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segunda-feira, 6 de julho de 2015

pensamentos de quase-mãe*

*eu ainda me considero quase-mãe...
talvez eu me ache inteira-mãe um dia, mas por hoje, engatinho.
só que meu status é outro.
de acordo com as leis sociais e toda a burocracia, pari um dependente, tenho 01 filho do sexo masculino, menor de idade.
sei disso tudo.
e não uso o quase-mãe no sentido depreciativo.
uso pq acho que ainda há muito a se aprender.
bom, mas a questão é que eu tenho um capítulo na minha vida, que eu chamo de quase-quase-mãe.
eu não me considerava tentante, eu não me considerava mãe em potencial.
eu me achava mesmo uma azarada de carteirinha.
eu não conseguia ovular.
depois eu ovulava e não conseguia engravidar.
depois eu engravidava e não conseguia permanecer em tal estado de graça.
num looping.
duas vezes.
e como bônus, cirurgias, curetagens, toda a sorte de chatice hospitalar.
além disso, as pessoas me olhando com aquela carinha de cocker spainel asmático, isso sim me matava.
passou tempo pacas, eu sei.
até hoje aprendi muito (muito mesmo) sobre mim, meus limites, meus sentimentos, a força que tenho, sobre o poder e o controle que habitam nesta gordinha aqui.
fui presenteada com o menino mais bacana do universo. tenho a sorte e o prazer de educá-lo.
não me acho mais a azarada de carteirinha.
mas ainda me encontro com os pensamentos da época.
eles retornam.
me assombram.
e as vezes, até me acalentam.
é confuso sim, mas existe.
acontece que a gente supera, só que não.
a gente esquece, só que por um tempo.
entende, digere, mas nem tanto.
e vez ou outra se pega pensando em tudo aquilo.
como se fosse o capítulo de um livro de história, mas doído de ler.
eu passei muito tempo tendo raiva de mim. me achando com defeito.
me sentindo incompleta. um ovo podre.
achando que era uma dívida alta a ser paga.
e ainda gasto (ou perco) um tempo com isso.
vendo os segundos filhos.
vendo barrigas grávidas.
vendo TV.
não é inveja. não é mesmo. é uma coisa estranha.
fico muito satisfeita em ver a família alheia.
não tenho vontade de que a minha aumente.
acontece que eu fui marcada por essa fase.
profundamente.
fui marcada de uma maneira que só eu consigo entender. e eu mesma não consigo explicar.
eu sei que aprendi a lidar com essa carol que ainda mora aqui.
bem no fundinho, mas mora.
que as vezes aparece, mas some de novo e hiberna.
que me coloca no fundo do poço mas também me resgata de lá.
uma carol sozinha, sabe?
que suspira, se deixa chorar, mas se assusta.
e se esconde.

...


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Falando de perdas...


Já falei N vezes das amigas de infância que conheci pela blogosfera.
A Ceiloca é uma delas.
Queriiiida de tudo. Uma das grandes incentivadoras do "Viajando".
Mulher de palavras fortes. Firme nas idéias.
Enfim, admiro, sou fã.
Acontece que conversamos sobre o segundinho. Compatilhamos a vontade de aumentar a cria. Eu e ela.
Ceiloca saiu na frente.
Mas eis que eu, depois de um tempo (ai esse tempo), me deparo com posts sobre aborto.
Triste verdade.
E depois de ler tudo o que minha querida amiga desabafou no canto dela, me vi, assim, com vontade de falar sobre isso também.
Percebi que ainda tem muita coisa aqui querendo ser colocada pra fora.
Já postei sobre as duas experiências.
Já conversei com bastante gente. Gente mãe, gente terapeuta, gente pai, gente amiga, gente interessada ou não no assunto.
Mas parece que sempre tem alguma coisinha lá, cutucando.
E hoje, bem cedinho, depois de anos do meu último aborto, vi que trata-se de uma metamorfose.
Não, Ceiloca, não vou ficar tentando te convencer que "vai passar, vai doer mas as coisas melhoram".
Vou só colocar aqui que aborto não é mais uma palavra que me assusta.
Não! Não quero nunca mais passar por isso. Nem quero que você ou alguém passe.
Mas aborto pra mim é um capítulo. Páginas que algumas de nós temos que enfrentar escrever, rabiscar, rasurar. E assim ir rascunhando como serão as próximas histórias.
A dor ficou diferente. Dias mais intensa, dias quase inexistente.
Sei que as frases desse capítulo não vão ser apagadas. Mas podem ser lidas e transformadas num conto, numa crônica, num relato.
Essas palavras podem dar força e podem enfraquecer dependendo da vontade e do estímulo.
E um dia, lá não se sabe quando, vão se tornar um capítulo, entre tantos outros que compõem a nossa exitência, materna ou não.
Vai despertar o interesse de ser aberto ou lido novamente. Ou vai ficar lá, fechado, calado, ignorado. Como já fiz muitas vezes.
Mas, por outro lado, minha amiga, você falou dos questionamentos que temos o direito de fazer.
E é aqui que esse post fica menos poético e não menos realista.
Durante a dor, o luto, a perda, as dúvidas ficam caladas.
E é aí que muito médico deixa de esclarecer os X e os Y de todas as questões que envolvem um aborto.
Eu ouvi da primeira vez: "Aborto espontâneo, tentamos novamente em alguns meses".
Espontânea então foi a minha vontade de trocar de médico, de ter respostas, de saber o motivo.
Questionamos, assuntamos, analisamos, fomos examinados, concluímos.
Não deixamos quieto.
Mesmo assim precisei passar por mais um aborto, mesmo com todos os cuidados, mesmo com um médico excelente.
Aí fomos encaminhados a um especialista em "aborto de repetição".
Mais uma vez questionamos, fomos examinados, analisados, revirados, consultados e decidimos enfrentar uma maratona de injeções, consultas e etecéteras.
Aí me pergunto.
Se eu (estimuladíssima pelo senso crítico do maridex) não tivesse me dado o direito de questionar, quantos capítulos assim eu não teria escrito?

