Coisas que todo mundo já sabe: para ser um bom professor e um bom médico no sistema público há que se ter muito desprendimento, ser muito idealista, acreditar que é possível uma sociedade melhor, mesmo ganhando baixa remuneração, atuando em jornadas estafantes e dispondo de recursos precários.
Mais coisas que todo mundo sabe: o poder público destina verbas insuficientes para a saúde e educação, há muita prevaricação no uso destes recursos e peculato na administração. As leis não punem com o rigor necessário, os detentores de cargos públicos se sentem investidos de um poder que os alça à condição de pessoas acima do bem e do mal, chegando à prepotência e desprezo absoluto com o público. Há servidores que se apóiam na sua condição de intocáveis por conta da estabilidade no emprego, não se preocupam em se aprimorar profissionalmente e sequer se dão ao trabalho de ter boas maneiras e respeito com o público que lhes garante o sustento.
Quando se entrega um setor público nas mãos de particulares seja através de terceirização ou privatização, a sensação coletiva que paira no ar é “agora a coisa vai funcionar”. O que se vê logo em seguida é um aumento abusivo de taxas e tarifas e criam-se escalas de prestação dos serviços, sendo a qualidade máxima atingida apenas por quem possui muito dinheiro, influência e bons advogados. A grande maioria fica à mercê de órgãos de defesa de consumidores ou agências reguladoras, além do judiciário, cujas eficiências, nesta ordem, vão de péssima, ruim e pior.
O saldo é um salve-se quem puder, chamado pelo eufemismo de leis de mercado, também conhecido como democracia capitalista.