fundamentais para entender os fanzines nos dias atuais:
Além do livro que participo com Elydio “Fanzines - Autoria, subjetividade e invenção de si”, aconselho também outros como “O que é fanzine” de Henrique Magalhães, se conseguirem encontrar, porque a editora brasiliense teima em protelar uma reedição desse importante e marco tomo da área de um dos pioneiros da pesquisa zineira do Brasil, que é o Henrique. Há outros como “O rebuliço apaixonante dos fanzines”, “A nova onda dos fanzines” e “A mutação radical dos fanzines”, todos os três do Henrique Magalhães, e que podem ser encontrados diretamente em sua editora Marca de Fantasia. Um artigo que traz uma boa listagem, incluindo livros de HQ está no site Bigorna.net, diretamente no artigo de Elydio dos Santos Neto: “Dez considerações para professores que desejam trabalhar com as histórias em quadrinhos (Parte III - Final)”;

Além desses, claro, o Anuário de Fanzines da Ugrapress recém lançado e que pode ser baixado na Internet ou lido direto no link e o vídeo “Fanzineiros do Século Passado” do Márcio Sno, que pode ser visto no seguinte link .

Aconselho igualmente a leitura de meu artigo “A independente escrita-imagética caótico-organizacional dos fanzines: para uma leitura/feitura autoral criativa e pluriforme” que pode ser baixado no site do 17º. COLE – Congresso de Leitura do Brasil onde eu o expus em Campinas, em que traço um perfil do potencial criativo que os fanzines deflagram na mente, ilustrando com a riqueza de seus formatos e temas. Ainda acerca de meus trabalhos, existe uma série de textos autobiográficos de minha relação com as HQ e zines na seção de História em Quadrinhos do site do IBAC, sem falar de outras colaborações nos blogs ImpulsoHQ com a minha coluna “Consciência e Quadrinhos” e no Bigorna.net.

Não deixem de consultar também mensalmente o site do CCJ-Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, pois este ano sou o curador da “Programação de Formação de HQ e Zines” que acontece desde março seguindo até o segundo semestre de 2011, como parte da comemoração dos 5 anos do CCJ, e que traz um pouco de tudo da área: mesas, debates, palestras e cursos de HQ e de fanzines discutindo-os como arte e educação. Para isso, venho elencando vários expoentes, tais como Laerte, Flávio Grão, Edgar Franco, Will, Bira, Laudo, Paulo Ramos e muitos outros! Acessem mensalmente o site do CCJ para se manterem informados e participarem dos eventos gratuitamente!

Espaço livre para uma mensagem final:
Creio que já expus bastante e com muita liberdade e informação, mas como mensagem final penso que devo alertar que cada um de nós somos seres sempre em formação, e se não nos pomos a criar (seja de que forma for), nós represamos uma força interior extremamente grande, e isso causa prejuízos psíquicos. Recordo-me de Wilhelm Reich que bradava em seu livro “Escuta Zé ninguém” que o ser humano tem uma energia – a que ele denominou de orgone – a qual deveria usar e não represar. Ele acusava que essa energia era represada sexualmente e isso nos tornava a todos doentes, sendo o sistema agrilhoador do homem e culpado por não permitir a fluição (e consequentemente impedindo uma fruição interna).


Escuta Zé Niguém - Wilhelm Reich

Na minha visão, embora ele estivesse certo com relação à energia, ela não necessitaria ser diluída sexualmente como fator primordial e único: outras expressões criativas poderiam auxiliar, substituir e corroborar, como por exemplo o ato desportivo de um grande e criativo jogador de futebol ou um pintor, como exemplos básicos! Essa energia, a meu ver, é a conhecida por “C´hi” oriental, ou o “prana” indiano, que nos envolve e não sabemos nem como usar, ou a utilizamos mal. Daí vêm as distorções e as desgraças psíquicas, junto de egrégoras que vão se formatando (poder-se-ia chamar de campos mórficos até, conforme o biólogo Rupert Sheldrake alcunhou determinadas possibilidades geracionais evolutivas). Mas está na hora de mudarmos nossos padrões de conduta, de pensamento, senão não melhoramos e não mudamos nossos paradigmas!

A mente é neuroplástica e temos que saber disso. Os físicos quânticos, por exemplo, até hoje admitem que não entendem (com a lógica linear) como as micropartículas quânticas são ambivalentes, ora surgindo como ondas e ora como partículas, numa lógica paradoxal. Isso racionalmente era inconcebível, até que eles foram se acostumando com a idéia e agora aceitam-na naturalmente! O que aconteceu? A natureza não se modificou...mas a mente plástica do homem se amplificou e trouxe uma nova possibilidade “lógica” aceitável que antes nos era inconcebível: assim, as coisas que supostamente “não existem”, existem, e as que parecem ser de tal maneira, podem sê-lo totalmente distintas: e creio que os fanzines são exemplos dessas possibilidades! Uma pesquisadora chamada Áurea Zavan os chamou de paratópicos - estão em algum lugar (topia) paralelo (para) às publicações e editorações dos livros ditos oficiais.

Assim, os fanzines parecem as micropartículas atômicas: embora aparentem existir fisicamente, se comportam também como possibilidades quânticas de energia: são passíveis de serem medidos no tempo/espaço, se o observador/leitor/pesquisador/buscador assim o fizer. Do contrário, aparentam não existir materialmente, mas sim como energia imanifesta em qualquer lugar. Ora, os fanzines não são “oficiais” e a grande maioria nem sabe que existem: mas estão aí como publicações paratópicas aos livros e revistas, trazendo as possibilidades de reflexão das idéias humanas mais ainda que a limitação comercial e capital das editoras que impediriam – se apenas pelas vias editoriais conhecidas – a manifestação de muitos autores que extravasam seu potencial de energia (orgone, c-hi, prana etc) na paratopia zineira, mancomunando-se e espargindo-se num campo mórfico extremante resiliente e criativo!

O cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que construiu um centro científico de conhecimentos e sobre o cérebro na periferia de Natal – contra todas as opiniões que afirmavam que a idéia não resultaria devido à pobreza do local – disse numa entrevista que os alunos de lá, após visitarem o complexo e interagirem nele como uma escola prático-teórica alternativa, passaram a vislumbrar a vontade de serem físicos, paleontólogos, arqueólogos etc, diferentemente das idéias preconcebidas que tinham antes, de serem apenas jogadores de futebol ou atores e atrizes de tv! Acessem o link da entrevista dele para verem!

