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sábado, 5 de outubro de 2013

JOACY JAMYS



Joacy Jamys era um cara hiperativo. Sempre estava produzindo alguma coisa: seja na sua banda Estrago, nos seus zines Sociedade dos Mutilados, Não Sistema!, Grito?, subindo alguma coisa em seu site, organizando o grupo SingularPlural (anteriormente chamado de Grupo de Risco), manifestando-se contra o sistema, ou mesmo fazendo alguma ilustração para alguma banda ou zine. Nas horas vagas até dava aulas de histórias em quadrinhos.

Ele deve ter colaborado para 90% dos zines dos anos de 1990, sempre tinha uma tira ou HQ sua (geralmente a mesma em diversos zines diferentes). Nos meus zines coloquei diversas delas. Nenhuma exclusiva, exceto a lindíssima capa do Aaah!! #5.

Na época em que fez essa capa, ele me mandou a ilustração original, a qual guardei por muito tempo em minhas coisas. Mais de dez anos depois, já conversando com ele via e-mail, comentou que estava montando uma coletânea que possivelmente sairia em formato de livro e estava recolhendo materiais que produziu. Comentei com ele sobre o original e ele gentilmente me pediu e eu prontamente enviei. Dois meses depois, recebo a notícia de que ele foi acometido por um AVC que o levou para o além. Fiquei anos batendo a cabeça para saber do que se fez com esse material, mas até hoje não obtive uma resposta sobre.

Anos mais tarde (mês passado) recebo em minha casa a primeira edição da publicação Monstros do Fanzine, lançado pela editora independente AtomicBooks, que é inteiramente dedicada a Joacy Jamys! E não é uma publicação qualquer: são 136 páginas dedicadas ao artista radicado em São Luis/MA, com tratamento de imagens, papel especial e impressão magnífica.

Capa da primeira edição da série Monstros dos Fanzines dedicada a Joacy Jamys
Ilustração para a banda
The Power of The Bira

A publicação lançada em setembro de 2013 apresenta diversas fases e estilos de Jamys: desde quando ainda estava engatinhando nos rabiscos, passando pelos traços mais sujos, chegando até um estilo mais maduro, o qual lhe rendeu o título de “Moebius brasileiro”. Além das diversas tiras, HQs, capas de demo-tapes e zines, logotipos e charges, ainda tem um artigo de Gazy Andraus, uma entrevista de 2004 e a apresentação de Henrique Magalhães.

O editor Marcos Freitas acertou em cheio em inaugurar essa publicação com um artista tão eclético e polêmico que, além de ser um artista underground ímpar, era uma grande pessoa, conectada com tudo que acontecia ao seu redor e no mundo e sempre disposta a ajudar de alguma forma.

Um importante registro feito de forma bastante profissional (mais que merecido) e que serve para os velhos relembrarem a arte desse artista que não teve o reconhecimento do “grande público” na sua época e para os mais novos se inspirarem num trabalho que não foi agraciado por mesas digitais ou programas de aperfeiçoamento de imagens.





segunda-feira, 19 de agosto de 2013

FANZINE NA EDUCAÇÃO

O zine está perdendo aquela imagem marginal que sempre o acompanhou. Aos poucos, está deixando de ser "a revistinha da turma" ou "jornalzinho punk" e sendo encarado com mais seriedade.

Uma das conquistas é ele ser reconhecido como uma ferramenta pedagógica por educadores e professores e, a cada dia que passa, mais relatos de experiências envolvendo os zines são apresentados para o público, geralmente em forma de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) ou artigos para eventos e seminários de Educação. Porém, ainda são poucas as publicações em formato de livro.

Renato Donisete é um dos zineiros mais ativos e o seu Aviso Final é um dos zines mais antigos em circulação no país, com mais de duas décadas. Alheio às redes sociais e à badalação do mundo virtual, utiliza a internet apenas para divulgar o lançamento de seus zines e eventos de amigos em seu Fotolog. Isso não representa um repúdio ou resistência, mas porque a vida de professor de escola pública não permite ficar muito tempo se divertindo em frente ao computador.



