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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Uma semana...

Uma vida inteira.
Eu passei uma vida inteira vivendo como se ela nunca fosse ter fim.
Pois ela me parecia eterna.
De uma força tão imensa e tão intensa, que mesmo ela envelhecendo, mesmo com a tal demência frontal, eu tinha certeza absoluta que ela estaria alí para sempre.
E estará, eu sei.

Mas há uma semana precisei aceitar que ela se fosse.
Aliás, mais que isso.
Do dia que ela entrou no hospital, com seus 88 anos, eu mesmo sem querer aceitei.

Engoli o tempo, a idade, a carne já enrugada e fraca.
Engoli o choro.
Muito.
E hoje engulo a saudade.
Todo dia um pouco. Aos litros.
Mas não me engasgo com ela.
Aliás, a vida toda achei que engasgaria.
Mas não.

Dona Elisa foi um exemplo tão exemplo, de tudo, nessa vida, que fica difícil ter um sentimento assim, claro, sobre ela.
Viva ou morta.
Ela, só ela, era um tratado inteiro.
Um evento.
Uma luz.

Tinha a gargalhada mais deliciosa desse mundo e quando chorava, chorava com a alma não com os olhos.
Tinha histórias. Uma porção.
De amores impossíveis, de cura, de família, de reza, dos pais.
Era italiana, daquelas nonas legítimas, matriarca de nascença.
Chama Isaac de Giuseppe, mas nunca me explicou porquê.
Costurava com as linhas e com um amor inexplicável que tudo unia.
Não desgrudou de seu crochê até o último segundo.
Era teimosa, com orgulho.
Despertava o que podia de bom nas pessoas e não houve um ser (humano ou não) que não tivesse se apaixonado por ela.
Aliás, minha vozinha era um anjo, um ser iluminado, sensitiva que só.

Enquanto pôde, ligou para toda a família, filhas e netos, toda a noite, e não dormia enquanto não abençoasse a todos nós.
Aos vezes me ligava com a certeza de que eu precisava de suas palavras.
E todas essas vezes acertava.
Tínhamos uma ligação única, de pensamento, de amor.
Segurou minhas mãos em todas as dificuldades que passei na vida.
E riu comigo todas as minhas alegrias.

Foi a confidente mais eficaz de todas que ainda possam vir existir.
Foi as palavras sábias que precisei ouvir.
Foi a vida, em vida.
E ainda é.
É tudo o que eu sei sobre ser mãe. E espero que seja sobre o ser avó.
Me ensinou sobre aceitar, contornar, desviar e encontrar caminhos para continuar.

Ela continuou.
Aceitou tudo o que lhe foi imposto e não caiu.
E se caiu, levantou.
E em todas as vezes, levantou firme, forte, sábia.
E com a mesma sabedoria, quando viu que era a hora, bufou.
E como quem diz "deixa pra lá, já cumpri todas as minhas missões aqui", foi viver melhor.
Descansar.

Obrigada, vó.
E se "Deus aperta mas não enforca", mesmo, confere aí pra mim e dê um jeito de me contar.

...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

mais uma sobre religião

Domingo, dia das mães, Isaac perdeu mais uma bisa.
Esta bisa era a mais presente.
Fisicamente e por tantos ensinamentos. Ela estava sempre presente.
A perda foi minha, confesso, minha vozinha, que tantas vezes citei aqui, foi viver uma vida melhor.

E depois de velório, enterro, fui buscar filhote na casa da avó.
Ele me abraçou apertado e por preguiça, respeito ou nada pra dizer, nada falou.
Nem perguntou, cutucou, nada.

Logo minha sogra questionou se havíamos contado sobre a bisa.
Ele ouviu e ficou calado.
Lógico que contamos.
Ele estava sabendo e me apoiando nos dias que fui ao hospital ou chorei junto a minha mãe.
Isaac sabia do jeito dele o que estava acontecendo. E me sorria em cada vez que eu chorava.

Filhote ouviu o questionamento e deixou aquele olhar longe.
Refletiu por momentos.
Olhou para cima e para baixo e tocou no assunto:

- Mamãe, agora que a bisa se foi, ela vai rezar pra que lado?

- Como assim?

- Ela vai rezar pra cima ou pra baixo?

(lógico, nós rezamos para o papai do céu, que está no céu, né? e a bisa, que foi morar lá com ele....)

- Ixi, Isaac, acho que ela vai rezar reto agora.

Ele olhou bem pra mim e balançou a cabeça, dizendo que aquilo fazia sentido.

E voltou a brincar.