O que aconteceu foi que um mundo se abriu e amplificou a estreiteza mental a que estavam acostumados! O ensino, o conhecimento rico, amplia nossa inteligência e nos estimula a sermos co-criadores universais! Ao contrário, a mesmice sempre repetitiva e a falta de objetivos ulteriores nos mina a energia e nos faz limitados, ludibriando-nos, metaforicamente como a história da águia e a galinha trazida por Leonardo Boff: para ele, o homem é águia, mas enquanto não percebe isso, se coloca como galinha e acaba não usando as asas de águia que tem para voar, ficando sempre ao chão ciscando! Metáfora melhor não existe do que somos exponencialmente, e do que perdemos em não percebermos e ingressarmos nesse novo paradigma de realidade!

Fazer e ler fanzine é uma dessas miríades de possibilidades geradas, e que podem nos ajudar a empregar as asas de águia novamente!
Grande abraço!

O ZINISMO agradece ao professor Gazy Andraus pela entrevista e por permitir que compartilhemos com nossas leitores suas inquietantes idéias! Para frente é que se segue!

PS: Leia a primeira parte da entrevista aqui.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

4 PERGUNTAS PARA FABIO A.



Recebemos estes dias o link do e-book Pensamentos aleatórios e outras coisas do artista paulistano Fábio A. e ficamos um tanto intrigados...

Devido ao seu surpreendente volume e qualidade de produção Fábio A. é um daqueles seres humanos que parecem contar com dias de mais de 24 horas. Seja com suas colagens e desenhos, com suas escritas ou com seu projeto (anti) musical Ajax Free, Fábio A. está sempre com alguma novidade “na agulha”. Em 2011, por exemplo, promete lançar 24 álbuns com o Ajax Free...
O ZINISMO não se conformou e foi tirar um pouco desta produção a limpo:




ZINISMO: Você produz arte em três frentes: Música, escrita e artes gráficas (colagem).
Como estas três frentes se equilibram (ou não) e como direciona suas forças criativas para cada uma delas?

Fábio A. Hmmmmmm... eu nem acho que deva haver um equilibrio. As coisas têm que ser muito soltas, muito livres na hora de criar.
Se eu definir que deva ser equilibrado então eu já criei uma imposição. Por exemplo:
Pra este ano de 2011 (de vosso sr. "Jésus Cristo"), me propus a lançar 24 albuns com o AjaxFree.
Alguns em parceria com outros ruidistas ao redor do mundo e outros somente eu. Isto não quer dizer que tenho que lançar uma certa quantidade de albuns por mês para cumprir minha meta.
4 albuns já estão prontos e disponíveis pra download (dê um search no 4shared.com) ou no meu blog.
Neste meio tempo tenho preparado mais uma série de colagens e um projeto para a Pinacoteca de São Caetano do Sul,
onde pretendo expôr com outros colagistas.
Na escrita tenho alguns textos inéditos e outros em processo de maturação.



Quais são suas influências artísticas? Cite alguns artistas contemporâneos que recomendaria para os leitores do ZINISMO:
Gosto muito do dadaismo, do início do surrealismo, de algumas coisas do grupo Fluxus e do cubismo de Pablo Picasso mas não me sinto influenciado por estes artistas/ movimentos pois não concordo com alguns parâmetros criados por eles.
Eu recomendo: rael brian, Sesper (Farofa), Tisborroinfaccia e Goya.

Como foi o processo de escrita de "Pensamentos aleatórios e outras coisas"?
O e- book foi escrito aos poucos. Nele existem textos do final dos anos 80, então resolvi montá-lo digitalmente e distribuí-lo na internet em 2002.
E ele sempre foi um e-book, nunca um livro impresso.
Em 2001/ 2002 eu tinha uns 3 sites: Artandfusion (pôsteres), Arte e Ofício (só de links legais) e o Caos666BR (gifs animados onde eu disponibilizava o e-book.
Hoje está tudo no desde69.zioanza.com.



Percebo neste e-book que você procura refletir sobre a situação do homem com o caos contemporâneo representado muitas vezes pela tecnologia. Qual sua visão sobre isso?
Eu amo tecnologia e quanto mais, melhor!
Se a tecnologia vai nos destruir?
Pode ser que sim e pode ser que não mas, uma coisa eu garanto: será um humano sem qualificação para o gênero humano o culpado pela cagada,e o pior de tudo é que seremos cúmplices!



LINKS:

AjaxFree
Desde69 blog
Desde69 artes
Desde69 Flickr

terça-feira, 27 de julho de 2010

VELHO RABUGENTO ZINE



O fanzine VELHO RABUGENTO é prova que tamanho não é documento. A pergunta é como podem caber tantas informações em um formato A6?

Feito em São José do Egito (PE), o velho faz um belo serviço pela causa alternativa, abrangendo as cenas de todas regiões do Brasil através de entrevistas, resenhas, editorias, colunas etc. Além disso, o velho já é um dos zines brasileiros com maior número de edições (o de junho é o número 56!). Conversamos o editor José Edilson, o próprio Velho Rabugento:


ZINISMO: Como se deu seu envolvimento com o underground, punk rock e com os fanzines?

Rapaz, meu início neste meio underground se deu quando eu saí daqui de Pernambuco para morar no RJ. Na época, eu tinha 18 anos e já escutava rock aqui, mas não tinha nenhum envolvimento com o alternativo, só escutava as bandas mainstreans mesmo.
Então cheguei no RJ na metade da década de 90 e conheci toda a cena que existia na época... As casas de shows, as bandas foda da época... E isso me pegou de jeito. Vivi a década de 90 intensamente, e até hoje não consigo me livrar deste vírus que tanto me enriquece e traz coisas positivas a minha existência.

A inevitável pergunta: por que Velho Rabugento?
Como falei no início da entrevista, quando vim morar aqui novamente existia um pequeno grupo de pessoas que escutava sons e estava começando a formar bandas, e eu me envolvi diretamente nesta nossa pequena cena... O zine surgiu da necessidade que tínhamos de escrever nossas idéias, divulgar bandas que gostávamos e tal, e como eu era o mais velho desta turma e como nunca fui conhecido por ser uma pessoa sociável, o nome veio de forma natural... Nunca imaginei que ele ficaria tão impregnado na minha vida, tanto que já faz mais de 6 anos que eu e o velho rabugento andamos lado a lado.