O professor de Educação Física iniciou o trabalho com zine com as turmas do Ciclo II na EMEF Presidente Campos Salles em 2008, quando a proposta pedagógica inovadora baseada na Escola da Ponte[1] passou a ser aplicada na escola localizada no bairro de Heliópolis (a maior favela de São Paulo) e foi desenvolvida até 2013, quando foi transferido para outra unidade.

Com o Cadernos de Estudos de Educação Física desenvolveu diversas propostas que envolvia a área de esportes, cuidados com o corpo e condicionamento físico, em um trabalho interdisciplinar com outras matérias, como História e Geografia. “Eu me utilizei deste formato fanzine para tratar questões pertinentes a comunidade escolar inserida, onde o movimento humano tenha sentido e significado”, diz o professor.

O relato dessa experiência acaba de ser lançado em formato de livro. Fanzine na Educação: algumas experiências em sala de aula explica como foi possível desenvolver o trabalho de pesquisa, leitura e escrita em uma disciplina que geralmente é vista como "lazer" ou mesmo para "domar" os alunos mais indisciplinados. Nessa publicação, lançada pela editora Marca de Fantasia, Donisete quebra esse preconceito e os paradigmas cristalizados pelos professores de escolas públicas, juntado duas paixões do autor: a docência e os zines.

A publicação acaba de sair do forno e, como é tradicional na Marca de Fantasia, foi produzida, impressa, montada, costurada por  Henrique Magalhães, que vai lançá-la oficialmente na Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, nesta semana na USP, em São Paulo. Acesse a programação completa do evento aqui.

O fanzinato está em festa por mais um registro histórico, que contribui significativamente para registrar a histórias dos zines no Brasil e (por que não?) para a Educação. Que venham mais!

Fanzine na Educação: algumas experiências em sala de aula
Renato Donisete Pinto
Série Quiosque, 29.
João Pessoa: Marca de Fantasia: 2013. 56p. 13x19cm. R$12,00.
ISBN 978-85-7999-083-0


[1] A Escola Básica da Ponte (em Porto, Portugal) é uma escola com práticas educativas que se afastam do modelo tradicional. (…) A sua estrutura organizativa, desde o espaço, ao tempo e ao modo de aprender exige uma maior participação dos alunos tendo como intencionalidade a participação efetiva destes em conjunto com os orientadores educativos, no planeamento das atividades, na sua aprendizagem e na avaliação. Não existem salas de aula, no sentido tradicional, mas sim espaços de trabalho, onde são disponibilizados diversos recursos, como: livros, dicionários, gramáticas, internet, vídeos… ou seja, várias fontes de conhecimento. (Fonte: http://www.escoladaponte.pt/ponte/projeto)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

FANZINEIROS DO SÉCULO PASSADO - CAPÍTULO 3

A saga chega ao fim: Márcio Sno completou sua trilogia Fanzineiros do Século Passado, lançou o DVD devidamente encartado num fanzine (e poderia ser diferente?), organizou algumas premiéres por aí e agora disponibiliza no Vimeo.

Sem mais delongas, zine-se:

Fanzineiros do Século Passado - Capítulo 3 (full) from Márcio Sno on Vimeo.

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terça-feira, 4 de setembro de 2012

OKUYAMA RULES!


Conheci Rodrigo Okuyama por um acaso. Estava para lançar o primeiro capítulo do meu documentário Fanzineiros do Século Passado no 1º Ugra Zine Fest em 2011. A programação do evento estava repleta de atividades para o dia, mas confesso que não dei muita atenção para a oficina de encadernação que esse rapaz iria desenvolver.

