Mostrando postagens com marcador poema. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poema. Mostrar todas as postagens

domingo, 13 de maio de 2012

VERSINHOS FAMILIARES


I

Cantei no coral da escola,
Soltei muita pipa, carrinho era feito de ripa,
Depois das aulas jogava sempre muita bola.
Reunia a turma em prosa inocente,
Não havia medos maiores que a noite*,
Assombração era só estória, gente era gente.
Quem dava trabalho no bairro era bêbado babão,
Maioria das vezes, vindo da boite*
A gente ajudava a rebocar pra casa
pra que não caísse no chão.

Momentos de uma boa infância

P.S.:
* (se Quintana no poema Canção da Vida rimou Renoir com poluir, que é que tem eu rimar noite com boite?)

II

Crescendo a família em pencas
Meninas e meninas debatendo
Não havendo um ouro no berço
O jeito era ir vencendo
A mãe ganhando nos arranjos de avencas
Os filhos, uns estudando, outros no terço
O pai, suando na labuta  e haja renda

Lembranças de um pouco da adolescência

III

Independência foi consquistada
Cada um pro seu lado, seja solteiro seja casado
De casa levando amor , sonho e vontade
Sem isso ninguém vence a jornada
Ganhando experiência, gerando prole, eis o legado
Para o ciclo onde o tempo, senhor de tudo invade

Instantes da vida que segue.


Obs: Poeminha republicado para fazer parte da comemoração do dia mundial da família. Interação proposta pela Norma Emiliano do blog Pensando em família 



Na oportunidade, deixo aqui o meu carinhoso e fraterno abraço a todas as mães. paz e bem.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

EUGÊNIO E A FEIA

imagem google

Foi numa noite de meia lua
Fria, limpa e bonita
eu fui pro meio da rua
E achei uma moça esquisita

Ela disse que aquilo era pintura
Não era feia como parecia
No escuro eu acho que via
Que era verdade pura

Me convidou para a quadrilha
Querendo a minha companhia
Ela queria era me apresentar a filha
Menina cheia de mania

Já foi de pai me chamando
E eu com medo daquilo virar casório
ela assim foi me levando
me arrastando , era público e notório

mas de otário não me fiz
cheguei perto  da fogueira
e vi a feia inteira
cocei até o nariz


A claridade da lua, mais a luz da lenha
Me fizeram pedir São João
“me livre dessa brenha
Que eu salvo o Santo Antônio
De seu padecimento vão”


Uma homenagem ao meu amigo Eugênio, que depois desse dia do distante São João de 1982 resolveu nunca mais se casar.


quinta-feira, 26 de maio de 2011

POESIA E REALIDADE

A maioria dos poetas cujas biografias tive oportunidade de ler ou através de depoimentos não gosta muito que seus poemas sejam interpretados. E eu acho que estão cobertos de razão. Poesia pode ser como disse o Mário Quintana: “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente.” Pensando nisso e naquilo que a minha companheira me falou outro dia vindo do salão de beleza injuriada com o que ouviu lá acerca de “estar por dentro das coisas”, resolvi pedir licença aos poetas e vou interpretar um poema que me leu. Primeiro vou explicar: perguntada sobre personagens de tais ou quais programas de TV ela disse desconhecer, pois não costuma muito assistir à programação, ouviu o seguinte desaforo:
 
- Em que mundo você vive, minha querida? Está por fora de tudo! (sic)
 
Pois bem: é a isso que somos encaminhados aqui, ali e acolá. Temos que comprar tais objetos porque são modernos, temos que usar tais roupas, perfumes, calçados porque todo mundo usa. Temos que assistir ao que todo mundo assiste, temos que rezar no credo de nossa turma a fim de não sermos rejeitados no círculo de ralações. Temos que assistir a tal filme porque ganhou ou concorre ao Oscar. Temos que ler o último best seller para parecer culto e de bem com a onda que leva todo mundo para o mesmo lugar: o lugar comum. Ah, e o seu celular não tem blutufe? Que pessoa atrasada!
Daí que, lendo o CANTICO NEGRO, do José Régio, solicito que do céu ou onde quer que esteja me conceda esse beneplácito da interpretação pois acho que esse poema me leu. Mas aí, na hora em que resolvi interpretar, vi que ele parece ter me colocado palavras na boca, agilidade nos dedos, ou o que seja, e fala diretamente por mim, sem precisar por nem tirar absolutamente nada.
Só me resta acrescentar nesse rasgo de amargura, que a intolerância que tenho visto por aí contra gente que tem ideias próprias é filha (malcriada) da interpretação do mundo. Eu também amo é o longe e a miragem.
 