Quando conheci o "Velho Rabugento" uma das coisas que me chamou a atenção foi a longevidade do fanzine. Qual a receita para esta sobrevivência? Desde quando ele existe e como se sustenta economicamente?
Rapaz, o Velho existe, com idas e vindas, desde 2004, quando pensei em publica-lo para circular dentro da minha cidade mesmo, entre um pequeno grupo que existia na época e que achávamos que era um ‘cena’. E num tem uma receita para manter o zine, o que existe é vontade de divulgar bandas e a cena alternativa de uma forma em geral.
Agora como ele se mantém economicamente o que posso dizer é que sempre sai dinheiro do próprio bolso mesmo, num tenho patrocínio nem propaganda (o máximo que rola é divulgar lançamentos de bandas de amigos), então é tudo com o velho mesmo, e sinceramente acho isso muito bom... Pois tenho uma liberdade total para publicar somente o que tiver vontade.



A maioria dos fanzines que tenho recebido atualmente vem do Nordeste. Você concorda que a produção atualmente é mais expressiva nesta região do que no restante do Brasil? Se for, consegue identificar um motivo para tal fenômeno?
Realmente tem aparecido muitos zines aqui do Norte e Nordeste, mas também tenho recebido muita coisa de cidades do interior de SP e do Sul do país. O que enxergo disto é que aparentemente as pessoas que estão mais longe dos grandes centros tem buscado um retorno dos zines de papel como forma importante de divulgação.
A febre dos blogs e sites passou e as pessoas estão voltando para a fazer a coisas da forma antiga e mais romântica... tenho visto, além dos zines, muitas bandas apostando no lançamento de demos físicas, e isso é muito bom.


Espaço livre para divagações, dicas de fanzines, bandas, blogs e etc:
Só tenho que agradecer o espaço que você abriu para o Velho Rabugento, valeu mesmo pela força e parabéns pelo trampo que você realiza divulgando todas as formas de manifestações culturais underground.
Agora dicas de zines ou bandas fica difícil citar alguma e deixar várias de lado, o que posso deixar de dica é que ninguém pode perder o tesão em ser curioso, nunca pode deixar de buscar algo novo e espontâneo! Então freqüente os shows que rolam na sua cidade, se num tiver shows comece a organizar. Busque contatos com pessoas que estão nesta pelo mesmo motivo que você, garanto que surgirão amizades para o resto da vida.
Queria aproveitar para dizer que além do zine mantenho um selo/distro, com alguns lançamentos de coletâneas e splits no currículo e que está sempre aberta para bandas novas que estejam a fim de mostrar o trabalho, se alguém se interessou é só entrar em contato pelo fotolog ou e-mail velhorabugento@gmail.com, pode ser bandas, pessoas interessadas em trocar/adquirir o Velho e pode ser também só para conversar e trocar experiências.
Valeu parceiro e mais uma vez parabéns pelo seu trampo...

Aproveite e visite o polêmico blog do colunista Juca Sassafrás, um dos colaboradores do Velho.

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quinta-feira, 20 de maio de 2010

HARDCORE 90 - UMA HISTÓRIA ORAL - ENTREVISTA COM MARCELO FONSECA


HARDCORE 90 – UMA HISTÓRIA ORAL
– É o nome temporário do documentário que está em processo de produção e que começou com um trabalho de mestrado feito pelo historiador Marcelo Fonseca. Esse processo pode ser acompanhando em tempo quase real através do blog onde são postadas as novidades. As entrevistas em vídeo podem ser conferidas através do canal do Youtube. Pode-se notar através destas entrevistas que algumas palavras surgem e se repetem em diversas falas, indicando alguns marcadores importantes para o delineamento da cena hardcore (principalmente, mas não só de São Paulo) como o movimento punk, juventude libertária, straight edge, a influência do skate e de algumas casas de show como o Black Jack e o Der Tempel. Interessante notar que muitas das entrevistas dão sequência aos eventos mostrados no documentário sobre o punk brasileiro (Botinada), permitindo uma visão muito peculiar sobre a cena punk/hardcore das duas décadas (anos 80 e 90).

ZINISMO: Em que pé está a produção e para quando você prevê a finalização do documentário?
MARCELO FONSECA: Em outubro completamos 1 ano de produção. Foi um período muito bom, por poder sentir como é se meter a fazer algo do tipo (coisa que eu nunca tinha feito até então). Legal rever amigos, conhecer amigos de amigos e ir sentindo a reação dos entrevistados, e das pessoas que tem apoiado o projeto. A idéia é fazer por volta de 100 entrevistas, nesta semana vamos gravar a número 38. Tem muito a se fazer ainda, digitalizar material de época, vhs, hi8, fotografias, fanzines, capas de disco, pessoas para encontrar... Detalhe que a equipe do documentário é praticamente de 2 pessoas, eu e o Fernando Alves que me ajuda filmando. Tudo é custeado por nós dois, mesmo que algumas pessoas já nos ajudaram por um tempo. Eu tinha a ambição de fechar o filme mais ou menos junto com o meu mestrado (História Social na PUC-SP) em 2011, que é quando eu tenho de defender a dissertação. Mas não vai rolar, além de tudo eu também trabalho, então uma previsão mais próxima da realidade, com tudo que quero fazer, aumenta o tempo em mais um ano, ou seja, comecinho de 2012.


Fale um pouco sobre o papel dos fanzines na cena hardcore dos anos 90:

Fundamental. Aliás, sempre teve, independente da cena ou das idéias que estavam presentes. Já na década de 80, eram os fanzines punks que tentavam politizar o movimento, cobrando o fim da violência das gangues. É um veículo que não minha opinião é a expressão máxima do “faça-você- mesmo”, e importante, pois todo meio social precisa ter comunicação. Uma só pessoa podia escrever, desenhar, xerocar, distribuir, da forma que quisesse, como e para quem lhe desse na telha. Na década de 90, a internet engatinhava, e os fanzines, amparados por um rede gigante de correspondências que não era restrita somente o Brasil, “conectava” e distribuía a informação, fazia escoar a produção das distribuidoras, etc.