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Revivendo momentos. Parte 4. Já perdi dois bebês.

Ontem falei aqui sobre ter mais um filho.
Sobre as dúvidas e incertezas em criar e educar mais uma criança.
Mas antes do Mais um, eu tive um longo caminho até chegar no Um.
Não é pra ser uma história triste, ok?
Muito pelo contrário, vocês já podem conferir, por esse blog mesmo, que esse história (longe de ter um final) é mais do que feliz.
...

Relembrado em julho de 2009

Confesso que não é fácil reviver dias tão tristes, mas falar deles não me dói mais. Me faz apenas aceitar que não estamos no comando de tudo. É lógico que continuo achando que foi uma sacanagem muito grande passar por isso duas vezes, mas hoje consigo analisar a situação com outros olhos. Consigo não só pensar em mim “mãe”, mas no sofrimento de todas as pessoas que estavam lá comigo, o que sentiram também. Consigo enxergar que passou.
Perdi dois bebês numa caminhada longa até descobrir o que realmente acontecia com o meu organismo e qual a solução para os meus problemas.
Mas a perda não é o começo da história. Meu marido nunca quis ter filhos e um belo dia chegou para mim e disse que poderíamos tentar.
Minhas gravidez sempre foram muito planejadas, não tinha nada de surpresa nem indecisão. Foi difícil engravidar pela primeira vez, precisei induzir a ovulação para que finalmente acontecesse. Lembro exatamente como foi pegar o exame e ler “positivo”. Lembro de ter me perguntado, sozinha dentro do carro, se positivo queria realmente dizer que eu estava grávida ou se seria alguma daquelas pegadinhas da medicina. Lembro da sensação boa que o instinto me fez sentir, que ia reproduzir.
Mas é triste porque na época, quando perdi o bebê aos 3 meses de gestação, a avalanche de sofrimento e indignação foi tamanha que não consigo lembrar de um dia bom que seja. Tudo se resumiu ao dia em que o médico falou “aborto espontâneo” naquela sala escura de ultrason.
Meu primeiro aborto foi particularmente dolorido. Tive sangramentos desde o início, tomei hormônio para segurar o bebê, mas em vão. Quando o aborto foi constatado, o médico disse que como não dava mais pra ver o feto o meu organismo já estava liberando os restos por meio da menstruação. Ele pediu que eu voltasse em uma semana para ver se uma curetagem seria necessária. Ao fazer o novo exame lá estava meu filho, fraco, pequeno, mas vivo.
Sinceramente não sei no que pensei na hora, não lembro. Só lembro da voz fria do médico pedindo que eu fosse pra casa esperar o coraçãozinho parar de bater para aí sim passar pela curetagem.
Depois de mais ou menos 1 ano, já com acompanhamento de outro médico, descobri que um septo deixava o meu útero consideravelmente menor. Passei por uma cirurgia e fomos liberados para engravidar de novo. E foi o que aconteceu. Mas logo o sangramento apareceu e em 3 meses já estava passando por outro aborto.
Dessa fase só lembro do medo e da infinidade de artigos sobre adoção que li enquanto estava sozinha. Tivemos uma sorte muito grande com o novo médico, que nos indicou para um especialista. Lembro também do pavor ao ouvir “aborto de repetição”. Será que essa denominação seria permanente? Duas vezes já era repetição demais pra mim.
Foi aí que encontramos o Dr. Ricardo Barini em Campinas. Depois de exames descobrimos uma incompatibilidade genética entre eu e meu marido. Fizemos um tratamento com vacinas (confesso que longo, caro e dolorido). No meio do processo fui informada que devido a uma mutação genética eu teria que tomar injeções na barriga durante toda a gestação.
Na época lembro de ter usado todo o meu vocabulário de palavrões e ter pensado em quão sacana Deus estava sendo comigo, mas aceitei. Olhei pro médico e pensei: me mostra logo essa agulha que eu já quero ir me acostumando com ela.
Não foi fácil, no começo – como eu mesma me apliquei todas as cerca de 200 injeções - respirava fundo e me segurava pra não tremer. No fim, confesso que já estava com medo de uma crise de abstinência e brincava com o meu obstetra que a cada consulta apareceria com um novo piercing, só pra compensar.
Dessa terceira gravidez, que aconteceu logo que nossos médicos liberaram, me lembro de tudo. Tudo mesmo. Eu acho. Olho pra trás e vejo que foi mesmo uma caminhada. Que parei pra tomar fôlego algumas vezes, me recuperei de alguns tombos, passei a pensar de maneira diferente sobre várias coisas da vida. Lembro do receio de contar pros outros, do medo de estar tão feliz. Mas me lembro também de olhar no espelho com aquela barriga enorme e dizer pra mim mesma que tudo acabou bem.
Lembro ainda de ouvir o choro do Isaac, de sentir o cheiro dele pela primeira vez, e de acordar de madrugada só pra constatar que não estava sonhando. Lembro de querer esquecer os abortos e fazer força para lembrar deles como agora.
E faço questão de me lembrar, todos os dias, o quão importante é não ignorar os fatos, aceitar (mesmo que depois de muito tempo) que as coisas acontecem por algum motivo em nossas vidas. Que dói, cansa, derruba, mas passa. 
Que uma hora essa dor toda dá espaço para um novo sorriso, uma nova esperança, um novo começo.

Quinta-feira especial pra todos nós.

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