Cântico Negro (José Régio)
 
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

 
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

 
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o longe e a miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

 
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

 
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ESCREVER - ENCERRAMENTO

imagem google  

Prezados leitores, encerro essa série com uma homenagem a todos que por aqui transitam e que amam a palavra escrita. Especialmente aos que permanecem.
PS: Na próxima segunda, inicio outra série sobre leitura. Obrigado e até lá. Paz e bem.

PROCURA DA POESIA

...Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espere que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
E seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas
sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiam na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

(Carlos Drummond de Andrade)
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
In: Escrever Sem Doer -  Ronald Claver, ed. UFMG, 2006.






sábado, 5 de fevereiro de 2011

SÍNDROME DE SANSÃO *

A culpa que de mim se apossa por ficar à toa
Precisa ser exonerada.
Não fui eu quem lhe forneceu esse status doloso
Nem a nomeei detentora dessa prerrogativa.
Foi um conjunto de valores
onde só presta quem produz para o próprio sistema.
O resultado é distribuído a saber:
Pouco para quem produz muito
e muito para quem detém os meios de produzir.
Não valho nada se produzo com alegria e para minha própria alegria
Trabalhar por prazer é, para esse esquema,
o mesmo que ter prazer sem trabalhar
Mesmo se não pedir nada a ninguém,
mesmo se o que faço me mantém
sou um estorvo, malandro , vagabundo e preguiçoso.

* Síndrome de Sansão – Não  se trata do personagem bíblico, mas do cavalo, no romance “A Revolução dos Bichos”, publicado em 1944, pelo escritor, jornalista, ensaísta e militante político George Orwell.  O lema  de Sansão era “trabalharei mais ainda”. Depois do levante, foi mão de obra, sempre atuante nos canteiros do novo governo. Incansável, simbolizava o proletariado. Após sacrificar a própria saúde pelo ideal do animalismo, foi sacrificado pelos porcos, donos do poder. Ou os donos do poder, os porcos. Tanto faz.
Orwell nasceu  Eric Arthur Blair. E morreu assim também, com apenas 46 anos de idade. Mas a vida curta não impediu que, com o famoso pseudônimo, publicasse, entre outras coisas,  duas obras raras: 1984, que dispensa apresentações, e Animal Farm.
A fonte de onde tirei esta explicação veio de: Um elefante Caiu do Teto


Confúcio: "Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida."

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

POEMA

O simbolizando as cinzas, a ema, simbolizando a fenix. E eis que a junção de ambos em “poema” nos faz renascer para a vida.


Lá no Recanto das Letras , onde postei este fragmento certa vez, existe uma divisão dos textos em categorias. Coloquei em teoria literária e pedi para não me levarem a sério. Se não era algo  de validade nem uma definição etimológica, continua a minha dúvida, já que aqui no blog a minha chance de definir é nenhuma. Peço que continuem aceitando como uma descompromissada e bem humorada definição.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

LEGADO

O meu legado, Maria
Não terá pompa nem hipocrisia
Não comportará heresia
Também não gerará mais-valia
Pois só o que tenho é poesia

Quando for ter contigo, Maria,
Terei já deixado por aqui o melhor que havia
Amor, trabalho e alegria
Poemas e prosas de vária serventia
Menos dinheiro, menos matéria, menos algia



À minha mãe
24/12/1931
18/06/1983.








Desejo a todos um lindo Natal, cheio de alegrias, saúde plena e generosidade humana. Muita paz e muito bem.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

INCERTEZA

O Pensador - Rodin (imagem google)

Se transfiro a vaidade para a alma cresço
Se esta vaidade me apraz me reconheço
Se sofro com pequenas coisas mereço
Se vivo no benefício da dúvida calculo meu tropeço

Nas ondas alfa, beta e gama me embrenho
no descaso que com o pensar venho
Pode ser apatia ou será empenho?
Vou saber depois se certezas tenho

Web Statistics