A partir dos anos noventa o hardcore em São Paulo começou a se dividir em nichos ou micro-cenas (ex: hardcore straight edge, hardcore melódico, etc). Você encara isso de modo positivo ou negativo?
Uma coisa que não podemos nos deixar levar é de que o hardcore seria uma coisa homogênea e harmônica. As contradições e diferenças das pessoas sempre estiveram presentes e querendo ou não, as pessoas se conectam mais ou menos em redes de afinidade. De certa forma isso sempre existiu, mas acho que durante um tempo, existia a necessidade por parte das pessoas da cidade de São Paulo, entrarem em contato com pessoas, se agruparem com gostava desse tipo de música e idéias, mas que não queriam se vincular ao ganguismo dos punks da antiga. A geração que viveu os anos 90 soube muito bem o que era ser intimado por usar uma camiseta do Misfits ou Ramones, e daí quando se encontrava com alguém que compartilhava das mesmas idéias, ou que gostasse de um som parecido era quase como acertar na loteria. Como o número de pessoas gradativamente aumentou, isso também ficou mais visível. Eu não acho nem bom nem ruim, lembro de shows muito legais de bandas muito diferentes, com pessoas muito diferentes e concepções sobre o hardcore-punk mais diferentes ainda... Faz parte do processo histórico de qualquer movimento social jovem, as pessoas são autônomas, respondem as próprias vontades, elas podem perder o interesse, ou mudar as idéias, ou se agrupar mais com quem pense como você e daí por diante...

Para finalizar faça uma breve análise comparativa entre a cena paulistana hardcore dos anos 90 e dos 00.
Eu acredito que nunca mais surgirá uma geração como a dos 90, assim como a dos anos 2000 também tem suas especificidades. O mais gritante é o acesso a informação, se nos anos 90, até existia, nos 2000 ela ganha dimensões estratosféricas com a popularização da Internet. Isso acarreta suas conseqüências também, se micro-cenas surgiram nos anos 90, devido a grupos de afinidade, tretas ou que seja. Dos anos 2000 para cá o público tem acesso e é bombardeado com informação que parece não dar tempo nem de se analisar, o que é legal ou não. Antes você escrevia uma carta para uma banda, o cara lhe mandava a demo e você passava a semana ouvindo isso no walkman. Hoje existe myspace, rapidshare, ipod... a vida ficou mais fácil, mas também privilegiou o domínio da imagem. A autenticidade dos anos 90, era uma mistura de ineficácia técnica, falta de referência e força de vontade que gerou tantas bandas legais, como No Violence, Againe, IML, Garage Fuzz, Abuso Sonoro, Rot, Ação Direta, Self Conviction, Kangaroos in Tilt, Point of no Return, Dominatrix entre tantas outras... Por outro lado, hoje a molecada tem acesso ao pacote completo , baixa a discografia, o visual, vê o vídeo da performance no youtube e por isso temos bandas genéricas aqui, na Eslovênia, na Austrália ou no Japão. Sem querer ser amargo, o excesso de referência matou um pouco da originalidade e espontaneidade. A galera que descende mais do hardcore melódico também é exposta a um universo mais da música comercial, entrando em contato com empresários, e um aparato de mídia que nunca imaginei ter contato... Mas cada geração com seus problemas, não quero soar velho e chato, isso é o que veio de imediato para comparar. Cada momento tem seus dilemas e vivências e longe de mim querer comparar.

Confira também a matéria que rolou no programa METRÓPOLIS da tv cultura sobre o documentário:

quinta-feira, 18 de março de 2010

IMPRENSA ALTERNATIVA NO ABC - ENTREVISTA COM OLGA DEFAVARI



A importância do livro “ A imprensa alternativa do ABC - a história contada pelos independentes” de Olga Defavari vai além de fornecer uma panorama histórico deste tipo de imprensa; mostra como em diferentes épocas, pessoas inconformadas resolveram fazer diferença e produzir informação pelos próprios meios cobrindo assim lacunas que existiam e ainda existem no ABC paulista.

O livro é uma adaptação e ampliação de uma pesquisa feita pela autora na Universidade Municipal de São Caetano do Sul em 2005, nas suas páginas encontramos relatos, entrevistas, casos pitorescos sobre os mais variados tipos de veículos informativos como revistas de poesia, cinema e música, jornais universitários, publicações de arte, e é claro, os Fanzines.

Destaques para as histórias de publicações como o Jornal da Taturana, A cigarra, O livrespaço e a tragicômica história da revista “A tripa”. Na parte relativa à Fanzines o livro cobre parte da produção do ABC paulista entre os anos de 1995 e 2005, destaque para o “sobrevivente” Aviso Final.

O Zinismo fez uma pequena entrevista com autora, que você pode conferir abaixo.

ZINISMO – Como você chegou a este tema para sua monografia?

Olga de Favari - Na verdade não se trata bem de uma monografia, e sim de uma pesquisa que comecei no núcleo Memórias do ABC da Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Um projeto que visa levantar aspectos interessantes, mas pouco estudados da história da região. Enfim, como na época cursava jornalismo e como sempre tive interesse pelas práticas culturais achei na imprensa alternativa um meio que une ambas as coisas. Mas foi precisamente durante um bate papo com a escritora e agitadora cultural, Dalila Telles Veras, proprietária de um espaço cultural em Santo André , que descobri que a imprensa alternativa, também colecionada por ela, ainda não possuía um merecido estudo a seu respeito, no caso especifico as publicações do ABC. Descobri a partir de então que os museus e centros responsáveis pelos arquivos da região, não catalogavam ou mesmo sabiam o que era essa tal imprensa marginal.

Você já conhecia os Fanzines? Se não como ficou conhecendo? E o que achou destes?
Confesso que conhecia poucas publicações alternativas e que os fanzines não foram o meu foco inicial, já que pesquisei prioritariamente jornais e revistas. Quando comecei as buscar os fanzines, percebi que eles eram inúmeros e que mereciam um capítulo especial no livro. Entre os responsáveis por me apresentar este vasto mundo de zineiros está Renato Donisete, editor do zine Aviso Final há 20 anos e o conhecido poeta Zhô Bertholini, editor da revista A Cigarra. Achei este universo fascinante, principalmente pela força de vontade de seus editores que fazem do trabalho alternativo uma constante batalha.


Uma discussão presente nos dias de hoje para a imprensa alternativa é com relação à migração dos veículos impressos para internet. Você acha que seria o fim da imprensa alternativa impressa? No atual contexto como você enxerga esta situação?

