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terça-feira, 8 de junho de 2010

Vale a pena ler

Jeffrey Sachs hoje no Financial Times (sem link aberto):
Cinco recomendações de política económica, entre elas: os governos devem explicar à opinião pública e esta deve aprender que a política económica pouco pode fazer no curto prazo para gerar empregos de elevada qualidade; os investimentos públicos devem ser orientados para transformações estruturais a longo prazo, entre os quais se contam os "projectos verdes" como os associados à energia; os governos devem criar apoios sociais, sistemas de saúde e investir em educação; e os governos devem aumentar os impostos sobre os rendimentos mais elevados - e di-lo com a brutalidade de afirmar que têm de ter coragem para tributar quem lhes paga as campanhas.

Um diagnóstico:
"O facto relevante é que os Estados Unidos, Reino Unido, Irlanda, Espanha e Grécia [junto Portugal] sobreendividaram-se durante décadas, pelo que a queda no consumo não é uma anomalia que se deva combater mas sim um ajustamento que se deve aceitar"

E uma frase que sintetiza genialmente os limites actuais da política orçamental (que não existiam quando os mercados financeiros eram menos sofisticados, nos anos30 do século XX):
"(...) o resultado da política orçamental depende não apenas dos impostos e das despesas actuais mas também do que se espera que venham a ser no futuro".

Acrescento que a única política que pode impedir uma depressão é a monetária, moderada com os olhos no risco de inflação.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Europa dos défices e dos excedentes (externos)

Muito interessante a caixa que o FMI faz sobre as contas externas dos países do euro partindo da constatação de que a parir do lançamento do euro os países do Sul do Área do Euro (SAE) registaram um acentuado agravemnto dos seus défices externos enquanto os países do Norte da Área do Euro (NAE) viram os seus excedentes aumentarem.

E diz o FMI, os défices externos continuam importantes numa União Monetária - diria uma união monetária à La UE - sem governo centralizado, sem política orçamental única, sem liberdade de circulação de pessoas.

É ou não importante o saldo externo é um debate antigo em Portugal entre Cavaco Silva - sim é importante - e Vitor Constâncio - não, não é importante - na homenagem a Silva Lopes no ISEG.. Quer Cavaco como Constâncio continuam a pensar da mesma maneira.

Vejam-se os riscos que o FMI identifica - ou a morte lenta ou um ajustamento abrupto - e as terapias - apertar a política orçamental é o que tem efeitos mais rápidos - retirar poder de compra às pessoas e cortar despesas, ou seja, aumentar a poupança do Estado. Outra terapia, para quem tem recursos, é reduzir as contribuições para a segurança social - o equivalente a uma desvalorização interna.

Vamos ver as medidas que aí vêm.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Proteger Portugal com conversa

As autoridades europeis parecem estar a tentar proteger Portugal dos mercados, com conversa.

Sucedem-se as declarações de apoio a Portugal:
Não estando nos sítios em que estas declarações têm sido feitas, não consigo perceber o contexto. Mas face às sucessivas notícias internacionais que apontam Portugal como o próximo país a ter problemas de financiamento - a seguir à Grécia -, as reacções e declarações só podem ser suscitadas por perguntas colocadas pelos jornalistas económicos e financeiros.

O que se pode ler hoje na imprensa internacional:

- Debt Worries Shift to Portugal, Spurred by Rising Bond Rates no New York Times hoje de novo com o pós-título: Next Target: Portugal e, atenção, é o terceiro texto mais visto neste momento no site do NYT

- The Next Global Problem: Portugal  de Peter Boone and Simon Johnson com link feito pelo popular blogue do FT o Alphaville que por sua vez foi retirado do Economix.  E onde se olha para os números do envidamento português, com os empréstimos já a serem usados para pagarem juros, e se diz que At some point financial markets will simply refuse to finance this Ponzi game.

A conjuntura não me parece nada agradável. A hora da verdade, após mais d euma década, pode estar a chegar.

terça-feira, 23 de março de 2010

Ainda a Alemanha...

O que escrevi com o título "Ah se os alemães fossem às compras como nós..." tem gerado criticas e comentários, aos quais gostava de responder.

Primeiro as respostas gerais para quem me fez chegar as criticas oralmente, como Eva Gaspar. Tudo porque o que escrevi não é, nem de longe nem de perto, uma critica à Alemanha. Um país que merece o orgulho da Europa como se pode ler aqui, com quem os países europeus têm muito a aprender.

Só para dar um exemplo: teve a generosidade de partilhar o seu credível e forte marco connosco e o que exige da Zona Euro é aquilo que exige de si própria - disciplina financeira que garanta um euro estável e forte. E nós portugueses devemos também à Alemanha a consolidação da democracia.

Hoje Camilo Lourenço critica o meu artigo com título "Ah, se fôssemos mais produtivos!" Claro que só posso concordar com esse apelo.

Os apelos, "ah de os alemães consumissem mais" e "ah, se nós fôssemos mais produtivos" não são necessariamente exclusivos.
Nós cometemos erros de políticas e obviamente precisamos de ser mais produtivos e menos consumistas, mais disciplinados financeiramente.

Mas há um ponto sobre o qual vale a pena pensar: a Alemanha pode estar a usar os custos de produção - os custos unitários do trabalho - da mesma forma que no passado se usaram as tarifas aduaneiras – e a China usa a sua moeda – para “caçar o vizinho”. Esquecendo-se que se todos roubarmos o vizinho ficamos todos na mesma ou mais pobres.