Estive com ele alguns momentos antes, no mesmo momento em que conheci pessoalmente a Fernanda Meireles. Okuyama estava mostrando um boneco de papel que carregava em seu bolso (que mais adiante transformou-se na história dobrável dO Nadador). Não era possível... Aquele cara tinha algum problema: como pode uma pessoa carregar um personagem dentro da carteira? Não tive dúvidas: teria que desvendar um pouco mais o universo dele. Então, na semana seguinte, estava em seu apartamento na Rua Cunha Gago para registrar o depoimento para o documentário e também para conhecer um pouco mais de sua produção.

Ao chegar, o sofá estava tomado por capas de zines com impressões de estêncil em embalagens de tetra pack. "Estão secando", alertou o descendente de japoneses. Os materiais que utiliza em suas produções estão por toda a sala, juntando-se a bagunça básica que toda casa de solteiro merece. Além dos manjados papéis, tesoura, régua, cola, fundamentais para a produção de um zine, naquele meio também era fácil encontrar furadeira, alicate, linhas, embalagens de leite vazias e agulha de costura. Realmente esse cara não é normal. Veja abaixo o clipe "Costurando com Rodrigo Okuyama", que gravei nesse dia:



Mesmo assumindo o custo de fazer uma publicação diferente e quase exclusiva, ele não se importa em ser cliente assíduo de papelarias, lojas de artes e aviamentos, além de gastar boa parte de seu tempo imprimindo, montando, costurando e distribuindo seus materiais.

O que mais chama a atenção em seu trabalho é diversidade de técnicas que utiliza: tintas dos mais variados tipos, papéis de gramaturas e texturas infinitas, materiais alternativos e reaproveitados, impressão com estêncil, carimbos de E.V.A. (produzidos por ele), além de dobraduras diferentes e muito complexas.

Para exemplificar a complexidade de seu trabalho, na ilustração ao lado (cartão de visita), utilizou dois tipos de papéis, impressão a laser e estêncil, além de tinta de tecido, spray e puff. Pense em quanto tempo a pessoa precisou para produzir esse material...


Embora seja um cara tímido e reservado (bem característico dos orientais), Rodrigo é inquieto e com um senso de humor ímpar. Sempre está produzindo algo (diferente, é claro) e nunca (nunca!) seguindo pelo caminho mais fácil: está sempre experimentando técnicas e materiais diferentes em suas produções. Um exemplo que reúne tudo isso é a história Outra Festa no Céu (abaixo) que faz parte da série ZineZinho, onde usa a impressão a laser, o acabamento com carimbo e a montagem com uma dobradura que só ele consegue fazer. Além do humor capaz de arrancar gargalhadas em situações simples.


Seu trabalho pode ser conferido pelo Brasil afora. Entre outras publicações, os traços de Okuyama dão as graças no livro "Horror, Humor & Quadrinhos - as Vítimas do Mico Contra o Trio do Terror", com texto de Heloísa Prieto.


Como comentei, esse cara é muito inquieto e, na época do lançamento da terceira edição do zine La Permura, construiu um móbile que faz alusão aos personagens que ilustraram a capa dos zines. Além de todo o cuidado peculiar que tem para construir os bonecos tridimensionais, também teve todo o cuidado de calcular o peso dos objetos pendurados em varas de bambu. Um dos personagens também funciona como uma luminária. Esse material ficou um bom tempo exposto na livraria HQMix e, quando a loja mudou de local, Okuyama me contemplou com essa obra que hoje dá um toque todo especial para a minha sala. Morram de inveja!

A cada dia esse cara aparece com uma publicação diferente, tanto que é muito complicado colocar todas nesse post. Recomendo que visitem o seu Flickr.

Durante o Mês da Cultura Independente promovido pela Gibiteca Henfil, Rodrigo Okuyama vai conversar com o público em 6 de setembro, às 20h. Nessa oportunidade, além de outros assuntos, vai falar um pouco sobre a sua forma peculiar de produzir. A entrada é grátis. Uma ótima oportunidade para conhecer um pouco mais do seu trabalho.

E, como se não bastasse um cartaz para divulgação, ele fez três. Claro.