No final do livro eu trato sobre esta questão e afirmo que em um próximo levantamento não será possível encontrar tantas publicações alternativas imprensas. Porém, não acredito que seja o fim. O problema é que, como sabemos, a grande dificuldade dos escritores independentes é grana para imprimir o material e falta de espaço para escrever, já que quanto maior o zine, mais gasto. Assim uma boa saída é migrar para internet, onde não há custos nem restrição de espaços, e o conteúdo fica acessível a um maior número de leitores. Mas acredito ainda que entre as publicações alternativas, o zine seja a o mais resistente, isso porque os zineiros gostam muito de ver o material pronto em mãos, de receber e enviar pelo correio. Já os jornais e revistas alternativos, estão cada vez menos encorajados, porque o gasto é muito maior para publicar um veículo deste porte. Ressalto que, pela grande quantidade de zines produzidos no ABC, não foi possível dar conta no livro de boa parte deles, e nem era minha intenção esgotar o assunto. Pelo contrário, com o livro quis apenas chamar a atenção para estas publicações e mostrar o quanto elas são importantes para a história da região. Peço aos editores independentes que me enviem suas publicações (olgadefavari@yahoo.com.br), posso colocar no blog, ou, quem sabe, começar um outro livro. Apesar da internet, material impresso é o que não me falta.
Vida longa à Imprensa Alternativa!

O livro Imprensa Alternativa no ABC pode ser adquirido com a própria autora através de seu e-mail por um preço bem acessível, ZINISMO recomenda!

domingo, 26 de abril de 2009

PIN UPS: UMA TARDE EM 1997...

Por Marcelo Viegas

O que dizer sobre o Pin Ups que já não tenha sido dito? Uma das melhores bandas do Brasil? Pioneiros das guitar bands no país? A banda mais cult da cena indie? Ora, isso todo mundo já sabe, ou ao menos deveria saber... Da minha parte, gostaria de acrescentar apenas uma coisa: eles fazem uma falta danada!

Para matar um pouco a saudade, revirei minha gaveta, encontrei o velho gravador General Electric e transcrevi (finalmente) uma entrevista que fiz com a Alê Briganti (na época baixista e vocalista do Pin Ups) em 1997. É a primeira vez que essa entrevista é publicada na íntegra. Um trecho havia sido utilizado pela revista Rock Press, naquele mesmo ano, e outro trecho saiu no zine Lado[R], em 2008. Mas sempre tive a vontade de vê-la na íntegra, como segue logo abaixo.

Assim, fica aqui o registro, doze anos depois, para que as novas gerações conheçam um pouco mais dessa grande banda e da personalidade forte da Alê; e para que os velhos fãs recordem de histórias e pessoas fundamentais na construção da cena independente brasileira. Relaxe, coloque o “Lee Marvin” para rolar e boa viagem.


Certa vez vocês disseram que eram new wave. Você mantém isso?
Mantenho. Acho que a gente é muito new wave. Eu fui uma garota new wave. Aos onze anos descobri o Duran Duran. Porque eu gostava de rock, e vivia com uma amiga de descendência armênia, chamada Christianne, que tinha uns primos que amavam Queen... E eles tinham várias coisas: David Bowie, Queen, e tinham Duran Duran! Eles compravam uma revista chamada Sixteen, e aí eu descobri o Duran Duran e desde então virei uma fã fanática de Duran Duran, numa época em que não tinha informação nenhuma por aqui. E aí comecei a descobrir toda aquela cena new wave. Gostava de Police, Go-Go´s, Classic Noveau, Talking Heads... Gostava de todas essas coisas meio new wave. Esse foi um dos meus grandes backgrounds.

E o resto da banda?
É uma das grandes influências do Zé também, que é bem mais velho do que eu, tenho 25 anos e o Zé têm 32. Então ele seguiu também várias coisas do rock. Ele é total roqueiro, beatlemaníaco, e nada mais new wave do que Beatles.

Hoje em dia o Pin Ups tá mais pop, mais new wave do que antes?
Acho que o Pin Ups hoje em dia é bubblegum. Primeiro pelo meu vocal, talvez... Eu não sei gritar, não sou uma cantora tipo Courtney Love, eu sou uma pessoa que canta. Porque eu gosto de vocal feminino cantado (e também adoro vocal feminino berrado), mas não sei fazer bem o vocal gritado, então os meninos sempre gostaram de coisas mais "doces" e mais pop – Elastica, Weezer (que eu aaaaamo), Nada Surf –, que são as coisas que estamos ouvindo agora. Mas ao mesmo tempo, ouvimos um monte de coisas porrada e coisas estranhas.

Como está a recepção do público para essa nova fase do Pin Ups?
A recepção tá boa. Mas antes eu queria falar que acho que está rolando uma volta da cena guitar. O começo dos noventa era dominado pelo metal, o que pegava era Sepultura, Korzus, Dorsal, Ratos, Volkana, Viper, e o metal virou meio mainstream. A molecada que hoje em dia gosta de Bad Religion, na época gostava dessas bandas. Não tinha muito espaço para a cena alternativa e nem para o hardcore. As poucas bandas de hc que ainda sobreviviam (e eram poucas), ou as que estavam se formando, como o Garage Fuzz, Tube Screamers, Safari, estavam apenas começando, não tinha espaço. E tinha a cena guitar band – nós tínhamos lançado nosso disco em 1990 - que também estava começando. Era fim de 1990, começo de 1991, uma época em que a gente não tinha espaço, a não ser no Retrô e mais algumas casas. E aí de repente a cena começou a se fortalecer. As duas, né? Tanto a hardcore quanto a alternativa.


Você não acha que as duas coisas se misturam?
Fora de São Paulo elas se misturam. Em São Paulo elas não se misturam.

Você acha que muito da abertura que o hardcore tem hoje em dia deve-se ao estouro do Nirvana?
Eu acho que sim, mas muito mais pelo estouro do Green Day. Porque depois do Nirvana veio o Green Day, o punk e a Epitaph. E chegou uma época, de novo, que o guitar band tinha morrido. Se você não era hardcore, não tinha público. Era uma bosta, cara! A gente penou. Na época do "Scrabby?" não tinha público pro Pin Ups. Nós éramos muito metal pro guitar e muito pop pro punk. Só os metaleiros gostavam da gente na época do "Scrabby?", tinham vários metaleiros no show. Era "mó" pesadão e os metaleiros gostavam. O Luiz (Gustavo, ex-vocalista) era muito agressivo.