Não é obviamente o governo alemão que o está a fazer, mas é sim o resultado de milhares de decisões de empresas em cooperação com os empregados. Mas o efeito pode ser o mesmo: uma escalada de reduções de custos traduzida em cortes salariais que, não sendo aceites em alguns países com tradições de contestação, conduzirão necessariamente à instabilidade social e política.

Só vejo perdedores se o caminho for pela redução de salários.
Vejo uma Europa ganhadora se houver uma aproximação com movimentos de convergência com origem nos credores e nos devedores.

Uns e outros contribuem para a correcção dos desequilíbrios, se os salários estabilizarem nos países que perderam competitividade, como Portugal, e se a procura interna se expandir, em países como a Alemanha.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mais poupança, aconselha FMI

Given Portugal's external imbalances, household savings need to rise over time.
Ainda as receitas para o défice externo.
Recomendação do FMI na avaliação que faz à economia portuguesa no quadro do artigo 4º dos seus estatutos.

Aquele que foi classificado como excessivamente pessimista em Abril - eu própria cometi esse erro - acaba por se revelar hoje como o que estava mais perto do que se ia passar em Portugal ao prever na Primavera um crescimento de 1,3% para este ano. O Banco de Portugal prevê agora 1,2%.

E o FMI prevê que em 2009 o crescimento será inferior ao de 2008. É a primeira instituição a prever que Portugal não retomará no próximo ano.

Receitas (im)possíveis para o défice externo

Ainda a propósito do défice externo escreve João Pinto e Castro:

Acontece, porém, que o endividamento razoável das famílias pode conduzir a um endividamento irrazoável do país.

E defende que só o desemprego pode corrigir a situação. Não me parece que seja só essa a via de ajustamento. Aqui ficam outras:

1. Compra de activos por parte do exterior - empresas e imóveis passam a
ser detidas por estrangeiros. Sim, é verdade que se assistirá a um défice na
balança de rendimentos por via da transferência de lucros/dividendos para o
exterior. Mas, se essas aquisições aumentarem a produtividade das empresas e se
aumentarem as exportações o défice de mercadorias pode diminuir (Sim, há muitos
se's, pode haver desemprego mas não tanto quanto numa situação de recessão por
restrição de crédito)

2. Investimento Directo Estrangeiro em projectos de produção de
transaccionáveis/ produtos que se exportem. Mesmo efeito do caso anterior, com
a vantagem de serem novos projectos e que geram emprego e não desemprego.Compreende-se o esforço que governos sucessivos têm feito para atrais projectos de produtos "exportáveis". Com dimensão apenas se conseguiu até hoje a Autoeuropa. O Ikea é o mais recente mas sem peso.

3. Aumento da poupança interna - hipótese apenas parcialmente viável face ao peso que já pode ter o serviço da dívida.


É mais fácil ocorrer o primeiro caso - tem estado a acontecer - que o segundo. O investimento de estrangeiros em Portugal tem sido limitado. Mas qualquer um deles seria a via mais rápida de aumentar a produtividade, o único caminho de reduzir estruturalmente o défice externo, já que a qualificação leva tempo e tem resultados incertos.

O caso do desemprego pode ocorrer por restrição de crédito via quantidade ou preço e/ou pela incapacidade de fazer face ao serviço da dívida por parte das empresas.

A recessão em si não resolve o problema estrutural. Já tivémos várias que apenas reduziram o défice temporariamente. Em 2003, por exemplo, houve aumento de poupança, para logo a seguir começar a cair.

Cavaco Silva e o investimento público

O que pensam do défice externo Cavaco Silva e Vitor Constâncio.

Especialmente interessantes, no actual contexto político, as afirmações de Cavaco Silva a propósito do investimento:
"O ajustamento será tanto mais forte e penoso quanto mais o endividamento externo tenha sido encaminhado para a expansão do consumo ou para investimentos de baixa rentabilidade."

A preocupação com a rentabilidade dos investimentos públicos anunciados pelo Governo têm como referência essa racionalidade. O que justifica igualmente a mensagem de Manuela Ferreira Leite a esse propósito - pode não ter sido a melhor forma, já que transferir esses recursos para apoios sociais também não aumenta a rentabilidade.

Na verdade, os investimentos públicos realizados nos últimos dez anos parecem ter sido incapazes de aumentar a nossa capacidade de crescer mais rapidamente, isto é, a nossa produtividade.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Défice externo é importante?


O défice externo está a atingir uma dimensão que nos faz recuar ao segundo e último plano de estabilização do FMI em 1983.
Em 1982 o défice externo atingiu os 11,8% do PIB. Uma consequência de uma política expansionista no segundo choque petrolífero em 1979. Sem divisas, o país teve de recorrer de novo ao FMI, provocando-se uma recessão que levou ao reequilíbrio externo.
O PSD tem feito do défice externo o centro da sua preocupação. António Borges, agora vice-presidente do PSD, disse estar assustado com o endividamento externo. Uma das reacções às previsões de Verão do Banco de Portugal.
Mas será que o défice externo é um problema?
Sim, caso continuemos interessados em ter a propriedade de activos situados em Portugal.
Poucos se importam com o défice externo do Alentejo ou de Trás-os-Montes. Mas a quem pertencem boa parte dos activos que lá estão? E qual o nível de vida dos seus habitantes? Por exemplo, Trás-os-Montes vai ter uma auto-estrada sem portagem paga pelos contribuintes de todo o pais, ou seja, sobretudo Lisboa e Porto. Queremos nós depender da boa vontade de, digamos, alemães?
O actual Presidente da República Cavaco Silva considera que o défice externo é uma preocupação. Disse-o quando ainda não assumia o cargo.