...

sexta-feira, 19 de abril de 2013

mais sobre religião

daqueles papos que vale a pena registrar.


- mamãe, como surgiu o cajado do Jack Frost?

(se não entendeu a pergunta, abra uma nova janela e pesquise "A Origem dos Guardiões" no tio google. se entendeu, pule para a próxima linha deste post)

- ele não ganhou o cajado do Homem na Lua?

- é, ganhou...

silêncio.

e menos de um segundo depois, papo retomado:

- e quem é esse homem da lua?

- hummm... pode ser o papai do céu, não pode?

- não!

- não?

(danou-se... explica como hein?)

- não, mamãe.

- então quem será esse cara?

(esse cara sou eu, Rei????)

- eu acho que é aquele que lutou com o dragão.

(notas: não assistimos novela em casa. mas, adoramos sambinha do Seu Jorge, aquele lindo.)

- o são jorge?

- é. ele.

- pode ser sim filho. tem razão.

- é, mãe, mas me explica uma coisa?

(danou-se... e agora? ligo pra glória perez?)

- explico. o que?

- como é que esse são jorge levou um cavalo marinho lá pra lua?

- cavalo marinho? aaaa.... ele tem um cavalo sim, branco, que não é marinho. é cavalo de quatro patas mesmo, com rabo e crina.

- aaaa.... igual aquele que fica perto de casa com a carroça que pega lixo pra usar de novo (le-se reciclável)?

- isso.

- coitadinho.

- do são jorge ou do cavalo?

- do cavalo. morar na lua deve ser bem legal.

- também acho.

suspiro.

- e nós, mamãe? o que vamos aprontar hoje?

(filho de quem esse menino, meu deus?)

- ô amor... nós vamos levar um monte de carinho pra vovó. ela está bem triste hoje.

- é?

- é. a sua bisa, a mamãe dela que mora láááááá no outro país, agora foi morar com o papai do céu.

- porque?

- ela estava muito velhinha.

- velhinha quanto? 30?

(ploft! momento depressão aos 33)

- não, amor. velhinha com 100.

- cem?

- é. e ela foi morar com o papai do céu...

silêncio.
por dois segundos.

- eu fui ao parque hoje e meu tênis tá lotadaço de areia.

...




sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A aposentadoria e a morte

A dentista do Isaac é uma pessoa incrível.
Brava e bem humorada ao mesmo tempo, conquistou meu filhote ainda bem novinho.
Cuidou, brincou e fez dele uma crinaça de dentes saudáveis e lindos.
Mas acontece que a Querida Dentista não é lá tão mocinha.
E esta semana nos comunicou que está se aposentando.
Eu tentei antecipar o assunto, explicar um pouco sobre o fator previdenciário (mentira. da braba).
Ele entendeu o quanto quis e lá fomos nós.
Ela realizaou a última consulta e com lágrimas nos olhos disse dos seus planos de descanso, paz e menos bocas abertas.
Chorei. De uma maneira um tanto disfarçada, confesso, ao ver Isaac abraçar a dentista e se segurar, firme, na despedida.
No caminho do carro ele soltou um suspiro, derrubou os ombros e começou a chorar.
Sentido, tadinho.
Questionava o tempo, a mãe, a dentista e essa loucura de vida.
Deixei que ele colocasse pra fora.
Assisti mais um aprendizado.
E logo ele começou com suas perguntas.

- Mamãe, porque a Tia Dentista não quer mais ser a minha dentista?

- Ela quer filho, mas ela vai parar de trabalhar. Não será mais a dentista de ninguém.

- Nunca mais?

- Acho que sim, filho.

- Porquê?

- Isso se chama aposentadoria Isaac.

- Porquê?

- Aposentadoria é quando as pessoas já trabalharam muito e agora merecem um descanso.

- Ela fica cansada de ser minha dentista?

- A Tia Dentista ficou cansada pois já trabalhou muuuuuitos anos, sendo dentista de muuuuuuitas crianças. E sua também.

Ele ouviu tudo atentamente até a tolinha aqui cair numa armadilha sem volta:

- E ela está velhinha, precisa ter uma vida mais tranquila.

Olhos arregalados mode on.

- Então, mamãe (bico de choro e medo), a Tia Dentista Querida vai morrer?

- Não filho. Não vai morrer.

- Mas você disse que todo mundo morre. E morre quando fica velhinho.

Respira, respira, respira.

- Sim filho. É bem isso. Mas a Dentista não vai morrer agora. Ela só parou de trabalhar.