Todo mundo elogia o Luiz e, ao mesmo tempo, todo mundo diz que a banda melhorou com você no vocal. Que contradição louca é essa?
Eu acho que são duas bandas diferentes. Agora deu uma renovada. Com o Luiz a gente não ia poder sair muito daquilo. Na época do "Jodie Foster" ele já não estava gostando, não estava legal...

Qual motivo da saída dele?
Pessoal. Ele se casou e resolveu seguir carreira no meio publicitário.

Esse jeito do Luiz causou a fama de arrogância da banda?
No começo dos noventa o Pin Ups era uma banda grande no meio alternativo e adorada pela imprensa. Aí o Luiz, que é uma pessoa com senso de humor bem particular, começou a alardear sua opinião de que "o Pin Ups é a melhor banda do Brasil". Ele encarnou o Ian Brown do Stone Roses. Aí rolou e ficou pra sempre o comentário que o Pin Ups é um bando de gente metida e arrogante. E carregamos isso por muito tempo.


Que tal um balanço sobre a trajetória do Pin Ups? O que mudou? O espírito hoje é o mesmo?
Acho que ficamos mais velhos, sabe... O Pin Ups começou em 88, era um trio, era... Ah, a história do Pin Ups eu sei de cor e salteado, vamos então do começo... O Luiz e o Zé eram amigos e moravam no ABC (Santo André). Aí eles viram um cartaz de umas meninas, sei lá, "Lalá e Tatá – procura-se guitarrista e baterista". E pensaram: "pô, garotas, que legal, vamos fazer uma banda". Eles já gostavam muito de Primitives, e gostavam de muitas bandas femininas. Sempre ouviram muito som, são uns caras viciados em música. Foram atrás das meninas e quando chegaram pra ensaiar, elas não sabiam tocar nada! Eram péssimas, um desastre, só que o Luiz já tinha marcado um show. Eles convidaram o André Benevides e foram levando. A banda mudou de formação um milhão de vezes e, no final de 1990, eu entrei pra banda (antes tocava no MR-8). Em 1995 o Luiz saiu e, a partir daí, começou uma nova fase do Pin Ups.

Como fica o Pin Ups frente a nova configuração do rock brazuca? Uma cena que prestigia apenas as bandas que cantam em português e cuja grande onda é o retorno ao regionalismo... Como fica o Pin Ups em meio a tudo isso?
Ficamos na mesma. Continuamos sendo a mesma banda de sempre, nós não vamos cantar em português! Recebemos uma proposta indecorosa uma vez, de cantar em português e assinar com uma major. Uma coisa maluca! Só que não rola, entendeu? A gente tem que ser honesto com a gente mesmo em primeiro lugar. E em segundo lugar com o público. Desde 1988 a gente segue uma linha de trabalho, cantando em inglês...

Esse negócio de achar que "só é bom quem canta em português" é um grande absurdo...
Também acho isso péssimo, cara. Pra mim isso é um nazismo, é uma volta ao nacionalismo,. Eu odeio essa coisa de "você tem que cantar em português porque é a língua do nosso país"... Meu, não quero que você entenda o que eu falo. Quer entender? Vai ler a letra. Não quer entender? O som é legal... Se existe um público pro Oasis, por que não existe um público pro Pin Ups, ou pro Snooze? Se existe um público pro NOFX, por que não existe pro Garage Fuzz? Só porque somos brasileiros temos a obrigação de cantar na língua nacional? Meu, qual é o problema? Somos uma banda brasileira com potencial mundial!


E a história daquela crítica super ofensiva do "Gash" que saiu na Bizz?
Do Miranda? Eu não achei nada...

Mas gerou uma certa polêmica...
Fiquei chateada com ele, mas fazer o que?! Ele acha Maria do Relento a melhor banda do Brasil... E o pior é que o Miranda adora o Pin Ups...

Acho que hoje, mais do que nunca, a independência é o único caminho para o Pin Ups...
Lógico, sem dúvida!

Não por uma questão de postura, mas porque é o que a realidade permite para vocês.
Quero lançar por selos de guitar bands, quero me juntar as guitar bands... Eu nunca fui muito amiga dessa galera, porque eles sempre tiveram o maior preconceito com a gente, porque a gente sempre foi muito pesado pra eles... Eu não sei explicar direito isso...

É pelo fato deles gostarem de um som mais etéreo?
É, essa galera etérea é meio bichinha... (risos)

Mesmo o Brincando de Deus?
Não, o Brincando de Deus não é bichinha! O Messias é um cara legal e os caras da banda dele não são uns afetados idiotas olhando pro céu com carinha de "ai meu Deus, meu mundo caiu, quero ser igual o Pavement"... Eles (Brincando de Deus) não são assim, entendeu? São uns caras normais, tipo "ô meu irmão, beleza? Vamos fumar um, meu rei?". São tipo na moral, uns caras que gostam de som.

Mas e a galera do som etéreo?
Essa galera é muito sensível e a gente é tipo uns porraloucas, entendeu? Só que somos uns porraloucas que gostam de música sensível... Ai, como é que vou me exprimir sem ofender as pessoas? Têm uma galera que encarna uma coisa meio Joy Division, meio gótica, meio dark, e fica uma coisa meio "afetadinha". Eles nunca gostaram muito da gente porque sempre fomos escrachados... Aí as pessoas ficam com o pé atrás com a gente. Mas hoje em dia somos mais educados. Voltamos a nos corresponder com todas as guitar bands, com essas pessoas que a gente não tinha muito contato, principalmente com a galera do Rio. Eu na verdade estou falando basicamente dessa galera do Rio. Hoje em dia sou super amiga do Lariú e adoro as bandas: sempre gostei de Second Come, Cigarettes, Pelvs, sempre defendi essas bandas...

Mudando de assunto: o artista deve expressar apenas seu sentimento ou as "coisas do mundo"?
Acho que o artista deve exprimir os sentimentos dele. Isso é uma coisa da modernidade: somos muito egoístas, preocupados apenas com nós mesmos. Você não se preocupa mais com o "social", o "comum", o "comunitário". Eu acho que é uma tendência e acho que é uma coisa legal. Eu expresso com minhas letras coisas totalmente pessoais, não tenho mais a pretensão de descobrir o mundo. Entender o mundo com seus olhos é uma coisa; explicar o mundo para os outros é outra. Eu não quero explicar o mundo. Existe o que é comum, aquilo que todo mundo sabe que é bacana, as coisas corretas... Você entendeu onde eu quero chegar?

Mas isso não quer dizer que existam apenas as interpretações da realidade. Afinal, existem os fatos...
Existem alguns fatos, porque se ficar tudo muito subjetivo demais, peraí! Senão subverte demais...

Tem que ter um critério mínimo...
Um critério mínimo! Eu concordo com o critério mínimo. E tento ver os dois lados da coisa.

O mundo faz o indivíduo egoísta.
Exatamente. Lógico! É uma tendência. As coisas se encaminharam de tal forma que hoje em dia as coisas são assim. O mundo tomou um certo rumo e as pessoas hoje, nos anos noventa, são de um certo jeito... Geração X, né? Isso existe, cara! Isso existe, é verdade. Eu me sinto parte de uma Geração X de alguma forma: aquela galera jogada no meio de um monte de tendências... As pessoas hoje em dia não são civilizadas, elas não sabem mais viver em sociedade, não sabem mais dar um "bom dia", manter sua rua limpa, cuidar do que é do próximo como se fosse seu, cuidar da sua cidade como se fosse a sua casa. As pessoas perderam essas noções básicas de civilidade.

O homem se realiza no outro. Não é a estupidez da "minha liberdade termina onde começa a sua". É "a minha liberdade depende da sua"...
Mas ninguém vive bem junto, esse é um outro papo que a gente podia passar horas conversando: Por que a cena independente brasileira nunca vai pra frente? Porque as pessoas se odeiam. Se as pessoas convivessem em harmonia dentro de um mesmo recinto nós iríamos ter muito mais shows, muito mais zines, lojas de disco, muito mais tudo, cara! Mas você chega num lugar e vai encontrar com um cara que vai te dar um tiro pelas costas... Afe! Então foda-se: essa gente merece o que tem. Fica reclamando mas não faz nada para mudar, então fica aí. Foda-se, cansei.

Momento auto-biográfico: Alê por ela mesma.
Eu me vejo assim: uma mina chata e mala. Isso tudo desde que lí uma Melody Maker que tinha uma review da demo do Bikini Kill, e encarnei nessa viagem. E conheci também umas pessoas que fazem publicações de zines e tal, e me posicionei de uma forma anti-sexista. E isso tem mais ou menos quatro anos. Sempre vivi num mundo de homens, sempre, sempre, sempre... O mundo punk sempre foi muito machista! E muito sexista, por incrível que pareça. Mas a gente se acostuma, né? Porém, nunca fui zoada, nunca fui maltratada, sempre fui respeitada de alguma forma. E hoje em dia eu tento me posicionar muito mais. Porque cresci também, tenho 25 anos, não tenho mais paciência. Acho que trabalho pra caralho, sou tão inteligente quanto um monte de gente que está por aí, então acho que tenho que me posicionar sim. Hoje em dia a mulher não tem que engolir muita merda não! As pessoas são mais esclarecidas, o momento é de igualdade, então eu não admito. Não admito sexismo de forma alguma! E sou até meio chata com isso, boicoto algumas bandas, acho tudo uma bosta, vejo sexismo onde até de repente não tem. Eu sou chata demais.

Só para fechar com estilo, eis um depoimento atual da Alê, colhido poucos dias antes da edição final dessa entrevista...
Doze anos e duas filhas depois, posso dizer que sou uma pessoa feliz, tranquila e segura do meu espaço no mundo. Tenho a clara sensação de que meu dever foi cumprido na história do rock brasileiro e tenho certeza de que o Pin Ups foi responsável pelo surgimento de uma cena indie que existe até hoje. Como o Zé e eu trabalhamos na MTV, a gente tem a oportunidade de conhecer pessoas das novas bandas e é muito engraçado quando a gente descobre que grande parte delas conhece e tem admiração e respeito pelo Pin Ups. Dá aquela sensação de que realmente valeu a pena - pra gente eu sei que valeu e muuuuuuuuuuuuito - mas de que valeu pra mais gente também!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ZINISMO ENTREVISTA: VIVISICK

Depois da entrevista com Fuck On The Beach, ainda restou um tempinho livre para bater um papo com meu amigo Yuki, baixista de uma das mais rápidas bandas japonesas de nome: VIVISICK. O mesmo responde questões sobre temas variados dentro do hardcore e de todo tipo de fronteiras que nos cerca. Zinismo orgulhosamente apresenta: VIVISICK.





Olá Vivisick, como estão?

Olá. Meu nome é Yuki, sou baixista do Vivisick. Nós estamos muito excitados de poder retornar ao Brasil novamente.

Legal, Yuki. Sou Eduardo Boqaa, integrante do Zinismo e colaborador do Valepunk. Vocês já vieram ao Brasil numa tour ao lado dos Mukeka di Rato e dos Hellnation... E Isso rendeu um lindo DVD, essa nova tour também promete o mesmo?

Obrigado. Eu também penso que esse DVD foi grandioso a ponto de mostrar sobre o Brasil para punks japoneses. Agora nós não temos nenhum planejamento sobre gravar um DVD sobre essa nova Tour brasileira novamente. Todavia, iremos gravar todas gigs. Talvez possamos usar isso quando fizermos um vídeo clip ou num vídeo como: HISTÓRIA DO VIVISICK há mais de 10 anos atrás.

O que vocês acharam daquela última tour e o que esperam dessa nova ?

"DU CALALHO"! Nós fomos a muitos países para turnês depois dessa primeira vinda ao Brasil, mas a tour por aí foi numéro 1, grandiosa tour e grandiosa experiência. Eu posso dizer que as pessoas são foda, comidas e bebidas são foda, shows foda, visão foda... Tudo foi foda!

Como foi receber o Mukeka di Rato no ano passado na terra do sol nascente?

Tour realmente grande. Excursionar no Japão é muito mais difícil que excursionar em outros países. Nós não tomamos banho, temos que dormir em Van mais que metade dos dias de todo itinerário da tour, temos que dirigir muitas horas mesmo durante madrugada, etc. Contudo, OS CARAS DO MUKEKA NUNCA NOS DISSERAM ALGUMA INSATISFAÇÃO. Eu penso que brasileiros tem uma determinação muito forte, grandiosa força de vontade. E acredito que eles puderam desfrutar da cena japonesa de Hardcore, assim como nossa cultura. Foi uma turnê realmente impressionante.

Atualmente têem excursionado por quais países?