Isaac entrou no carro em silêncio.
E quieto ficou pensando na vida. Ou no fim dela.
Por um bom tempo ficou triste.
Eu fiquei na minha. Dando espaço praquilo tudo.
De noite ele tocou no assunto novamente:

- Quando você ficar velhinha e morrer eu vou ficar sem mamãe...

E ao ouvir a própria voz percebeu alí outra coisa:

- E quando EU ficar velhinho, um dia EU não vou existir mais.

Eu, tão pequena diante dessa verdade toda, só contribuí com o meu otimismo característico:

- É filho, mas isso vai demorar muito. Muito, muito, muito mesmo.

Amém, né?

...







terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Só não morri alí por que não podia (e também não queria)

Sai do banho todo cheirosinho, me mira bem fundo nos olhos e quebra as minhas pernas:

- Mamãe, você também vai ficar velhinha e vai lá morar com Papai do Céu?

Nó na garganta, aperto no peito, uma revolta com essa vida que é muito injusta e uma vontade alucinate de dizer "não, nunca, nunquinha, jamé", mas as coisas não são bem assim, né?

- Bom filho, todo mundo vai fazer um montão de aniversários, um dia vai ficar velhinho e vai morar com Ele sim.

Olhar pensativo e bico.

- Mas eu vou ficar sozinho? Sem mamãe????

Desespero interno: Memata, memata, memata, mas antes meabraça!

- Não filho. Ainda vai demorar muito pra isso acontecer e até lá você já vai ter sua própria família, sua mulherzinha e seus filhos todos.

Suspiro longo.

- Mas eu não quero ter filhos.

Revolta interna: "Como assim?????? E eu sem meus netos pra perpetuar a neurose que você não vai mais me deixar ter?????"

- E por que você não quer ter filhinhos?

- Porque eu não vou gostar se eu sair com eles e eles começarem a chorar.

Grito interno: MEU DELLLLLS! ISSO É CULPA MINHA, COM CERTEZA!!!!

- Mas ter filhos não é só isso, né Isaac? Temos as nossas brincadeiras, papinhos, livro, tudo, não é?

- É.

- E se eles chorarem você senta e conversa com eles.

- Que nem a gente?

- Isso. Como a gente. E funciona?

- Eu gosto.

- Eu também, filho, eu também. Aliás, a mamãe te ama muito.

- É. Mas por que o Pinochio está com esse bico?

.....


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Michael devia ter pedido historinhas para dormir

E então que ter um filho observador as vezes sempre todo dia toda hora nos deixa de queixo caído.
Mesmo eu me policiando pra não corujar excessivamente e nem ver tanto de extraordinário nos feitos da cria, tem horas que não dá pra segurar.
Fora que a sabedoria infantil, simples e direta, nos prega peças boas de se viver.
Babei? Já?
Agora conto o causo.

Cheguei na vovó para buscar Isaac e a TV estava ligada. Jornal passando.
Ele me deu um beijo e todo sério começou:

- Mamãe, eu peciso te explicar uma coisa.

- Iiiiiii..... vovó aprontou de novo - Pensei eu toda nervosinha, mas me segurei apenas olhando firme pra ele.

- Sabe o Michael Jackson?

- Sei filho. Ouviu música hoje?

- Não. É que o Michael Jackson tomou um remédio errado pra dormir e morreu.

E o que essa velha anda deixando meu filho assistir?????
Não. Não gritei nem tranquei a sogra na masmorra, mas dei sequência a conversa.

- É Isaac? Morreu?

- Morreu. Mas ele não pediu historinha pra dormir. Se ele tivesse visto historinha ele não tinha que tomar remédio.

E explicou assim, movimentando braços como se desse aula em uma sala cheia de universitários.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Steve, o cachorro, a minha avó e eu

Steve Jobs morreu.
"O" cara da Apple, é um ícone (e pai de quase todos os ícones) da minha geração.
Morreu de um dos males do século.
Seria irônico, mas é trágico.
O Iron Maden, nosso schnauzer, já está com 8 anos.
Cães da raça vivem 12.
A contagem regressiva começa mesmo que a gente não queira e ignore com todas as forças.
Minha avó, que é o ser mais querido do universo, já é bisa.
Está velhinha, mesmo o Alzheimer fazendo-a acreditar que não.
Some todas as informações acima.
Qual o resultado?
Uma mãe louca, pensativa, chorosa.
Medo da morte?
Nem tanto. Aceito e não sofro.
Mas cheia de dúvidas sobre como abordar esse assunto com a cria.
Naturalidade é a chave.
Ok. Sei e concordo.
Mas e aí?
Como é que faz?
Alguma de vocês já passou por isso?
Já teve esse tipo de conversa com os pequenos?

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