Depois do Brasil em 2004, nós fomos aos Estados Unidos, Indonésia, Cingapura, Malásia, Filipinas, Tailândia, República Tcheca e Áustria.

Essa questão foi feita pelo Quique, guitarrista do LEPTOSIROSE: -Vocês têm noção que serão ao lado de Handsome e Fuck On The Beach, as primeiras bandas japonesas a excursionar pelo nordeste do país?

É uma grande informação para nós. Nosa última tour pelo Brasil, nós fomos ao Sul e também foi muito foda. Estou triste por que não iremos lá nessa tour, mas estou ansioso para conhecer esses novos lugares.





Vocês são fãs de futebol? Quem lidera a J-League atualmente?

Eu gosto de futebol, mas não sou um energético fã... Sobre a J-League, o time mais popular é o Urawa Red Diamonds (Reds). Há muitos torcedores fanáticos e há muitos bons jogadores no Japão.

São Paulo FC é o maior time da América do Sul ao lado do Boca Juniors, mas o Flamengo tem a maior torcida. Qual é o maior time brasileiro no Japão?

Eu penso que o Flamengo é o time mais popular no Japão. Por que Zico é o jogador mais famoso e respeitado no Japão. Caso ele não tivesse ido ao Japão, penso que a J-League talvez nem tivesse sucesso. Ele era chamado pelos Japoneses por KAMISAMA ZICO. Isso quer dizer: DEUS ZICO.

Tem um tal de “Kamisama” no Dragon Ball Z também! Ehehe... Quais as bandas preferidas de vocês?

Muitas. No Japão temos uma porrada de excelentes bandas novas. Sobre as quais escuto, recentemente estou alucinado de ouvir hardcore velho das Filipinas como: DEAD ENDES, GI, IOV, etc. Realmente foda e de alta qualidade. Particularmente eles foram a grande surpresa entre as bandas dos anos 80 na Ásia, exceto no Japão.

Aqui em São Paulo tem um bairro chamado Liberdade, onde tudo tem a ver com a cultura oriental, vocês já ouviram falar ou pensam em conhecer?

Yeah, eu conheço e nós fomos lá na tour de 2004. Foi uma visita maravilhosa para nós. É como Japão, mas aí no Brasil e há brasileiros caminhando... Gostei dessa experiência. E recentemente me interessei em estudar a história de imigrantes japoneses no Brasil. Espero que eu possa encontrar Nipo-Brasileiros e conversar sobre isso com eles aí.






O que é uma banda punk/hardcore nos dias de hoje? E vocês se consideram uma banda de punks?

Há muito PUNK no mundo hoje em dia, e eu penso que isso é uma coisa boa. Nós nunca dizemos como o punk dever ou não ser ser, tal como: “não deve comer carne, não deve ganhar dinheiro, deve atacar o governo por que punk bla bla bla...etc, etc, etc". Nós não somos macacos adestrados. Eu gosto da atitude punk PRA VALER, mas por outro lado, penso eu que isso soa apenas como palavras de promoção. Eu posso ver muitos caras: Eles querem ser especiais, mas são caras normais dentro de uma cena punk que eles pensam ser “especial”. Hmmm... TENHO DIFICULDADE DE EXPLICAR EM INGLÊS por que sou Japonês hehe.

Eu entendo, Yuki. Tá foda traduzir aqui também, pois não sou um ás do inglês também, mas você tá indo bem... Continue!

Caso as pessoas nos digam: “Vivisick não é PUNK”, nós realmente daremos com os ombros. Não há problema nisso. Espero que você possa ler uma de nossas letras, a sentença na canção; “ We Are Not Punk” de nosso primeiro álbum pela LAJA. Este é nossa honesta reflexão.


O que vocês escutam diferente da sonoridade que estão habituados?

Eu não escuto muita coisa além de muito PUNK. No entanto, eu gosto coisa pop velha do Japão, rock’n roll americano dos anos 50, pop dos anos 80 como Madonna, metal como Thrash Metal dos anos 90, metal de Los Angeles como MÖTLEY CRUE, etc. E gosto também de Samba brasileiro, Bossa Nova, canções românticas como Roberto Carlos desde a última tour em 2004 – hehe.

Imagino quem apresentou Roberto Carlos para vocês hehe. Mudando de assunto, como o Japão tem reagido em meio à crise econômica mundial?

Posso ver muitas situações ruins por todo o mundo através de informações e notícias via Internet. Eu sou um trabalhador de construção, um construtor, mas muitas pessoas perderam seu trabalho aqui também... Não posso dizer nada exceto para termos esperança de que isso passe mais breve possível. ]

O único zine japonês que conheço é a Doll Magazine, que se compara à Maximum Rock’N Roll em importância. Quais outros zines circulam na atual cena?

Eu não posso dizer qual seria o melhor zine, pois existem muitos pontos de vista diferentes de cada zine. No entanto, agora penso que as pessoas estão parindo uma sociedade na internet aqui, muitos zines estão começando gradualmente como no passado. Penso que isso é uma boa tendência.

Aprenderam alguma expressão em português?

Yeah, muitas. Iremos mostrar a você na tour! Hehe.



Essa entrevista foi “DU CALALHO”, Yuki - hehe. Obrigado pela atenção a todos do Vivisick. Aliás, quem teve a manha de ler até o final, procure ajudar de alguma forma postando os cartazes em seu flogão brasil, no seu “flicts”, onde vc quiser convidando amigos pro show no boca-a-boca ou por esses meios de divulgação. Apóie o hardcore, já tem gente demais atrapalhando! Toda ajuda é muito bem vinda. E valeu mais uma vez aí, Wlad e Zonapunk. Acredito que esta será uma tour memorável. Espaço é de vocês! Luz!!!

Muitíssimo obrigado. Nós realmente somos muito gratos de poder voltar ao Brasil novamente. Por favor, ouça nosso disco antes da Tour. “Origadô! Nos somos FILHOS DA PUTA DO JAPAO!”

PS: "Desastre do Terremoto Fudido Brasil Tour '09" começa hoje em Campinas com as bandas da tour plus DISCARGA. Mais infos no hotsite: http://www.laja.com.br

PS2: Fiquem a vontade para reprodução dessa entrevista. Possívelmente entrará no ar daqui uns dias pelo Zonapunk, assim como ocorreu com a entrevista anterior.

Se tiver a fim assista os japas em ação aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=msOUyET6icw&hl=pt-BR